Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 063: Gênero, sexualidade e raça: produção de diferenças e desigualdades na cidade
O que uma etnografia com uma professora de funk em diferentes espaços na cidade do Rio de Janeiro pode
nos dizer sobre a produção de gênero?
A partir de trabalho de campo com Dudadance, uma professora e dançarina de funk que dá aulas do ritmo
para diferentes mulheres em diferentes espaços na cidade do Rio de Janeiro, em sua mobilidade com o funk,
que vai desde aulas gratuitas do ritmo para moradoras da comunidade da Rocinha até aulas pagas no Museu de
Arte Moderna (MAM) para mulheres estrangeiras que estão de férias na cidade, meu objetivo com esta
comunicação é discutir que na produção de gênero participam do processo também os distintos espaços públicos
da cidade, ou seja, a construção de gênero com as aulas na Rocinha se faz por enredamentos heterogêneos das
aulas no MAM, trazendo à tona as indeterminações de gênero. Aqui, questiono: de que forma a produção de
gênero em diferentes escalas se desenvolve junto a mobilidade de uma professora de funk que circula na
cidade do Rio de Janeiro? Para isso, importa descrever sobre a mobilidade de Dudadance na cidade do Rio de
Janeiro pelo recorte da produção de gênero; e investigar com as indeterminações de gênero em diferentes
escalas a partir da mobilidade dessa professora de funk na referida cidade. O campo teórico que tem me
ajudado a levantar questionamentos é o do feminismo com a antropologia, incluindo os desconfortos oriundos
desse diálogo (Strathern, 2009; Brah, 2006). Quem me inspira na discussão em torno das mobilidades citadinas
através da sua produção etnográfica no Rio de Janeiro e as ambiguidades que emergem dessa circulação é
Mizrahi (2014, 2018, 2019). Já na esfera das indeterminações em torno do gênero Hill Collins e Bilge (2021),
Davis (2016) e Crenshaw (1989, 1991) são importantes nomes para o debate, principalmente pelo diálogo do
gênero com outros marcadores como raça e classe, fortalecendo a presente pesquisa no aprofundamento
epistemológico da interseccionalidade. Butler (2019, 2019a), Tsing (2015, 2019) e Abu-Lughod (2020) são
pensadoras que me direcionam simultaneamente na inquietação das construções de gênero e nas indeterminações
de fazer pesquisa com a etnografia através desse enquadre. Como primeiro esboço reflexivo a partir dos dados
encontrados em campo nessa pesquisa em andamento, sugiro que a mobilidade de Dudadance, com suas aulas de
funk para diferentes mulheres em diferentes espaços no Rio de Janeiro, fomenta heterogêneas produções de
gênero com e para os espaços citadinos a partir das marcações sociais de raça, etnia e classe social, não
anulando, no entanto, algumas similaridades instigantes, pois também há confluências nessas produções de
gênero ainda que com os diferentes espaços e personagens.