Grupos de Trabalho (GT)
GT 063: Gênero, sexualidade e raça: produção de diferenças e desigualdades na cidade
Coordenação
Ramon Pereira dos Reis (UEPA), Guilherme Rodrigues Passamani (UFMS)
Debatedor(a)
Isadora Lins França (IFCH)
Resumo:
Os processos de produção das cidades em relação às sexualidades têm enfatizado ao longo da história a importância das noções de território e territorialidade para a compreensão de como são constituídos os espaços urbanos, os sujeitos e suas relações. Além de indicar que tais processos de produção citadina correspondem a marcações sociais heterogêneas, é importante ressaltar que todo esse movimento compreendido pelas dinâmicas sociais locais e a ocupação de territórios, dispostos entre “periferias” e “centros”, perfaz mobilidades e/ou zonas fronteiriças que nos possibilitam problematizar os manejos feitos em torno da produção social das diferenças e em seu impacto a partir da articulação com as temáticas de gênero, sexualidade e raça. Nesse sentido, imaginar a produção de sexualidades em diferentes escalas é um ponto constituinte dos três eixos que norteiam o GT: as espacialidades, mobilidades e territorialidades. O objetivo é aproximar os debates sobre cidade, gênero, sexualidade e raça na tentativa de promover aproximações teóricas e empíricas que nos auxiliem a refletir e questionar estatutos citadinos em relação à produção de diferenças e desigualdades, tendo como ponto de partida a seguinte questão: de que forma podemos escrutinar urbanidades/citadinidades a ponto de fazer com que tais estruturas não sejam meros arquétipos geográficos/cartográficos, mas que internalizem e externalizem ações concretas de pertencimento e uso democrático do espaço público?
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Ayira Sizernando Liberato (UFPB), Fellipy Sizernando Liberato (UFPE)
Resumo: Tendo em vista vários debates intensos que rolam na comunidade virtual do trans twitter a cerca da não
binariedade e também outras questões que surgem a partir da reflexão das identidades não binárias, seria
possível defender que a não binariedade pode ser também uma identidade cisgênera? Defendemos que a não
binariedade é definida primordialmente pela ruptura com padrões de vida binário, que não necessariamente
significa o rompimento com a cisgeneridade, que é o que caracteriza a transgeneridade. Para Vergueiro
(2020), existem três apontamentos que definem a cisgeneridade: 1) a pré-discursividade; 2) a binariedade e;
3) a permanência. O primeiro deles incide justamente no discurso, na ideia de que há um sexo biológico e,
portanto, inerente a todos os corpos. Dessa forma, o rompimento com a cisgeneridade é, fundamentalmente,
discursivo, ou então o que representaria a transgeneridade se não fosse uma contra-proposta discursiva as
identidades de gênero impostas. Por exemplo, se ser trans for o uso de determinadas roupas, o que seriam
roupas trans ou não binárias? Se ser travesti for a necessidade de implante de silicone, ou de retirada de
barba, o que falar das travestis que não tiram a barba ou que não querem os implantes? Se ser não binário
for caracterizado por uma identidade corporal não binária, estamos dizendo que existe uma imagética
masculina ou feminina? Dessa forma, em todos os caminhos que tomamos entendemos que o que caracteriza de
fato a transgeneridade, é o discurso, a recusa discursiva de uma projeto de cisgeneridade. Ou seja, em
poucas palavras, é essencialmente preciso anunciar que é trans para ser, e isso em todos os espaços. Por
outro lado, a cisgeneridade se configura dentro de um campo de acessos e privilégios em sociedade que também
é discursiva, visto que biologicamente somos construções sociais. Se ser transexual é a renúncia ser cis é
assumir o pacto. Aqui é onde entramos na contradição: esse é um acordo firmado por indivíduos biologicamente
sociais que constroem suas próprias identidades a partir do que referenciam como masculino e femininino.
Esse trabalho analisa a experiência de identidades dissidentes de um casal de gêmeos socializados no
interior da paraíba, uma travesti e o outro, um viadão maluco. A partir dessa investigação, decorremos sobre
o que leva a identificação enquanto trans e cis de cada um, apesar do próprio irmão-viado não se enxergar
perfeitamente enquanto homem. Por fim, defendemos a possibilidade da experiência não binária como possível a
identidades cisgêneras.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Barbara Olives Rosa (UNIRIO)
Resumo: O objetivo da pesquisa é estudar as narrativas de solidão da personagem Macabéa, a problemática da
pesquisa perpassa o modo como os preconceitos de xenofobia, gênero e raça refletem na construção de
subjetividades de mulheres nordestinas migrantes, na literatura, quando Clarice Lispector escreveu a
personagem Macabéa, no livro A hora da estrela. Aparece um sentimento de não pertencer à cidade do Rio de
Janeiro pela protagonista: [...] limito-me a contar as fracas aventuras de uma moça numa cidade toda feita
contra ela (LISPECTOR, 1998, p. 15). Sperber (1983) mostra como a protagonista não tem lugar, o espaço
ocupado por ela é nenhum. É nessa hostil metrópole, que ela vai sentir solidão: [...] todo mundo é um pouco
triste e um pouco só. A nordestina se perdia na multidão. Na praça Mauá onde tomava o ônibus fazia frio e
nenhum agasalho havia contra o vento (LISPECTOR, 1998, p. 40). A Macabéa é uma personagem feminina que foi
criada por um homem, o narrador Rodrigo S. M., que escreve a partir de sua percepção, de forma violenta, sem
ter empatia pela protagonista. Já nesse começo, percebemos que a história é narrada por um homem carioca
olhando para vida de uma nordestina. Para tal análise, embaso-me na concepção de linguagem proposta por
Austin (1990), Derrida (1988) e Butler (2018). Deste modo, estudar as narrativas que envolvem a construção
da personagem Macabéa se tornam importantes à proporção que o preconceito e à exclusão das mulheres
nordestinas é uma realidade na cidade do Rio de Janeiro.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Beatriz Giugliani (UFBA)
Resumo: O objetivo dessa comunicação é um recorte de Tese que tratou sobre o abandono de jovens homens negros
estudantes do Ensino Médio em escola pública na cidade de São Félix (BA). Esse território é dado como um bom
exemplo por conta da demografia racial e pela tradição de estudos sobre o negro. Essa tese dispôs de uma
abordagem teórico metodológica para: 1) examinar as discriminações e opressões invisibilizadas pelo uso em
separados de categorias de raça e gênero; 2) instigar o aspecto interseccional; 3) ampliar a difusão dessa
perspectiva e, evidentemente; 4) escrutinar a posição que ocupam na intersecção de vetores de opressão.
Pensar o sujeito negro nessa espacialidade, nessa etapa de ensino - com jovens rapazes negros e nesse
território, levou-nos a analisar e refletir com os próprios atores - através de metodologias específicas
como os Grupos Focais e outros, as práticas de poder vividas e os efeitos do enraizamento do racismo no
inconsciente coletivo e suas formas particulares, requisitando sua inter-relação na re-produção das
desigualdades sociais. Buscou-se refletir sobre masculinidades negras, relações de poder e contexto escolar
a partir da interseccionalidade caracterizada pela interdependência e a articulação entre categorias e
práticas, indo além do simples reconhecimento da multiplicidade dos sistemas de opressão. Buscamos, ainda,
indicar algumas formas possíveis de interpretar as desigualdades raciais e de gênero, a posição de sujeito
frente o desafio escolar e para além dele, de acordo com as suas interações cotidianas de resistência ou
negociação. Uma vez reconhecido que são os meninos negros provenientes de camadas pobres da população as
principais vítimas do fracasso escolar, a discussão da construção das masculinidades racializadas e a
relação que eles estabelecem com o processo de escolarização importam. Ou: de que maneira o racismo, as
relações de poder e a discriminação racial estão presentes e/ou acontecem na escola? Quisemos também
compreender os modos de subjetivação como uma construção de novos processos numa visão política e cultural
que produzem o corpo, sua submissão e fragmentação em contextos de colonialidade de poder. Esses Grupos
Focais e Rodas de Conversa versaram sobre as inter-relações entre meninos e meninas; trabalho; projeto de
vida; igualdade de oportunidades, ser homem, ser mulher, violência e violência simbólica, desempenho escolar
entre meninos e meninas; desigualdade racial. Por fim, elegemos alguns recortes dialógicos entre nossos
interlocutores no sentido estrito para demonstrar de que maneira os efeitos da colonialidade pesam sobre os
corpos racializados, gerando um poder autorizado, assim como, masculinidades que serão aceitas ou
exterminadas.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Caobe Lucas Rodrigues de Sousa (Unicamp)
Resumo: Desde 2015 milhares de venezuelanos(as) tentam se estabelecer em território brasileiro, como
refugiados(as) ou migrantes. Principalmente em Roraima, estado brasileiro que faz fronteira com a Venezuela,
torna-se possível observar como raça, classe, gênero, sexualidade e outros marcadores diferenciam suas
experiências, seja pelas dificuldades ou pelas facilitações com as quais cada sujeito se depara em
diferentes âmbitos, como na busca por emprego e moradia por exemplo. Por meio de uma abordagem etnográfica,
o objetivo desta apresentação é lançar um olhar para as experiências de rapazes venezuelanos que fazem drag
queen em Boa Vista, capital de Roraima. Aqui tenho como foco compreender como são tecidas as alianças entre
eles para se estabelecer e sobreviver na cidade. Busco também mapear suas circulações pelos espaços noturnos
onde frequentam como drag queens. Argumento que no contexto em questão, a população LGBTQI+ tem sido
constituída pelos atores humanitários como um grupo específico que supostamente somaria vulnerabilidades.
Embora as situações de violência às quais migrantes/refugiados(as) LGBTQI+ são expostos(as) sejam
significativas, a intenção aqui é chamar atenção para os agenciamentos cotidianos e maneiras singulares de
lidar com as injustiças e desigualdades vividas por eles(as), que nem sempre são visibilizadas.
Palavras-chave: Migração; Gênero; Sexualidade.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Ednaldo Ribeiro Sousa (UEMA)
Resumo: O referido trabalho versa sobre as relações sociais de gênero dentro de grupos de capoeira em um bairro
periférico designado Cidade Olímpica e que está localizado a 40 minutos da Capital São Luís - MA. Nestes
escritos busco evidenciar a construção discursivas de corpos gays e lésbicos sobre o processo de
(in)visibilidade que estes passam nas rodas de capoeira e como isso passa a surtir efeitos sobre essas
pessoas. Que lugar resta a estes corpos que, além de negros e periféricos ainda tentam lidar com os desafios
de aceitação de suas identidades dentro dos distintos grupos por eles frequentados? As rodas de capoeira se
configuram, neste sentido, como um espaço de abrigo, ao passo que também esse acolhimento precisa ser
questionado quando deixa de lado o reconhecimento das distintas identidades de gênero que a ele frequenta. O
trabalho de investigação está em suas primeiras fases, está sendo construído com base em minhas vivências a
uma dessas rodas de capoeira, conta também com pesquisas em fontes secundárias, observações diretas e
entrevistas com esses corpos (in)visibilizados.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Elizangela Santos de Araujo (UFOPA)
Resumo: Atualmente no território brasileiro, a condição da mulheres negras é marcada por extrema desigualdade,
violência e exclusão dos espaços institucionais e políticos, as condições de moradia, saúde e educação são
atravessadas por racismos estruturais e ambientais, as mulheres negras na sua grande maioria, são moradoras
de comunidades periféricas, negligenciadas pelo poder público e esquecidas pelas autoridades. Na Amazônia
esse quadro assemelha-se ao do país, em meio a grande floresta as cidades crescem desgovernadamente,
proporcionando a continuidade desse grave marcador social, a condição de exclusão da mulher negra. Essas
mulheres estão presentes nas comunidades periféricas da cidade de Santarém no Pará, são trabalhadoras
domésticas, esposas, mães, líderes comunitárias e estudantes que lutam para conseguirem melhores condições
de vida, algo inimaginável para muitas delas, que esgotadas com tantas responsabilidades percebem-se
impossibilitadas de acessar espaços de tomadas de decisões que afetam diretamente suas vidas, sendo a
resiliência o único meio de mudarem sua realidade, permanecem nas suas trajetórias de resistência e
sobrevivência, organizando-se para adquirir condições econômicas para alcançar seus objetivos. Essa pesquisa
culminará em um documentário audiovisual, expositivo e humanizado da trajetória de três mulheres negras afro
amazônidas periféricas, mostrando suas lutas, registrando sua presença, memórias e ancestralidade no espaço
que ocupam, espaço que foi permitido ocupar dentro do estado brasileiro e amazônida. Mulheres que são mães
precoces, porém não desistem da formação universitária, mulheres que lutam pela defesa do direito de exercer
suas crenças e religiões, mulheres que lutam pelo direito de ser mulher dentro de seu corpo, dentro do seu
terreiro, dentro do seu território. Registrando algumas nuances da sua rotina diária e os desafios que têm
que enfrentar para conseguir superar os obstáculos diários, sem esquecer quem são e quais suas motivações,
conhecendo os lugares onde se reconhecem impulsionadoras e mobilizadoras de mudanças. Nesses espaços se
fortalecem e fortalecem os seus, deixando marcas em todos que atravessam seus caminhos, marcas da realidade
árdua de suas existências e da leveza de sua vivência. Sendo um recorte das atuais sociedades urbanas
amazônidas com suas relações e conflitos de gênero, raça e classe marcadamente condicionantes da exclusão
dos corpos negros dos espaços de poder institucionais. Mulheres afro amazônidas que possibilitam a
constituição de potencialidades, inspirando mais mulheres negras a ocuparem espaços de onde foram excluídas,
espaços políticos de ensino e cultura que a partir de suas especificidades, tornam-se espaços de mudanças
consideráveis para as relações étnico-sociais amazônicas.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Inácio dos Santos Saldanha (UNICAMP)
Resumo: A cidade de Belém do Pará tem sido pensada como um campo empírico que foi fundamental para a análise dos
processos de mudança nos sistemas de classificação da sexualidade no Brasil, mais especialmente o lugar
atribuído ao estudo antropólogo Peter Fry sobre a homossexualidade masculina. A categoria bissexual, ainda
que menos estudada, aparece nesse debate como um elemento controverso. Este trabalho toma a liminaridade
dessa categoria como ponto de partida para analisar essas mudanças, e o faz a partir de uma reflexão crítica
sobre as diferenças regionais do país. Tem como objetivo contribuir para a compreensão de processos de
mudança nas classificações da sexualidade e das categorias com as quais opera, sobretudo a categoria
bissexual, considerando seu caráter relacional e disputado. O recorte empírico é o da cidade de Belém,
entre as décadas de 1970 e 90, período de ampliação do debate público sobre a sexualidade na cidade, com a
eclosão da epidemia de HIV/Aids, o desenvolvimento de espaços segmentados de sociabilidade, as pesquisas
sobre sexualidade e a organização de movimentos locais de homossexuais, mulheres prostitutas e combate à
epidemia. Porém, mais do que um campo empírico, a análise propõe considerar a cidade como um campo de
produção de conhecimento. A metodologia consiste em um mapeamento de espaços, sujeitos e debates que permita
uma análise das categorias presentes, seus usos e seus trânsitos. Este procedimento cruza a realização de
entrevistas de pessoas envolvidas nos espaços de discussão da sexualidade com a análise de sua produção
intelectual, arquivos pessoais e os dois jornais de maior circulação na cidade no período: O Liberal e O
Diário do Pará. Como resultados, são descritas as tensões provocadas pela emergência de novas categorias em
um contexto no qual se estabelecem contrastes regionais com as capitais do Sudeste do país. A influência da
epidemia de HIV/Aids sobre as classificações da sexualidade no Brasil, apontada na literatura, não encerra a
totalidade da emergência dessa categoria, que foi dispersa e polissêmica. Além disso, um imaginário baseado
pela ideia de Amazônia é mobilizado, seja por moradores ou visitantes, nas formas como a sexualidade é
classificada e compreendida. A circulação de categorias como bissexual, GLS e andrógino era mediada em seus
múltiplos sentidos pela noção de que a Amazônia é uma região sem sexualidade ou menos madura sexualmente,
uma terra virgem.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
João Elioberg da Silva Oliveira (UFRN)
Resumo: Os cinevídeos surgem em decorrência da decadência dos cinemões de pornografia do final do século XX e
início do XXI. Este primeiro, com configurações arquitetônicas, de funcionamento e de público diferentes,
são espaços presentes nos centros urbanos direcionados à prática da pegação (Vale, 2012). Para Oliveira
(2013), a pegação é uma categoria nativa que se refere às experiências eróticas furtuitas e efêmeras. Dito
isto, o trabalho aqui proposto tem como objetivo analisar masculinidades não jovens a partir de um Lugar
Comercial para Encontros Sexuais (Braz, 2013) que possibilita a pegação, o Cine França. Sendo o único
cinevídeo da cidade de Natal/RN, o Cine França integra o circuito de pegação da cidade, no entanto, sua
localização, no centro da cidade do Natal, e seu modo de funcionamento, um cinevídeo, dão uma configuração
específica para o estabelecimento e, consequentemente, para a pegação. Dessa maneira, parto dessa realidade
para buscar entender como é experienciado a prática da pegação por homens não jovens, isto é, sujeitos lidos
socialmente como velhos. Metodologicamente, faço uso da etnografia sinestésica (Vasconcelos, 2020). Nesse
sentido, desenvolvo uma leitura intersecional, privilegiando os marcadores de idade, raça, território,
gênero e sexualidade para refletir acerca das experiências e da produção de subjetividade dos sujeitos
masculinos. O presente texto é fruto das primeiras incursões à campo e faz parte da minha pesquisa de
mestrado, em desenvolvimento.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
João Silva Junior (UFRJ)
Resumo: O presente trabalho apresenta um recorte analítico sobre os dados etnográficos que estão sendo obtidos
durante nossa investigação no doutorado. Nossa base teórica são, o compêndio de estudos que tem as práticas
de busca e caça por parceiros sexuais por homens no Brasil nos últimos quarenta anos, numa análise a partir
dos estudos de John Gagnon, e os de Michel Bozon. Neste trabalho apresentaremos cerca de 20 situações
distintas que aconteceram em dois Cruising Bars, um no Rio e outro em São Paulo, onde podemos ver tais
conceitos na prática. A pegação viril possui um Ethos ancorado tanto no habitus, quanto na construção de um
corpo e valores a partir da ideia de reflexividade de Anthony Giddens. A pegação entre homens é um saber
compartilhado no tempo ao longo de eras. A conquistas de parceiros sexuais é um dos instrumentos de
legitimação da masculinidade como fator estrutural que permite manter esses homens próximos ou longe da
linha orientadora de suas expressões de gênero. Fazemos ainda uma alinhamento teórico entre nossos achados e
o conceito de Cuidado de Si proposto por Michel Foucault, expandindo o conceito de "ação política" para uma
política sobre o gênero. Se um dia a heterossexualidade teve como um dos seus pilares e rito de passagem a
negação de uma possível homossexualidade, como afirma Roberto DaMatta, hoje o mesmo se dá com os
homossexuais. Se assumir homossexual é parte do amadurecimento das subjetividades dos sujeitos. Entendemos
que a masculinidade é um dispositivo poderoso e que há muito abraçou os homossexuais. Os homens transferem
uns para os outros os códigos de poder que lhes tornam dominantes Os homossexuais estão cada vez mais
inseridos nas instâncias de aplicação dos poderes, como nos governos, na medicina, nas escolas e em quase
todas as instituições socializadoras e disciplinadoras. Pretendemos apresentar novas perspectivas de como as
mudanças sociais não pasteurizam a sexualidade gay, ao passo que houve uma normalização de suas práticas
sexuais pela sociedade mais ampla. O poder, a masculinidade e o desejo se intercruzam polarizados pelos
marcadores sociais da diferença e fazem do corpo do homem sua morada e meio de expressão. Mostramos assim
como os "Roteiros Sexuais"; "Histórias de referência" e " Orientações íntimas" se relacionam com as
expressões de gênero sem a necessidade de mantermos a mística crença de que a masculinidade está
essencialmente atrelada ou ancorada na heterossexualidade. Propomos uma saída a visão de Michel Bozon, que
considera a homossexualidade como uma sexualidade "alternativa". Uma vez que o sujeito homossexual não
existe em função do sujeito heterossexual, ele não é "alternativa a nada" a não ser a ele mesmo, enquanto
referencial antológico de si próprio em ligação com a identidade masculina.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
João Victtor Gomes Varjão (USP)
Resumo: Desde 2021, tenho conduzido um trabalho de campo nas margens do Rio São Francisco, em Juazeiro da Bahia,
com o objetivo de explorar etnograficamente as intersecções entre sociabilidade e prazer. A cidade é
interpretada como uma cidade de interior, cuja urbanidade é construída na relação ruralidade e
etnicidade/racialidade (Domingues, Gontijo, 2021). Nas margens da cidade, ao longo do Rio São Francisco, é
comum a prática de sexo em público, geralmente experienciada por pessoas negras, ribeirinhas, pescadores e
transeuntes da urbe. A dinâmica de sexo em público neste território é delineada por duas práticas
interconectadas: a pegação e o trabalho sexual entre homens. A pegação envolve práticas sexuais casuais,
enquanto o trabalho sexual, conhecido localmente como bico, incorpora uma transação monetária no sexo. Ao
observar essas práticas, emerge uma complexa trama entre prazer, racialidade e território. As categorias de
"cafuçu" e "marginal" são centrais nas relações vivenciadas nesse espaço, sendo utilizadas tanto por aqueles
que desejam corpos identificados por essas categorias quanto pelos corpos que podem ser lidos através dessas
categorizações. As categorias expressam a ambivalência vivenciada por corpos racializados no espaço, entre a
abjeção e o desejo. Os corpos performam e são tachados por essas categorias.
Nesse contexto, a fluidez e negociação das categorias durante as interações destacam a importância da
interseccionalidade na produção de diferenças e sentidos no espaço urbano. O território, longe de ser fixo,
é construído nas relações entre as pessoas, constituindo-se, assim, como uma territorialidade marginal
(Perlongher, 1991). Argumento que a territorialidade do Rio São Francisco se expressa a partir dessa
ambivalência entre desejo e abjeção. Essas territorialidades implicam mobilizações e deslocamentos espaciais
e categoriais, envolvendo a materialidade de corpos, bem como os próprios lugares que esses corpos
percorrem. Compondo-se como um espaço à margem da cidade, o lugar opera não apenas como uma
desterritorialização do espaço público, a partir dos usos desejantes dos frequentadores, mas de Juazeiro em
si, constituindo uma margem que é construída e reconstruída pelo prazer/abjeção. Essa perspectiva oferece
uma chave para compreensão da intersecção entre sexualidade, racialidade e urbanidade, destacando a dinâmica
do desejo na cidade, mas também como essa urbe é continuamente construída por marcadores sociais.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Júlia Catarine dos Santos Abreu (UFMG)
Resumo: O presente estudo busca compreender a trajetória de invisibilidade e abandono da mulher negra em um dos
espaços mais vulneráveis e isolados das cidades no Brasil: os ambientes de privação de liberdade. Assim como
a escritora Carolina Maria de Jesus (1960), que foi privada de liberdade em diversos momentos em sua vida
sendo ela e sua obra um retrato de como a cidade possui estruturas racistas que ditam onde as mulheres
negras estão e devem estar, podemos observar como as formas de organização social, econômica, e militar agem
para que essa invisibilidade e abandono siga em um constante percurso desde antes, durante e após o
encarceramento. Como estratégia de pesquisa, a pesquisa bibliográfica foi optada por tornar viável revisar a
literatura a partir de um novo enfoque, possibilitando a visualização do ponto principal deste estudo
(Lakatos; Marconi, 2003). Segundo o INFOPEN Mulheres (2018), 62% das mulheres presas são negras, e essas
apresentam um histórico de imensa vulnerabilidade: têm baixa escolaridade, muitas são vítimas de abuso
sexual, possuem famílias desestruturadas e em grande parte são presas por tráfico de drogas. Esses fatos
demonstram como os ambientes de privação de liberdade, sendo eles uma parte isolada da cidade, buscam
excluir, limitar e segregar a existência e participação de mulheres negras nos espaços de liberdade. São
então destinados às mulheres negras os espaços periféricos e os presídios, onde são abandonadas pelo Estado,
pela família e amigos, sem direito a cidade e a mobilidade urbana, como Carolina Maria de Jesus relatou
durante sua vida em seus diários no livro Quarto de despejo" (1960). Desse modo, fica perceptível que
enquanto a cidade possuir estruturas racistas e punitivistas, não haverá espaços sólidos e concretos de
pertencimento e uso democrático para as mulheres negras, com ênfase para aquelas privadas de liberdade e/ou
egressas do sistema penitenciário.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Letícia Rosendo Correia Souza (UFPB)
Resumo: Houve transformações no modo como as mulheres negras de pequenas cidades de Alagoas estabelecem suas
relações amorosas? Quais os códigos de paquera utilizados por elas no passado e no presente? Quais os
lugares que frequentam para paquerar? Suas relações são atravessadas pelos marcadores de raça, classe e
gênero? Quais são os outros marcadores que atuam na formação de suas subjetividades e consequentemente em
sua sexualidade e como isto se relaciona com a estrutura da cidade em que vivem? Essas são algumas das
questões que norteiam minha pesquisa de doutorado no Programa de Pós-Graduação em Antropologia na
Universidade Federal da Paraíba. O objetivo é olhar para o passado, para a segunda metade do século XX e
para os dias atuais e conseguir visualizar essas possíveis transformações, pensando nos lugares e posições
que essas mulheres ocupavam e ocupam, já que vivem em cidades com fortes raízes patriarcais e escravistas.
Metodologicamente, meu trabalho tem como base a análise processual e interseccional, no qual utilizo a
análise de arquivos, como jornais e crônicas escritas por pessoas que moram ou moravam em cidades da zona da
mata alagoana, para revelar todo o contexto histórico e social que envolve as mulheres negras pertencentes a
esses espaços. Aliado a isso faço entrevistas com mulheres negras de diferentes idades, com o intuito de
revelar como elas se percebem e criam narrativas de suas próprias experiências eróticas e vou aos espaços de
divertimento que tais mulheres frequentam, com o objetivo de observar e fazer uma etnografia sobre como
mulheres negras estabelecem relações de paquera nesses ambientes, além de fazer uma análise bibliográfica
mais precisa dos estudos sobre a dimensão afetivas de mulheres negras.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Macarena Francisca Williamson Modesto (UNICAMP)
Resumo: Neste trabalho pesquiso as políticas de afetos e cuidados na noção de família entre migrantes
venezuelanos LGBTQI+ abrigados sob a Operação Acolhida, resposta federal do governo brasileiro para a
recepção dos fluxos venezuelanos em Boa Vista, capital do estado de Roraima e tríplice fronteira do Brasil
com a Venezuela e Guiana. Por meio de uma estratégia que combina cenas etnográficas e fragmentos de
entrevistas, neste trabalho analisam-se configurações familiares entre migrantes LGBTQI+ nesses abrigos. No
texto proponho que, nesses espaços temporais, a família aparece como um campo em disputa. Se por um lado,
argumento que uma política sexual cisheterocentrada atravessa a Operação Acolhida por meio de um modelo
familístico, nuclear - promovido na regularização migratória e na cotidianidade dos abrigos - por outro
lado, a família escolhida entre migrantes LGBTQI+ nesses espaços temporais, envolvem não unicamente
assistência material que lhes permite sobreviver ao dia a dia -, mas práticas de cuidado, gestão da vida
cotidiana e a construção de um espaço próprio entre a comunidade LGBTQI+ migrante produzindo subjetivações e
articulações centrais para o exercício de direitos dessa população nos abrigos.
Da forma que apresento aqui, a família um campo de estudos de longa tradição na antropologia, ciências
sociais e humanas - passou de ser pensada como uma instituição social rígida, universal, sustentada em
pressupostos reprodutivos, genealógicos e arranjos familiares para a elaboração de uma crítica e
desnaturalização da procriação como estrutura base do parentesco. Decorrentes das relações cotidianas e
afetivas entre diversidades sexuais migrantes, as narrativas dos interlocutores residindo temporalmente
nesses espaços indicam que as figuras de mãe, pai, filho, filha sem laços de sangue, aparecem como
referentes de proteção, cuidado e autoridade entre migrantes LGBTQI+ frente às diferentes hierarquias e
desigualdades que operam no dia a dia nesses abrigos. Esse trabalho conclui que a formação de comunidades
familiares, apresenta uma forma de organização feita de fronteiras fluidas além de uma estratégia de
sobrevivência e prática histórica do movimento LGBTQI+ constituindo uma resposta de organização e agência
situada também adotada por migrantes LGBTQI+ frente as múltiplas violências e desigualdades que atravessam
suas trajetórias migratórias.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Marcos Madjer Souza Morais (Centro Educa Mais Tancredo de Almeida Neves)
Resumo: A presente dissertação abordará, por meio de importantes aportes teóricos, os marcadores sociais de
opressão de gênero, sexualidade e raça que atuam sobre o corpo do homem negro e gay de Imperatriz do
Maranhão, e as relações sociais que acontecem nos espaços de entretenimento noturnos que se localizam em um
dos pontos turísticos da cidade, a Beira Rio. A proposta é analisar as marcações que se interseccionam sobre
o corpo do homem negro homossexual a partir das vivências com o racismo, a homofobia, as exigências da
hetenormatividade compulsória, e a masculinidade negra e nordestina imperatrizense. Além disso, iremos
observar de que modo as relações afetivas e sexuais desses homens se constroem, como elas são afetadas por
tais marcadores, e de que forma sua subjetividade reage a tudo isso. Portanto, a pesquisa é etnográfica, em
que o ver, ouvir e escrever permeiam todo processo de análise entre corpo, espaço, território e sujeito,
além de realizarmos entrevistas e observarmos o circuito social que ocorre nesses ambientes. Nesse sentido,
o corpo do homem negro, as relações sociais de interesse afetivo e sexual que ele constrói, como ele
transita pelo território, e de que modo ele se reconhece como sujeito pertencente à cidade são os elementos
principais de análise deste trabalho.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Mariana Pesce Ribeiro (UFMG), Bruno Gabriel Santos Carvalho (UFMG)
Resumo: O trabalho tem como objetivo pensar nos espaços de sociabilidade LGBTQIAP+, como bares e baladas, na sua
dimensão política, traçando paralelos com o movimento social, e nas "ações afirmativas" para a ampliação da
ocupação desses espaços, como a criação da "lista T". Para isso, faz uma breve introdução à origem do
movimento LGBTQIAP+ brasileiro e seus primeiros anos de atuação. Apontamos que, apesar do esforço para
desvincular essas atividades, consideradas diferentes em sua própria essência, muitas vezes se fez política
em espaços como bares e vice-versa. Um exemplo são as reuniões do grupo Somos, que, num período de muita
repressão, serviram também como lugar de socialização entre os homossexuais e, em alguns casos, deixavam de
ser frequentadas uma vez que os laços de amizades se formavam. Além disso, nota-se que, além da apropriação
de um discurso politizado pelas empresas, há pontos em que a tentativa de consolidação da população
LGBTQIAP+ enquanto consumidora e sua demanda por direitos civis se cruzam. Dessa forma, entende-se que os
eventos e espaços de lazer voltados para esse público, como festas, bares e festivais - muitas vezes
realizados com apoio de patrocinadores - possibilitam a constituição de um espaço seguro, onde também se faz
política de diversas formas. Outras práticas de consumo de produtos voltados para pessoas LGBTQIAP+ também
têm um papel na constituição da autoestima e das identidades pessoais e coletivas. Portanto, a demanda por
lazer e consumo faz parte das reivindicações da comunidade, apesar das visões conflituosas dos militantes a
respeito da sociedade de consumo e das práticas de mercado. Destacamos que muitas ações propostas por
empresas que apelam para a promoção do "orgulho" deixam de promover acesso à oportunidades de lazer e
trabalho para as comunidades mais marginalizadas. Propomos olhar, então, para algumas práticas de ações
afirmativas para o consumo LGBTQIAP+, como a criação da "lista T", que incentiva a entrada gratuita de
pessoas trans, travestis e não binárias em espaços de festa já muito frequentados por lésbicas, gays e
bissexuais. Em suma, buscamos pensar a respeito da dimensão política do consumo e dos espaços de
sociabilidade LGBTQIAP+, bem como nas suas relações com o movimento social organizado e seu discurso.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Mateus Souza Araujo (UFPE)
Resumo: RESUMO:
No Brasil e no mundo, a categorias de homens que fazem sexo com homens (HSH) permanece especialmente
afetados pelo HIV. A literatura clássica sobre HSHs aponta para a emergência de territórios de
homossociabilidade nos centros das grandes cidades, locais que possibilitam maior anonimato. Estudos mostram
que a sociabilidade entre HSHs está marcada pelo reconhecimento de códigos e pode fazer interações emergirem
em espaços e contextos os mais variados, com destaque para a internet. Esta pesquisa foca na descrição densa
onde se utilizou da técnica de observação participante, entrevistas temáticas com enfoque biográfico e
análise temática de conteúdo. Convém destacar que a pesquisa que deu origem a este trabalho se baseou em
abordagem sócio-construcionista da sexualidade e dos
agravos em saúde e buscou pelos aspectos sociais, programáticos e intersubjetivos da
vulnerabilidade ao HIV. Dessa forma, teóricos como Gayle Rubin, Richard Parker e José Ricardo Ayres, deu
relevo aos contextos comunitários e às culturas sexuais que sustentam as interações em diferentes
conformidades sexuais possíveis. Utilizou-se do conceito de estilização corporal de Judith Butler: as formas
como as classificações sociais se expressam nos corpos produzindo sentidos. Apresentarei parte da etnografia
realizada em bairros menores do subúrbio do Recife com enfoque na sociabilidade. O trabalho evidencia
constante regulação dos trânsitos dos HSH pela cidade, matizados por marcadores sociais de gênero, classe,
renda e idade.
Palavras chaves: HSH, Sociabilidade, Território
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Natália de Oliveira Melo (PUC-RIO)
Resumo: A partir de trabalho de campo com Dudadance, uma professora e dançarina de funk que dá aulas do ritmo
para diferentes mulheres em diferentes espaços na cidade do Rio de Janeiro, em sua mobilidade com o funk,
que vai desde aulas gratuitas do ritmo para moradoras da comunidade da Rocinha até aulas pagas no Museu de
Arte Moderna (MAM) para mulheres estrangeiras que estão de férias na cidade, meu objetivo com esta
comunicação é discutir que na produção de gênero participam do processo também os distintos espaços públicos
da cidade, ou seja, a construção de gênero com as aulas na Rocinha se faz por enredamentos heterogêneos das
aulas no MAM, trazendo à tona as indeterminações de gênero. Aqui, questiono: de que forma a produção de
gênero em diferentes escalas se desenvolve junto a mobilidade de uma professora de funk que circula na
cidade do Rio de Janeiro? Para isso, importa descrever sobre a mobilidade de Dudadance na cidade do Rio de
Janeiro pelo recorte da produção de gênero; e investigar com as indeterminações de gênero em diferentes
escalas a partir da mobilidade dessa professora de funk na referida cidade. O campo teórico que tem me
ajudado a levantar questionamentos é o do feminismo com a antropologia, incluindo os desconfortos oriundos
desse diálogo (Strathern, 2009; Brah, 2006). Quem me inspira na discussão em torno das mobilidades citadinas
através da sua produção etnográfica no Rio de Janeiro e as ambiguidades que emergem dessa circulação é
Mizrahi (2014, 2018, 2019). Já na esfera das indeterminações em torno do gênero Hill Collins e Bilge (2021),
Davis (2016) e Crenshaw (1989, 1991) são importantes nomes para o debate, principalmente pelo diálogo do
gênero com outros marcadores como raça e classe, fortalecendo a presente pesquisa no aprofundamento
epistemológico da interseccionalidade. Butler (2019, 2019a), Tsing (2015, 2019) e Abu-Lughod (2020) são
pensadoras que me direcionam simultaneamente na inquietação das construções de gênero e nas indeterminações
de fazer pesquisa com a etnografia através desse enquadre. Como primeiro esboço reflexivo a partir dos dados
encontrados em campo nessa pesquisa em andamento, sugiro que a mobilidade de Dudadance, com suas aulas de
funk para diferentes mulheres em diferentes espaços no Rio de Janeiro, fomenta heterogêneas produções de
gênero com e para os espaços citadinos a partir das marcações sociais de raça, etnia e classe social, não
anulando, no entanto, algumas similaridades instigantes, pois também há confluências nessas produções de
gênero ainda que com os diferentes espaços e personagens.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Simone Becker (UFGD), Danielle Tega (UFG)
Resumo: Nossa proposta é a de apresentar possíveis relações entre os conceitos de corpo-território e corpos
dissidentes a partir de uma análise do filme Madalena, dirigido por Madiano Marcheti (2021). Na película
ficcional, as histórias de três personagens são afetadas pelo desaparecimento de Madalena, uma mulher trans.
Nossa hipótese é que, longe de ser um mero cenário do filme, a cidade de Dourados (MS), na qual essa
narrativa se desenvolve, oferece as condições materiais e simbólicas para as ações que se desenrolam em
imagem e som.
Corpos trans, viados, travestis, não binários e práticas dissidentes, bem como corpos indígenas em terras
sul mato-grossenses, são executados pelo agro e pela necropolítica estatal sob fundamentações como a
legítima defesa da honra e a legítima defesa da propriedade privada. Ora, os povos kaiowá e guarani nos
ensinam que somos possuídos pela terra, e não a possuímos. Seus corpos, também dissidentes, são seus
territórios, suas terras, seu Tekohá.
Procuramos, assim, expor como o neoliberalismo racista e heterocisnormativo, sobretudo em sua face
neoextrativista, busca destruir sistematicamente corpos dissidentes e corpos-territórios que também se
constroem enquanto resistências e lutas.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Simonne Silva Alves (Museu Nacional/UFRJ)
Resumo: Este resumo investiga o projeto Mulheres Ao Vento (MAV) no Complexo da Maré, Rio de Janeiro, percebendo
como mulheres negras, migrantes nordestinas e acima de 50 anos usam a dança como meio de resistência,
afirmação de identidade e pertencimento. Através de um estudo etnográfico, analiso como o MAV cria um espaço
de acolhimento que contrasta com a precariedade de infraestrutura, desigualdade e violência urbana,
dialogando com a noção de heterotopia de Foucault (2013). Este estudo se aprofunda na intersecção da
antropologia urbana e da dança, examinando como práticas culturais moldam espaços de resistência e como
essas expressões de suas subjetividades são representadas pelas danças nos espetáculos do MAV, extrapolando
esses espaços e sendo assumidos em seus discursos. Serão abordadas também as contribuições de Adriana Facina
(2022) para pensar como as práticas artísticas, em contextos de precariedade, ajudam a pensar sobre
esperança e futuro. Autores como José Magnani (2014) e Tiaraju D'Andrea (2013) auxiliam a refletir sobre
como espaços culturais, como o Centro de Artes da Maré - local onde acontecem os encontros do projeto MAV-,
funcionam como circuitos urbanos alternativos que desafiam as normativas espaciais e temporais hegemônicas,
promovendo a formação de comunidades baseadas em interesses comuns e práticas de resistência, contribuindo
também para pensarmos sobre subjetividades periféricas. Assim, este estudo ilumina o papel crucial de
práticas artísticas e culturais na criação de heterotopias de desvio que oferecem refúgio e espaço para a
reimaginação das identidades urbanas. As descobertas sublinham a necessidade de reconhecer e valorizar esses
"outros espaços" dentro da antropologia, contribuindo para o entendimento das estratégias de sobrevivência e
afirmação em contextos de vulnerabilidade social.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Suzana Morelo Vergara Martins Costa (UFSC), Miriam Pillar Grossi (UFSC)
Resumo: Este trabalho é fruto de minha pesquisa no Doutorado Interdisciplinar em Ciências Humanas da
Universidade Federal de Santa Catarina. A pesquisa tem como temática o teatro contemporâneo de mulheres na
cidade de Florianópolis, Santa Catarina, e busca compreender quais são as contribuições das mulheres a este
fazer.. Partindo da perspectiva feminista e decolonial localiza o pioneirismo e protagonismo das mulheres na
construção da história do teatro contemporâneo na cidade e lança um olhar crítico a história do teatro feito
na Ilha. Ao mesmo tempo, se busca entender como estas mulheres do teatro se relacionam com o espaço urbano
da cidade e como a cidade se relaciona com estas mulheres, uma vez que Florianópolis encontra-se em uma
Ilha, a qual o urbano e o rural convivem nos espaços de moradia, trabalho e lazer. A partir desta
peculiaridade buscaremos verificar como e se os feminismos se fazem presentes em suas práticas artísticas e
se contribuem para uma outra forma de tessitura do tecido urbano em seus vínculos com os espaços rurais de
praias e territórios camponeses que constituem a Ilha de Santa Catarina. A pesquisa já entrevistou onze
mulheres da cena teatral da cidade. Para a presente proposta realiza-se um recorte que atenta-se às
narrativas das mulheres que participam do Centro Cultural Casa Vermelha, Ponto de Cultura independente da
cidade de Florianópolis. Trabalha-se a partir de entrevistas realizadas junto a três artistas e professoras
do centro cultural, atreladas à reflexão do campo da antropologia urbana e estudos feministas. Como estas
mulheres relatam suas experiências junto ao Centro Cultural? Quais são as estratégias de produção junto a
comunidade do centro da cidade de Florianópolis? Que tipo de práticas artísticas são desenvolvidas junto ao
coletivo? São algumas das perguntas norteadoras deste trabalho. Em um primeiro momento, é possível perceber
que a localização em uma zona marginal do centro da cidade não impede que estas artistas e o coletivo do
Ponto de Cultura internalizem e externalizem ações concretas de pertencimento e uso democrático do espaço
público.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Suzanne Freire Pereira (SEEC/RN)
Resumo: Com o objetivo de refletir sobre e a partir das experiências de mulheres lésbicas na Região
Metropolitana de Natal/RN, este trabalho teve como ponto de partida a análise etnográfica da participação
(seja como público, produtoras ou artistas) em espaços de lazer e sociabilidades, em específico, bares e
festas, voltados a este público-alvo, com foco de análise especialmente entre os anos 2020 e 2021. Surge
como fruto de produção a posteriori da dissertação de mestrado em Antropologia Social. Em decorrência da
crise sanitária do coronavírus, foi necessário fazer um redirecionamento do lócus da pesquisa, que consistia
na observação participante nos diferentes estabelecimentos, voltando-se à retomada histórico-bibliográfica
de alguns espaços, a fim de (re)construir um pouco deste cenário. Tem como objeto de análise metodológica,
entrevistas semiestruturadas, de modo remoto e presencial, com o objetivo de lançar luz para como as suas
trajetórias articulam-se com a construção de uma identidade lésbica, destacando dinâmicas específicas de
produção de si, circulação pela cidade, negociações familiares e os contextos de readequação à vida social
durante os decretos e normativas ligadas à pandemia. Em especial, entre as necessidades de elaboração de
novas dinâmicas de vida, para um público habituado em trabalhar, produzir e consumir a vida noturna.
Revelando emaranhados específicos nas intersecções entre sexualidade, gênero, corporalidades, classe, raça e
território na capital Norte-Riograndense.