Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 003: Alteridades na universidade: saberes locais e diálogos críticos
Ressignificando práticas e saberes na academia: Desenho como objeto e método na pesquisa decolonial
O objetivo do presente trabalho é refletir sobre o lugar de enfrentamento entre pessoas negras e a “academia eurocentrada”, acreditando que é na chave deste enfrentamento que emergem os sujeitos negros “do conhecimento”, capazes de produzir o resgatar a experiência do saber com e para o mundo contemporâneo. Observe-se, entretanto, que a natureza deste conhecimento é distinta daquele dito hegemônico (de base europeia), já que é fruto da resistência ao empreendimento colonial.
Para construir meu argumento, vou partir da minha própria trajetória como professora universitária e pesquisadora negra, projetando-a em conceitos elaborados por autoras e autores cujas produções dissertam sobre colonialidade, colonialidade de gênero, decolonialidade, feminismo decolonial, pensamento feminista negro e narrativas no campo das artes visuais.
Trata-se, portanto, de um relato em primeira pessoa, absolutamente "manchado" por sensações e experimentado pelo meu corpo, cujo significado está em fletir a fala acadêmica até que esta receba os contornos da trajetória de uma mulher negra. Acredito que a visibilidade desta presença irá encorajar outras mulheres negras a rever suas trajetórias e constituir suas próprias narrativas de si, suas trajetórias acadêmicas e de suas pesquisas, para gerar entendimento sobre as potências deste espaço em construção. Concordo com e pesquisadore prete trans Abigail Campos Leal quando diz que algumas ações artísticas não geram necessariamente objetos, mas sim comunidades. A partir do relato da minha trajetória como pesquisadora negra, vou buscar pensar a experiência de chegada à academia de grupos de negros, marcados pelas violências da diáspora colonial e por assimilação forçada. Neste enquadramento, refletirei sobre a luta antirracista em face do campo do conhecimento, reconhecendo as agendas decoloniais, que buscam, a partir diversas práticas e vieses distintos, superar o discurso colonial. O foco principal deste trabalho é o diálogo crítico com modelos hegemônicos de percepção de mundo, no sentido apontar, a partir do enfrentamento com a recusa da diferença, novos métodos, linguagens e práticas para a produção de conhecimento científico e saberes locais ancestrais e contemporâneos. Vale evidenciar, neste processo, a importância do papel de uma antropologia crítica, que visa debater com campos emergentes de conhecimento, para retomar, de forma horizontal, diálogos entre alteridades no espaço da “academia”. Finalmente, proponho o desenho como caminho para acessar categorias de conhecimento que ultrapassam a experiência escrita para performar relações sensoriais com o espaço, o tempo e conteúdos ancestrais, historicamente subalternizados.