Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 024: Antropologia e Turismo: transversalidades, conflitos e mudanças
Rocinha Histórica: um tour de favela pelas memórias e histórias com o Museu Sankofa
O turismo em favelas é a expressão local de um fenômeno global: o turismo em áreas de pobreza, cujos primeiros registros datam no final dos anos 1980 e início dos anos 1990, de maneira concomitante na África do Sul e no Brasil. Em 2015, estimou-se um número anual de mais de um milhão de turistas circulando por áreas de pobreza pelo globo e 80% deste fluxo se concentrava entre África do Sul e Brasil (Rio de Janeiro). Nesse fluxo global, a Rocinha aparece como a paradigmática favela turística (Freire-Medeiros, 2013), considerada a primeira a receber roteiros turísticos estruturados no Rio de Janeiro, tornou-se referência para outras favelas do Rio e outras áreas de pobreza no mundo como modelo a ser seguido ou contestado. Na primeira década dos anos 2000, as favelas se consolidaram como atrativos turísticos, o Estado passou a reconhecer essas áreas como atrativos oficiais e a estimular sua comercialização, o que foi acompanhado por novas políticas públicas nessas áreas. O turismo entrou em pauta. Consultores realizaram estudos de potencialidades e capacitaram moradores de favelas para empreenderem no turismo. Ao mesmo tempo que se espalhou, esse turismo especializou-se e diferenciou-se. O turista passou a encontrar as mais diversas experiências em favelas, desde a gastronomia local a museus, trilhas e hospedagens. Neste trabalho, retornamos a Rocinha, mas agora com o Museu Sankofa um museu de percurso que através do roteiro turístico Rocinha História apresenta as memórias e histórias da Rocinha. Partimos de observação participante realizada entre 2022 e 2023 em visitas, reuniões e outras atividades organizadas pelo Museu. E, descrevemos e analisamos como as memórias e histórias são mobilizadas durante essas visitas, reuniões e outras atividades. Por fim, concluímos que as visitas turísticas se tornaram uma ferramenta para produção e reprodução de narrativas, memórias e histórias sobre as favelas. Para as visitas são feitas pesquisas, conversas, entrevistas com moradores que ganham ouvintes nos turistas. Diferente de outros roteiros na Rocinha, o Museu Sankofa conta as histórias de luta por moradia, saúde, saneamento, seguranças, entre outras pautas. A luta pelo direito a cidade se revela como a principal eixo de memória e história desse tour que traz concretude para um museu comunitário que existe como prática cotidiana e não como prédio construído com objetos em seu acervo, mas como prática de coleta e contação de memórias e histórias que são vistas, percebidas e sentidas ao longo de uma caminhada turística.