Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 063: Gênero, sexualidade e raça: produção de diferenças e desigualdades na cidade
Família queer transfronteriza. Afeto e cuidados entre migrantes venezuelanos LGBTQI+ abrigados na
Operação Acolhida, Boa Vista, estado de Roraima, Brasil
Neste trabalho pesquiso as políticas de afetos e cuidados na noção de família entre migrantes
venezuelanos LGBTQI+ abrigados sob a Operação Acolhida, resposta federal do governo brasileiro para a
recepção dos fluxos venezuelanos em Boa Vista, capital do estado de Roraima e tríplice fronteira do Brasil
com a Venezuela e Guiana. Por meio de uma estratégia que combina cenas etnográficas e fragmentos de
entrevistas, neste trabalho analisam-se configurações familiares entre migrantes LGBTQI+ nesses abrigos. No
texto proponho que, nesses espaços temporais, a família aparece como um campo em disputa. Se por um lado,
argumento que uma política sexual cisheterocentrada atravessa a Operação Acolhida por meio de um modelo
familístico, nuclear - promovido na regularização migratória e na cotidianidade dos abrigos - por outro
lado, a família escolhida entre migrantes LGBTQI+ nesses espaços temporais, envolvem não unicamente
assistência material que lhes permite sobreviver ao dia a dia -, mas práticas de cuidado, gestão da vida
cotidiana e a construção de um espaço próprio entre a comunidade LGBTQI+ migrante produzindo subjetivações e
articulações centrais para o exercício de direitos dessa população nos abrigos.
Da forma que apresento aqui, a família um campo de estudos de longa tradição na antropologia, ciências
sociais e humanas - passou de ser pensada como uma instituição social rígida, universal, sustentada em
pressupostos reprodutivos, genealógicos e arranjos familiares para a elaboração de uma crítica e
desnaturalização da procriação como estrutura base do parentesco. Decorrentes das relações cotidianas e
afetivas entre diversidades sexuais migrantes, as narrativas dos interlocutores residindo temporalmente
nesses espaços indicam que as figuras de mãe, pai, filho, filha sem laços de sangue, aparecem como
referentes de proteção, cuidado e autoridade entre migrantes LGBTQI+ frente às diferentes hierarquias e
desigualdades que operam no dia a dia nesses abrigos. Esse trabalho conclui que a formação de comunidades
familiares, apresenta uma forma de organização feita de fronteiras fluidas além de uma estratégia de
sobrevivência e prática histórica do movimento LGBTQI+ constituindo uma resposta de organização e agência
situada também adotada por migrantes LGBTQI+ frente as múltiplas violências e desigualdades que atravessam
suas trajetórias migratórias.
© 2024 Anais da 34ª Reunião Brasileira de Antropologia - 34RBA
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