Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 003: Alteridades na universidade: saberes locais e diálogos críticos
LETRAMENTO RACIAL: a relevância das narrativas judiciais de Dr. Luiz Gama para ressignificar corpos e mentes
O presente artigo tem como propósito inicial evidenciar a importância de impulsionar o letramento racial no espaço acadêmico, por meio de estudos de autores e autoras decoloniais, cujas bagagens culturais auxiliarão a descortinar o mito da superioridade do conhecimento produzido pelo movimento eurocentrista, o qual edificou as bases epistemológicas no sistema educacional, inclusive das universidades públicas. E, para tanto, utilizar-se-á da metodologia qualitativa, focada na revisão bibliográfica, que consiste em uma investigação científica de obras as quais já foram publicadas, tendo como finalidade servir de suporte ao tema pesquisado, promovendo, assim, um conhecimento mais apurado e aprofundado. Diante disto, este trabalho objetiva apresentar a pesquisa sobre as narrativas processuais de Dr. Luiz Gama, um ex-escravo negro, que conseguiu alçar várias profissões, dentre elas a de rábula, no intuito de identificar alguma aproximação com a categoria da decolonialidade, alimentando a expectativa de se comprovar que, as mencionadas narrativas foram capazes de abrigar, em seu cerne, a desarticulação de um discurso colonial, servil, patrimonialista e escravocrata que imperava no Século XIX, por meio das reivindicações provindas de mulheres e de homens negros, mantidos na condição ilegal da escravidão, articuladas perante os Tribunais da Província de São Paulo, no período de 1874 a 1880. Consoante tais ideias, a relevância do estudo sobre a escrita e atuação processual de Dr. Luiz Gama está orientada na tentativa de apreender uma mobilização sobre a possível construção de uma estratégia permeada por uma luta que foi além da abolição, já que, possivelmente, estava sendo engendrado um caminho para se formar e se consolidar um projeto de resistência, em que foi agregado várias vozes que gritavam pelo direito à cidadania e à garantia do acesso aos direitos sociais. De posse destas preliminares, o letramento racial, a atuar como uma das estratégias a ser incursionada no sistema universitário, é essencial para se construir um processo de amadurecimento intelectual, que tenha como uma das metas descolonizar a educação eurocêntrica, pavimentando caminhos que promovam diálogos interculturais, através do reconhecimento da pluridiversidade de tantos outros saberes, inclusive daqueles gestados pelos grupos historicamente subjugados.
Palavras-chave: decolonialidade; Dr. Luiz Gama; educação eurocêntrica; letramento racial; narrativas judiciais; universidade.