Grupos de Trabalho (GT)
GT 024: Antropologia e Turismo: transversalidades, conflitos e mudanças
Coordenação
Álvaro Banducci Júnior (UFMS), Euler David de Siqueira (UFRRJ)
Debatedor(a)
Lea Carvalho Rodrigues (UNIVERSIDADE), Euler David de Siqueira (UFRRJ)
Resumo:
Dando seguimento aos encontros realizados em edições anteriores da RBA e RAM, retomamos o interesse de fortalecer os estudos do turismo, a partir do olhar da Antropologia e áreas contíguas. Considerando a emergência, no âmbito do turismo e seu entorno, de novas demandas sociais, culturais, econômicas e simbólicas, muitas vezes em contexto de conflito, este GT se propõe a debater e aprofundar os principais eixos teóricos e metodológicos, que vêm norteando os estudos socioantropológicos do turismo, como as questões de conflito territorial e ambiental, étnico-raciais, de gênero, e as disparidades econômicas entre os atores envolvidos. Destacam-se, ainda, as relações múltiplas que se estabelecem no âmbito do encontro turístico como, a disputa por recursos, a luta por reconhecimento, a plataformização e o Turismo 4.0, a formação da imagem dos destinos e a dimensão teórico-conceitual do turismo e seus desdobramentos, como experiências de turismo comunitário, cultural, étnico e ecoturismo apresentadas como diferenciadas e menos predatórias. Podemos, além disso, acrescentar, no debate da dinâmica das atividades turísticas, o comportamento dos distintos atores envolvidos, incluindo-se Estado e governos, em diferentes contextos socioespaciais. Assim, buscamos, com este GT, levantar reflexões sobre a transversalidade do turismo e situações de conflito e mudanças que o perpassam, para o fortalecimento do debate acadêmico na área de Antropologia do Turismo.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Adiles Savoldi (UFFS)
Resumo: O imaginário popular tem inspirado rotas e caminhos turísticos. No Sul do Brasil, há uma hagiografia popular sobre o monge João Maria que é constantemente atualizada em diferentes contextos. Há itinerários demarcados no Estado do Paraná, com parques que investem no ambientalismo e defesa da natureza, amparados por ensinamentos e profecias do monge. As romarias privilegiam a relação com o sagrado e as curas que são a ele atribuídas. Em Santa Catarina, além das cidades que compõem o roteiro do conflito do Contestado, que cultuam a história e as marcas da passagem do monge, em Canoinhas foram realizadas cinco edições da Cavalgada de São João Maria. No oeste catarinense, os caboclos e os povos indígenas, que foram marginalizados pelo processo de colonização, implementado, especialmente no final do Século XIX e início do XX, rememoram e transmitem às novas gerações a importância da preservação dos modos de conhecimento transmitidos pelo São João Maria como costumam se referir. As narrativas dos ancestrais sobre o monge são adotadas para ressignificar lugares e traçar novas rotas para a visitação pública. As fronteiras impressas no espaço pela colonização dificultaram o acesso às fontes do monge. No presente, há uma tentativa de incluir e dar visibilidade aos olhos d'água reconhecidos como pontos do itinerário do monge. A pesquisa busca além de mapear e acompanhar a visitação das fontes de águas consideradas santas no interior do município de Chapecó, SC, refletir sobre os significados e práticas do culto ao São João Maria no presente.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Adjane de Araújo Machado (UFPB)
Resumo: Defendido no rol de novos valores e como uma nova ética de desenvolvimento turístico, o turismo comunitário surge em defesa de territórios e culturas pertencentes a comunidades que, devido às ausências históricas de políticas públicas, encontram uma alternativa de protagonismo socioeconômico através da atividade (Oliveira, Diógenes e Almeida, 2021; Vera, Garcia e Campos, 2020). São comunidades de pescadores, ribeirinhas, pequenos agricultores, artesãos, populações quilombolas e/ou indígenas que desenvolvem práticas de lazer e hospitalidade relacionadas à natureza e aos elementos culturais, materiais e imateriais, da coletividade, além de complementarem suas produções artesanais e de subsistência. Tal proposta diferenciada de exploração turística, chama a atenção para a autogestão, a geração de benefícios socioeconômicos e a sustentabilidade (Lima, Irving e Oliveira, 2022). Por outro lado, apresenta contextos que instigam análise, tais como a participação de agentes externos no projeto comunitário: ONGs, Instituto de Educação Superior e órgãos públicos (Neudel, 2015); a ideia de população tradicional fixada no tempo e no espaço em oposição à modernidade; a construção da autenticidade cultural com uma visão estereotipada para atender as representações turísticas (Shuaipi, 2013); e a perspectiva de trocas entre visitantes e visitados sem levar em consideração a noção de justaposição, podendo perpetuar elementos da colonialidade. Nesse contexto, o objetivo dessa pesquisa é propor uma discussão em torno de termos comumente associados ao referido modelo turístico, tais como protagonismo social, modo de vida tradicional e resistência cultural, a fim de traçar novos apontamentos sobre a organização e prática da atividade. Para tanto, proponho uma revisão sistemática da literatura, para analisar as principais dimensões teóricas e conceituais da temática, a fim de contribuir na construção de um debate crítico acerca do tema, principalmente diante da predominância de pesquisas acadêmicas focadas em discussões valorativas e, muitas vezes, sem levar em consideração as complexas relações existentes no interior dessas comunidades.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Álvaro Banducci Júnior (UFMS)
Resumo: A pesca esportiva é a modalidade que mais atrai turistas no Pantanal de Mato Grosso do Sul. O setor enfrenta, entretanto, redução gradativa e sistemática no volume de visitantes devido a fatores tais como o limite da cota de captura e transporte e a concorrência com outras áreas de pesca. Somado a esses aspectos, novas experiências turísticas têm surgido e se consolidado em território pantaneiro, como o turismo ecológico e contemplativo, modalidades de pequena escala com foco no ambiente e nas culturas regionais que atraem visitantes com novos olhares e interesses para a planície. Alguns povos indígenas, como os Kadiwéu, que participam desse mercado de forma tangencial, mediante o comércio de produtos como cerâmica e artesanatos, têm vislumbrado a possibilidade de uma inserção mais direta e ativa no turismo. Cresce o interesse e as iniciativas por parte desse povo por implantar atividades de visitação em seus territórios, de forma autogerida e com resultados mais consistentes para as comunidades. Diante disso, este estudo tem como propósito analisar o modo como o povo Kadiwéu, sobretudo as mulheres que vivem nas aldeias Alves de Barros e Campina, no Pantanal de Porto Murtinho, têm se mobilizado e atuado para viabilizar o turismo em suas aldeias. O trabalho pretende discutir acerca de sua concepção de turismo, as expectativas em torno da atividade e as iniciativas políticas e de caráter estrutural que têm mobilizado para integrar suas aldeias no mercado do turismo.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Andrea Rabinovici (UNIFESP)
Resumo: A Fundação Casa Grande, no Cariri cearense, tem como um dos seus eixos de atuação o empreendedorismo social, a partir do qual realiza diversas atividades entre elas o turismo. São várias experiências sendo realizadas, entre elas os Museus Orgânicos (MOs) com características singulares em seu formato e propostas e que vêm ganhando terreno e projeção. Os MOs resultam de um projeto que consiste na escolha de mestres de saber e na transformação de suas casas e/ou oficinas em MOs visitáveis, com uma série de protocolos e especificidades que lhes dão identidade. Até 2023, existiam treze MOs em funcionamento e outros tantos sendo projetados. Estudá-los é importante para compreender os significados, as particularidades, os acertos, os desafios e sua replicabilidade. O processo que vem ocorrendo por meio das atividades promovidas pela FCG, parece convergir com o ideário preconizado pelas redes de turismo que se autodenominam contra hegemônicas, como o Turismo de Base Comunitária (TBC) e da museologia social/pós-museu. Não há evidências e nem estudos descrevendo estas experiências e seus referenciais relacionados aos preceitos decoloniais. Também consideramos importante buscar conhecer e refletir sobre isso com os atores sociais envolvidos neste processo, especialmente os mestres de cultura.
Relatos destas experiências de turismo e de museus na lógica decolonial estão em evidência, porém são recentes e pouco conhecidos. O discurso decolonial, as modalidades de turismo alternativos podem ser absorvidos pelo mercado de forma a descaracterizá-los promovendo novas desigualdades e conflitos. Alguns autores afirmam que tais processos, podem ser pacificadores, apagando o racismo e até atrapalhando seu combate.
Mesmo com muitas experiências alternativas de turismo e de museus é evidente que o terreno está em construção. Especialmente quando ocorre em territórios e grupos periféricos, marginalizados, conseguindo com isso um tipo de autenticidade que somente grupos organizados com base em um aprendizado social próprio, de um caminho de lutas comunitárias e políticas, consegue ter. Desta forma, são poucas as experiências que somam todos os atributos e com resultados esperados.
Entendemos que há paralelos importantes e que precisam ser pensados, amadurecidos a fim de que sejam compartilhados com todos os envolvidos e buscar convergir e fortalecer os vínculos e a proposta, com a coerência necessária e assim, tentar atingir as missões originais evitando contradições e armadilhas possíveis. Trata-se de uma pesquisa em andamento e, até o momento, foi realizada parte da revisão bibliográfica, três visitas à região para conhecer as experiências e instaurar um canal de comunicação com atores locais, por meio de diálogos e registros que auxiliarão a continuidade da pesquisa.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Benedita de Cássia F Costa (IFMA)
Resumo: O Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses (PNLM), instituído como uma unidade de conservação de proteção integral em 1981, é atualmente um dos destinos turísticos mais desejados por pessoas de todas as partes do mundo. Apesar dos seus atrativos naturais, é um território marcado por tensões, disputas e conflitos socioambientais em razão da histórica presença de famílias de comunidades tradicionais, antes mesmo da sua instituição, que ali vivem e desenvolvem tradicionalmente suas atividades econômicas e outras relacionadas com o turismo. Como destino turístico, o PNLM é construído pelo imaginário social como lugar que possui uma natureza paradisíaca, intocada, desconectada da produção humana e, em razão dessas construções sociais, torna-se uma destinação propícia à exploração econômica pelos agentes ligados à cadeia do turismo. Nesse cenário, a imagem se torna um instrumento de reprodução e perpetuação de tal imaginário, ajudando não somente a conformar e consolidar o olhar sobre a natureza, mas servindo como uma ferramenta eficaz de mediação e sedução do olhar para o consumo turístico da natureza no PNLM. Nesta proposta, estabeleço uma relação de proximidade entre a fotografia e turismo, em que determinadas imagens fundamentam de maneira decisiva o processo de constituição, definição e escolha de certos destinos turísticos e ajudam a pensar imaginários sobre a natureza de lugares e posses de espaços pelo consumo turístico. Busco refletir através do caso do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, algumas imagens produzidas por diferentes agentes, inclusive pelos próprios turistas, considerando-as como um mecanismo integrante do processo de comodificação da natureza, que age antes, durante e depois da viagem. Em meu recorte de pesquisa, identifico em tais imagens com suas legendas e narrativas, extraídas de repositório de imagens, redes sociais, livros de fotografia, ensaios fotográficos, uma espécie de película ideológica construída e composta por de determinadas estéticas que podem ser identificadas como uma continuidade do pitoresco e a inclusão do instagramismo, em que estas conformam um tipo de imagem da natureza propícia a contemplação turística, que vem consagrando os Lençóis Maranhenses como paraíso, sendo capazes não somente de convencer o olhar, mediando as decisões do consumo da natureza através do turismo, mas também de negligenciar a existência das populações tradicionais que ali vivem, a partir de enquadramentos que destacam a natureza como cenário, composto apenas por dunas alvas e sinuosas e lagoas com águas cristalinas sob um céu azul de verão.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Camila Maria dos Santos Moraes (UNIRIO), Mariah Cristina Rodrigues Carbone (UNIRIO)
Resumo: O turismo em favelas é a expressão local de um fenômeno global: o turismo em áreas de pobreza, cujos primeiros registros datam no final dos anos 1980 e início dos anos 1990, de maneira concomitante na África do Sul e no Brasil. Em 2015, estimou-se um número anual de mais de um milhão de turistas circulando por áreas de pobreza pelo globo e 80% deste fluxo se concentrava entre África do Sul e Brasil (Rio de Janeiro). Nesse fluxo global, a Rocinha aparece como a paradigmática favela turística (Freire-Medeiros, 2013), considerada a primeira a receber roteiros turísticos estruturados no Rio de Janeiro, tornou-se referência para outras favelas do Rio e outras áreas de pobreza no mundo como modelo a ser seguido ou contestado. Na primeira década dos anos 2000, as favelas se consolidaram como atrativos turísticos, o Estado passou a reconhecer essas áreas como atrativos oficiais e a estimular sua comercialização, o que foi acompanhado por novas políticas públicas nessas áreas. O turismo entrou em pauta. Consultores realizaram estudos de potencialidades e capacitaram moradores de favelas para empreenderem no turismo. Ao mesmo tempo que se espalhou, esse turismo especializou-se e diferenciou-se. O turista passou a encontrar as mais diversas experiências em favelas, desde a gastronomia local a museus, trilhas e hospedagens. Neste trabalho, retornamos a Rocinha, mas agora com o Museu Sankofa um museu de percurso que através do roteiro turístico Rocinha História apresenta as memórias e histórias da Rocinha. Partimos de observação participante realizada entre 2022 e 2023 em visitas, reuniões e outras atividades organizadas pelo Museu. E, descrevemos e analisamos como as memórias e histórias são mobilizadas durante essas visitas, reuniões e outras atividades. Por fim, concluímos que as visitas turísticas se tornaram uma ferramenta para produção e reprodução de narrativas, memórias e histórias sobre as favelas. Para as visitas são feitas pesquisas, conversas, entrevistas com moradores que ganham ouvintes nos turistas. Diferente de outros roteiros na Rocinha, o Museu Sankofa conta as histórias de luta por moradia, saúde, saneamento, seguranças, entre outras pautas. A luta pelo direito a cidade se revela como a principal eixo de memória e história desse tour que traz concretude para um museu comunitário que existe como prática cotidiana e não como prédio construído com objetos em seu acervo, mas como prática de coleta e contação de memórias e histórias que são vistas, percebidas e sentidas ao longo de uma caminhada turística.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Euler David de Siqueira (UFRRJ)
Resumo: O objetivo desse trabalho é discutir algumas questões mais gerais acerca do rito e de seus mecanismos a partir da etnografia de duas noites na Marques de Sapucaí, no Rio de Janeiro, durante o carnaval. A metodologia empregada nesse trabalho é de natureza qualitativa e orientada por um olhar relacional. Através da etnografia, investigo o camarote Favela, espaço privado exclusivo no interior da avenida Marques de Sapucaí. Teoricamente, lanço mão das noções de ritual, festa, carnaval e sociabilidade a fim de compreender alguns dos discursos e práticas no interior do camarote Favela. Resultados preliminares assinalam a construção de espaços hierárquicos no interior do camarote Favela, colocando em tensão o mecanismo de inversão e conjunção presentes no ritual.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Felipe José Comunello (UFRGS)
Resumo: Este trabalho trata das bases teóricas para pesquisas sobre as diversas formas contemporâneas de hospedagem. No quadro das maneiras pelas quais as sociedades recebem estrangeiros (migrantes, refugiados, turistas, etc.), são dois os principais campos de estudos nas ciências sociais que serão mobilizados nesta discussão: turismo e hospitalidade. Com isso, objetiva-se formular estratégias teóricas e metodológicas para pesquisar campos que se entrecruzam, destacadamente no contexto de advento das plataformas on-line de hospedagem, impulsionadas pela chamada economia compartilhada e pela ampliação do uso de smartphones para acesso à internet. Nesse sentido, cabe destacar que os hotéis como forma de hospedagem têm sido um foco importante de discussão para a antropologia no Brasil nas abordagens sobre o turismo. Segundo Banducci Jr. (2001), antropólogos e antropólogas nos anos 1990 advertiram sobre os problemas decorrentes de empreendimentos turísticos para comunidades locais em regiões costeiras, com ênfase nas contradições econômicas e políticas. No entanto, segundo o autor, estes trabalhos passavam ao largo dos significados envolvidos para essas comunidades na sua relação com o turismo enquanto um fenômeno mais amplo. Nos anos 2000, muitos trabalhos procuraram situar os grandes empreendimentos no quadro daquilo que Marc Augé chamou de "não-lugares". Dentre estes, destaca-se Rufino (2006), que acentua as diferenças promovidas por grandes empreendimentos, tais como redes de hotéis, onde se instalam: "devido à sua padronização, ao modo de administração que garante a mesma qualidade de serviços em qualquer parte do mundo (RUFINO, 2006, p. 208). Recentemente, esta padronização está cada vez mais exposta às avaliações on-line por meio das plataformas que, concorrem com ou permeiam as redes hoteleiras. Diante disso, cabe questionar como se transformam estes padrões, seus artefatos e infraestruturas em suas relações com os modos contemporâneos de viajar e, também, de trabalhar e morar.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Isanda Maria Falcão Canjão (UNICEUMA), Karla Suzy Andrade Pitombeira (FACULDADE FLORENCE)
Resumo: O Turismo de Base Comunitária (TBC) é uma abordagem que vem ganhando espaço em contextos culturais específicos, com uma variedade multifacetada de definições para o conceito e tipologias existentes (PAKMAN, 2014; SANCHO; MALTA, 2015). Trata-se de um modelo de gestão turística centrado na participação ativa de comunidades locais orientada para a conservação ambiental, criação de oportunidades econômicas sustentáveis e valorização da cultura e patrimônio local.
Nesse contexto se encontra as comunidades de Vila Fé em Deus, certificada em 2010 pela Fundação Cultural Palmares (FCP) e Cariongo, certificada em 2006. Estas comunidades, em parceria com o Instituto de Políticas Sustentáveis do Maranhão (INSPOSUMA), estão gestando uma Rota Turística Quilombola em atendimento às condicionantes de licenciamento ambiental por meio do Plano Básico Ambiental Quilombola (PBACQ/Vale); elaborado como parte do Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e do Relatório de Impacto Ambiental (RIMA). O Plano Básico Ambiental Quilombola é um documento pactuado entre diversas instituições (IBAMA, Fundação Cultural Palmares e Mineradora Vale) que contém ações voltadas a mitigar impactos ambientais por ocasião da implantação da Estrada de Ferro Carajás (EFC) em áreas quilombolas.
Esta proposta de artigo apresenta uma pesquisa em andamento que possui por objetivo a análise da implementação de dois projetos classificados de TBC em dois territórios quilombolas, entrecortados pela Estrada de Ferro Carajás e certificados pela Fundação Cultural Palmares. Estão situados no Município de Santa Rita, no estado do Maranhão, a saber: 1) quilombo Vila Fé em Deus onde vem sendo implementado um Café Quilombola, atualmente em fase de construção e discussão da forma de gestão do espaço; 2) quilombo Cariongo, com o Museu Quilombola, uma referência de memória para a comunidade, ao abrigar peças e artefatos que preservam a história local, em especial a do fundador do quilombo, Sr. Sebastião Cariongo.
A análise consiste na compreensão: a) da caracterização sociocultural turística das comunidades e identificação das atividades realizadas; b) da formatação dos produtos turísticos; c) dos atores e dilemas envolvidos. O percurso de pesquisa adotado é de caráter exploratório/descritivo, utilizando o método qualitativo.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Isis Maria Cunha Lustosa (Laboter)
Resumo: Aborda-se o turismo comunitário em territórios indígenas como vetor da identidade étnica acionada por meio de reivindicações junto ao Estado, a fim da efetivar os seus direitos como povos indígenas. Enfatiza-se a zona costeira do Ceará, e discute-se o turismo nas Terras Indígenas (TIs) Lagoa Encantada do povo Jenipapo-Kanindé e Tremembé da Barra do Mundaú, um tema que provoca distintas reflexões a propósito de seu impacto na cultura, na reelaboração ética, incluindo-se questões sobre as práticas de turismo em territórios tradicionais. Estes povos se tornaram protagonistas nos processos de reivindicação das suas TIs objetivando reconstruir a história, tirando-os da condição de invisibilizados ou extintos. O turismo comunitário junto ao Museu indígena e a educação indígena é um vetor da identidade étnica, em momento histórico da invasão dos seus territórios por grandes empresas. Examinam-se territórios tradicionais onde se pratica o turismo com autogestão indígena, adverso ao turismo empresarial e os demais projetos de desenvolvimento - agronegócio (camarão e monocultura de coco), instalações eólicas (offshore) e metropolização urbana para o turismo internacional que avançam sobre os seus territórios acirrando conflitos. E as perspectivas atuais para o turismo comunitário face à reestruturação da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (FUNAI) no governo atual.
O artigo permite reflexões a partir do estudo comparado em territórios tradicionais dos povos indígenas Jenipapo-Kanindé e Tremembé da Barra do Mundaú, levando em conta o papel das mulheres; as situações jurídicas das suas TIs visadas por projetos hegemônicos; as relações sociais de conflitos decorrentes destas pressões de empreendedores internacionais; as práticas culturais e os seus protagonismos indígenas; as relações de poder no trâmite da demarcação; os vínculos de pertencimento como sujeitos coletivos com construções de processos alternativos (a exemplo, o turismo comunitário). Discute-se o turismo empresarial internacional imposto aos povos indígenas do estado do Ceará, com anuência de governos anti-indígenas. Demonstram-se as contestações e as pressões para impedir o andamento dos processos de demarcação das TIs por parte de conjunturas (política, jurídica, ruralista, religiosa, empresarial e de cooperação internacional) nos dois casos investigados. A minha tese de doutorado a ser referida tornou-se um fio condutor para organizarmos em 2013 o Colóquio Internacional de Turismo em Terras Indígenas (CTurTI), itinerante na América Latina, com ampla participação de povos indígenas, quilombolas e outros povos e comunidades tradicionais, como um espaço de protagonismo no âmbito das reivindicações por direitos coletivos.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Janaína de Alencar Ribeiro (UNB)
Resumo: Nossa intenção é apresentar, brevemente, o complexo turístico na região da Riviera Maya, região de Cancun - México, em que a população nativa maya é ao mesmo tempo empregada dos grandes projetos de turismo como também foco de um turismo mágico de volta ao mundo dos mayas antigos, imaginário perpetuado pelo próprio turismo arqueológicos nas ruinas mayas. Neste sentido, a Riviera maya apresenta vários elementos para a análise em que se mesclam a exploração capitalista, idealização do mundo maya antigo e as possibilidades de gestão do turismo das próprias comunidades mayas. Não deixar de denunciar a exploração submetida pela população maya, mas também estamos interessados possibilidades de compreensão e gestão, fruto das interações entre comunidades locais, agentes turísticos e turistas.
Acreditamos que o turismo é também uma das manifestações da modernidade. O turismo não é apenas uma das suas facetas em que se manifesta o capitalismo e o seu projeto de modernidade e uma importante fonte de recursos económicos para o Estado-nação, especialmente nos países em desenvolvimento e também para as comunidades nele envolvidas. No México, é a terceira maior fonte de renda do Estado, e Cancún é o circuito global de turismo de praia e sol de maior sucesso na América Latina.
Tal como estou interessado nas comunidades locais envolvidas e na sua relação com o turismo, estamos interessados precisamente nas comunidades locais envolvidas no turismo arqueológico. O fascínio exercido pelos sítios arqueológicos é anterior à própria constituição do campo do turismo. E como o nosso foco seria justamente o turismo arqueológico, que é justamente o que tem origem no próprio colonialismo.
A proposta é apresentar todos estes fenômenos e colocar algumas questões no sentido de que um grande complexo turístico como a da Riviera Maya pode ser também palco da apropriação do próprio patrimônio e gestão do turismo ou será somente produto da expropriação cultural maya e exploração do trabalho subqualificado.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Lea Carvalho Rodrigues (UNIVERSIDADE), Lucas da Silva Oliveira (UNILAB)
Resumo: A presente proposta toma como norte a abordagem teórico metodológica que vimos desenvolvendo nos estudos sobre o processo de mudanças na dinâmica do turismo praticado na vila de Jericoacoara, situada no extremo-oeste da costa cearense, no município de Jijoca de Jericoacoara. Esse processo resulta dos embates em torno ao gerenciamento do Parque Nacional de Jericoacoara (Parna Jeri) criado em 2002 e da expansão turística na região. Em 2014, no governo Dilma Rousseff, foi pela primeira vez proposta a adoção de Parceria Público-Privada (PPP) para o gerenciamento do parque. Esta não chegou a ser implementada, mas gerou fortes reações da população local. Desde então vimos acompanhando os acontecimentos e as mudanças ocorridas, por meio da observação in loco, realizando coleta de dados etnográficos na localidade, além de material secundário referente às mudanças na Política Nacional de Turismo decorrente dos diferentes momentos políticos vividos no país e aos encaminhamentos do Ministério do Turismo em cada gestão. Em setembro de 2023, foi lançado o edital de licitação da Concorrência nº 002/2023, que concede os serviços públicos do Parna Jeri para a iniciativa privada. Em janeiro de 2024, o Consórcio Dunas, composto pelo Grupo Cataratas e Construcap, venceu a concorrência de concessão de serviços de apoio à visitação ao Parna Jeri, e desde então, a pesquisa vem se voltando para o estudo dos efeitos ambientais dessa concessão sobre a vila e refletir criticamente acerca de como a questão ambiental será pensada frente aos inúmeros interesses em jogo. Em 2024, foi realizada uma visita na região, com a intenção de observar mudanças ambientais e na atividade turística ali praticada, como também a movimentação da comunidade local em torno da concessão, através de entrevistas com representantes de diversos segmentos; pousadas, caminhonetes, trabalhadores informais e representantes da gestão de turismo. A noção de ambiente em seu sentido amplo e relativo, proposta por Ingold (2000), será norteadora deste estudo. Como recurso metodológico, a pesquisa busca articular etnografia e a ecologia política com base na proposta metodológica de Little (2006), levada a efeito e aprofundada por Rodrigues (2019), para o estudo dos conflitos socioambientais, identificando os atores, estratégias, argumentos e os interesses dos sujeitos envolvidos nos conflitos. Vale notar que Rodrigues (2019) já apontava a crescente elitização do turismo na localidade, sem resolução dos problemas ambientais e com prejuízos daqueles que detém menos poder e capital político; trabalhadores ambulantes, pequenos comerciantes e prestadores de serviços turísticos.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Luciano von der Goltz Vianna (UFSC)
Resumo: A presente pesquisa, em fase de construção, visa entender como o Turismo de Base Comunitária (TBC), pensado no contexto da Rede Catarinense de Engenhos de Farinha (RCEF), permite compreender as inter-relações entre lazer, trabalho, hospitalidade e mobilidade com as discussões epistemológicas nas áreas do Turismo e da Antropologia. Na busca por alcançar esse objetivo mais geral, será produzido, no âmbito do NAUI Núcleo de Dinâmicas Urbanas e Patrimônio Cultural UFSC/CNPq (NAUI), um dossiê necessário para a obtenção do Registro de Patrimônio Cultural dos Engenhos de Farinha junto ao IPHAN, assim como será feita uma ampla revisão bibliográfica e uma pesquisa documental sobre as temáticas acima citadas. A expectativa com essa pesquisa é contribuir para um debate mais amplo e teórico que parte de discussões lançadas em minha tese e dissertação (VIANNA, 2013 e 2018) e que vão ao encontro de paradoxos e dilemas observados nos debates produzidos no Turismo (como por exemplo, as controvérsias sobre a definição de Turismo e sobre o conceito de autenticidade no TBC). A escolha do objeto de pesquisa é um campo privilegiado para se avançar nos atuais debates sobre os fenômenos contemporâneos relacionados aos campos de pesquisa dos espaços urbanos e transnacionais; da cultura local, nação e processos de globalização; dos deslocamentos, migrações e diásporas e dos processos de patrimonialização, de mobilidade e do lazer. Assim como é um campo de observação pertinente para refletir sobre os paradoxos epistêmicos clássicos encontrados nas mais diversas pesquisas nas áreas do Turismo e da Antropologia.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Luiz Guilherme Mattos Braga (UERJ)
Resumo: O estudo acadêmico sobre turismo é de temática e abordagem ampla, abrangendo múltiplas áreas do conhecimento. A busca de uma definição conceitual do que é o turismo vem sendo objeto de discussão na antropologia e outras disciplinas (Nash, 1981; Urry, 2001; Grünewald, 2003). Nesse contexto, a relação entre turismo e peregrinação ajuda a esclarecer essa tarefa de compreender o fenômeno do turismo. Considerando turismo e peregrinação como duas categorias de viagem (Badone, 2004), a presente pesquisa visa entender ambos a partir de uma etnografia multissituada e com variados interlocutores que se entrelaçam numa rede que possibilita a existência tanto do turismo quanto da peregrinação. A pesquisa constituiu dois objetos de estudo: primeiro, uma agência de turismo no centro da cidade do Rio de Janeiro que se apresenta como especializada em turismo religioso por organizar exclusivamente peregrinações religiosas para famosos destinos como Terra Santa, Santuários Marianos, Caminhos São de Paulo e Vaticano; segundo, uma Igreja Católica na zona sul do Rio, onde um padre é o líder religioso de peregrinações e contrata a agência de turismo para viabilizar todo o processo organizacional da viagem. Classificando-a de "peregrinação mista", o padre lidera os fiéis da Igreja numa viagem de peregrinação na qual se celebra missa todos os dias em lugares santos ou nos hotéis e, ao mesmo tempo, inclui visitações turísticas a lugares sem relação direta com religião. No roteiro França e Espanha, os peregrinos vão aos santuários de Lourdes, Montserrat e Ávila, assim como fazem compras como turistas no Principado de Andorra, visitam Saragoza para degustar bons vinhos em vinícola espanhola e conhecem os principais pontos turísticos de Barcelona. Assim, a presente pesquisa busca dar voz a todos esses múltiplos atores (Clifford, 2002) ao tentar entender seus próprios conceitos de peregrinação e turismo, buscar as razões, motivações e crenças para eles estarem, de alguma forma, envolvidos nas atividades de turismo e peregrinação. A etnografia incluiu entrevistas na agência de turismo, na Igreja com o padre e os fiéis, em outras Igrejas com outros padres, além de observação participante no cotidiano dessas instituições, acompanhando missas, festas do padroeiro, procissões, assembleias e novenas. O que se aponta é a existência múltiplas motivações e crenças de todos os atores envolvidos e a importância da chamada arena de discursos em competição (Eade e Sallnow, 1991), o que faz com que os conceitos estejam em constante negociação. Chama-se atenção ainda para as articulações promovidas por cada atividade (Coleman, 2021), ampliando o olhar de pesquisa etnográfica para situações cotidianas como a liturgia da missa que colabora na construção do imaginário e do desejo de viajar.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Marcelo Gil da Silva (UFMS)
Resumo: Os guias de turismo em Bonito (MS) desempenham um papel fundamental na dinâmica entre visitantes e a rica tapeçaria cultural e natural da região. Esses profissionais não apenas facilitam a experiência turística, mas também atuam como intérpretes culturais, mediando a compreensão e apreciação das tradições locais. Mergulhando nas suas experiências cotidianas, descobre-se como eles utilizam e acumulam capital cultural, econômico e simbólico para navegar e influenciar o setor turístico. Com a ajuda de teorias de renomados sociólogos e antropólogos, como Bourdieu, Leach e Sahlins, evidencia-se o papel significativo desses guias na formação da percepção dos visitantes sobre a região, além de sua participação ativa na moldagem da cultura turística local. Além de serem essenciais na promoção das belezas naturais e da cultura de Bonito, os guias estão no centro das relações de poder, lutando por reconhecimento e legitimidade em um ambiente social e cultural complexo. Eles são, portanto, peças-chave na intersecção entre natureza, cultura e sociedade, influenciando não só a experiência turística, mas também a percepção e valorização do turismo como fenômeno social. Este panorama destaca a importância vital dos guias de turismo, não apenas como facilitadores da experiência turística, mas como agentes ativos que contribuem para a continuidade e evolução da indústria do turismo.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Maria Amália Silva Alves de Oliveira (UNIRIO)
Resumo: Uso Público é o termo que define a gestão de visitação em Unidades de Conservação (UC). Nesse sentido, abrange o planejamento, a implementação de diferentes formas de visitação e seu monitoramento. Dentro dos limites de Parques Estaduais, Reservas Ecológicas, Áreas de Proteção Ambiental entre outros tipos de UCs, são atualmente incentivadas atividades inerentes ao denominado uso público objetivando primordialmente as que relacionam recreação com o contato com a natureza; as que fomentam educação e esportes e; o ecoturismo. Desta forma, o uso público insere-se em uma política pública, cujas diretrizes estão contidas no documento intitulado Orientações Metodológicas para a Elaboração de Planos de Uso Público em Unidades de Conservação Federais produzido pelo Ministério do Meio Ambiente. No referido Documento, consta como VI diretriz: Promover a diversificação de oportunidades e experiências de visitação na UC.
A promoção de diversificação de oportunidades e experiências de visitação em Unidades de Conservação estimulada pelos órgãos oficiais de meio ambiente, assenta-se, sobretudo, na inserção de aspectos culturais quer sejam esses de natureza material ou imaterial, na experiência de visitação. Assim sendo, o presente trabalho tem por objetivo apresentar e discutir como grupos culturais enquadrados sob a denominação de populações tradicionais que habitam tais territórios estão utilizando os movimentos de indução a visitação dar visibilidade as suas questões e, em especial, a garantia da legitimidade de sua permanência em tais territórios.
Considerando que a proposta em tela está inserida em projeto de pesquisa voltado para análise das relações entre sistemas alimentares, populações tradicionais e projetos de desenvolvimento no estado do Rio de Janeiro, ainda em andamento, cabe destacar que apresentaremos resultados parciais de tal pesquisa e assim sendo, nos deteremos na apresentação de iniciativas elaboradas pelos agricultores orgânicos do Rio da Prata de Campo Grande e das pescadoras de Arraial do Cabo, no que tange ao uso de seus sistemas alimentares enquanto estratégia de diversificação das experiências de visitação construídas para turistas, sendo essas atreladas a um movimento de afirmação identitária.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Mariana Reis Utsch Jorge (UFVJM), Hebert Canela Salgado (UFVJM)
Resumo: Desde 1998 a comunidade do Tabuleiro, em Conceição do Mato Dentro - MG convive com um cenário de disputas territoriais após a criação do Parque Natural Municipal Ribeirão do Campo, atual Parque Natural Municipal do Tabuleiro. Em 2007, com a criação do Parque Estadual Serra do Intendente essa situação se agravou, alcançando também as comunidades de Três Barras, Itacolomi, Parauninha, Candeias, Baú no mesmo município e Extrema, no município de Congonhas do Norte. Ambas as unidades de conservação - uc, de categoria proteção integral, passaram a impor regramentos sobre as comunidades, para as quais ainda não há previsão de regularização fundiária, limitando os usos da terra e quebrando a continuidade das atividades historicamente praticadas por elas. Por muito tempo esse passivo se configurou em um ambiente de discordâncias, entretanto, agora propicia um campo fértil de diálogos entre as gestões das uc e as comunidades atingidas, que passaram a adotar boas práticas de convivência a fim de construir um modelo de gestão territorial que respeite os variados usos da terra. Comunidades e Parques carregam um aspecto central em comum, o turismo. A partir desse entendimento, as comunidades e as uc construíram espaços de diálogo e apreenderam seus locais de semelhança e a também propor ações de base local, que permitissem a interação humana. Nesse ínterim nasce o Projeto da Rota das 10 Cachoeiras, que se propõe como um elemento organizador, que viabiliza a participação comunitária nas tomadas de decisões relativas aos seus territórios. Exposto esse cenário, este projeto se justifica pois visa criar elementos e base de dados que podem colaborar com outros territórios semelhantes. Por ser um território inserido em múltiplas chancelas, tais como Mosaico de Unidades de Conservação da Serra do Cipó, Circuito Turístico Parque Nacional da Serra do Cipó, Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço, Rede Brasileira de Trilha de Longo Curso, entre outros, precisa-se entender também a apreensão por parte dos sujeitos que se conciliam, do conceito de turismo de base comunitária - TBC, se o trabalham no modus vivendi ou se tratam apenas como segmento do setor de turismo. A Rota das 10 Cachoeiras pode garantir a gestão territorial participativa, promover a justiça ambiental por meio da distribuição equânime dos ônus e bônus do turismo, manter as pessoas em seus lugares de origem, colaborar na conservação e na manutenção dos aspectos ambientais e estimular um modelo de (des)envolvimento econômico na região.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Michel Alves Ferreira (UNEMAT), Rita Maria de Paula Garcia (UNEMAT)
Resumo: Este texto é fruto de um conjunto de ações de extensão da Universidade do Estado de Mato Grosso - Campus de Nova Xavantina, realizadas nos meses de novembro de 2022 e novembro de 2023, em alusão ao Mês da Consciência Negra, com a pretensão de discutir criticamente como o racismo, e o sexismo, operam violentamente nas relações cotidianas, incluindo o turismo. As atividades desenvolvidas foram orientadas para as práticas antirracistas, a partir de palestras, rodas de conversa e cursos de capacitação. O turismo pode ser entendido como um fenômeno sociocultural e interdisciplinar, para além de indicadores técnico-econômicos e de uma formação profissional tecnicista, pois envolve as percepções das/os viajantes, da própria comunidade e, finalmente, mas não menos importante: de trabalhadores e trabalhadoras que atuam no setor e concretizam as experienciações de quem viaja, muitas vezes sendo excluídos/as de vivenciar os atrativos em decorrência de questões de gênero, classe social e etnia/raça na sua própria cotidianidade. Por outro lado, também é sabido que as relações de trabalho no setor de turismo e, especialmente na hotelaria, podem ser marcadas pela reprodução de estereótipos e práticas discriminatórias de raça e de gênero. O objetivo central desta comunicação é, portanto, costurar, qualitativamente, reflexões analítico-comparativas entre uma ação de capacitação técnica, voltada as/aos trabalhadoras/es de meios de hospedagem do Município de Nova Xavantina (MT), e realizada durante as ações da Consciência Negra de novembro de 2023, com estudos realizados no campo que apontaram questões e práticas discriminatórias de gênero e raça. Ações como a realização de um evento de capacitação as/aos profissionais da hotelaria, pode trazer para essas/esses trabalhadoras/es conexões entre suas vivências cotidianas às experiências da luta antirracista e feminista ao contexto nacional, aplicadas tanto na máxima dar-receber-retribuir, cara aos princípios da hospitalidade, como em outros espaços de sociabilidades.
Palavras-chave: Trabalho; Turismo; Gênero; Racismo; Hotelaria.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Roque Pinto da Silva Santos (UESC), Marcella Beraldo de Oliveira (UFJF)
Resumo: Na perspectiva de uma interface entre antropologia e turismo, propõe-se pensar a atividade turística a partir de uma perspectiva simbólica e de produção e/ou reprodução de desigualdades sociais. Um dos elementos mais importantes para a atividade turística é justamente a capacidade de manipulação do imaginário, que pode se dar de inúmeras formas. E no caso do Brasil, um país com uma forte herança colonial e escravocrata, não é raro que sejam encontradas emulações locais que remetam direta ou indiretamente à sujeição racial e/ou de gênero, inclusive porque é condição da própria atividade turística a existência de relações assimétricas e transitórias entre os que servem e os que são servidos. Partindo de uma perspectiva decolonial, objetiva-se delinear a produção deste imaginário turístico que afeta diretamente as relações entre turistas e locais, tomando como central o referencial teórico-conceitual da imagem de controle. Estas reflexões poderão contribuir para pensar de que modo a atividade turística vem produzindo e reconfigurando sentidos sociais, tanto no espaço do emissivo quanto no receptivo, na medida em que reforça diferenças, estereótipos e relações assimétricas de poder. E ressaltar a necessidade de evitar armadilhas de discursos únicos montados para satisfação dos operadores turísticos, privilegiando, metodologicamente, um quadro interpretativo polifônico e multifoliado.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Sabrina Sales Araújo (UFMS)
Resumo: Essa comunicação focaliza o fenômeno recente e ainda pouco pesquisado do efeito que os influenciadores digitais têm gerado no turismo. A pesquisa que tem caráter bibliográfico e etnográfico, utiliza a etnografia digital para acompanhar, por meio das plataformas digitais como o Instagram e o TikTok, influenciadores que estiveram presentes no Pantanal sul mato grossense. A coleta e análise dos dados tem como propósito identificar como tema vem sendo analisado e as principais questões abordadas, além de como os influenciadores interferem na percepção do destino turístico de seu público, influindo na escolha dos destinos, dos passeios e serviços contratados, dos restaurantes e demais locais frequentados pelos turistas. A pesquisa também objetiva explorar o sentido que essas escolhas e consumos adquirem para os turistas, e como eles refletem no cotidiano trabalhadores do setor turístico e nas comunidades locais.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Xerardo Pereiro Pérez (UTAD)
Resumo: Esta comunicação assenta numa reflexão antropológica sobre as relações entre peregrinação e turismo, e tendo em conta o fenómeno jacobino da revitalização das rotas de peregrinação a Santiago de Compostela. O centro disso é o questionamento da tradicional dicotomia entre turismo e peregrinação (Di Giovine, 2013) e o surgimento de um fenômeno que consideramos novo: a turiperegrinação. Entendemos a turiperegrinação como um sistema cultural polissêmico, à maneira de Clifford Geertz (1988) e também politômico, integrando elementos da modernidade e da pós-modernidade ao mesmo tempo, de forma articulada e dialética.
Consideramos a turiperegrinação um modelo de interpretação e análise da atual peregrinação a Santiago de Compostela ao longo dos seus vários percursos. Entendemos as peregrinações a Santiago de Compostela como experiências hipersignificativas (Di Giovone e Choe, 2020), ou seja, como algo mais do que religião (por exemplo, turismo religioso) e sacralidade (Roccas e Elster, 2014), mas também como algo mais do que secularidade profana (cf. Taylor, 2015; Giner, 2016) ou simples experiência recreativa ou hedonista. Podemos afirmar que as peregrinações são cada vez mais turiperegrinações espirituais pós-seculares (Di Giovone, 2013; Lois e Santos, 2015; Berger, 2016; Balkenhol, Hemel e Stengs, 2020) e neoespirituais (Mendel, 2015). Isto não é pejorativo nem diminui o significado da peregrinação, mas antes resinifica-a, refuncionaliza-a e promove-a em resposta às novas necessidades sociais (por exemplo, reconetar-se com a natureza, com os outros e consigo mesmo após os confinamentos de a pandemia de COVID).-19). Significativamente, as peregrinações turísticas a Santiago de Compostela criaram um sentido de comunidade humana global, mas também recriaram e recriam identidades individuais, locais, regionais, nacionais, transnacionais e europeias, que devem ser estudadas e analisadas do ponto de vista de seus processos sociais de transformação e seus significados.