ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 063: Gênero, sexualidade e raça: produção de diferenças e desigualdades na cidade
MEU GÊMEO NÃO QUIS TRAVECAR E FOI UO PRA ELE: perspectivas sobre a possibilidade de uma não binariedade cisgênera
Ayira Sizernando Liberato (UFPB), Fellipy Sizernando Liberato (UFPE)
Tendo em vista vários debates intensos que rolam na comunidade virtual do trans twitter a cerca da não binariedade e também outras questões que surgem a partir da reflexão das identidades não binárias, seria possível defender que a não binariedade pode ser também uma identidade cisgênera? Defendemos que a não binariedade é definida primordialmente pela ruptura com padrões de vida binário, que não necessariamente significa o rompimento com a cisgeneridade, que é o que caracteriza a transgeneridade. Para Vergueiro (2020), existem três apontamentos que definem a cisgeneridade: 1) a pré-discursividade; 2) a binariedade e; 3) a permanência. O primeiro deles incide justamente no discurso, na ideia de que há um sexo biológico e, portanto, inerente a todos os corpos. Dessa forma, o rompimento com a cisgeneridade é, fundamentalmente, discursivo, ou então o que representaria a transgeneridade se não fosse uma contra-proposta discursiva as identidades de gênero impostas. Por exemplo, se ser trans for o uso de determinadas roupas, o que seriam roupas trans ou não binárias? Se ser travesti for a necessidade de implante de silicone, ou de retirada de barba, o que falar das travestis que não tiram a barba ou que não querem os implantes? Se ser não binário for caracterizado por uma identidade corporal não binária, estamos dizendo que existe uma imagética masculina ou feminina? Dessa forma, em todos os caminhos que tomamos entendemos que o que caracteriza de fato a transgeneridade, é o discurso, a recusa discursiva de uma projeto de cisgeneridade. Ou seja, em poucas palavras, é essencialmente preciso anunciar que é trans para ser, e isso em todos os espaços. Por outro lado, a cisgeneridade se configura dentro de um campo de acessos e privilégios em sociedade que também é discursiva, visto que biologicamente somos construções sociais. Se ser transexual é a renúncia ser cis é assumir o pacto. Aqui é onde entramos na contradição: esse é um acordo firmado por indivíduos biologicamente sociais que constroem suas próprias identidades a partir do que referenciam como masculino e femininino. Esse trabalho analisa a experiência de identidades dissidentes de um casal de gêmeos socializados no interior da paraíba, uma travesti e o outro, um viadão maluco. A partir dessa investigação, decorremos sobre o que leva a identificação enquanto trans e cis de cada um, apesar do próprio irmão-viado não se enxergar perfeitamente enquanto homem. Por fim, defendemos a possibilidade da experiência não binária como possível a identidades cisgêneras.