ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 003: Alteridades na universidade: saberes locais e diálogos críticos
Pode uma metodologia "colonizar" uma pesquisa?
A colonização não se encerra enquanto um episódio histórico na perspectiva linear do tempo. Do contrário: se reinventa e se alastra às esferas psicossociais com uma nova roupagem, configurando o que entendemos hoje por modernidade em todas as suas facetas. Neste texto, pretendo iniciar uma investigação teórica interdisciplinar do potencial colonizador que a doutrina de objetividade descorporificada (Haraway, 1988) pode ter nas pesquisas acadêmicas. Além disso, propor um ebó epistemológico (Rufino, 2019) como aposta radical para arriar as estruturas de organização do pensamento branco-eurocêntrico masculino. No limiar de minha observação está uma proposta de uma autoetnografia (Silvio Santos, 2017) aplicada nas redes sociais. Convido a pensar em conjunto: quais são os desafios de um cientista com uma postura contracolonial (Bispo dos Santos, 2023) em um terreno no qual não só o objeto (redes sociais), como também os meios para desvendá-lo (ciência nos moldes ocidentais) são instrumentos de colonização? De que maneira os saberes de uma outridade (Ferreira da Silva, 2019) contribui para o desmonte do pensamento que se propõe como único e universal? Qual é o papel político e ético de uma postura científica no ato de localizar e corporificar um saber? Quais são os limites de uma proposta epistemológica determinada a reencantar o conhecimento? Essas e outras indagações são pertinentes ao percurso desta breve investigação. Desse modo, é minha intenção incentivar a pluralidade de saberes e, ao mesmo tempo, invocar o encantamento como movimento contracolonial em resposta ao monorracionalismo predominante no interior dos laboratórios das ciências humanas e sociais; entre elas, a Antropologia. Partindo do argumento de que as formas de apreensão de uma fatia da realidade caracterizadas como metodologias científicas – a exemplo, a etnografia – são construções sociais dentro de um campo de poder que classifica e autoriza a manutenção ou a morte de um saber em detrimento de outro, meu objetivo é não só defender a subjetividade e a reflexividade como caminhos estruturantes de uma episteme, mas sobretudo, defender uma prática descolonizadora (Rivera Cusicanqui, 2019) para além de uma parafernalha espertalhona de um discurso pretendido a ser descolonizador.