ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 063: Gênero, sexualidade e raça: produção de diferenças e desigualdades na cidade
A cidade isolada: a invisibilidade da mulher negra nos presídios femininos brasileiros e na trajetória de Carolina Maria de Jesus
O presente estudo busca compreender a trajetória de invisibilidade e abandono da mulher negra em um dos espaços mais vulneráveis e isolados das cidades no Brasil: os ambientes de privação de liberdade. Assim como a escritora Carolina Maria de Jesus (1960), que foi privada de liberdade em diversos momentos em sua vida sendo ela e sua obra um retrato de como a cidade possui estruturas racistas que ditam onde as mulheres negras estão e devem estar, podemos observar como as formas de organização social, econômica, e militar agem para que essa invisibilidade e abandono siga em um constante percurso desde antes, durante e após o encarceramento. Como estratégia de pesquisa, a pesquisa bibliográfica foi optada por tornar viável revisar a literatura a partir de um novo enfoque, possibilitando a visualização do ponto principal deste estudo (Lakatos; Marconi, 2003). Segundo o INFOPEN Mulheres (2018), 62% das mulheres presas são negras, e essas apresentam um histórico de imensa vulnerabilidade: têm baixa escolaridade, muitas são vítimas de abuso sexual, possuem famílias desestruturadas e em grande parte são presas por tráfico de drogas. Esses fatos demonstram como os ambientes de privação de liberdade, sendo eles uma parte isolada da cidade, buscam excluir, limitar e segregar a existência e participação de mulheres negras nos espaços de liberdade. São então destinados às mulheres negras os espaços periféricos e os presídios, onde são abandonadas pelo Estado, pela família e amigos, sem direito a cidade e a mobilidade urbana, como Carolina Maria de Jesus relatou durante sua vida em seus diários no livro Quarto de despejo" (1960). Desse modo, fica perceptível que enquanto a cidade possuir estruturas racistas e punitivistas, não haverá espaços sólidos e concretos de pertencimento e uso democrático para as mulheres negras, com ênfase para aquelas privadas de liberdade e/ou egressas do sistema penitenciário.