Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 024: Antropologia e Turismo: transversalidades, conflitos e mudanças
A concessão do Parque Nacional de Jericoacoara à iniciativa privada: cenário atual e possíveis efeitos sociais e ambientais na vila turística de Jericoacoara
A presente proposta toma como norte a abordagem teórico metodológica que vimos desenvolvendo nos estudos sobre o processo de mudanças na dinâmica do turismo praticado na vila de Jericoacoara, situada no extremo-oeste da costa cearense, no município de Jijoca de Jericoacoara. Esse processo resulta dos embates em torno ao gerenciamento do Parque Nacional de Jericoacoara (Parna Jeri) criado em 2002 e da expansão turística na região. Em 2014, no governo Dilma Rousseff, foi pela primeira vez proposta a adoção de Parceria Público-Privada (PPP) para o gerenciamento do parque. Esta não chegou a ser implementada, mas gerou fortes reações da população local. Desde então vimos acompanhando os acontecimentos e as mudanças ocorridas, por meio da observação in loco, realizando coleta de dados etnográficos na localidade, além de material secundário referente às mudanças na Política Nacional de Turismo decorrente dos diferentes momentos políticos vividos no país e aos encaminhamentos do Ministério do Turismo em cada gestão. Em setembro de 2023, foi lançado o edital de licitação da Concorrência nº 002/2023, que concede os serviços públicos do Parna Jeri para a iniciativa privada. Em janeiro de 2024, o Consórcio Dunas, composto pelo Grupo Cataratas e Construcap, venceu a concorrência de concessão de serviços de apoio à visitação ao Parna Jeri, e desde então, a pesquisa vem se voltando para o estudo dos efeitos ambientais dessa concessão sobre a vila e refletir criticamente acerca de como a questão ambiental será pensada frente aos inúmeros interesses em jogo. Em 2024, foi realizada uma visita na região, com a intenção de observar mudanças ambientais e na atividade turística ali praticada, como também a movimentação da comunidade local em torno da concessão, através de entrevistas com representantes de diversos segmentos; pousadas, caminhonetes, trabalhadores informais e representantes da gestão de turismo. A noção de ambiente em seu sentido amplo e relativo, proposta por Ingold (2000), será norteadora deste estudo. Como recurso metodológico, a pesquisa busca articular etnografia e a ecologia política com base na proposta metodológica de Little (2006), levada a efeito e aprofundada por Rodrigues (2019), para o estudo dos conflitos socioambientais, identificando os atores, estratégias, argumentos e os interesses dos sujeitos envolvidos nos conflitos. Vale notar que Rodrigues (2019) já apontava a crescente elitização do turismo na localidade, sem resolução dos problemas ambientais e com prejuízos daqueles que detém menos poder e capital político; trabalhadores ambulantes, pequenos comerciantes e prestadores de serviços turísticos.