Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 063: Gênero, sexualidade e raça: produção de diferenças e desigualdades na cidade
Roteiros Sexuais; Histórias de referência; Orientações íntimas: Uma análise de casos presentes no
contexto da pegação viril.
O presente trabalho apresenta um recorte analítico sobre os dados etnográficos que estão sendo obtidos
durante nossa investigação no doutorado. Nossa base teórica são, o compêndio de estudos que tem as práticas
de busca e caça por parceiros sexuais por homens no Brasil nos últimos quarenta anos, numa análise a partir
dos estudos de John Gagnon, e os de Michel Bozon. Neste trabalho apresentaremos cerca de 20 situações
distintas que aconteceram em dois Cruising Bars, um no Rio e outro em São Paulo, onde podemos ver tais
conceitos na prática. A pegação viril possui um Ethos ancorado tanto no habitus, quanto na construção de um
corpo e valores a partir da ideia de reflexividade de Anthony Giddens. A pegação entre homens é um saber
compartilhado no tempo ao longo de eras. A conquistas de parceiros sexuais é um dos instrumentos de
legitimação da masculinidade como fator estrutural que permite manter esses homens próximos ou longe da
linha orientadora de suas expressões de gênero. Fazemos ainda uma alinhamento teórico entre nossos achados e
o conceito de Cuidado de Si proposto por Michel Foucault, expandindo o conceito de "ação política" para uma
política sobre o gênero. Se um dia a heterossexualidade teve como um dos seus pilares e rito de passagem a
negação de uma possível homossexualidade, como afirma Roberto DaMatta, hoje o mesmo se dá com os
homossexuais. Se assumir homossexual é parte do amadurecimento das subjetividades dos sujeitos. Entendemos
que a masculinidade é um dispositivo poderoso e que há muito abraçou os homossexuais. Os homens transferem
uns para os outros os códigos de poder que lhes tornam dominantes Os homossexuais estão cada vez mais
inseridos nas instâncias de aplicação dos poderes, como nos governos, na medicina, nas escolas e em quase
todas as instituições socializadoras e disciplinadoras. Pretendemos apresentar novas perspectivas de como as
mudanças sociais não pasteurizam a sexualidade gay, ao passo que houve uma normalização de suas práticas
sexuais pela sociedade mais ampla. O poder, a masculinidade e o desejo se intercruzam polarizados pelos
marcadores sociais da diferença e fazem do corpo do homem sua morada e meio de expressão. Mostramos assim
como os "Roteiros Sexuais"; "Histórias de referência" e " Orientações íntimas" se relacionam com as
expressões de gênero sem a necessidade de mantermos a mística crença de que a masculinidade está
essencialmente atrelada ou ancorada na heterossexualidade. Propomos uma saída a visão de Michel Bozon, que
considera a homossexualidade como uma sexualidade "alternativa". Uma vez que o sujeito homossexual não
existe em função do sujeito heterossexual, ele não é "alternativa a nada" a não ser a ele mesmo, enquanto
referencial antológico de si próprio em ligação com a identidade masculina.
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