Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 063: Gênero, sexualidade e raça: produção de diferenças e desigualdades na cidade
A cidade isolada: a invisibilidade da mulher negra nos presídios femininos brasileiros e na trajetória
de Carolina Maria de Jesus
O presente estudo busca compreender a trajetória de invisibilidade e abandono da mulher negra em um dos
espaços mais vulneráveis e isolados das cidades no Brasil: os ambientes de privação de liberdade. Assim como
a escritora Carolina Maria de Jesus (1960), que foi privada de liberdade em diversos momentos em sua vida
sendo ela e sua obra um retrato de como a cidade possui estruturas racistas que ditam onde as mulheres
negras estão e devem estar, podemos observar como as formas de organização social, econômica, e militar agem
para que essa invisibilidade e abandono siga em um constante percurso desde antes, durante e após o
encarceramento. Como estratégia de pesquisa, a pesquisa bibliográfica foi optada por tornar viável revisar a
literatura a partir de um novo enfoque, possibilitando a visualização do ponto principal deste estudo
(Lakatos; Marconi, 2003). Segundo o INFOPEN Mulheres (2018), 62% das mulheres presas são negras, e essas
apresentam um histórico de imensa vulnerabilidade: têm baixa escolaridade, muitas são vítimas de abuso
sexual, possuem famílias desestruturadas e em grande parte são presas por tráfico de drogas. Esses fatos
demonstram como os ambientes de privação de liberdade, sendo eles uma parte isolada da cidade, buscam
excluir, limitar e segregar a existência e participação de mulheres negras nos espaços de liberdade. São
então destinados às mulheres negras os espaços periféricos e os presídios, onde são abandonadas pelo Estado,
pela família e amigos, sem direito a cidade e a mobilidade urbana, como Carolina Maria de Jesus relatou
durante sua vida em seus diários no livro Quarto de despejo" (1960). Desse modo, fica perceptível que
enquanto a cidade possuir estruturas racistas e punitivistas, não haverá espaços sólidos e concretos de
pertencimento e uso democrático para as mulheres negras, com ênfase para aquelas privadas de liberdade e/ou
egressas do sistema penitenciário.
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