Grupos de Trabalho (GT)
GT 003: Alteridades na universidade: saberes locais e diálogos críticos
Coordenação
Carla Susana Alem Abrantes (UNILAB), Carla da Costa Dias (UFRJ)
Debatedor(a)
Joanice Santos Conceição (UNILAB), José Gabriel Silveira Corrêa (UFCG), Maria Railma Alves (UNIMONTES)
Resumo:
As universidades brasileiras vêm sendo, nas últimas décadas, o palco de profundas transformações sociais resultantes de políticas de ampliação do ensino superior e de ações afirmativas. Muitos sujeitos, outrora excluídos, chegam com histórias ativas, com experiências interculturais e com novas pautas acionadas e tensionadas na construção cotidiana e intercientífica do ensino. Essas manifestações representam grupos que sobreviveram às invasões coloniais, à assimilação forçada e ao racismo e hoje lutam por agendas decoloniais e um diálogo crítico e historicamente sensível aos modelos hegemônicos e às relações de poder. Os alicerces para esse novo ensino são o protagonismo juvenil, a emergência de identidades raciais, étnicas, tradicionais e a interação com territórios, redes e cotidianos comunitários. A antropologia tem sido, portanto, provocada a se aproximar dessas arenas de conhecimento emergentes nas universidades e mediar posições e estratégias que respeitem os saberes locais e ancestrais. Ao retomar os diálogos entre alteridades na universidade promovidos na 33ª RBA e ampliá-los em parceria com o Observatório das Desigualdades e Discriminações Étnico-Raciais na Unimontes (MG), esperamos receber trabalhos de pesquisa, ensino e extensão sobre a temática em tela. As formas de conhecer, sentir e agir no mundo, ao serem partilhadas, promovem uma antropologia aberta à construção de espaços mais democráticos e a permanência dos jovens na universidade.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Adrian Kethen Picanço Barbosa (UFBA)
Resumo: Este resumo busca fazer uma discussão sobre a emergência de Quilombolas pesquisadores/as na pós-graduação a partir das discussões que tenho desenvolvido no projeto de tese intitulado “Embates epistemológicos contra coloniais: A produção de conhecimentos quilombolas nas Universidades da Amazônia”. O projeto de tese tem como objeto de pesquisa as interlocuções construídas com quilombolas pesquisadores/as visando de compreender como as epistemologias quilombolas por eles produzidas tensionam e dialogam com o status quo acadêmico na Amazônia.
A partir disso, para compreender o aspecto da emergência dos indivíduos quilombolas na Pós-Graduação, apresento uma discussão sobre como os processos de acesso a direitos básicos como a educação são atravessadas pelo Racismo estrutural (ALMEIDA, 2019). Dentro da academia evidenciam-se as relações de poder nos âmbitos institucional e educacional, onde esses indivíduos são colocados como pesquisadores/as fora de uma noção ocidentocêntrica* de intelectualidade. Desta forma, as produções epistemológicas de quilombolas na pós-graduação são invisibilizadas e taxadas como não científicas. Grada Kilomba (2020) afirma que as pesquisas de intelectuais lidos como subalternos são apontadas “como muito específicas” (KILOMBA, 2020, p.51) e que tais comentários são uma forma de silenciar as vozes e produções neste espaço. Por isso trago a contra-colonialidade de Nego Bispo (2015) como uma estratégia que endossa a luta pela (re)existência do povo quilombola em todos os espaços, inclusive na Pós-Graduação.
Dialogando com essas questões, Luena Pereira (2020), atravessada pelas diferentes formas de construção de alteridade entre África e Brasil em seu campo, afirma que as noções de alteridade e diferença nas ciências sociais são praticamente sinônimas e isso leva a uma caracterização do antropólogo brasileiro “como não índio, não negro, e não camponês” (PEREIRA, 2020, p.08). Diante desta reflexão, a referida autora ressalta, que indivíduos subalternizados são a todo tempo questionados e invalidados. Dessa sorte, argumento aqui que a emergência de estudantes quilombolas na Pós-Graduação, munidos da visão de educação como ferramenta política de luta, modifica gradualmente o cenário epistemológico das humanidades no Brasil, visto que, a partir destes indivíduos é possível pensar formas outras de pesquisa, narrativas racializadas e posicionadas que falam de si e de outros horizontes de pesquisa, levando em conta o pertencimento, a relação com a terra e as experiências coletivas em comunidade. O acesso e a permanência de quilombolas na universidade promovem, assim, uma disputa de narrativas visando a construção de uma intelectualidade compartilhada entre os saberes ancestrais quilombolas e os saberes acadêmicos.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Ana Luiza do Nascimento Rezende (UFMG)
Resumo: Este trabalho é fruto de uma pesquisa de Mestrado em Psicologia Social, ainda em desenvolvimento, na cidade de Belo Horizonte (BH) e Região Metropolitana (RM). A ideia surgiu dos trânsitos e análises que fui construindo, ainda na graduação, a partir do contato com pensadoras/ativistas travestis seja nas pistas, em eventos acadêmicos, nos movimentos sociais, na instituição prisional, nas cenas artísticas, na política ou nas produções acadêmicas/literárias. Tais contatos, à luz dos feminismos, especialmente nas perspectivas interseccional (Collins e Bilge, 2021) e decolonial (Passos, 2019), entrecruzaram-se a experiência enquanto estagiária do Núcleo de Apoio ao Estudante, na luta por vias de democratizar a Universidade. Conforme aproximava do campo, fui percebendo a batalha travada coletivamente pelas travestis, reconhecendo a importância das pistas, mas reivindicando para si ocupar espaços para além da prostituição (Moira, 2016; Passos, 2022). Dentre esses espaços, a educação, historicamente marcada por lógicas coloniais, mas que diante da luta, vem se reinventando (Iazzetti, 2021; Mayorga, Costa e Cardoso, 2010; Passos, 2019; Zanela, 2019). No cenário do ensino superior, para as travestis e mulheres transexuais, tais reinvenções se concretizam a partir da conquista de alguns direitos, como por exemplo: a garantia do uso do nome social e implementação de políticas afirmativas (Iazzetti, 2021). Para além da conquista de tais direitos que se operacionalizam a partir de resoluções nas Instituições e que muitas vezes se apresentam falhas, cabe salientar a importância da tecitura de redes transcentradas. Estas são organizadas pelas próprias acadêmicas como formas de se acolherem e oferecer apoio entre si, criando assim, “respiros” para que continuem na luta e esbocem o caminho para outras companheiras que virão depois (Iazzetti, 2021). Diante do que foi exposto, o objetivo da pesquisa é compreender como o ingresso e a organização em grupos das Travestis dentro do espaço universitário proporcionam um tecer de redes coletivas de (r)existência que contribuam para a permanência delas na Universidade. Mapeamentos iniciais feitos no Diretório de Grupos de Pesquisa (DGP), a partir de descritores como “Travesti”/“Transfeminismo”, indicam a região sudeste em evidência na discussão. Nesse sentido, em termos metodológicos localizo essa pesquisa como qualitativa (Minayo, 2012). Busco alinhavar os dados documentais levantados no DGP, na qual mapeio as Instituições de Ensino Superior onde travestis e mulheres transexuais acadêmicas estão, aos fatos etnográficos (Peirano, 2008) vivenciados em campo junto a essas estudantes.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Andi Pinheiro de Almeida (UFPE)
Resumo: A colonização não se encerra enquanto um episódio histórico na perspectiva linear do tempo. Do contrário: se reinventa e se alastra às esferas psicossociais com uma nova roupagem, configurando o que entendemos hoje por modernidade em todas as suas facetas. Neste texto, pretendo iniciar uma investigação teórica interdisciplinar do potencial colonizador que a doutrina de objetividade descorporificada (Haraway, 1988) pode ter nas pesquisas acadêmicas. Além disso, propor um ebó epistemológico (Rufino, 2019) como aposta radical para arriar as estruturas de organização do pensamento branco-eurocêntrico masculino. No limiar de minha observação está uma proposta de uma autoetnografia (Silvio Santos, 2017) aplicada nas redes sociais. Convido a pensar em conjunto: quais são os desafios de um cientista com uma postura contracolonial (Bispo dos Santos, 2023) em um terreno no qual não só o objeto (redes sociais), como também os meios para desvendá-lo (ciência nos moldes ocidentais) são instrumentos de colonização? De que maneira os saberes de uma outridade (Ferreira da Silva, 2019) contribui para o desmonte do pensamento que se propõe como único e universal? Qual é o papel político e ético de uma postura científica no ato de localizar e corporificar um saber? Quais são os limites de uma proposta epistemológica determinada a reencantar o conhecimento? Essas e outras indagações são pertinentes ao percurso desta breve investigação. Desse modo, é minha intenção incentivar a pluralidade de saberes e, ao mesmo tempo, invocar o encantamento como movimento contracolonial em resposta ao monorracionalismo predominante no interior dos laboratórios das ciências humanas e sociais; entre elas, a Antropologia. Partindo do argumento de que as formas de apreensão de uma fatia da realidade caracterizadas como metodologias científicas – a exemplo, a etnografia – são construções sociais dentro de um campo de poder que classifica e autoriza a manutenção ou a morte de um saber em detrimento de outro, meu objetivo é não só defender a subjetividade e a reflexividade como caminhos estruturantes de uma episteme, mas sobretudo, defender uma prática descolonizadora (Rivera Cusicanqui, 2019) para além de uma parafernalha espertalhona de um discurso pretendido a ser descolonizador.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Antonio Jeovane da Silva Ferreira (UFG)
Resumo: A Universidade apresenta-se enquanto um ambiente radicalmente distinto da realidade experienciada por quilombolas nas comunidades onde cresceram e vivem. Trata-se, portanto, de uma mudança significativa nos seus modos de viver, tornando-se assim, um desafio transcendente que demanda luta e estratégias antes, durante e após a travessia nesse “novo”, porém, antigo espaço. Deste modo, esta comunicação alinha reflexões iniciais que partem da pesquisa desenvolvida no âmbito do doutorado, com foco na investigação das estratégias de contracolonização (SANTOS, 2015) forjadas por estudantes quilombolas no ensino superior, analisando as articulações e mobilização político-estudantil no sentido de garantir o acesso, permanência e o êxito acadêmico na Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), localizada na região do Maciço de Baturité, estado do Ceará. Interessa-nos refletir a influência dessas estratégias na transformação das posturas institucionais, bem como em ações, políticas e programas universitários, possibilitando a (re)existência de suas identidades e modos de vida. Sob uma perspectiva etnográfica, analisaremos o tema à luz das discussões teóricas de Spivak (2010), Kilomba (2019), Santos (2015, 2023), Hall (2006), Gonzalez (1984) e Quintiliano (2019), entrecruzando o debate de temas correspondentes a identidade, diferença e políticas afirmativas no ensino superior.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Antonio Marcos de Sousa Silva (UNILAB)
Resumo: Esta proposição analítica é fruto de um conjunto de atividades que realizo na disciplina de Sociologia da relações étnico-raciais ministrada para os cursos de licenciatura em Sociologia e bacharelado em Humanidades na Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-brasileira/UNILAB. Essas atividades foram desenvolvidas no formato de oficinas de relatos sobre episódios de racismo cotidiano sofridos pelos estudantes internacionais dentro da universidade e nas cidades onde habitam, Redenção e Acarape, no Ceará. Como suporte teórico para a atividade, trabalho com o livro de Grada Kilomba, Memórias da Plantação, especialmente as reflexões em torno dos episódios de racismo cotidiano. Nesse artigo, minhas preocupações analíticas se concentram no entendimento das tensões e conflitos causados pela produção do racismo nas vidas dos estudantes internacionais durante sua formação. Tendo em vista essa linha de pensamento, o objetivo deste trabalho é analisar, a partir de relatos de racismo cotidiano, como os estudantes lidam com os episódios de racismo em suas condições de sujeitos diaspóricos, do outro lado do atlântico. Como arcabouço metodológico, trilho o caminhar da etnobiografia, na forma de relatos de si como dispositivo de construção de conhecimento do mundo. Nesse sentido, a memória surge como suporte de onde as narrativas de si emergem como produtoras de tensões analíticas entre antes (o evento racista) e o agora (a reflexão sobre o ato), pois, quando acionamos a memória, produzimos conhecimento e nossos discursos incorporam não apenas palavras de luta, mas também de dor, como salienta Kilomba (2019). Memórias da diáspora dos estudantes de Guiné-Bissau, de Cabo Verde, de Angola, de Moçambique neste trabalho tem o sentido também de pensar as tensões e conflitos, numa perspectiva macro, produzidos pela relação triangular entre Universidade/estudantes/cidades. Pensar as tensões e conflitos a partir de relatos de racismo cotidiano vivenciados pelos estudantes em suas diásporas, também alimenta um corpus de saberes em torno do papel da universidade no combate às múltiplas formas de racismo em nossa sociedade brasileira. Para finalizar, este trabalho traz como achados epistêmicos, isto é, como fonte de reflexões no campo da sociologia e da antropologia, pensar a produção de práticas racistas como produtora de tensões e conflitos permanentes entre os estudantes internacionais, a Unilab e as cidades onde habitam.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Charlene Ramos Aguiar (UNIMONTES)
Resumo: Introdução: O estudo investiga a relação entre as entidades afro-brasileiras e as entidades indígenas no Candomblé Angola, destacando a importância histórica desse encontro marcado pela colonização e escravatura. Objetivos: Observar, coletar e analisar rituais, festas e artefatos relacionados ao culto dos caboclos no Candomblé Angola e compreender a relação afroindígena no contexto das religiões de matriz africana e resgatar a identidade ameríndia dos caboclos. Justificativa: O estudo aborda a resistência cultural dos povos de terreiro, evidenciada em manifestações como a capoeira, a culinária e as práticas religiosas, buscando narrar essa presença sem os viéses do branqueamento e da estatização. Referencial Teórico: São exploradas as contribuições de autores como Márcio Goldman e Roger Bastide para entender a dinâmica da relação afroindígena no contexto das religiões de matriz africana. Metodologia: Adota-se uma abordagem qualitativa, baseada em observação participante e pesquisa bibliográfica e etnográfica, visando coletar e analisar dados relacionados aos cultos e rituais praticados nos terreiros de Candomblé Angola. Discussão: A pesquisa busca compreender as conexões e misturas culturais entre africanos e indígenas no Brasil, reafirmando o conceito de "Relação Afroindígena" proposto por Goldman, e contribuindo para uma compreensão mais profunda das entidades afro-brasileiras e indígenas.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Cíntia Cinara Morais Borges Soares (UFPB)
Resumo: Este trabalho traz a discussão sobre o significado do Programa de Educação Tutorial (PET) Indígena para as universidades, num contexto de democratização do ensino superior, configurado pelas políticas de acesso e permanência para estudantes negros, indígenas e quilombolas, historicamente excluídos da formação superior no Brasil. O Programa de Educação Tutorial (PET) vinculado à Secretaria de Educação Superior SESu/MEC, foi instituído em 2005 para fomentar a aprendizagem tutorial sob o tripé ensino-pesquisa-extensão, vinculados às diversas áreas de conhecimento, composto por estudantes bolsistas e um professor tutor. Atividades acadêmicas em padrões de qualidade de excelência estimulariam a formação de profissionais e docentes de elevada qualificação técnica, científica e tecnológica. A Portaria 976/2010 trouxe inovações para a estrutura do PET como, por exemplo, a flexibilização e dinamização da estrutura dos grupos, união do PET com o Programa Conexões de Saberes, vinculação dos novos grupos às áreas prioritárias e às políticas públicas e de desenvolvimento, assim como a correção de desigualdades regionais e interiorização do programa, rompendo com uma lógica meritocrática de constituição do programa. De acordo com informações do MEC(http://portal.mec.gov.br/component/tags/tag/pet), o Programa conta com 842 grupos distribuídos entre 121 Instituições de Ensino Superior (IES). O PET Indígena tem sua criação vinculada à Universidade Federal da Bahia (UFBA), pela luta de estudantes que tinham origem indígena e conseguiram em Brasília a aprovação para criação do PET Indígena. Está presente em algumas universidades, dentre elas a UFPB, UFPE (vinculada ao Centro Acadêmico do Agreste), UFSM (PET Ñande Reko), UFSCar, UFMT, UFAC, UNIFAP. A presença dos PETs Indígenas provoca reflexões sobre a necessidade de agregar a diversidade cultural na dinâmica da universidade, com espaços de diálogo intercultural. Portanto, qual o significado do PET Indígena nas universidades, para os estudantes indígenas e demais comunidade acadêmica? Quais as motivações que impulsionam os estudantes indígenas a serem petianos? Através de pesquisa nos sites dos PETs Indígenas, da observação participante em eventos e acompanhamento do PET Indígena da UFPB, foi possível perceber a importância do PET Indígena como local de acolhida afetiva e efetiva dos estudantes indígenas. Desenvolvem projetos de extensão no território indígena e na universidade, cartografia, participam de eventos acadêmicos, com exposição de objetos e rituais indígenas, rodas de conversas e pesquisas temáticas. O PET Indígena demarca um lugar de visibilidade dos estudantes indígenas nas universidades, provocação para romper com a colonialidade de saberes e possibilidade de vivências interculturais na universidade.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Guilherme dos Santos Oliveira (SEEDUC RJ), Elis Rosa dos Santos Simão (Un)
Resumo: A Universidade Estadual de Campinas tem sido palco nos últimos cinco anos de intensas e importantes transformações. A entrada expressiva de estudantes negres e LGBT+ vem promovendo avanços em diferentes aspectos com destaque para mudanças nos corpos discentes, nos temas de pesquisa e na produção de conhecimento. Nos debruçando sobre esse contexto, este trabalho visa apresentar como esses sujeitos políticos se organizam no espaço universitário agenciando marcadores sociais como raça/cor, gênero, sexualidade, classe e geração a fim de tornar a Unicamp mais inclusiva e democrática. Tendo como pano de fundo as ações afirmativas (FERES et al, 2018) existentes hoje na instituição, especialmente no que tange às cotas raciais e a cota para pessoas trans, nossa análise recai nas ações desenvolvidas pelo Fórum de Coletivos Negros da UNICAMP (Aquilomba Fórum) e pelo Núcleo de Consciência Trans (NCT) que apesar de serem aliados, desenvolvem repertórios e enquadramentos diferentes sem suas formas de atuação política na universidade. Portanto, partindo das noções de conhecimento situado (HARAWAY, 1995), de estar a margem (hooks, 1995), de posicionalidade (COLLINS, 2016) e da articulação com o campo de estudos das relações raciais e em diálogo com a perspectiva teórica do feminismo negro e dos estudos transfeministas, nossa intenção é apresentar as contribuições desenvolvidas por esses atores políticos na cena sociopolítica universitária a fim de fazer com que a UNICAMP transicione e enegreça.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Joanice Santos Conceição (UNILAB), Antonio Renaldo Gomes Pereira (UFPB)
Resumo: A alteridade exige do outro uma relação de respeito e cumplicidade para a construção do ser humano enquanto portador de direitos e deveres. Por muito tempo, na sociedade brasileira, a educação e as instituições criaram seus saberes a partir da percepção daqueles que possuíam o poder de nomear, classificar e gestar a vida de pessoas consideradas passíveis de serem dominadas. De igual modo, em certa medida, a Antropologia se insere neste cenário, validando saberes etnocêntricos sem considerar as marcas identitárias deixadas pelos povos tradicionais, especialmente da população negra e indígena, que, na maioria das vezes, tiveram e têm suas manifestações culturais invisibilizadas, quer pelo sistema educacional, quer pelas políticas públicas implementadas no país. Neste sentido, por meio das reivindicações dos movimentos sociais, paulatinamente, os saberes tradicionais adentram os espaços acadêmicos, convocando a todos os envolvidos na construção dos saberes científicos a olharem para as experiências de vida dos povos tradicionais como possibilidade de desconstrução do saber hegemônico e colonial. Tal convocação é feita no sentido de fomentar conhecimentos que interseccionem o saber acadêmico com as experiências dos povos outrora excluídos do processo de institucionalização. Partindo desta perspectiva, esta proposição visa refletir sobre os desafios colocados pelas decolonialidades. Haja vista que nos últimos tempos os espaços acadêmicos têm revelado o quão é desafiador trazer para o debate as emergências advindas da inserção de novos agentes sociais que adentram tais espaços. Tal fala encontra consonância em duas situações observadas nos últimos meses em duas universidades públicas. O primeiro traz uma cena em que alunos evangélicos protagonizam a realização de cultos no espaço acadêmico periodicamente; o segundo apresenta uma cena em que apenas uma liderança religiosa, presente em um ritual de defesa de mestrado, é o único legitimador de todo o processo avaliativo em que o candidato/adepto é outorgado com o título de mestre sem que os demais membros da banca fossem ouvidos. Nos propomos a refletir sobre os dois casos mensurando o quanto a decolonialidade pode gerar equívocos ao considerar apenas um dos lados. É preciso que tanto a Antropologia quanto os novos saberes encontrem um equilíbrio, a fim de promover a formação respeitosa que considere tanto o papel da academia quanto dos saberes tradicionais já que ambos têm poder na construção de novos sujeitos sociais.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Juliana Athayde Silva de Morais (IFRJ)
Resumo: Este trabalho tem como objetivo apresentar os achados de pesquisa realizada entre 2015 e 2019 a respeito da expansão do ensino superior brasileiro e a consequente descentralização das instituições públicas para regiões consideradas periféricas e interioranas do país. O foco da pesquisa realizada foi entender a forma como práticas pedagógicas, ações coletivas e produções acadêmicas consideradas "engajadas" são desenvolvidas por professores e estudantes desde as periferias, e seus possíveis impactos nas comunidades locais. O trabalho de campo concentrou-se em três instituições de ensino da Baixada Fluminense, na região metropolitana do Rio de Janeiro: a Faculdade de Educação da Baixada Fluminense (FEBF) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), em Duque de Caxias; o Instituto Multidisciplinar (IM) da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), em Nova Iguaçu; e o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ), em Nilópolis. Através da participação em diversos eventos acadêmicos que pautavam a expansão e maior inclusão social na universidade e de entrevistas realizadas com docentes e discentes vinculados a cursos superiores de Ciências Humanas, Linguagens e Educação, observei como o processo de descentralização da rede pública de educação superior vem acompanhado de transformações, questionamentos e tensões que afetam não apenas os sujeitos que acessam a graduação, mas as próprias instituições de ensino e a forma como tradicionalmente vem sendo desenvolvida a formação acadêmica no Brasil. Esse novo e complexo cenário educacional tem demandado práticas pedagógicas com maior sensibilidade política, relações intelectuais baseadas no afeto e na escuta e uma produção acadêmica conectada às experiências e corporalidades daqueles que a desenvolvem. Um dos resultados da pesquisa indica que a construção de práticas e ações no meio universitário comprometidas e engajadas com a realidade social das periferias e com as condições de vida do corpo discente produz sentidos à experiência universitária favoráveis à permanência de estudantes negros, periféricos e trabalhadores, tornando-se especialmente relevantes em contextos de crise. Observar a universidade pública periférica em um contexto pré-pandemia de Covid-19 pode, inclusive, nos dar luz sobre como seguir adiante com os atuais e complexos desafios.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Layla Ingridy de Melo Nascimento (UFRN)
Resumo: Quando a política de cotas foi sancionada em 2012, eu tinha apenas 9 anos. Quando prestei o vestibular e passei - através dessa cota e da escola pública - consegui entender a dimensão que aquela política afirmativa teve na minha vida e na vida de outros colegas não brancos.
Dentro da universidade, consigo ver e ouvir relatos de amigos não brancos que necessitam totalmente dessas políticas afirmativas para se manterem na graduação e pós-graduação.
Quando me encontrei trabalhando no formulário de ações afirmativas para a pós graduação de antropologia (área que pretendo atuar) me vi revendo muitas coisas do passado e do presente.
Entrar numa universidade federal é algo extremamente tocante, mas quando as portas se abrem e podemos ver o que estar lá dentro, nem sempre é resultado é positivo. Numa universidade não pensada para corpos como o meu, como minha subjetividade e meus sentimentos poderiam ser lidados? Era essa á pergunta que passava pela minha cabeça por algum tempo (as vezes ainda bato na mesma tecla) mas após entender o que são ações afirmativas e pensar as possibilidades diversas que podem trazer, meu vez repensar o possível futuro de uma universidade federal.
As ações afirmativas - me referindo á UFRN - trouxeram grande retorno com as questões de pesquisas e intelectuais indígenas. O departamento de antropologia hoje, pode contar com pessoas como Meyrianne, mulher indígena e doutor de antropologia. A força que ações afirmativas podem ter para o crescimento intelectual de pessoas não-brancas é algo que deve ser prioridade. O que fortalece, da voz, da fôlego é o real conhecimento sobre quem somos e onde pertencemos.
Enquanto bolsista do professor Gilson Rodrigues, aprendi á ver certas posturas estruturais com outros olhos, olhos mais fortes dessa vez. Porquê seremos muito, nossos conhecimentos serão diversos e grandiosos e ninguém vai poder nos dizer ao contrário.
Atualmente estou terminando a graduação. Então, pra me ajudar á pensar em minha manografia e na minha formação de cientista e mulher, estou lendo o tão amado “Os condenados da terra” do Frantz Fanon, reelendo “Memórias Póstumas de Bras Cubas” do Machado de Assis e “Transgredindo á educação” da Bell Hooks. Essas três leituras moldam um pouco á minha subjetividade e o meu anseio profissional. Agradeço ao professor Gilson, e a Matheus que se somou conosco para criação desses formulários. Foram meses agregadores.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Lucas Macêdo Batista (UFOB)
Resumo: Esta pesquisa tem por objetivo discutir e compreender os principais impactos da pandemia de COVID-19 sobre o ensino superior público na região geográfica imediata de Barreiras, no Oeste da Bahia e busca propor reflexões que possam subsidiar políticas e ações para redução dos prejuízos gerados entre as os grupos mais impactados pela pandemia entre as Instituições de Ensino Superior públicas da região. O Oeste do estado da Bahia pertence a uma região conhecida como MATOPIBA, uma das principais fronteiras agrícolas do Norte e Nordeste do país, tendo o agronegócio como seu motor econômico. Historicamente isso representa inúmeros conflitos socioambientais e prejuízos na vida e no trabalho das populações locais, muitos oriundos de comunidades rurais diversas, entre elas, várias comunidades tradicionais. A chegada da Universidade pública nesse cenário, nos últimos anos, vem representar oportunidades de mobilidade social e de inserção no debate público para esses grupos locais que por muito tempo foram excluídos das oportunidades, sendo silenciados, explorados e oprimidos pelo agronegócio. No entanto, a pandemia de COVID-19, iniciada em 2020, provocou efeitos devastadores nesse ambiente em transformação, gerando retrocessos significativos em décadas de lutas, cujos danos não foram sanados com o fim da pandemia, em 2023. Nessa direção, torna-se fundamental refletir sobre os reais prejuízos gerados pela pandemia, entre as populações locais, bem como nos impactos que isso representa para a própria Universidade enquanto espaço democrático. O estudo tem natureza qualitativa e se desenvolve por meio de fontes bibliográficas e documentais, com análise e interpretação das dificuldades produzidas pelo cenário pandêmico nas vidas e nas rotinas dos grupos locais em interação com a Universidade e das intervenções institucionais e de políticas públicas para reduzir ou mitigar esses prejuízos sobre as populações e sobre a universidade. Observa-se que a pandemia impactou significativamente as populações mais vulneráveis, produzindo sofrimentos diversos e afetando suas condições de continuidade na Universidade, reproduzindo e alargando desigualdades estruturais preexistentes. Essa dimensão coloca em risco a sustentabilidade da Universidade, uma vez que reduz seu papel na região e restringe o debate e o diálogo plural no seu interior. Deste modo, ressalta-se a importância do levantamento de dados e reflexões sobre esses efeitos, a fim de subsidiar ações voltadas para a reparação dos sofrimentos e perdas causadas pela situação pandêmica e para a recomposição da Universidade e da sua diversidade no cenário pós-pandemia, para que novas pandemias não venham reproduzir os mesmos danos.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Luciana Barbosa de Sousa (PUC-RIO)
Resumo: O objetivo do presente trabalho é refletir sobre o lugar de enfrentamento entre pessoas negras e a “academia eurocentrada”, acreditando que é na chave deste enfrentamento que emergem os sujeitos negros “do conhecimento”, capazes de produzir o resgatar a experiência do saber com e para o mundo contemporâneo. Observe-se, entretanto, que a natureza deste conhecimento é distinta daquele dito hegemônico (de base europeia), já que é fruto da resistência ao empreendimento colonial.
Para construir meu argumento, vou partir da minha própria trajetória como professora universitária e pesquisadora negra, projetando-a em conceitos elaborados por autoras e autores cujas produções dissertam sobre colonialidade, colonialidade de gênero, decolonialidade, feminismo decolonial, pensamento feminista negro e narrativas no campo das artes visuais.
Trata-se, portanto, de um relato em primeira pessoa, absolutamente "manchado" por sensações e experimentado pelo meu corpo, cujo significado está em fletir a fala acadêmica até que esta receba os contornos da trajetória de uma mulher negra. Acredito que a visibilidade desta presença irá encorajar outras mulheres negras a rever suas trajetórias e constituir suas próprias narrativas de si, suas trajetórias acadêmicas e de suas pesquisas, para gerar entendimento sobre as potências deste espaço em construção. Concordo com e pesquisadore prete trans Abigail Campos Leal quando diz que algumas ações artísticas não geram necessariamente objetos, mas sim comunidades. A partir do relato da minha trajetória como pesquisadora negra, vou buscar pensar a experiência de chegada à academia de grupos de negros, marcados pelas violências da diáspora colonial e por assimilação forçada. Neste enquadramento, refletirei sobre a luta antirracista em face do campo do conhecimento, reconhecendo as agendas decoloniais, que buscam, a partir diversas práticas e vieses distintos, superar o discurso colonial. O foco principal deste trabalho é o diálogo crítico com modelos hegemônicos de percepção de mundo, no sentido apontar, a partir do enfrentamento com a recusa da diferença, novos métodos, linguagens e práticas para a produção de conhecimento científico e saberes locais ancestrais e contemporâneos. Vale evidenciar, neste processo, a importância do papel de uma antropologia crítica, que visa debater com campos emergentes de conhecimento, para retomar, de forma horizontal, diálogos entre alteridades no espaço da “academia”. Finalmente, proponho o desenho como caminho para acessar categorias de conhecimento que ultrapassam a experiência escrita para performar relações sensoriais com o espaço, o tempo e conteúdos ancestrais, historicamente subalternizados.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Mariana Paladino (UFF)
Resumo: A presente proposta tem como objetivo documentar e discutir antropologicamente a experiência de construção de um grupo de trabalho na Universidade Federal Fluminense, que visa criar e implementar um vestibular específico para estudantes indígenas e quilombolas nessa universidade.
A demanda, levantada inicialmente por um grupo de estudantes indígenas da referida instituição, possibilitou a criação de um espaço de visibilidade diante da escassa presença de corpos negros e indígenas na instituição, habilitando também questionamentos aos silêncios e às exclusões em termos curriculares e epistemológicos.
A Universidade Federal Fluminense, que possui vários campus em diferentes municípios do Estado do Rio de Janeiro, conta atualmente com 72 mil estudantes, mas apenas 0,18 se autodeclaram indígenas, o que indica uma sub-representação se considerarmos que segundo o último censo (2022) a população indígena no país alcançou quase o 1%.
Em 2022, foi formado um coletivo de estudantes indígenas que, junto com professores e outros estudantes não indígenas parceiros, vêm discutindo propostas de acesso e permanência, como a criação de um vestibular específico, pois entendem que a política de cotas (Lei 12.711/2012 e Lei 14.723/2023) não dá conta de combater as desigualdades educacionais, nem de atender as especificidades culturais e escolares das populações indígenas e quilombolas.
A apresentação abordará os debates e as práticas que o grupo vem desenvolvendo, que revelam posicionamentos e ativismos juvenis importantes de serem compreendidos em profundidade, bem como as alianças, tensões e conflitos estabelecidos com diversos agentes universitários.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Marina Fernandez da Cunha (UFBA)
Resumo: Da falácia interpretativa proposta pelos evolucionistas culturais aos discursos pós-coloniais despolitizados, o processo de subalternização dos povos indígenas segue um tempo linear pautado na dominação, dentre tantas, simbólica. Assim, com as pautas governamentais centradas no desenvolvimentismo macro, a inclusão dos defensores da mata torna-se interessante como ornamento neutralizador aos olhos do Estado. Com isso, é possível analisar por meio deste artigo, a suposta mudança do pensamento ocidental sobre o lugar possível do outro e os impactos da moda do discurso decolonial e a importância de uma prática efetiva.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Mônica Nogueira Camargo (UNIMONTES), Maria Railma Alves (UNIMONTES)
Resumo: Esta pesquisa investigou os impactos das políticas de reserva de vagas para afrodescendentes na Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) sobre a titulação e inserção profissional dos egressos. A motivação para este estudo surge da necessidade de compreender os efeitos das políticas de ação afirmativa na redução da desigualdade racial no Brasil, com base na visão dos próprios egressos e apreender o significado das narrativas sobre as práticas discriminatórias e preconceito racial vivenciados/as por acadêmicos/as ao longo do processo de formação. Desde a virada do século, o Brasil testemunha uma mudança na postura em relação às questões raciais, com a adoção de medidas afirmativas, como cotas em universidades. Este estudo se concentra na experiência da Unimontes, examinando os perfis socioeconômicos e acadêmicos dos egressos. Empregamos uma abordagem qualitativa para compreender os fatores em questão, considerando suas interações e influências mútuas. Foi realizada uma revisão bibliográfica extensiva para embasar teoricamente o tema, abrangendo diversas fontes como livros, revistas e publicações eletrônicas. Além disso, a pesquisa documental foi utilizada para analisar documentos institucionais internos da Universidade Estadual de Montes Claros, fornecendo dados relevantes e permitindo contato com ex-alunos. Para garantir a precisão dos resultados, uma metodologia quantitativa foi adotada, empregando um questionário com 39 questões enviado a 58 ex-alunos, dos quais 45 participaram, estabelecendo contato por meio de ligações telefônicas e redes sociais para explicar os objetivos da pesquisa. Essa abordagem combinada proporcionou uma análise abrangente e precisa dos dados coletados. Por meio da análise de conteúdo, identificamos seis indicadores que abrangem diferentes aspectos da trajetória educacional e profissional dos egressos, incluindo aspectos econômicos, acadêmicos e de enfrentamento do preconceito racial. Os resultados revelam que a maioria dos egressos experimentou melhorias significativas em sua renda e inserção no mercado de trabalho após a graduação. No entanto, persistem desafios relacionados à discriminação racial, tanto dentro quanto fora do ambiente universitário. Apesar das limitações da pesquisa, os dados indicam a importância de aprofundar o estudo sobre as trajetórias individuais dos egressos, considerando suas experiências únicas e as nuances do processo de inclusão educacional e social. Palavras-chave: Egressos, Sistema de Cotas, Inserção Profissional, Desigualdade Racial, Políticas Afirmativas.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Rennan Pires da Silva Porto (UNIRIO)
Resumo: O presente trabalho está vinculado à pesquisa Ação Afirmativa e Ensino Superior: os impactos dos processos de educação sobre perspectiva de Seleção, Acesso e Inclusão do Programa de Educação Tutorial (PET) Diagnóstico e Análise de Política de Ação Afirmativa, custeado pelo MEC e sediado na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) e tem enquanto objetivo a analisar a solidão vivenciada por estudantes negros dentro das universidades públicas na cidade do Rio de Janeiro e os movimentos organizados para resistir a austeridade do ambiente universitário. Sendo a Lei 12.711/12, hoje representada após atualização pela Lei 14.723/23, responsável por implementar as cotas nas instituições federais, afetando diretamente as universidades, houve então o crescimento do alunado negro no ambiênte acâdemico. Entretanto, ao entrar são confrontados com uma realidade hostil a sua presença, na medida que rompem com o paradigma, formado por décadas de exclusão, em que a universidade é um espaço exclusivo para as elites, que historicamente são pessoas brancas e de classes sociais mais altas. Visto que estes alunos não estão representados dentro do corpo docente, que atualmente ainda é composto majoritariamente por pessoas brancas, mesmo com as ações afirmativas promovidas pela Lei 12.990/14 que prevê a reserva de vagas para pessoas negras em cargos públicos. Ou mesmo pelos autores presentes nas ementas de disciplinas, que sobretudo são brancos. Portanto, o ambiente acadêmico é formado por uma cultura institucional que colabora para a exclusão da população negra que tenta ingressar nestes espaços, criando uma realidade que rejeita a sua presença. Partindo destas preposições, este trabalho tem como objetivo analisar a construção de movimentos sociais e políticos encabeçados pelos grupos racializados dentro das universidades da cidade do Rio de Janeiro, a partir da criação de coletivos, grupos, ligas acadêmicas, projetos de pesquisa, entre outros. Realizações estas que tem em seu objetivo central resistir e modificar a realidade do ambiente universitário, lutando para a maior presença da população negra dentro da universidade, estando também presente no corpo docente, nas ementas de disciplina e nos quadros administrativos mais altos como reitorias e pró-reitorias.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Thaina Castro Costa (UFSC)
Resumo: O presente trabalho traz um panorama sobre as exposições realizadas no evento Fazendo Cruzos ao longo dos últimos anos. O evento em questão é um momento de extroversão do projeto de pesquisa e extensão Ebó Epistêmico, concebido a partir da parceria de professoras negras dos cursos de Antropologia e Museologia da Universidade Federal de santa Catarina. No escopo deste evento que celebra o encontro de diversos grupos sociais com a academia e tem como objetivo a proposição de um novo fazer acadêmico, são realizadas oficinas, rodas de conversa, performances e exposições. Neste trabalho especificamente discorreremos como a linguagem expositiva contracolonial se organiza como um espaço político e poético de debates práticos e encontros sociais potentes.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Viviane Santos Miranda (UNIMONTES), Viviane Santos Miranda (UNIMONTES), Maria Railma Alves (UNIMONTES)
Resumo: O presente artigo tem como propósito inicial evidenciar a importância de impulsionar o letramento racial no espaço acadêmico, por meio de estudos de autores e autoras decoloniais, cujas bagagens culturais auxiliarão a descortinar o mito da superioridade do conhecimento produzido pelo movimento eurocentrista, o qual edificou as bases epistemológicas no sistema educacional, inclusive das universidades públicas. E, para tanto, utilizar-se-á da metodologia qualitativa, focada na revisão bibliográfica, que consiste em uma investigação científica de obras as quais já foram publicadas, tendo como finalidade servir de suporte ao tema pesquisado, promovendo, assim, um conhecimento mais apurado e aprofundado. Diante disto, este trabalho objetiva apresentar a pesquisa sobre as narrativas processuais de Dr. Luiz Gama, um ex-escravo negro, que conseguiu alçar várias profissões, dentre elas a de rábula, no intuito de identificar alguma aproximação com a categoria da decolonialidade, alimentando a expectativa de se comprovar que, as mencionadas narrativas foram capazes de abrigar, em seu cerne, a desarticulação de um discurso colonial, servil, patrimonialista e escravocrata que imperava no Século XIX, por meio das reivindicações provindas de mulheres e de homens negros, mantidos na condição ilegal da escravidão, articuladas perante os Tribunais da Província de São Paulo, no período de 1874 a 1880. Consoante tais ideias, a relevância do estudo sobre a escrita e atuação processual de Dr. Luiz Gama está orientada na tentativa de apreender uma mobilização sobre a possível construção de uma estratégia permeada por uma luta que foi além da abolição, já que, possivelmente, estava sendo engendrado um caminho para se formar e se consolidar um projeto de resistência, em que foi agregado várias vozes que gritavam pelo direito à cidadania e à garantia do acesso aos direitos sociais. De posse destas preliminares, o letramento racial, a atuar como uma das estratégias a ser incursionada no sistema universitário, é essencial para se construir um processo de amadurecimento intelectual, que tenha como uma das metas descolonizar a educação eurocêntrica, pavimentando caminhos que promovam diálogos interculturais, através do reconhecimento da pluridiversidade de tantos outros saberes, inclusive daqueles gestados pelos grupos historicamente subjugados.
Palavras-chave: decolonialidade; Dr. Luiz Gama; educação eurocêntrica; letramento racial; narrativas judiciais; universidade.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Zwanga Adjoa Nyack Mesquita Xavier (UFRJ)
Resumo: Este artigo consiste num exercício de reflexão acerca das tentativas de reconstrução do termo "relações étnico-raciais" que realizei durante a minha pesquisa de mestrado, na qual busquei compreender a produção de conhecimento antropológico sobre esta temática em 05 Programas de Pós-Graduação em Antropologia (Social) durante o período de 1968-2000. Reencenado este balanço, e a partir das provocações e inquietações posteriores, tenho pensado no que me possibilitou (re)articular esta discussão e de como as políticas de ações afirmativas da qual sou oriunda, foram, de forma sistemática, responsáveis por diversas transformações causadas nos mais variados campos dos saberes, e em especial na antropologia. Tal fenômeno provoca fissuras/quebras no que até então era tido como “alteridade”, bem como possibilitou a emergência de novas epistemologias que não necessariamente se pautam por tal perspectiva. Por fim, este texto se apresenta como uma dessas produções, que adentram as quebras, e aponta para a necessidade de construção de rotas de fugas e do entendimento da fuga como lugar de produção de conhecimento.