Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 024: Antropologia e Turismo: transversalidades, conflitos e mudanças
Turismo Religioso e Peregrinação: novas perspectivas
O estudo acadêmico sobre turismo é de temática e abordagem ampla, abrangendo múltiplas áreas do conhecimento. A busca de uma definição conceitual do que é o turismo vem sendo objeto de discussão na antropologia e outras disciplinas (Nash, 1981; Urry, 2001; Grünewald, 2003). Nesse contexto, a relação entre turismo e peregrinação ajuda a esclarecer essa tarefa de compreender o fenômeno do turismo. Considerando turismo e peregrinação como duas categorias de viagem (Badone, 2004), a presente pesquisa visa entender ambos a partir de uma etnografia multissituada e com variados interlocutores que se entrelaçam numa rede que possibilita a existência tanto do turismo quanto da peregrinação. A pesquisa constituiu dois objetos de estudo: primeiro, uma agência de turismo no centro da cidade do Rio de Janeiro que se apresenta como especializada em turismo religioso por organizar exclusivamente peregrinações religiosas para famosos destinos como Terra Santa, Santuários Marianos, Caminhos São de Paulo e Vaticano; segundo, uma Igreja Católica na zona sul do Rio, onde um padre é o líder religioso de peregrinações e contrata a agência de turismo para viabilizar todo o processo organizacional da viagem. Classificando-a de "peregrinação mista", o padre lidera os fiéis da Igreja numa viagem de peregrinação na qual se celebra missa todos os dias em lugares santos ou nos hotéis e, ao mesmo tempo, inclui visitações turísticas a lugares sem relação direta com religião. No roteiro França e Espanha, os peregrinos vão aos santuários de Lourdes, Montserrat e Ávila, assim como fazem compras como turistas no Principado de Andorra, visitam Saragoza para degustar bons vinhos em vinícola espanhola e conhecem os principais pontos turísticos de Barcelona. Assim, a presente pesquisa busca dar voz a todos esses múltiplos atores (Clifford, 2002) ao tentar entender seus próprios conceitos de peregrinação e turismo, buscar as razões, motivações e crenças para eles estarem, de alguma forma, envolvidos nas atividades de turismo e peregrinação. A etnografia incluiu entrevistas na agência de turismo, na Igreja com o padre e os fiéis, em outras Igrejas com outros padres, além de observação participante no cotidiano dessas instituições, acompanhando missas, festas do padroeiro, procissões, assembleias e novenas. O que se aponta é a existência múltiplas motivações e crenças de todos os atores envolvidos e a importância da chamada arena de discursos em competição (Eade e Sallnow, 1991), o que faz com que os conceitos estejam em constante negociação. Chama-se atenção ainda para as articulações promovidas por cada atividade (Coleman, 2021), ampliando o olhar de pesquisa etnográfica para situações cotidianas como a liturgia da missa que colabora na construção do imaginário e do desejo de viajar.