ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 024: Antropologia e Turismo: transversalidades, conflitos e mudanças
Antropologia da Turiperegrinação a Santiago de Compostela
Esta comunicação assenta numa reflexão antropológica sobre as relações entre peregrinação e turismo, e tendo em conta o fenómeno jacobino da revitalização das rotas de peregrinação a Santiago de Compostela. O centro disso é o questionamento da tradicional dicotomia entre turismo e peregrinação (Di Giovine, 2013) e o surgimento de um fenômeno que consideramos novo: a turiperegrinação. Entendemos a turiperegrinação como um sistema cultural polissêmico, à maneira de Clifford Geertz (1988) e também politômico, integrando elementos da modernidade e da pós-modernidade ao mesmo tempo, de forma articulada e dialética. Consideramos a turiperegrinação um modelo de interpretação e análise da atual peregrinação a Santiago de Compostela ao longo dos seus vários percursos. Entendemos as peregrinações a Santiago de Compostela como experiências hipersignificativas (Di Giovone e Choe, 2020), ou seja, como algo mais do que religião (por exemplo, turismo religioso) e sacralidade (Roccas e Elster, 2014), mas também como algo mais do que secularidade profana (cf. Taylor, 2015; Giner, 2016) ou simples experiência recreativa ou hedonista. Podemos afirmar que as peregrinações são cada vez mais turiperegrinações espirituais pós-seculares (Di Giovone, 2013; Lois e Santos, 2015; Berger, 2016; Balkenhol, Hemel e Stengs, 2020) e neoespirituais (Mendel, 2015). Isto não é pejorativo nem diminui o significado da peregrinação, mas antes resinifica-a, refuncionaliza-a e promove-a em resposta às novas necessidades sociais (por exemplo, reconetar-se com a natureza, com os outros e consigo mesmo após os confinamentos de a pandemia de COVID).-19). Significativamente, as peregrinações turísticas a Santiago de Compostela criaram um sentido de comunidade humana global, mas também recriaram e recriam identidades individuais, locais, regionais, nacionais, transnacionais e europeias, que devem ser estudadas e analisadas do ponto de vista de seus processos sociais de transformação e seus significados.