Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 063: Gênero, sexualidade e raça: produção de diferenças e desigualdades na cidade
MEU GÊMEO NÃO QUIS TRAVECAR E FOI UO PRA ELE: perspectivas sobre a possibilidade de uma não binariedade
cisgênera
Ayira Sizernando Liberato (UFPB), Fellipy Sizernando Liberato (UFPE)
Tendo em vista vários debates intensos que rolam na comunidade virtual do trans twitter a cerca da não
binariedade e também outras questões que surgem a partir da reflexão das identidades não binárias, seria
possível defender que a não binariedade pode ser também uma identidade cisgênera? Defendemos que a não
binariedade é definida primordialmente pela ruptura com padrões de vida binário, que não necessariamente
significa o rompimento com a cisgeneridade, que é o que caracteriza a transgeneridade. Para Vergueiro
(2020), existem três apontamentos que definem a cisgeneridade: 1) a pré-discursividade; 2) a binariedade e;
3) a permanência. O primeiro deles incide justamente no discurso, na ideia de que há um sexo biológico e,
portanto, inerente a todos os corpos. Dessa forma, o rompimento com a cisgeneridade é, fundamentalmente,
discursivo, ou então o que representaria a transgeneridade se não fosse uma contra-proposta discursiva as
identidades de gênero impostas. Por exemplo, se ser trans for o uso de determinadas roupas, o que seriam
roupas trans ou não binárias? Se ser travesti for a necessidade de implante de silicone, ou de retirada de
barba, o que falar das travestis que não tiram a barba ou que não querem os implantes? Se ser não binário
for caracterizado por uma identidade corporal não binária, estamos dizendo que existe uma imagética
masculina ou feminina? Dessa forma, em todos os caminhos que tomamos entendemos que o que caracteriza de
fato a transgeneridade, é o discurso, a recusa discursiva de uma projeto de cisgeneridade. Ou seja, em
poucas palavras, é essencialmente preciso anunciar que é trans para ser, e isso em todos os espaços. Por
outro lado, a cisgeneridade se configura dentro de um campo de acessos e privilégios em sociedade que também
é discursiva, visto que biologicamente somos construções sociais. Se ser transexual é a renúncia ser cis é
assumir o pacto. Aqui é onde entramos na contradição: esse é um acordo firmado por indivíduos biologicamente
sociais que constroem suas próprias identidades a partir do que referenciam como masculino e femininino.
Esse trabalho analisa a experiência de identidades dissidentes de um casal de gêmeos socializados no
interior da paraíba, uma travesti e o outro, um viadão maluco. A partir dessa investigação, decorremos sobre
o que leva a identificação enquanto trans e cis de cada um, apesar do próprio irmão-viado não se enxergar
perfeitamente enquanto homem. Por fim, defendemos a possibilidade da experiência não binária como possível a
identidades cisgêneras.