ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 063: Gênero, sexualidade e raça: produção de diferenças e desigualdades na cidade
Roteiros Sexuais; Histórias de referência; Orientações íntimas: Uma análise de casos presentes no contexto da pegação viril.
O presente trabalho apresenta um recorte analítico sobre os dados etnográficos que estão sendo obtidos durante nossa investigação no doutorado. Nossa base teórica são, o compêndio de estudos que tem as práticas de busca e caça por parceiros sexuais por homens no Brasil nos últimos quarenta anos, numa análise a partir dos estudos de John Gagnon, e os de Michel Bozon. Neste trabalho apresentaremos cerca de 20 situações distintas que aconteceram em dois Cruising Bars, um no Rio e outro em São Paulo, onde podemos ver tais conceitos na prática. A pegação viril possui um Ethos ancorado tanto no habitus, quanto na construção de um corpo e valores a partir da ideia de reflexividade de Anthony Giddens. A pegação entre homens é um saber compartilhado no tempo ao longo de eras. A conquistas de parceiros sexuais é um dos instrumentos de legitimação da masculinidade como fator estrutural que permite manter esses homens próximos ou longe da linha orientadora de suas expressões de gênero. Fazemos ainda uma alinhamento teórico entre nossos achados e o conceito de Cuidado de Si proposto por Michel Foucault, expandindo o conceito de "ação política" para uma política sobre o gênero. Se um dia a heterossexualidade teve como um dos seus pilares e rito de passagem a negação de uma possível homossexualidade, como afirma Roberto DaMatta, hoje o mesmo se dá com os homossexuais. Se assumir homossexual é parte do amadurecimento das subjetividades dos sujeitos. Entendemos que a masculinidade é um dispositivo poderoso e que há muito abraçou os homossexuais. Os homens transferem uns para os outros os códigos de poder que lhes tornam dominantes Os homossexuais estão cada vez mais inseridos nas instâncias de aplicação dos poderes, como nos governos, na medicina, nas escolas e em quase todas as instituições socializadoras e disciplinadoras. Pretendemos apresentar novas perspectivas de como as mudanças sociais não pasteurizam a sexualidade gay, ao passo que houve uma normalização de suas práticas sexuais pela sociedade mais ampla. O poder, a masculinidade e o desejo se intercruzam polarizados pelos marcadores sociais da diferença e fazem do corpo do homem sua morada e meio de expressão. Mostramos assim como os "Roteiros Sexuais"; "Histórias de referência" e " Orientações íntimas" se relacionam com as expressões de gênero sem a necessidade de mantermos a mística crença de que a masculinidade está essencialmente atrelada ou ancorada na heterossexualidade. Propomos uma saída a visão de Michel Bozon, que considera a homossexualidade como uma sexualidade "alternativa". Uma vez que o sujeito homossexual não existe em função do sujeito heterossexual, ele não é "alternativa a nada" a não ser a ele mesmo, enquanto referencial antológico de si próprio em ligação com a identidade masculina.