Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 024: Antropologia e Turismo: transversalidades, conflitos e mudanças
Turismo e Museologia Comunitários: as atividades da Fundação Casa Grande no Ceará e a perspectiva decolonial
A Fundação Casa Grande, no Cariri cearense, tem como um dos seus eixos de atuação o empreendedorismo social, a partir do qual realiza diversas atividades entre elas o turismo. São várias experiências sendo realizadas, entre elas os Museus Orgânicos (MOs) com características singulares em seu formato e propostas e que vêm ganhando terreno e projeção. Os MOs resultam de um projeto que consiste na escolha de mestres de saber e na transformação de suas casas e/ou oficinas em MOs visitáveis, com uma série de protocolos e especificidades que lhes dão identidade. Até 2023, existiam treze MOs em funcionamento e outros tantos sendo projetados. Estudá-los é importante para compreender os significados, as particularidades, os acertos, os desafios e sua replicabilidade. O processo que vem ocorrendo por meio das atividades promovidas pela FCG, parece convergir com o ideário preconizado pelas redes de turismo que se autodenominam contra hegemônicas, como o Turismo de Base Comunitária (TBC) e da museologia social/pós-museu. Não há evidências e nem estudos descrevendo estas experiências e seus referenciais relacionados aos preceitos decoloniais. Também consideramos importante buscar conhecer e refletir sobre isso com os atores sociais envolvidos neste processo, especialmente os mestres de cultura.
Relatos destas experiências de turismo e de museus na lógica decolonial estão em evidência, porém são recentes e pouco conhecidos. O discurso decolonial, as modalidades de turismo alternativos podem ser absorvidos pelo mercado de forma a descaracterizá-los promovendo novas desigualdades e conflitos. Alguns autores afirmam que tais processos, podem ser pacificadores, apagando o racismo e até atrapalhando seu combate.
Mesmo com muitas experiências alternativas de turismo e de museus é evidente que o terreno está em construção. Especialmente quando ocorre em territórios e grupos periféricos, marginalizados, conseguindo com isso um tipo de autenticidade que somente grupos organizados com base em um aprendizado social próprio, de um caminho de lutas comunitárias e políticas, consegue ter. Desta forma, são poucas as experiências que somam todos os atributos e com resultados esperados.
Entendemos que há paralelos importantes e que precisam ser pensados, amadurecidos a fim de que sejam compartilhados com todos os envolvidos e buscar convergir e fortalecer os vínculos e a proposta, com a coerência necessária e assim, tentar atingir as missões originais evitando contradições e armadilhas possíveis. Trata-se de uma pesquisa em andamento e, até o momento, foi realizada parte da revisão bibliográfica, três visitas à região para conhecer as experiências e instaurar um canal de comunicação com atores locais, por meio de diálogos e registros que auxiliarão a continuidade da pesquisa.