Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 003: Alteridades na universidade: saberes locais e diálogos críticos
Poder e alteridade no espaço universitário: em busca do equilíbrio entre emergências teóricas e tradicionais
A alteridade exige do outro uma relação de respeito e cumplicidade para a construção do ser humano enquanto portador de direitos e deveres. Por muito tempo, na sociedade brasileira, a educação e as instituições criaram seus saberes a partir da percepção daqueles que possuíam o poder de nomear, classificar e gestar a vida de pessoas consideradas passíveis de serem dominadas. De igual modo, em certa medida, a Antropologia se insere neste cenário, validando saberes etnocêntricos sem considerar as marcas identitárias deixadas pelos povos tradicionais, especialmente da população negra e indígena, que, na maioria das vezes, tiveram e têm suas manifestações culturais invisibilizadas, quer pelo sistema educacional, quer pelas políticas públicas implementadas no país. Neste sentido, por meio das reivindicações dos movimentos sociais, paulatinamente, os saberes tradicionais adentram os espaços acadêmicos, convocando a todos os envolvidos na construção dos saberes científicos a olharem para as experiências de vida dos povos tradicionais como possibilidade de desconstrução do saber hegemônico e colonial. Tal convocação é feita no sentido de fomentar conhecimentos que interseccionem o saber acadêmico com as experiências dos povos outrora excluídos do processo de institucionalização. Partindo desta perspectiva, esta proposição visa refletir sobre os desafios colocados pelas decolonialidades. Haja vista que nos últimos tempos os espaços acadêmicos têm revelado o quão é desafiador trazer para o debate as emergências advindas da inserção de novos agentes sociais que adentram tais espaços. Tal fala encontra consonância em duas situações observadas nos últimos meses em duas universidades públicas. O primeiro traz uma cena em que alunos evangélicos protagonizam a realização de cultos no espaço acadêmico periodicamente; o segundo apresenta uma cena em que apenas uma liderança religiosa, presente em um ritual de defesa de mestrado, é o único legitimador de todo o processo avaliativo em que o candidato/adepto é outorgado com o título de mestre sem que os demais membros da banca fossem ouvidos. Nos propomos a refletir sobre os dois casos mensurando o quanto a decolonialidade pode gerar equívocos ao considerar apenas um dos lados. É preciso que tanto a Antropologia quanto os novos saberes encontrem um equilíbrio, a fim de promover a formação respeitosa que considere tanto o papel da academia quanto dos saberes tradicionais já que ambos têm poder na construção de novos sujeitos sociais.
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