Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 024: Antropologia e Turismo: transversalidades, conflitos e mudanças
Turismo comunitário, turismo empresarial e outros projetos de desenvolvimento na costa do Ceará: luta por direitos, visibilidade étnica e homologação de Terras Indígenas
Aborda-se o turismo comunitário em territórios indígenas como vetor da identidade étnica acionada por meio de reivindicações junto ao Estado, a fim da efetivar os seus direitos como povos indígenas. Enfatiza-se a zona costeira do Ceará, e discute-se o turismo nas Terras Indígenas (TIs) Lagoa Encantada do povo Jenipapo-Kanindé e Tremembé da Barra do Mundaú, um tema que provoca distintas reflexões a propósito de seu impacto na cultura, na reelaboração ética, incluindo-se questões sobre as práticas de turismo em territórios tradicionais. Estes povos se tornaram protagonistas nos processos de reivindicação das suas TIs objetivando reconstruir a história, tirando-os da condição de invisibilizados ou extintos. O turismo comunitário junto ao Museu indígena e a educação indígena é um vetor da identidade étnica, em momento histórico da invasão dos seus territórios por grandes empresas. Examinam-se territórios tradicionais onde se pratica o turismo com autogestão indígena, adverso ao turismo empresarial e os demais projetos de desenvolvimento - agronegócio (camarão e monocultura de coco), instalações eólicas (offshore) e metropolização urbana para o turismo internacional que avançam sobre os seus territórios acirrando conflitos. E as perspectivas atuais para o turismo comunitário face à reestruturação da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (FUNAI) no governo atual.
O artigo permite reflexões a partir do estudo comparado em territórios tradicionais dos povos indígenas Jenipapo-Kanindé e Tremembé da Barra do Mundaú, levando em conta o papel das mulheres; as situações jurídicas das suas TIs visadas por projetos hegemônicos; as relações sociais de conflitos decorrentes destas pressões de empreendedores internacionais; as práticas culturais e os seus protagonismos indígenas; as relações de poder no trâmite da demarcação; os vínculos de pertencimento como sujeitos coletivos com construções de processos alternativos (a exemplo, o turismo comunitário). Discute-se o turismo empresarial internacional imposto aos povos indígenas do estado do Ceará, com anuência de governos anti-indígenas. Demonstram-se as contestações e as pressões para impedir o andamento dos processos de demarcação das TIs por parte de conjunturas (política, jurídica, ruralista, religiosa, empresarial e de cooperação internacional) nos dois casos investigados. A minha tese de doutorado a ser referida tornou-se um fio condutor para organizarmos em 2013 o Colóquio Internacional de Turismo em Terras Indígenas (CTurTI), itinerante na América Latina, com ampla participação de povos indígenas, quilombolas e outros povos e comunidades tradicionais, como um espaço de protagonismo no âmbito das reivindicações por direitos coletivos.
© 2024 Anais da 34ª Reunião Brasileira de Antropologia - 34RBA
Associação Brasileira de Antropologia - ABA