Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 003: Alteridades na universidade: saberes locais e diálogos críticos
Memórias da diáspora: relatos de racismo cotidiano na Unilab/Ce e nas cidades de Redenção e Acarape.
Esta proposição analítica é fruto de um conjunto de atividades que realizo na disciplina de Sociologia da relações étnico-raciais ministrada para os cursos de licenciatura em Sociologia e bacharelado em Humanidades na Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-brasileira/UNILAB. Essas atividades foram desenvolvidas no formato de oficinas de relatos sobre episódios de racismo cotidiano sofridos pelos estudantes internacionais dentro da universidade e nas cidades onde habitam, Redenção e Acarape, no Ceará. Como suporte teórico para a atividade, trabalho com o livro de Grada Kilomba, Memórias da Plantação, especialmente as reflexões em torno dos episódios de racismo cotidiano. Nesse artigo, minhas preocupações analíticas se concentram no entendimento das tensões e conflitos causados pela produção do racismo nas vidas dos estudantes internacionais durante sua formação. Tendo em vista essa linha de pensamento, o objetivo deste trabalho é analisar, a partir de relatos de racismo cotidiano, como os estudantes lidam com os episódios de racismo em suas condições de sujeitos diaspóricos, do outro lado do atlântico. Como arcabouço metodológico, trilho o caminhar da etnobiografia, na forma de relatos de si como dispositivo de construção de conhecimento do mundo. Nesse sentido, a memória surge como suporte de onde as narrativas de si emergem como produtoras de tensões analíticas entre antes (o evento racista) e o agora (a reflexão sobre o ato), pois, quando acionamos a memória, produzimos conhecimento e nossos discursos incorporam não apenas palavras de luta, mas também de dor, como salienta Kilomba (2019). Memórias da diáspora dos estudantes de Guiné-Bissau, de Cabo Verde, de Angola, de Moçambique neste trabalho tem o sentido também de pensar as tensões e conflitos, numa perspectiva macro, produzidos pela relação triangular entre Universidade/estudantes/cidades. Pensar as tensões e conflitos a partir de relatos de racismo cotidiano vivenciados pelos estudantes em suas diásporas, também alimenta um corpus de saberes em torno do papel da universidade no combate às múltiplas formas de racismo em nossa sociedade brasileira. Para finalizar, este trabalho traz como achados epistêmicos, isto é, como fonte de reflexões no campo da sociologia e da antropologia, pensar a produção de práticas racistas como produtora de tensões e conflitos permanentes entre os estudantes internacionais, a Unilab e as cidades onde habitam.