ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Grupos de Trabalho (GT)
GT 063: Gênero, sexualidade e raça: produção de diferenças e desigualdades na cidade
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Coordenação
Ramon Pereira dos Reis (UEPA), Guilherme Rodrigues Passamani (UFMS)
Debatedor(a)
Isadora Lins França (IFCH)

Resumo:
Os processos de produção das cidades em relação às sexualidades têm enfatizado ao longo da história a importância das noções de território e territorialidade para a compreensão de como são constituídos os espaços urbanos, os sujeitos e suas relações. Além de indicar que tais processos de produção citadina correspondem a marcações sociais heterogêneas, é importante ressaltar que todo esse movimento compreendido pelas dinâmicas sociais locais e a ocupação de territórios, dispostos entre “periferias” e “centros”, perfaz mobilidades e/ou zonas fronteiriças que nos possibilitam problematizar os manejos feitos em torno da produção social das diferenças e em seu impacto a partir da articulação com as temáticas de gênero, sexualidade e raça. Nesse sentido, imaginar a produção de sexualidades em diferentes escalas é um ponto constituinte dos três eixos que norteiam o GT: as espacialidades, mobilidades e territorialidades. O objetivo é aproximar os debates sobre cidade, gênero, sexualidade e raça na tentativa de promover aproximações teóricas e empíricas que nos auxiliem a refletir e questionar estatutos citadinos em relação à produção de diferenças e desigualdades, tendo como ponto de partida a seguinte questão: de que forma podemos escrutinar urbanidades/citadinidades a ponto de fazer com que tais estruturas não sejam meros arquétipos geográficos/cartográficos, mas que internalizem e externalizem ações concretas de pertencimento e uso democrático do espaço público?

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
MEU GÊMEO NÃO QUIS TRAVECAR E FOI UO PRA ELE: perspectivas sobre a possibilidade de uma não binariedade cisgênera
Ayira Sizernando Liberato (UFPB), Fellipy Sizernando Liberato (UFPE)
Resumo: Tendo em vista vários debates intensos que rolam na comunidade virtual do trans twitter a cerca da não binariedade e também outras questões que surgem a partir da reflexão das identidades não binárias, seria possível defender que a não binariedade pode ser também uma identidade cisgênera? Defendemos que a não binariedade é definida primordialmente pela ruptura com padrões de vida binário, que não necessariamente significa o rompimento com a cisgeneridade, que é o que caracteriza a transgeneridade. Para Vergueiro (2020), existem três apontamentos que definem a cisgeneridade: 1) a pré-discursividade; 2) a binariedade e; 3) a permanência. O primeiro deles incide justamente no discurso, na ideia de que há um sexo biológico e, portanto, inerente a todos os corpos. Dessa forma, o rompimento com a cisgeneridade é, fundamentalmente, discursivo, ou então o que representaria a transgeneridade se não fosse uma contra-proposta discursiva as identidades de gênero impostas. Por exemplo, se ser trans for o uso de determinadas roupas, o que seriam roupas trans ou não binárias? Se ser travesti for a necessidade de implante de silicone, ou de retirada de barba, o que falar das travestis que não tiram a barba ou que não querem os implantes? Se ser não binário for caracterizado por uma identidade corporal não binária, estamos dizendo que existe uma imagética masculina ou feminina? Dessa forma, em todos os caminhos que tomamos entendemos que o que caracteriza de fato a transgeneridade, é o discurso, a recusa discursiva de uma projeto de cisgeneridade. Ou seja, em poucas palavras, é essencialmente preciso anunciar que é trans para ser, e isso em todos os espaços. Por outro lado, a cisgeneridade se configura dentro de um campo de acessos e privilégios em sociedade que também é discursiva, visto que biologicamente somos construções sociais. Se ser transexual é a renúncia ser cis é assumir o pacto. Aqui é onde entramos na contradição: esse é um acordo firmado por indivíduos biologicamente sociais que constroem suas próprias identidades a partir do que referenciam como masculino e femininino. Esse trabalho analisa a experiência de identidades dissidentes de um casal de gêmeos socializados no interior da paraíba, uma travesti e o outro, um viadão maluco. A partir dessa investigação, decorremos sobre o que leva a identificação enquanto trans e cis de cada um, apesar do próprio irmão-viado não se enxergar perfeitamente enquanto homem. Por fim, defendemos a possibilidade da experiência não binária como possível a identidades cisgêneras.
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Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
As narrativas de solidão da personagem Macabéa: mulher, nordestina, migrante
Barbara Olives Rosa (UNIRIO)
Resumo: O objetivo da pesquisa é estudar as narrativas de solidão da personagem Macabéa, a problemática da pesquisa perpassa o modo como os preconceitos de xenofobia, gênero e raça refletem na construção de subjetividades de mulheres nordestinas migrantes, na literatura, quando Clarice Lispector escreveu a personagem Macabéa, no livro A hora da estrela”. Aparece um sentimento de não pertencer à cidade do Rio de Janeiro pela protagonista: [...] limito-me a contar as fracas aventuras de uma moça numa cidade toda feita contra ela (LISPECTOR, 1998, p. 15). Sperber (1983) mostra como a protagonista não tem lugar, o espaço ocupado por ela é nenhum. É nessa hostil metrópole, que ela vai sentir solidão: [...] todo mundo é um pouco triste e um pouco só. A nordestina se perdia na multidão. Na praça Mauá onde tomava o ônibus fazia frio e nenhum agasalho havia contra o vento (LISPECTOR, 1998, p. 40). A Macabéa é uma personagem feminina que foi criada por um homem, o narrador Rodrigo S. M., que escreve a partir de sua percepção, de forma violenta, sem ter empatia pela protagonista. Já nesse começo, percebemos que a história é narrada por um homem carioca olhando para vida de uma nordestina. Para tal análise, embaso-me na concepção de linguagem proposta por Austin (1990), Derrida (1988) e Butler (2018). Deste modo, estudar as narrativas que envolvem a construção da personagem Macabéa se tornam importantes à proporção que o preconceito e à exclusão das mulheres nordestinas é uma realidade na cidade do Rio de Janeiro.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Interseccionalidades em perspectiva: gênero e raça em escola pública periférica
Beatriz Giugliani (UFBA)
Resumo: O objetivo dessa comunicação é um recorte de Tese que tratou sobre o abandono de jovens homens negros estudantes do Ensino Médio em escola pública na cidade de São Félix (BA). Esse território é dado como um bom exemplo por conta da demografia racial e pela tradição de estudos sobre o negro. Essa tese dispôs de uma abordagem teórico metodológica para: 1) examinar as discriminações e opressões invisibilizadas pelo uso em separados de categorias de raça e gênero; 2) instigar o aspecto interseccional; 3) ampliar a difusão dessa perspectiva e, evidentemente; 4) escrutinar a posição que ocupam na intersecção de vetores de opressão. Pensar o sujeito negro nessa espacialidade, nessa etapa de ensino - com jovens rapazes negros e nesse território, levou-nos a analisar e refletir com os próprios atores - através de metodologias específicas como os Grupos Focais e outros, as práticas de poder vividas e os efeitos do enraizamento do racismo no inconsciente coletivo e suas formas particulares, requisitando sua inter-relação na re-produção das desigualdades sociais. Buscou-se refletir sobre masculinidades negras, relações de poder e contexto escolar a partir da interseccionalidade caracterizada pela interdependência e a articulação entre categorias e práticas, indo além do simples reconhecimento da multiplicidade dos sistemas de opressão. Buscamos, ainda, indicar algumas formas possíveis de interpretar as desigualdades raciais e de gênero, a posição de sujeito frente o desafio escolar e para além dele, de acordo com as suas interações cotidianas de resistência ou negociação. Uma vez reconhecido que são os meninos negros provenientes de camadas pobres da população as principais vítimas do fracasso escolar, a discussão da construção das masculinidades racializadas e a relação que eles estabelecem com o processo de escolarização importam. Ou: de que maneira o racismo, as relações de poder e a discriminação racial estão presentes e/ou acontecem na escola? Quisemos também compreender os modos de subjetivação como uma construção de novos processos numa visão política e cultural que produzem o corpo, sua submissão e fragmentação em contextos de colonialidade de poder. Esses Grupos Focais e Rodas de Conversa versaram sobre as inter-relações entre meninos e meninas; trabalho; projeto de vida; igualdade de oportunidades, ser homem, ser mulher, violência e violência simbólica, desempenho escolar entre meninos e meninas; desigualdade racial. Por fim, elegemos alguns recortes dialógicos entre nossos interlocutores no sentido estrito para demonstrar de que maneira os efeitos da colonialidade pesam sobre os corpos racializados, gerando um poder autorizado, assim como, masculinidades que serão aceitas ou exterminadas.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
"No dejarían que un venezolano ganara por tercera vez": Disputas, alianças e agenciamentos entre drag queens migrantes em Roraima, Brasil
Caobe Lucas Rodrigues de Sousa (Unicamp)
Resumo: Desde 2015 milhares de venezuelanos(as) tentam se estabelecer em território brasileiro, como refugiados(as) ou migrantes. Principalmente em Roraima, estado brasileiro que faz fronteira com a Venezuela, torna-se possível observar como raça, classe, gênero, sexualidade e outros marcadores diferenciam suas experiências, seja pelas dificuldades ou pelas facilitações com as quais cada sujeito se depara em diferentes âmbitos, como na busca por emprego e moradia por exemplo. Por meio de uma abordagem etnográfica, o objetivo desta apresentação é lançar um olhar para as experiências de rapazes venezuelanos que fazem drag queen em Boa Vista, capital de Roraima. Aqui tenho como foco compreender como são tecidas as alianças entre eles para se estabelecer e sobreviver na cidade. Busco também mapear suas circulações pelos espaços noturnos onde frequentam como drag queens. Argumento que no contexto em questão, a população LGBTQI+ tem sido constituída pelos atores humanitários como um grupo específico que supostamente somaria vulnerabilidades”. Embora as situações de violência às quais migrantes/refugiados(as) LGBTQI+ são expostos(as) sejam significativas, a intenção aqui é chamar atenção para os agenciamentos cotidianos e maneiras singulares de lidar com as injustiças e desigualdades vividas por eles(as), que nem sempre são visibilizadas. Palavras-chave: Migração; Gênero; Sexualidade.
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Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
A (in)visibilidade de pessoas lgbtqiapn+ nas rodas de capoeira: Notas iniciais de uma análise realizada no bairro da Cidade Olímpica - MA
Ednaldo Ribeiro Sousa (UEMA)
Resumo: O referido trabalho versa sobre as relações sociais de gênero dentro de grupos de capoeira em um bairro periférico designado Cidade Olímpica e que está localizado a 40 minutos da Capital São Luís - MA. Nestes escritos busco evidenciar a construção discursivas de corpos gays e lésbicos sobre o processo de (in)visibilidade que estes passam nas rodas de capoeira e como isso passa a surtir efeitos sobre essas pessoas. Que lugar resta a estes corpos que, além de negros e periféricos ainda tentam lidar com os desafios de aceitação de suas identidades dentro dos distintos grupos por eles frequentados? As rodas de capoeira se configuram, neste sentido, como um espaço de abrigo, ao passo que também esse acolhimento precisa ser questionado quando deixa de lado o reconhecimento das distintas identidades de gênero que a ele frequenta. O trabalho de investigação está em suas primeiras fases, está sendo construído com base em minhas vivências a uma dessas rodas de capoeira, conta também com pesquisas em fontes secundárias, observações diretas e entrevistas com esses corpos (in)visibilizados.
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Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Corpo, terreiro e território: perspectivas e expectativas de uma afro amazônia explorada e assediada
Elizangela Santos de Araujo (UFOPA)
Resumo: Atualmente no território brasileiro, a condição da mulheres negras é marcada por extrema desigualdade, violência e exclusão dos espaços institucionais e políticos, as condições de moradia, saúde e educação são atravessadas por racismos estruturais e ambientais, as mulheres negras na sua grande maioria, são moradoras de comunidades periféricas, negligenciadas pelo poder público e esquecidas pelas autoridades. Na Amazônia esse quadro assemelha-se ao do país, em meio a grande floresta as cidades crescem desgovernadamente, proporcionando a continuidade desse grave marcador social, a condição de exclusão da mulher negra. Essas mulheres estão presentes nas comunidades periféricas da cidade de Santarém no Pará, são trabalhadoras domésticas, esposas, mães, líderes comunitárias e estudantes que lutam para conseguirem melhores condições de vida, algo inimaginável para muitas delas, que esgotadas com tantas responsabilidades percebem-se impossibilitadas de acessar espaços de tomadas de decisões que afetam diretamente suas vidas, sendo a resiliência o único meio de mudarem sua realidade, permanecem nas suas trajetórias de resistência e sobrevivência, organizando-se para adquirir condições econômicas para alcançar seus objetivos. Essa pesquisa culminará em um documentário audiovisual, expositivo e humanizado da trajetória de três mulheres negras afro amazônidas periféricas, mostrando suas lutas, registrando sua presença, memórias e ancestralidade no espaço que ocupam, espaço que foi permitido ocupar dentro do estado brasileiro e amazônida. Mulheres que são mães precoces, porém não desistem da formação universitária, mulheres que lutam pela defesa do direito de exercer suas crenças e religiões, mulheres que lutam pelo direito de ser mulher dentro de seu corpo, dentro do seu terreiro, dentro do seu território. Registrando algumas nuances da sua rotina diária e os desafios que têm que enfrentar para conseguir superar os obstáculos diários, sem esquecer quem são e quais suas motivações, conhecendo os lugares onde se reconhecem impulsionadoras e mobilizadoras de mudanças. Nesses espaços se fortalecem e fortalecem os seus, deixando marcas em todos que atravessam seus caminhos, marcas da realidade árdua de suas existências e da leveza de sua vivência. Sendo um recorte das atuais sociedades urbanas amazônidas com suas relações e conflitos de gênero, raça e classe marcadamente condicionantes da exclusão dos corpos negros dos espaços de poder institucionais. Mulheres afro amazônidas que possibilitam a constituição de potencialidades, inspirando mais mulheres negras a ocuparem espaços de onde foram excluídas, espaços políticos de ensino e cultura que a partir de suas especificidades, tornam-se espaços de mudanças consideráveis para as relações étnico-sociais amazônicas.
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Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Bissexualidade e classificações da sexualidade: ambiguidade e regionalidade em Belém no fim do século XX
Inácio dos Santos Saldanha (UNICAMP)
Resumo: A cidade de Belém do Pará tem sido pensada como um campo empírico que foi fundamental para a análise dos processos de mudança nos sistemas de classificação da sexualidade no Brasil, mais especialmente o lugar atribuído ao estudo antropólogo Peter Fry sobre a homossexualidade masculina. A categoria bissexual, ainda que menos estudada, aparece nesse debate como um elemento controverso. Este trabalho toma a liminaridade dessa categoria como ponto de partida para analisar essas mudanças, e o faz a partir de uma reflexão crítica sobre as diferenças regionais do país. Tem como objetivo contribuir para a compreensão de processos de mudança nas classificações da sexualidade e das categorias com as quais opera, sobretudo a categoria bissexual, considerando seu caráter relacional e disputado. O recorte empírico é o da cidade de Belém, entre as décadas de 1970 e 90, período de ampliação do debate público sobre a sexualidade na cidade, com a eclosão da epidemia de HIV/Aids, o desenvolvimento de espaços segmentados de sociabilidade, as pesquisas sobre sexualidade e a organização de movimentos locais de homossexuais, mulheres prostitutas e combate à epidemia. Porém, mais do que um campo empírico, a análise propõe considerar a cidade como um campo de produção de conhecimento. A metodologia consiste em um mapeamento de espaços, sujeitos e debates que permita uma análise das categorias presentes, seus usos e seus trânsitos. Este procedimento cruza a realização de entrevistas de pessoas envolvidas nos espaços de discussão da sexualidade com a análise de sua produção intelectual, arquivos pessoais e os dois jornais de maior circulação na cidade no período: O Liberal e O Diário do Pará. Como resultados, são descritas as tensões provocadas pela emergência de novas categorias em um contexto no qual se estabelecem contrastes regionais com as capitais do Sudeste do país. A influência da epidemia de HIV/Aids sobre as classificações da sexualidade no Brasil, apontada na literatura, não encerra a totalidade da emergência dessa categoria, que foi dispersa e polissêmica. Além disso, um imaginário baseado pela ideia de Amazônia é mobilizado, seja por moradores ou visitantes, nas formas como a sexualidade é classificada e compreendida. A circulação de categorias como bissexual, GLS e andrógino era mediada em seus múltiplos sentidos pela noção de que a Amazônia é uma região sem sexualidade ou menos madura sexualmente, uma terra virgem”.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Cinevídeo e produção de subjetividade: Pensando masculinidades não jovens a partir de um local comercial para encontros sexuais em Natal/RN
João Elioberg da Silva Oliveira (UFRN)
Resumo: Os cinevídeos surgem em decorrência da decadência dos cinemões de pornografia do final do século XX e início do XXI. Este primeiro, com configurações arquitetônicas, de funcionamento e de público diferentes, são espaços presentes nos centros urbanos direcionados à prática da pegação (Vale, 2012). Para Oliveira (2013), a pegação é uma categoria nativa que se refere às experiências eróticas furtuitas e efêmeras. Dito isto, o trabalho aqui proposto tem como objetivo analisar masculinidades não jovens a partir de um Lugar Comercial para Encontros Sexuais (Braz, 2013) que possibilita a pegação, o Cine França. Sendo o único cinevídeo da cidade de Natal/RN, o Cine França integra o circuito de pegação da cidade, no entanto, sua localização, no centro da cidade do Natal, e seu modo de funcionamento, um cinevídeo, dão uma configuração específica para o estabelecimento e, consequentemente, para a pegação. Dessa maneira, parto dessa realidade para buscar entender como é experienciado a prática da pegação por homens não jovens, isto é, sujeitos lidos socialmente como velhos. Metodologicamente, faço uso da etnografia sinestésica (Vasconcelos, 2020). Nesse sentido, desenvolvo uma leitura intersecional, privilegiando os marcadores de idade, raça, território, gênero e sexualidade para refletir acerca das experiências e da produção de subjetividade dos sujeitos masculinos. O presente texto é fruto das primeiras incursões à campo e faz parte da minha pesquisa de mestrado, em desenvolvimento.
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Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Roteiros Sexuais; Histórias de referência; Orientações íntimas: Uma análise de casos presentes no contexto da pegação viril.
João Silva Junior (UFRJ)
Resumo: O presente trabalho apresenta um recorte analítico sobre os dados etnográficos que estão sendo obtidos durante nossa investigação no doutorado. Nossa base teórica são, o compêndio de estudos que tem as práticas de busca e caça por parceiros sexuais por homens no Brasil nos últimos quarenta anos, numa análise a partir dos estudos de John Gagnon, e os de Michel Bozon. Neste trabalho apresentaremos cerca de 20 situações distintas que aconteceram em dois Cruising Bars, um no Rio e outro em São Paulo, onde podemos ver tais conceitos na prática. A pegação viril possui um Ethos ancorado tanto no habitus, quanto na construção de um corpo e valores a partir da ideia de reflexividade de Anthony Giddens. A pegação entre homens é um saber compartilhado no tempo ao longo de eras. A conquistas de parceiros sexuais é um dos instrumentos de legitimação da masculinidade como fator estrutural que permite manter esses homens próximos ou longe da linha orientadora de suas expressões de gênero. Fazemos ainda uma alinhamento teórico entre nossos achados e o conceito de Cuidado de Si proposto por Michel Foucault, expandindo o conceito de "ação política" para uma política sobre o gênero. Se um dia a heterossexualidade teve como um dos seus pilares e rito de passagem a negação de uma possível homossexualidade, como afirma Roberto DaMatta, hoje o mesmo se dá com os homossexuais. Se assumir homossexual é parte do amadurecimento das subjetividades dos sujeitos. Entendemos que a masculinidade é um dispositivo poderoso e que há muito abraçou os homossexuais. Os homens transferem uns para os outros os códigos de poder que lhes tornam dominantes Os homossexuais estão cada vez mais inseridos nas instâncias de aplicação dos poderes, como nos governos, na medicina, nas escolas e em quase todas as instituições socializadoras e disciplinadoras. Pretendemos apresentar novas perspectivas de como as mudanças sociais não pasteurizam a sexualidade gay, ao passo que houve uma normalização de suas práticas sexuais pela sociedade mais ampla. O poder, a masculinidade e o desejo se intercruzam polarizados pelos marcadores sociais da diferença e fazem do corpo do homem sua morada e meio de expressão. Mostramos assim como os "Roteiros Sexuais"; "Histórias de referência" e " Orientações íntimas" se relacionam com as expressões de gênero sem a necessidade de mantermos a mística crença de que a masculinidade está essencialmente atrelada ou ancorada na heterossexualidade. Propomos uma saída a visão de Michel Bozon, que considera a homossexualidade como uma sexualidade "alternativa". Uma vez que o sujeito homossexual não existe em função do sujeito heterossexual, ele não é "alternativa a nada" a não ser a ele mesmo, enquanto referencial antológico de si próprio em ligação com a identidade masculina.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Prazer, territorialidade e racialidade: Etnografando o sexo em público à margem do Rio São Francisco
João Victtor Gomes Varjão (USP)
Resumo: Desde 2021, tenho conduzido um trabalho de campo nas margens do Rio São Francisco, em Juazeiro da Bahia, com o objetivo de explorar etnograficamente as intersecções entre sociabilidade e prazer. A cidade é interpretada como uma cidade de interior, cuja urbanidade é construída na relação ruralidade e etnicidade/racialidade (Domingues, Gontijo, 2021). Nas margens da cidade, ao longo do Rio São Francisco, é comum a prática de sexo em público, geralmente experienciada por pessoas negras, ribeirinhas, pescadores e transeuntes da urbe. A dinâmica de sexo em público neste território é delineada por duas práticas interconectadas: a pegação e o trabalho sexual entre homens. A pegação envolve práticas sexuais casuais, enquanto o trabalho sexual, conhecido localmente como bico, incorpora uma transação monetária no sexo. Ao observar essas práticas, emerge uma complexa trama entre prazer, racialidade e território. As categorias de "cafuçu" e "marginal" são centrais nas relações vivenciadas nesse espaço, sendo utilizadas tanto por aqueles que desejam corpos identificados por essas categorias quanto pelos corpos que podem ser lidos através dessas categorizações. As categorias expressam a ambivalência vivenciada por corpos racializados no espaço, entre a abjeção e o desejo. Os corpos performam e são tachados por essas categorias. Nesse contexto, a fluidez e negociação das categorias durante as interações destacam a importância da interseccionalidade na produção de diferenças e sentidos no espaço urbano. O território, longe de ser fixo, é construído nas relações entre as pessoas, constituindo-se, assim, como uma territorialidade marginal (Perlongher, 1991). Argumento que a territorialidade do Rio São Francisco se expressa a partir dessa ambivalência entre desejo e abjeção. Essas territorialidades implicam mobilizações e deslocamentos espaciais e categoriais, envolvendo a materialidade de corpos, bem como os próprios lugares que esses corpos percorrem. Compondo-se como um espaço à margem da cidade, o lugar opera não apenas como uma desterritorialização do espaço público, a partir dos usos desejantes dos frequentadores, mas de Juazeiro em si, constituindo uma margem que é construída e reconstruída pelo prazer/abjeção. Essa perspectiva oferece uma chave para compreensão da intersecção entre sexualidade, racialidade e urbanidade, destacando a dinâmica do desejo na cidade, mas também como essa urbe é continuamente construída por marcadores sociais.
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Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
A cidade isolada: a invisibilidade da mulher negra nos presídios femininos brasileiros e na trajetória de Carolina Maria de Jesus
Júlia Catarine dos Santos Abreu (UFMG)
Resumo: O presente estudo busca compreender a trajetória de invisibilidade e abandono da mulher negra em um dos espaços mais vulneráveis e isolados das cidades no Brasil: os ambientes de privação de liberdade. Assim como a escritora Carolina Maria de Jesus (1960), que foi privada de liberdade em diversos momentos em sua vida sendo ela e sua obra um retrato de como a cidade possui estruturas racistas que ditam onde as mulheres negras estão e devem estar, podemos observar como as formas de organização social, econômica, e militar agem para que essa invisibilidade e abandono siga em um constante percurso desde antes, durante e após o encarceramento. Como estratégia de pesquisa, a pesquisa bibliográfica foi optada por tornar viável revisar a literatura a partir de um novo enfoque, possibilitando a visualização do ponto principal deste estudo (Lakatos; Marconi, 2003). Segundo o INFOPEN Mulheres (2018), 62% das mulheres presas são negras, e essas apresentam um histórico de imensa vulnerabilidade: têm baixa escolaridade, muitas são vítimas de abuso sexual, possuem famílias desestruturadas e em grande parte são presas por tráfico de drogas. Esses fatos demonstram como os ambientes de privação de liberdade, sendo eles uma parte isolada da cidade, buscam excluir, limitar e segregar a existência e participação de mulheres negras nos espaços de liberdade. São então destinados às mulheres negras os espaços periféricos e os presídios, onde são abandonadas pelo Estado, pela família e amigos, sem direito a cidade e a mobilidade urbana, como Carolina Maria de Jesus relatou durante sua vida em seus diários no livro Quarto de despejo" (1960). Desse modo, fica perceptível que enquanto a cidade possuir estruturas racistas e punitivistas, não haverá espaços sólidos e concretos de pertencimento e uso democrático para as mulheres negras, com ênfase para aquelas privadas de liberdade e/ou egressas do sistema penitenciário.
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Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Relações afetivo-sexuais de mulheres negras em cidades da zona da mata alagoana
Letícia Rosendo Correia Souza (UFPB)
Resumo: Houve transformações no modo como as mulheres negras de pequenas cidades de Alagoas estabelecem suas relações amorosas? Quais os códigos de paquera utilizados por elas no passado e no presente? Quais os lugares que frequentam para paquerar? Suas relações são atravessadas pelos marcadores de raça, classe e gênero? Quais são os outros marcadores que atuam na formação de suas subjetividades e consequentemente em sua sexualidade e como isto se relaciona com a estrutura da cidade em que vivem? Essas são algumas das questões que norteiam minha pesquisa de doutorado no Programa de Pós-Graduação em Antropologia na Universidade Federal da Paraíba. O objetivo é olhar para o passado, para a segunda metade do século XX e para os dias atuais e conseguir visualizar essas possíveis transformações, pensando nos lugares e posições que essas mulheres ocupavam e ocupam, já que vivem em cidades com fortes raízes patriarcais e escravistas. Metodologicamente, meu trabalho tem como base a análise processual e interseccional, no qual utilizo a análise de arquivos, como jornais e crônicas escritas por pessoas que moram ou moravam em cidades da zona da mata alagoana, para revelar todo o contexto histórico e social que envolve as mulheres negras pertencentes a esses espaços. Aliado a isso faço entrevistas com mulheres negras de diferentes idades, com o intuito de revelar como elas se percebem e criam narrativas de suas próprias experiências eróticas e vou aos espaços de divertimento que tais mulheres frequentam, com o objetivo de observar e fazer uma etnografia sobre como mulheres negras estabelecem relações de paquera nesses ambientes, além de fazer uma análise bibliográfica mais precisa dos estudos sobre a dimensão afetivas de mulheres negras.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Família queer transfronteriza. Afeto e cuidados entre migrantes venezuelanos LGBTQI+ abrigados na Operação Acolhida, Boa Vista, estado de Roraima, Brasil
Macarena Francisca Williamson Modesto (UNICAMP)
Resumo: Neste trabalho pesquiso as políticas de afetos e cuidados na noção de família entre migrantes venezuelanos LGBTQI+ abrigados sob a Operação Acolhida, resposta federal do governo brasileiro para a recepção dos fluxos venezuelanos em Boa Vista, capital do estado de Roraima e tríplice fronteira do Brasil com a Venezuela e Guiana. Por meio de uma estratégia que combina cenas etnográficas e fragmentos de entrevistas, neste trabalho analisam-se configurações familiares entre migrantes LGBTQI+ nesses abrigos. No texto proponho que, nesses espaços temporais, a família aparece como um campo em disputa. Se por um lado, argumento que uma política sexual cisheterocentrada atravessa a Operação Acolhida por meio de um modelo familístico, nuclear - promovido na regularização migratória e na cotidianidade dos abrigos - por outro lado, a família escolhida entre migrantes LGBTQI+ nesses espaços temporais, envolvem não unicamente assistência material que lhes permite sobreviver ao dia a dia -, mas práticas de cuidado, gestão da vida cotidiana e a construção de um espaço próprio entre a comunidade LGBTQI+ migrante produzindo subjetivações e articulações centrais para o exercício de direitos dessa população nos abrigos. Da forma que apresento aqui, a família um campo de estudos de longa tradição na antropologia, ciências sociais e humanas - passou de ser pensada como uma instituição social rígida, universal, sustentada em pressupostos reprodutivos, genealógicos e arranjos familiares para a elaboração de uma crítica e desnaturalização da procriação como estrutura base do parentesco. Decorrentes das relações cotidianas e afetivas entre diversidades sexuais migrantes, as narrativas dos interlocutores residindo temporalmente nesses espaços indicam que as figuras de mãe, pai, filho, filha sem laços de sangue, aparecem como referentes de proteção, cuidado e autoridade entre migrantes LGBTQI+ frente às diferentes hierarquias e desigualdades que operam no dia a dia nesses abrigos. Esse trabalho conclui que a formação de comunidades familiares, apresenta uma forma de organização feita de fronteiras fluidas além de uma estratégia de sobrevivência e prática histórica do movimento LGBTQI+ constituindo uma resposta de organização e agência situada também adotada por migrantes LGBTQI+ frente as múltiplas violências e desigualdades que atravessam suas trajetórias migratórias.
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Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Trânsitos da masculinadade negra à nordestina e o tornar- se negro e gay em Imperatriz - Maranhão
Marcos Madjer Souza Morais (Centro Educa Mais Tancredo de Almeida Neves)
Resumo: A presente dissertação abordará, por meio de importantes aportes teóricos, os marcadores sociais de opressão de gênero, sexualidade e raça que atuam sobre o corpo do homem negro e gay de Imperatriz do Maranhão, e as relações sociais que acontecem nos espaços de entretenimento noturnos que se localizam em um dos pontos turísticos da cidade, a Beira Rio. A proposta é analisar as marcações que se interseccionam sobre o corpo do homem negro homossexual a partir das vivências com o racismo, a homofobia, as exigências da hetenormatividade compulsória, e a masculinidade negra e nordestina imperatrizense. Além disso, iremos observar de que modo as relações afetivas e sexuais desses homens se constroem, como elas são afetadas por tais marcadores, e de que forma sua subjetividade reage a tudo isso. Portanto, a pesquisa é etnográfica, em que o ver, ouvir e escrever permeiam todo processo de análise entre corpo, espaço, território e sujeito, além de realizarmos entrevistas e observarmos o circuito social que ocorre nesses ambientes. Nesse sentido, o corpo do homem negro, as relações sociais de interesse afetivo e sexual que ele constrói, como ele transita pelo território, e de que modo ele se reconhece como sujeito pertencente à cidade são os elementos principais de análise deste trabalho.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Reflexões sobre o consumo LGBTQIAP+ e suas implicações políticas
Mariana Pesce Ribeiro (UFMG), Bruno Gabriel Santos Carvalho (UFMG)
Resumo: O trabalho tem como objetivo pensar nos espaços de sociabilidade LGBTQIAP+, como bares e baladas, na sua dimensão política, traçando paralelos com o movimento social, e nas "ações afirmativas" para a ampliação da ocupação desses espaços, como a criação da "lista T". Para isso, faz uma breve introdução à origem do movimento LGBTQIAP+ brasileiro e seus primeiros anos de atuação. Apontamos que, apesar do esforço para desvincular essas atividades, consideradas diferentes em sua própria essência, muitas vezes se fez política em espaços como bares e vice-versa. Um exemplo são as reuniões do grupo Somos, que, num período de muita repressão, serviram também como lugar de socialização entre os homossexuais e, em alguns casos, deixavam de ser frequentadas uma vez que os laços de amizades se formavam. Além disso, nota-se que, além da apropriação de um discurso politizado pelas empresas, há pontos em que a tentativa de consolidação da população LGBTQIAP+ enquanto consumidora e sua demanda por direitos civis se cruzam. Dessa forma, entende-se que os eventos e espaços de lazer voltados para esse público, como festas, bares e festivais - muitas vezes realizados com apoio de patrocinadores - possibilitam a constituição de um espaço seguro, onde também se faz política de diversas formas. Outras práticas de consumo de produtos voltados para pessoas LGBTQIAP+ também têm um papel na constituição da autoestima e das identidades pessoais e coletivas. Portanto, a demanda por lazer e consumo faz parte das reivindicações da comunidade, apesar das visões conflituosas dos militantes a respeito da sociedade de consumo e das práticas de mercado. Destacamos que muitas ações propostas por empresas que apelam para a promoção do "orgulho" deixam de promover acesso à oportunidades de lazer e trabalho para as comunidades mais marginalizadas. Propomos olhar, então, para algumas práticas de ações afirmativas para o consumo LGBTQIAP+, como a criação da "lista T", que incentiva a entrada gratuita de pessoas trans, travestis e não binárias em espaços de festa já muito frequentados por lésbicas, gays e bissexuais. Em suma, buscamos pensar a respeito da dimensão política do consumo e dos espaços de sociabilidade LGBTQIAP+, bem como nas suas relações com o movimento social organizado e seu discurso.
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Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Marcações Espaciais: Reflexões sobre a Sociabilidade de Homens que fazem Sexo com Homens do Recife
Mateus Souza Araujo (UFPE)
Resumo: RESUMO: No Brasil e no mundo, a categorias de homens que fazem sexo com homens (HSH) permanece especialmente afetados pelo HIV. A literatura clássica sobre HSHs aponta para a emergência de territórios de homossociabilidade nos centros das grandes cidades, locais que possibilitam maior anonimato. Estudos mostram que a sociabilidade entre HSHs está marcada pelo reconhecimento de códigos e pode fazer interações emergirem em espaços e contextos os mais variados, com destaque para a internet. Esta pesquisa foca na descrição densa onde se utilizou da técnica de observação participante, entrevistas temáticas com enfoque biográfico e análise temática de conteúdo. Convém destacar que a pesquisa que deu origem a este trabalho se baseou em abordagem sócio-construcionista da sexualidade e dos agravos em saúde e buscou pelos aspectos sociais, programáticos e intersubjetivos da vulnerabilidade ao HIV. Dessa forma, teóricos como Gayle Rubin, Richard Parker e José Ricardo Ayres, deu relevo aos contextos comunitários e às culturas sexuais que sustentam as interações em diferentes conformidades sexuais possíveis. Utilizou-se do conceito de estilização corporal de Judith Butler: as formas como as classificações sociais se expressam nos corpos produzindo sentidos. Apresentarei parte da etnografia realizada em bairros menores do subúrbio do Recife com enfoque na sociabilidade. O trabalho evidencia constante regulação dos trânsitos dos HSH pela cidade, matizados por marcadores sociais de gênero, classe, renda e idade. Palavras chaves: HSH, Sociabilidade, Território
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Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
O que uma etnografia com uma professora de funk em diferentes espaços na cidade do Rio de Janeiro pode nos dizer sobre a produção de gênero?
Natália de Oliveira Melo (PUC-RIO)
Resumo: A partir de trabalho de campo com Dudadance, uma professora e dançarina de funk que dá aulas do ritmo para diferentes mulheres em diferentes espaços na cidade do Rio de Janeiro, em sua mobilidade com o funk, que vai desde aulas gratuitas do ritmo para moradoras da comunidade da Rocinha até aulas pagas no Museu de Arte Moderna (MAM) para mulheres estrangeiras que estão de férias na cidade, meu objetivo com esta comunicação é discutir que na produção de gênero participam do processo também os distintos espaços públicos da cidade, ou seja, a construção de gênero com as aulas na Rocinha se faz por enredamentos heterogêneos das aulas no MAM, trazendo à tona as indeterminações de gênero. Aqui, questiono: de que forma a produção de gênero em diferentes escalas se desenvolve junto a mobilidade de uma professora de funk que circula na cidade do Rio de Janeiro? Para isso, importa descrever sobre a mobilidade de Dudadance na cidade do Rio de Janeiro pelo recorte da produção de gênero; e investigar com as indeterminações de gênero em diferentes escalas a partir da mobilidade dessa professora de funk na referida cidade. O campo teórico que tem me ajudado a levantar questionamentos é o do feminismo com a antropologia, incluindo os desconfortos oriundos desse diálogo (Strathern, 2009; Brah, 2006). Quem me inspira na discussão em torno das mobilidades citadinas através da sua produção etnográfica no Rio de Janeiro e as ambiguidades que emergem dessa circulação é Mizrahi (2014, 2018, 2019). Já na esfera das indeterminações em torno do gênero Hill Collins e Bilge (2021), Davis (2016) e Crenshaw (1989, 1991) são importantes nomes para o debate, principalmente pelo diálogo do gênero com outros marcadores como raça e classe, fortalecendo a presente pesquisa no aprofundamento epistemológico da interseccionalidade. Butler (2019, 2019a), Tsing (2015, 2019) e Abu-Lughod (2020) são pensadoras que me direcionam simultaneamente na inquietação das construções de gênero e nas indeterminações de fazer pesquisa com a etnografia através desse enquadre. Como primeiro esboço reflexivo a partir dos dados encontrados em campo nessa pesquisa em andamento, sugiro que a mobilidade de Dudadance, com suas aulas de funk para diferentes mulheres em diferentes espaços no Rio de Janeiro, fomenta heterogêneas produções de gênero com e para os espaços citadinos a partir das marcações sociais de raça, etnia e classe social, não anulando, no entanto, algumas similaridades instigantes, pois também há confluências nessas produções de gênero ainda que com os diferentes espaços e personagens.
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Corpo-território, corpos dissidentes: repressão e resistências em terras sul-mato-grossenses
Simone Becker (UFGD), Danielle Tega (UFG)
Resumo: Nossa proposta é a de apresentar possíveis relações entre os conceitos de corpo-território e corpos dissidentes a partir de uma análise do filme Madalena, dirigido por Madiano Marcheti (2021). Na película ficcional, as histórias de três personagens são afetadas pelo desaparecimento de Madalena, uma mulher trans. Nossa hipótese é que, longe de ser um mero cenário do filme, a cidade de Dourados (MS), na qual essa narrativa se desenvolve, oferece as condições materiais e simbólicas para as ações que se desenrolam em imagem e som. Corpos trans, viados, travestis, não binários e práticas dissidentes, bem como corpos indígenas em terras sul mato-grossenses, são executados pelo agro e pela necropolítica estatal sob fundamentações como a legítima defesa da honra e a legítima defesa da propriedade privada”. Ora, os povos kaiowá e guarani nos ensinam que somos possuídos pela terra, e não a possuímos. Seus corpos, também dissidentes, são seus territórios, suas terras, seu Tekohá. Procuramos, assim, expor como o neoliberalismo racista e heterocisnormativo, sobretudo em sua face neoextrativista, busca destruir sistematicamente corpos dissidentes e corpos-territórios que também se constroem enquanto resistências e lutas.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Mulheres ao Vento: modos de dançar e existir enquanto moradoras de favela a partir da ideia de heterotopia de Foucault
Simonne Silva Alves (Museu Nacional/UFRJ)
Resumo: Este resumo investiga o projeto Mulheres Ao Vento (MAV) no Complexo da Maré, Rio de Janeiro, percebendo como mulheres negras, migrantes nordestinas e acima de 50 anos usam a dança como meio de resistência, afirmação de identidade e pertencimento. Através de um estudo etnográfico, analiso como o MAV cria um espaço de acolhimento que contrasta com a precariedade de infraestrutura, desigualdade e violência urbana, dialogando com a noção de heterotopia de Foucault (2013). Este estudo se aprofunda na intersecção da antropologia urbana e da dança, examinando como práticas culturais moldam espaços de resistência e como essas expressões de suas subjetividades são representadas pelas danças nos espetáculos do MAV, extrapolando esses espaços e sendo assumidos em seus discursos. Serão abordadas também as contribuições de Adriana Facina (2022) para pensar como as práticas artísticas, em contextos de precariedade, ajudam a pensar sobre esperança e futuro. Autores como José Magnani (2014) e Tiaraju D'Andrea (2013) auxiliam a refletir sobre como espaços culturais, como o Centro de Artes da Maré - local onde acontecem os encontros do projeto MAV-, funcionam como circuitos urbanos alternativos que desafiam as normativas espaciais e temporais hegemônicas, promovendo a formação de comunidades baseadas em interesses comuns e práticas de resistência, contribuindo também para pensarmos sobre subjetividades periféricas. Assim, este estudo ilumina o papel crucial de práticas artísticas e culturais na criação de heterotopias de desvio que oferecem refúgio e espaço para a reimaginação das identidades urbanas. As descobertas sublinham a necessidade de reconhecer e valorizar esses "outros espaços" dentro da antropologia, contribuindo para o entendimento das estratégias de sobrevivência e afirmação em contextos de vulnerabilidade social.

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Pertencimento e uso democrático do espaço público: narrativas de mulheres do Ponto de Cultura Centro Cultural Casa Vermelha
Suzana Morelo Vergara Martins Costa (UFSC), Miriam Pillar Grossi (UFSC)
Resumo: Este trabalho é fruto de minha pesquisa no Doutorado Interdisciplinar em Ciências Humanas da Universidade Federal de Santa Catarina. A pesquisa tem como temática o teatro contemporâneo de mulheres na cidade de Florianópolis, Santa Catarina, e busca compreender quais são as contribuições das mulheres a este fazer.. Partindo da perspectiva feminista e decolonial localiza o pioneirismo e protagonismo das mulheres na construção da história do teatro contemporâneo na cidade e lança um olhar crítico a história do teatro feito na Ilha. Ao mesmo tempo, se busca entender como estas mulheres do teatro se relacionam com o espaço urbano da cidade e como a cidade se relaciona com estas mulheres, uma vez que Florianópolis encontra-se em uma Ilha, a qual o urbano e o rural convivem nos espaços de moradia, trabalho e lazer. A partir desta peculiaridade buscaremos verificar como e se os feminismos se fazem presentes em suas práticas artísticas e se contribuem para uma outra forma de tessitura do tecido urbano em seus vínculos com os espaços rurais de praias e territórios camponeses que constituem a Ilha de Santa Catarina. A pesquisa já entrevistou onze mulheres da cena teatral da cidade. Para a presente proposta realiza-se um recorte que atenta-se às narrativas das mulheres que participam do Centro Cultural Casa Vermelha, Ponto de Cultura independente da cidade de Florianópolis. Trabalha-se a partir de entrevistas realizadas junto a três artistas e professoras do centro cultural, atreladas à reflexão do campo da antropologia urbana e estudos feministas. Como estas mulheres relatam suas experiências junto ao Centro Cultural? Quais são as estratégias de produção junto a comunidade do centro da cidade de Florianópolis? Que tipo de práticas artísticas são desenvolvidas junto ao coletivo? São algumas das perguntas norteadoras deste trabalho. Em um primeiro momento, é possível perceber que a localização em uma zona marginal do centro da cidade não impede que estas artistas e o coletivo do Ponto de Cultura internalizem e externalizem ações concretas de pertencimento e uso democrático do espaço público.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Os (des) fazeres do brejo: Notas sobre lesbianidades e contextos pandêmicos da vida noturna em Natal/RN
Suzanne Freire Pereira (SEEC/RN)
Resumo: Com o objetivo de refletir sobre e a partir das experiências de mulheres lésbicas na Região Metropolitana de Natal/RN, este trabalho teve como ponto de partida a análise etnográfica da participação (seja como público, produtoras ou artistas) em espaços de lazer e sociabilidades, em específico, bares e festas, voltados a este público-alvo, com foco de análise especialmente entre os anos 2020 e 2021. Surge como fruto de produção a posteriori da dissertação de mestrado em Antropologia Social. Em decorrência da crise sanitária do coronavírus, foi necessário fazer um redirecionamento do lócus da pesquisa, que consistia na observação participante nos diferentes estabelecimentos, voltando-se à retomada histórico-bibliográfica de alguns espaços, a fim de (re)construir um pouco deste cenário. Tem como objeto de análise metodológica, entrevistas semiestruturadas, de modo remoto e presencial, com o objetivo de lançar luz para como as suas trajetórias articulam-se com a construção de uma identidade lésbica, destacando dinâmicas específicas de produção de si, circulação pela cidade, negociações familiares e os contextos de readequação à vida social durante os decretos e normativas ligadas à pandemia. Em especial, entre as necessidades de elaboração de novas dinâmicas de vida, para um público habituado em trabalhar, produzir e consumir a vida noturna. Revelando emaranhados específicos nas intersecções entre sexualidade, gênero, corporalidades, classe, raça e território na capital Norte-Riograndense.
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