Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 024: Antropologia e Turismo: transversalidades, conflitos e mudanças
Visualidades da natureza comodificada do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses: entre a continuidade do pitoresco e a incorporação do instagramismo em imagens turísticas
O Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses (PNLM), instituído como uma unidade de conservação de proteção integral em 1981, é atualmente um dos destinos turísticos mais desejados por pessoas de todas as partes do mundo. Apesar dos seus atrativos naturais, é um território marcado por tensões, disputas e conflitos socioambientais em razão da histórica presença de famílias de comunidades tradicionais, antes mesmo da sua instituição, que ali vivem e desenvolvem tradicionalmente suas atividades econômicas e outras relacionadas com o turismo. Como destino turístico, o PNLM é construído pelo imaginário social como lugar que possui uma natureza paradisíaca, intocada, desconectada da produção humana e, em razão dessas construções sociais, torna-se uma destinação propícia à exploração econômica pelos agentes ligados à cadeia do turismo. Nesse cenário, a imagem se torna um instrumento de reprodução e perpetuação de tal imaginário, ajudando não somente a conformar e consolidar o olhar sobre a natureza, mas servindo como uma ferramenta eficaz de mediação e sedução do olhar para o consumo turístico da natureza no PNLM. Nesta proposta, estabeleço uma relação de proximidade entre a fotografia e turismo, em que determinadas imagens fundamentam de maneira decisiva o processo de constituição, definição e escolha de certos destinos turísticos e ajudam a pensar imaginários sobre a natureza de lugares e posses de espaços pelo consumo turístico. Busco refletir através do caso do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, algumas imagens produzidas por diferentes agentes, inclusive pelos próprios turistas, considerando-as como um mecanismo integrante do processo de comodificação da natureza, que age antes, durante e depois da viagem. Em meu recorte de pesquisa, identifico em tais imagens com suas legendas e narrativas, extraídas de repositório de imagens, redes sociais, livros de fotografia, ensaios fotográficos, uma espécie de película ideológica construída e composta por de determinadas estéticas que podem ser identificadas como uma continuidade do pitoresco e a inclusão do instagramismo, em que estas conformam um tipo de imagem da natureza propícia a contemplação turística, que vem consagrando os Lençóis Maranhenses como paraíso, sendo capazes não somente de convencer o olhar, mediando as decisões do consumo da natureza através do turismo, mas também de negligenciar a existência das populações tradicionais que ali vivem, a partir de enquadramentos que destacam a natureza como cenário, composto apenas por dunas alvas e sinuosas e lagoas com águas cristalinas sob um céu azul de verão.