Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 063: Gênero, sexualidade e raça: produção de diferenças e desigualdades na cidade
Corpo, terreiro e território: perspectivas e expectativas de uma afro amazônia explorada e assediada
Atualmente no território brasileiro, a condição da mulheres negras é marcada por extrema desigualdade,
violência e exclusão dos espaços institucionais e políticos, as condições de moradia, saúde e educação são
atravessadas por racismos estruturais e ambientais, as mulheres negras na sua grande maioria, são moradoras
de comunidades periféricas, negligenciadas pelo poder público e esquecidas pelas autoridades. Na Amazônia
esse quadro assemelha-se ao do país, em meio a grande floresta as cidades crescem desgovernadamente,
proporcionando a continuidade desse grave marcador social, a condição de exclusão da mulher negra. Essas
mulheres estão presentes nas comunidades periféricas da cidade de Santarém no Pará, são trabalhadoras
domésticas, esposas, mães, líderes comunitárias e estudantes que lutam para conseguirem melhores condições
de vida, algo inimaginável para muitas delas, que esgotadas com tantas responsabilidades percebem-se
impossibilitadas de acessar espaços de tomadas de decisões que afetam diretamente suas vidas, sendo a
resiliência o único meio de mudarem sua realidade, permanecem nas suas trajetórias de resistência e
sobrevivência, organizando-se para adquirir condições econômicas para alcançar seus objetivos. Essa pesquisa
culminará em um documentário audiovisual, expositivo e humanizado da trajetória de três mulheres negras afro
amazônidas periféricas, mostrando suas lutas, registrando sua presença, memórias e ancestralidade no espaço
que ocupam, espaço que foi permitido ocupar dentro do estado brasileiro e amazônida. Mulheres que são mães
precoces, porém não desistem da formação universitária, mulheres que lutam pela defesa do direito de exercer
suas crenças e religiões, mulheres que lutam pelo direito de ser mulher dentro de seu corpo, dentro do seu
terreiro, dentro do seu território. Registrando algumas nuances da sua rotina diária e os desafios que têm
que enfrentar para conseguir superar os obstáculos diários, sem esquecer quem são e quais suas motivações,
conhecendo os lugares onde se reconhecem impulsionadoras e mobilizadoras de mudanças. Nesses espaços se
fortalecem e fortalecem os seus, deixando marcas em todos que atravessam seus caminhos, marcas da realidade
árdua de suas existências e da leveza de sua vivência. Sendo um recorte das atuais sociedades urbanas
amazônidas com suas relações e conflitos de gênero, raça e classe marcadamente condicionantes da exclusão
dos corpos negros dos espaços de poder institucionais. Mulheres afro amazônidas que possibilitam a
constituição de potencialidades, inspirando mais mulheres negras a ocuparem espaços de onde foram excluídas,
espaços políticos de ensino e cultura que a partir de suas especificidades, tornam-se espaços de mudanças
consideráveis para as relações étnico-sociais amazônicas.