ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 003: Alteridades na universidade: saberes locais e diálogos críticos
A emergência de quilombolas na pós-graduação da Amazônia
Este resumo busca fazer uma discussão sobre a emergência de Quilombolas pesquisadores/as na pós-graduação a partir das discussões que tenho desenvolvido no projeto de tese intitulado “Embates epistemológicos contra coloniais: A produção de conhecimentos quilombolas nas Universidades da Amazônia”. O projeto de tese tem como objeto de pesquisa as interlocuções construídas com quilombolas pesquisadores/as visando de compreender como as epistemologias quilombolas por eles produzidas tensionam e dialogam com o status quo acadêmico na Amazônia. A partir disso, para compreender o aspecto da emergência dos indivíduos quilombolas na Pós-Graduação, apresento uma discussão sobre como os processos de acesso a direitos básicos como a educação são atravessadas pelo Racismo estrutural (ALMEIDA, 2019). Dentro da academia evidenciam-se as relações de poder nos âmbitos institucional e educacional, onde esses indivíduos são colocados como pesquisadores/as fora de uma noção ocidentocêntrica* de intelectualidade. Desta forma, as produções epistemológicas de quilombolas na pós-graduação são invisibilizadas e taxadas como não científicas. Grada Kilomba (2020) afirma que as pesquisas de intelectuais lidos como subalternos são apontadas “como muito específicas” (KILOMBA, 2020, p.51) e que tais comentários são uma forma de silenciar as vozes e produções neste espaço. Por isso trago a contra-colonialidade de Nego Bispo (2015) como uma estratégia que endossa a luta pela (re)existência do povo quilombola em todos os espaços, inclusive na Pós-Graduação. Dialogando com essas questões, Luena Pereira (2020), atravessada pelas diferentes formas de construção de alteridade entre África e Brasil em seu campo, afirma que as noções de alteridade e diferença nas ciências sociais são praticamente sinônimas e isso leva a uma caracterização do antropólogo brasileiro “como não índio, não negro, e não camponês” (PEREIRA, 2020, p.08). Diante desta reflexão, a referida autora ressalta, que indivíduos subalternizados são a todo tempo questionados e invalidados. Dessa sorte, argumento aqui que a emergência de estudantes quilombolas na Pós-Graduação, munidos da visão de educação como ferramenta política de luta, modifica gradualmente o cenário epistemológico das humanidades no Brasil, visto que, a partir destes indivíduos é possível pensar formas outras de pesquisa, narrativas racializadas e posicionadas que falam de si e de outros horizontes de pesquisa, levando em conta o pertencimento, a relação com a terra e as experiências coletivas em comunidade. O acesso e a permanência de quilombolas na universidade promovem, assim, uma disputa de narrativas visando a construção de uma intelectualidade compartilhada entre os saberes ancestrais quilombolas e os saberes acadêmicos.