ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Grupos de Trabalho (GT)
GT 004: Améfricas: retomadas na antropologia pelo pensamento indígena e da áfrica-diaspórica por meio de experimentos de linguagens e escritas contra-coloniais
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Coordenação
Denise Ferreira da Costa Cruz (UNILAB), Ruben Caixeta de Queiroz (UFMG)
Debatedor(a)
Rafaela Rodrigues de Paula (UFMG), Steffane Santos (UFMG), Nicole Faria Batista (IEPHA-MG)

Resumo:
Convocamos a noção de Amefricanidade, elaborada pela antropóloga e ativista Lélia González, para pensar as dinâmicas histórico-culturais do Brasil, tensionando a ideia de que a formação cultural brasileira tem influência predominante europeia, e apontando para a relevância das dinâmicas resultantes dos encontros entre os povos indígenas e os povos afro diaspóricos que se estabeleceram e perpetuam no território brasileiro. Para dialogar com esse pensamento, convocaremos também reflexões acerca dos modos de fazer antropologia da intelectual negra estadunidense Zora Neale Hurston, que, apesar de sua invisibilização ao longo da história da disciplina, produziu experimentos etnográficos-literários e artísticos fecundos e, mais do que nunca, atuais. Por fim, queremos crer que há uma nova geração de pensadores e escritores indígenas e quilombolas que nos convocam a realizar novas experimentações contra-coloniais no campo da etnografia, como David Kopenawa e Nego Bispo. Este Grupo de Trabalho estará aberto a trabalhos e experimentos etnográficos inovadores, inclusive indo além do texto escrito, elaborados por pensadores indígenas ou da afro-diaspórica, e, ainda, sobre o pensamento da Améfrica. Nas suas três sessões, propomos: Sessão 01: Confluências Afroindígenas: alianças, encontros e articulações ancestrais, Sessão 02: Afrodiáspora em movimento: saberes localizados e Sessão 03: Corporalidades e narrativas.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Representações da branquitude na imaginação negra dialogando entre Zora Hurston, bell hooks e Toni Morrison
Amanda do Carmo Ribeiro (UFMG)
Resumo: O presente texto é inspirado pelas reflexões de bell hooks (2019) sobre as representações da branquitude na imaginação negra, onde a autora evidencia que a Ciência ocidental não reconhece a autonomia de pensamento das pessoas negras, tampouco muitos dos sujeitos brancos. Isso leva a uma crença de que as pessoas negras também veem a branquitude a partir das características que esta forja e imagina para si mesma, centradas na bondade e na neutralidade. Busco, portanto, nas autoras, Zora Hurston e Toni Morrison, evidências do que destaca bell hooks: pessoas negras pensam, e pensam criticamente inclusive sobre a branquitude. E que, além disso, as pessoas negras podem ter uma representação de pessoas brancas que difere das características relacionadas à bondade e à neutralidade.
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Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
"Que memória queremos ter?": O percurso imersivo-formativo de um pesquisador diante o lugar da representação do negro em Redenção - CE
Antônio Wilame Ferreira da Silva Junior (UNILAB)
Resumo: No começo de minha formação acadêmica, ouvi diversas vezes que é necessário manter uma distância entre o objeto e o pesquisador, pois assim, a pesquisa não seria influenciada pelo viés subjetivo do seu autor. Porém, como conseguiria me distanciar do meu objeto se eu o atravessava cotidianamente, a qualquer passo que dava na cidade aquela história se materializava em monumentos, e sua representação repetitiva e desatualizada sobre o negro me causava angústia e indignação. Desse modo, este trabalho busca apresentar em três atos como foi o percurso imersivo-formativo de um pesquisador diante do seu objeto de estudo, o lugar da representação do negro na cidade de Redenção, primeira no Brasil a abolir a escravatura, mas que possui um verdadeiro memorial da dor negra espalhado por seu território. Os atos são propostos na seguinte disposição: I. Primeiro vieram as serras; II – Depois o susto; III – Surge na encruzilhada um pesquisador. Assim, o ato I busco narrar como foi o impacto visual que tive com os relevos característicos da região, o primeiro dado que pude contatar ao chegar em Redenção e que em uma dimensão afro-religiosa vai ser concebida como energias de orixás. Já no ato II, trago a experiência que tive ao voltar-se a zona urbana da cidade e encarar o memorial acervo da dor negra presente em seus espaços públicos, através de monumentos que materializam intenções narrativas da branquitude local de remorar a escravidão e abolição com paralelo status de glória. Por fim, no ato III trato da minha formação na UNILAB, universidade essa que considero uma encruzilhada cosmopolita, ao fazer com que diversos povos negros brasileiros e africanos estejam em confluência, na produção de conhecimentos interdisciplinares, como também na construção de uma outra imagem do lugar do negro na cidade de Redenção, ressaltando a importância que esse contato teve para uma melhor compreensão do meu objeto de estudo. Assim, este trabalho segue como parte da minha pesquisa junto ao Mestrado Interdisciplinar em Humanidades da UNILAB, tendo o aporte teórico-metodológico na antropologia, história e geografia.
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Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
“Eu sou feliz na comunidade, na comunidade eu sou feliz”: forjando redes afetivas e políticas entre professoras indígenas, negras e quilombolas para o enfrentamento ao racismo ambiental
Áquila Bruno Miranda (UFMG)
Resumo: O presente trabalho apresenta reflexões acerca da tese de doutorado, ainda em desenvolvimento, intitulada: O Cocar não anda sem o turbante e o turbante não anda sem o cocar”: (re)existências afro-pindorâmicas a partir do Tehêy de Pescaria do Conhecimento da professora Dona Liça Pataxoop. A pesquisa tem como objetivo identificar, a partir dos encontros entre as professoras Dona Liça Pataxxop e a quilombola Simone Maria de uma escola atingida pela barragem de Fundão em Mariana(MG), mediado pelo Tehêy de Pescaria do Conhecimento, possíveis saberes, práticas e memórias ancestrais de enfrentamento do racismo ambiental. Considerando o impacto do racismo ambiental e as marcas da colonialidade nos corpos-territórios de mulheres negras e indígenas, é importante interpelar o silenciamento acerca das vozes dessas mulheres, para tanto o Tehêy de Pescaria do Conhecimento da D. Liça Pataxoop coloca-se como uma metodologia para romper com o silêncio colonial. O Tehêy é um instrumento para a formação política das crianças e jovens, por meio dele, são ensinados a cultura, a história, a ciência e a tradição do povo Pataxoop. Nessa pesquisa a experiência de “Tehêyá” é um posição ético-política que se opõe a universalização e fragmentação do ser, do saber e do corpo-território imposto pelas teorias eurocêntricas. Por meio da pesquisa-ação participante, da autoetnografia e do Tehêy de Pescaria do Conhecimento, buscaremos conhecer as práticas, saberes e memórias ancestrais das professoras Dona Liça e Simone Maria para o enfrentamento do racismo ambiental. Neste trabalho o racismo ambiental é entendido como um dos recursos da colonialidade para a materialização do racismo estrutural. A categoria corpo-território coloca-se como uma lente, que conduz os nossos olhares para as lutas sociais e políticas, no território de Abya Yala, considerando os corpos como territórios vivos e históricos, onde habitam nossas feridas, processos de cura, saberes e memórias ancestrais. Como resultados temos que, encontrar com os saberes e as narrativas produzidas por professoras indígena, negra e quilombola, em diálogo com o feminismo negro e decolonial e o Tehêy de Pescaria do Conhecimento, é um movimento de afirmação de uma postura ético-política-afetiva para pensar o enfretamtamento ao racismo ambiental, a partir dos saberes de mulheres negras e indígenas. Concluímos que diante dos destrutivos instrumentos de silenciamento das sociedades ocidentais, torna-se urgente tecermos metodologias e encontros de resistências, caminhos que possam fraturar as narrativas únicas e distorcidas sobre as mulheres de Abya Yala e transformar o silêncio colonial em linguagem, em movimento, em redes afetivas e políticas.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Título: quilombolas e indígenas; entre encontros, reencontros e confluências.
Beatriz Natiele Dos Reis Sabino (UFMG)
Resumo: Através do pensamento de Antonio Bispo dos Santos, penso as relações afroindígenas por meio da caracterização das cosmologias indígenas e quilombolas como não sendo modos totalmente distintos, sobretudo na relação com a natureza. Assim, o presente trabalho reflete sobre as confluências e transfluências apresentadas pelo autor para pensar as relações entre indígenas e quilombolas na região do oeste do Pará, principalmente nos municípios de Oriximiná/PA, Óbidos/PA e em Macapá/AP. Primeiro, apelo para os documentos históricos narrar os encontros seculares entre esses dois grupos na Amazônia. Depois, valendo-me de materiais etnográficos contemporâneos, descrevo semelhanças nas relações que indígenas e quilombolas mantêm com as entidades descritas como mães-pais e donos de lugares. Manuseio também narrativas mitológicas, e trabalhos produzidos por antropólogos e arqueólogos que trabalham com os tais grupos nesta região. O objetivo é pensar essas relações sem necessariamente passar pelo contato que essas populações estabelecem com brancos.
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Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Plantas diaspóricas, mulheres griotas, e territórios de cuidado
Debora Fernandes Herszenhut (UNB)
Resumo: São popularmente conhecidas como “farmácia viva" ou "farmácia verde”, o hábito mantido, principalmente, por mulheres, de cultivarem e manejarem uma diversidade de espécies de plantas medicinais e alimentícias. Estes espaços apresentam-se como paisagens destacadas nos quintais e nos territórios tradicionais tanto por sua rica biodiversidade, quanto pelos recursos ambientais gerenciados associados a estas, como o manejo das águas e do solo. As práticas de manejo da biodiversidade desempenhada por povos e comunidades tradicionais, ou seja: "As roças de quilombo, as roças de aldeia, as roças dos ribeirinhos, as roças das Quebradeiras de Côco" (Bispo, 2023) são consideradas hoje a principal responsável pela utilização sustentável dos recursos naturais e pela manutenção das vegetações nativas. Na manutenção destas práticas são vivenciados valores referidos a uma organização coletiva, cosmovisão e tradições, nas quais o território e os recursos naturais são variáveis importantes. É diante deste contexto de valorização das práticas e saberes tradicionais para a manutenção e preservação da biodiversidade que Carneiro da Cunha coloca a seguinte questão: "Afinal, quem ocupa as áreas de maior riqueza genética, não por acaso, mas porque são produtores de diversidade? E quem são os produtores do conhecimento associado? São precisamente populações tradicionais, e usarei por enquanto esta expressão em sua acepção mais vaga e abrangente.” (Carneiro da Cunha, 1999:149) Neste artigo proponho, através de escritos feministas (em sua maioria do sul global), observar como as práticas de cuidado exercidas por mulheres, por meio de seus atos radicalmente rebeldes de promoção e proteção da vida, possibilita-se a criação de territórios de cuidados. Ou sejam terreiros de resistência, de matrizes culturais africanas, indígenas e europeias, onde salvaguardam-se sementes, histórias e cosmossociabilidades e onde repousam as plantas diaspóricas. Através de algumas experiências de campo proponho neste trabalho, observar como as práticas de cuidados, exercidas prioritariamente por mulheres, transparece como uma das principais estratégias de manutenção da vida nos territórios tradicionais e consequentemente uma importante componente para a (re)produção e manutenção da vida (entendida aqui em amplo espectro). Ainda sobre estas experiências de campo, ao final deste trabalho, apresento uma serie de fotografias e registros de campo, nas quais procuro ilustrar as reflexões aqui propostas, e as quais através do “compartilhamento do sentimento estético", orientam o ponto de vista pelo qual pretendo observar as discussões que suscitam me suscitam à elaboração de uma pesquisa de doutorado.
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Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
“Olha, mamãe, uma empregada bebê!”: memórias, reflexões e confluências a partir de imagens e representações da existência negra na contemporaneidade
Emerson Silva Caldas (UFPA)
Resumo: Este trabalho tem suas tecituras fincadas nas reflexões e indagações surgidas em torno de imagens e representações da existência negra na contemporaneidade. Por isso, parte das epistemologias negras da diáspora africana em confluência com a narrativa autoetnográfica. Tal como, das construções artísticas do diário de campo "Kuumba", produzido com colagens analógicas e digitais, a partir do contato estabelecido com o coletivo de artistas negras/os da Amazônia paraense "Ilustra Pretice". Além disso, é levado em consideração as proposições do mestre quilombola Antônio Bispo dos Santos (2023), e as palavras germinantes; confluências, afro-confluências e compartilhamentos. Sendo assim, os compartilhamentos se estabelecem através de memórias negras da infância/adolescência, as colagens analógicas e digitais do diário de campo, e os saberes de intelectuais negras/os, como Stuart Hall (2016), e suas propostas de contra-estratégias de representação, Zélia Amador de Deus (2008), e as herdeiras/os de Ananse, bell hooks (2019), e o Olhar Opositor, W.E.B Du Bois (2021), e o Véu Racial, Guerreiro Ramos (1995), e as questões que envolvem o Negro-Vida e o Negro-Tema, assim como as contribuições de Audre Lorde (2019), Zora Hurston (1950), James Baldwin (2020), dentre outras. Deste modo, ressaltando a importância de reflexões sobre as questões que envolvem as imagens e a representações negras no mundo contemporâneo em diferentes territórios, contextos políticos, culturais e sociais. Assim como, os impactos diretos que as imagens e representações possuem nas relações cotidianas, na psique e na existência de pessoas negras. Sendo assim, ao trazer esses debates e reflexões, é possível compreender de forma mais ampla estes fenômenos, e a partir disso, criar estratégias e possibilidades para manutenção das vidas negras.
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Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Para Além da Estética: uma análise da simbologia do cabelo na construção da identidade negra nas redes sociais da internet
Gilmara Gabrielle Gomes Santos (UEMA)
Resumo: A presente pesquisa tem como objetivo analisar de que forma a estética capilar afrorreferenciada se torna um símbolo da identidade negra a partir dos movimentos sociais que discutem sobre a negritude a exemplo movimento Black Power nos EUA, movimento Black Rio no Rio de Janeiro e Centro de Cultura Negra no Maranhão que proporcionaram debates importantes sobre o negro e a sua estética, permitindo assim a construção de uma beleza negra. Além disso, analisa-se como essas discussões em torno do cabelo ocupam espaços nas redes sociais da internet como facebook, instagram, youtube e blog proporcionando uma representatividade nunca vista antes nas mídias convencionais. Isso se deu como contraposição ao padrão eurocentrado que era fortemente representado nos veículos de imagens, como cartazes, novelas e mídias convencionais e era imposto ao negro, o que fez esses movimentos de estetização questionarem e refletiram sobre esses padrões
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Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Escrevivência etnográfica e fílmica na ENCANTARIA QUILOMBOLA com os amefricanos de Santa Rosa dos Pretos
Juliana Loureiro Silva (PPGSA/UFRJ)
Resumo: Encantaria é uma dimensão invisível que tangencia o mundo material, no fundo dos mares e rios, em dunas e pedras, em matas e manguezais. É a morada dos encantados - seres espirituais, os quais, muitos deles, viveram, mas não tiveram a experiência da morte, se encantaram. A Encantaria Quilombola é uma ontologia relacional que a engendra como espaço-tempo ontológico amefricano. A Encantaria Quilombola é aquela vivida e significada pelos quilombolas. Em minha tese de doutorado, recentemente defendida, me dedico a compreensão do universo ontológico da Encantaria Quilombola vivenciado em Santa Rosa dos Pretos, comunidade rural negra maranhense com mais de 200 anos de história. Apesar de no exercício narrativo se promover afirmativas, nossa proposta não é convencionar o que ela é, uma vez que se potencializa na multiplicidade de vivências e interações exercidas em muitas das quase seis mil comunidades negras quilombolas em todo Brasil, e nem, tampouco, pretendemos estabelecer uma demarcação de fronteiras étnico-religiosas. Mais do que definir, o propósito é a escrevivência na Encantaria Quilombola, possibilitada pelo encontro e convivência com encantados e quilombolas e potencializada pelo registro fílmico e fotográfico de suas “atuações”, incorporações e performances, no espaço-tempo ontológico dos rituais. Desde a primeira entrevista com Mãe Severina e a filmagem da festa do Caboclo Cearenso, em agosto de 2004, ela e seus encantados tornaram-se protagonistas da etnografia fílmica. São eles, seus familiares e os encantados “atuados”, que dançam na Tenda Nossa Senhora dos Navegantes e em outros salões de tambor de mina, que performam o misterioso e vivencial universo da Encantaria Quilombola e contam suas histórias. Aprendemos com eles e as Caixeiras do Divino, com suas liturgias e encantorias, corporeidades e oralituras, em seus próprios termos e agências, as performances indiciáticas, as conceitualizações e exegeses, a gramática da relação, a cosmopolítica, a dramática ontológica vivenciada neste múltiplo, complexo e surpreendente universo cosmo-ontológico amefricano.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Espaço da barbearia na construção da autoestima e subjetividade de jovens negros e periféricos
Laísa Fernanda Alves da Silva (UNB)
Resumo: É em uma das salas do primeiro andar do prédio de uma escola pública da periferia do Distrito Federal, que Davi, 17 anos, estudante do primeiro ano do ensino médio, me perguntou: "qual creme você usa para finalizar o cabelo?". Sua curiosidade despertou em mim uma série de sentimentos conflitantes em relação ao meu retorno a essa escola, dado minhas vivências atravessadas pelo racismo enquanto aluna da mesma instituição de ensino entre 2010 e 2015, como estagiária de uma disciplina de prática docente. Em contraste com o cabelo alisado ou o coque preso no topo da cabeça de quase todas as meninas negras e o cabelo raspado da maioria dos meninos negros de minha época, observo como parte significativa dos/das estudantes negros/negras presentes na sala usam seus cabelos: dedolis, corte americano, waves, box braid e black power. Nilma Lino Gomes (2003) afirma que as mudanças da percepção sobre o negro no espaço escolar não é mérito da escola em si exclusivamente, ao ressaltar o papel dos movimentos negros unificados para inserção positiva do corpo negro nos espaços e especialmente na mídia. A autora coloca também que a mudança é lenta e tensa, diante da permanência do racismo e da discriminação racial (GONZALEZ, 2020). Por isso, me proponho a refletir sobre alguns aspectos que tocam na desconstrução de estereótipos raciais e construção da autoestima de jovens negros a partir de espaços de barbearias localizadas nas periféricas do Distrito Federal.
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Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Encruzilhadas poéticas: a escrita contra-colonial autobiográfica de mulheres negras das Amazônias.
Laura Loisy Brito Fernandes (UEPA)
Resumo: O trabalho busca analisar criticamente a escrita de poemas e textos autobiográficos de mulheres negras que vivem em diferentes territórios da Amazônia. Esse estudo será feito através do encontro de trabalhos de escrita, sendo a maioria publicados de forma independente e não reconhecido pelas instituições artísticas das cidades onde as autoras vivem. Desse modo, foi percebido as potencialidades ancestrais presentes em suas poéticas, sendo essas escritas contra-coloniais que rompem com os lugares pré-determinados a mulheres negras (Evaristo, 2016). Assim foi percebido que essa escrita possui um significado coletivo, tendo em vista que a história que se conta descreve muitas outras mulheres que vivem nesses territórios, tecendo histórias-teias (Amador de Deus, 2019) que tecem linhas da Amazônia até o continente Africano.
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Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
“ENTÃO EU SOU UMA MULHER NEGRA MARAJOARA AMAZÔNIDA [...]”: debates sobre as categorias preta e parda entre mulheres da Amazônia Marajoara.
Letícia Cardoso Gonçalves (UFPA)
Resumo: O presente estudo tem por objetivo investigar e analisar os modos como três mulheres marajoaras, de diferentes contextos do arquipélago do Marajó (PA), produzem entendimentos sobre suas identificações raciais e de gênero enquanto mulheres pardas. Partindo do pressuposto de que a Amazônia Negra, em especial a Amazônia do Arquipélago do Marajó, é marcada por trajetórias diversas de negritude, trajetórias essas fortemente atravessadas pelas ideias de “pardo” (DAFLON, 2014), essa pesquisa propõe identificar e analisar o lugar ocupado por mulheres pardas nas relações de hierarquia raciais no contexto do Arquipélago do Marajó. As três protagonistas participam ou já participaram de projetos desenvolvidos pelo Observatório do Marajó que visavam potencializar políticas públicas para outras mulheres marajoaras. A partir do uso da experiência etnográfica, especificamente da etnografia virtual por meio da plataforma WhatsApp (MILLER, 2020) e da pesquisa de campo, desenvolvo os questionamentos a partir de conversas guiadas por perguntas que envolvam experiências de racismo e negritude. A ideia desta pesquisa é investigar como elas constroem entendimentos sobre ser negra com base em suas experiências, e como tais experiências possibilitam desenvolver a reflexão sobre a construção da negritude em contexto marajoara. As perguntas que direcionam a pesquisa foram formuladas a partir das problemáticas sobre raça e Identidade Social no Brasil; o papel das Ciências Sociais na construção e reformulação de discursos sobre mestiçagem; as direções escolhidas pelo IBGE para formular os censos demográficos, e as intersecções existentes entre identidade racial e território, sendo esta última a compreensão que elas mesmas têm de si a partir de vivências em suas comunidades com familiares, amigos, vizinhos entre outros agentes. Pude perceber o silenciamento de experiências é algo presente para elas, mas que ainda assim a partir daquilo que elas viveram, se afirmam enquanto negras a partir das noções de “coletividade” e “comunidade” ao se referenciaram às memórias de seus territórios.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Um “problema de prática”: a experiência sensível como produtora de saber nas ações das agentes comunitárias e indígenas de saúde.
Maria Christina Almeida Barra (UFMG), Maria de Fátima Evangelista Gavião (Secretaria Municipal de Saúde Salvador), Edilasomara Sampaio (Distrito Sanitário Especial Indígena do Leste de Roraima - SESAI)
Resumo: Tomando por base a crítica ao poder que se delega à racionalidade do pensamento científico e sua tendência em desqualificar outras práticas produtoras de saber propomos pensar a desqualificação das experiências sensíveis e vividas como um “problema de prática” (Stengers, 2018) nas ações cotidianas da atenção à saúde da população indígena e da população negra. Para pensar esse “problema de prática”, trazemos o cotidiano experiencial das profissionais de saúde: Edilasomara Sampaio, mulher indígena pertencente à etnia Taurepang, que após anos trabalhando como agente indígena de saúde (AIS) e conselheira de saúde do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Leste de Roraima fez a formação de técnica de enfermagem e trabalha, hoje, como técnica de enfermagem nesta mesma instituição e Fátima Gavião, mulher negra, periférica e mobilizadora social pertencente à favela do Calabar em Salvador, que trabalha como agente comunitária de saúde (ACS) na Unidade de Saúde da Família Ivone Silveira. O que se observa nas ações dessas mulheres como agentes de saúde é a condição da experiência sensível e vivida como o meio das práticas que as animam, o meio das fronteiras de seus pertencimentos e de suas capacidades de pensar, sentir e fazer. Para Edilasomara Sampaio, trabalhar como AIS e como conselheira de saúde a ensinou a defender os direitos indígenas e a buscar melhores condições de vida para sua comunidade. Segundo ela, o trabalho do AIS é muito importante na equipe multidisciplinar de saúde indígena (EMSI), pois ele é o olhar, o cuidado. “O AIS vê as pessoas, visita as casas, conhece a comunidade. Sabe da vida de cada lugar, sabe quem está doente, sabe quem é a parteira, o rezador e o pajé. Sabe do conhecimento de seus antepassados”. Para Fátima Gavião, ser agente comunitária de saúde é pertencer a um lugar, a uma comunidade, é estar com as pessoas do cotidiano, “que são dos nossos, da nossa vivência, da identidade do local que nasci, que minha mãe nasceu, que minhas filhas nasceram também”. Segundo ela, se tornou mobilizadora social a partir de seu trabalho como ACS ao levar “as vozes que me falam e que me fazem também por serem o que eu penso, o que eu sinto, o que minhas filhas e meus netos sentem também ao pertencer a uma comunidade empobrecida por um racismo estrutural, no qual a maioria das pessoas pretas são colocadas em condições de menor importância”. Destacar esse “problema de prática” é iluminar o modo como essas mulheres, ao moverem-se entre práticas e saberes, criam movimentos que acolhem suas próprias forças e produzem condições regeneradoras das comunidades, instituindo novas premissas para a construção das políticas públicas em saúde.
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Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
O que mostram as fotografias do Nego Fugido de Acupe/BA?
Maria José Villares Barral Villas Boas (UFRJ)
Resumo: O trabalho utiliza a pergunta título como dispositivo metodológico para direcionar o escrito sobre a pesquisa documental de imagens digitais expostas em rede social, realizadas sobre e como o Nego Fugido, da comunidade remanescente de quilombo de Acupe/Bahia. O Nego Fugido pode ser compreendido como uma manifestação da cultura amefricana diaspórica que conta a história da liberdade conquistada por negros escravizados fugidos em disputa com caçadores, capitão do mato, guardas militares e madrinha. Os sujeitos presentificam na cena, há mais de um século, o protagonismo das pessoas escravizadas na libertação a partir da insurgência, da compra da carta de alforria, ajuda da ancestralidade e da madrinha, e do sequestro do rei. Muitas e outras cenas realizam o acontecimento, que se dá todos os domingos de julho pelas ruas da comunidade. O artigo busca refletir sobre o imaginário e as significações atribuídas ao Nego Fugido a partir dessas imagens produzidas e veiculadas digitalmente. A estratégia de análise antropológica parte do cruzamento entre uma etnografia realizada ao longo de 9 anos, no âmbito da formação em antropologia da graduação ao doutorado; e o levantamento documental de séries de 10 fotografias de 13 fotográfos/as, durante julho e dezembro de 2021, em rede social digital, sobre e com a manifestação amefricana Nego Fugido. Foi elaborado um formulário digital como estratégia de construção de dados sobre o processo de feitura dessas imagens, além de análise etnográfica das fotografias. A análise das imagens foram feitas a partir da noção de regime de existência, de Marco Antônio Gonçalves, e apontam para reflexões sobre o conceito de dor, de fuga, de espetacularização do sofrimento. Ao mesmo tempo, estereótipos raciais e rompimento das imagens de controle, a partir do conceito de Patrícia Hill Collins, são acionados pelas imagens.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Etnicidade e Deficiência no Corpo Racializado: disrupções inevitáveis e despretensão nas políticas de habitar a terra
Natália Maria Alves Machado (UNB), Bruno Araújo Lopes (independente)
Resumo: Na intenção de “novas experimentações contra-coloniais no campo da etnografia”, nos colocamos: a primeira autora enquanto Antropóloga ComDeficiência e também sob outros marcadores sociais da diferença e desigualdade (por raça, classe, etnicidade, sexo/gênero) e o segundo autor Antropólogo homem negro enicamente relacionado e em refazeduras corpo-pessoa, com intenção de dialogar desde nossa bagagem de observações etnográficas marcadas por percalços, ausências e não-acessos que cercam de limites e impossibilidades o concurso acadêmico e o existir. Intentamos algo de experimentação dialógica e algo de um horizonte tecnológico que quiçá transborde contribuindo com as demandas dos temas aqui relacionados, e apostando no ato cosmopolítico de que delinear os entraves revela as normatizações e clivagens que privilegiam determinados corpos, trajetórias e modos perceptivos em que ficam pronunciadas também dinâmicas específicas, de inteligibilidades e governanças próprias, que barram modos singulares de reflexão, cosmopercepção e ritmo, criando barreiras a “epistemologias singulares” que emergiriam caso houvesse consolidação de amplas garantias em acessibilidade acadêmica e outras. “Deficiência’ desde o Modelo Social, logo, não estando esta nos corpos, antes, nas barreiras socioculturais. Na impossibilidade de não sermos movidos pelo lugar de pessoas pretas de ascendência afrodiaspórica e indígena Nordeste brasileiro, do sertão do Ceará, retomadas e descendentes migrantes, e a vida em interlocução com a comunidade dos espíritos [nos termos do Davi Kopenawa, numa mediação entre o mundo ordinário e a “comunidade dos espíritos”que nos são constituintes, confrontando o ‘corpo estranho’ sendo significado com habilidades “xamânicas”, mediúnicas, místicas, e a dupla entrada: a do anormal, aleijado, do abjeto na experiência social e outra, quase um cargo de prestígio na experiência étnica (e um lugar de desespero na experiência racial). Então, com todas as precariedades dessas categorias e as contestações que elas já recebem há um bom tempo nas Ciências Sociais, étnico e racial é uma distinção que aqui teria força pedagógica, pois entendemos que pensar o étnico para elaborar a experiência na deficiência é fundamental. Uma necessidade contemporânea da reflexão sobre deficiência no Brasil, entre inúmeras, é seguir mostrando a polifonia que não é contemplada. A maior parte das pessoas com deficiência no Brasil, segundo informações demográficas recentes, são mulheres negras, todavia, que mulheres negras são essas? Perguntamos nos termos do ‘direito à complexidade’, que é bastante negado pela ausência de outros direitos e entradas de significação da vidas plurais e corpos literais polissêmicos, um toró.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
MODA & IMIGRAÇÃO AFRICANA NO BRASIL Estética E Visualidades Para Discutir Conexões Entre África E Suas Diásporas- Cabo-Verde & Brasil: Coleções Da Estilista Angela Brito
Nianga Nicolina Lucau Ferraz (UFF)
Resumo: O presente trabalho de campo surge da interseção de diversas experiências em minha vida. Pessoalmente, como um corpo africano na diáspora e profissionalmente, através de minha experiência na indústria da moda. Sinto um desconforto com o apagamento da história da África no ensino educacional, na moda e sociedade brasileira como um todo. Como filha de comerciantes de vestuário/calçados (comércio Brasil-Angola) e neta de um alfaiate. Minha pergunta de pesquisa se concentra no impacto dos imigrantes africanos no contexto da moda. Observo o enriquecimento econômico, cultural, histórico e estético. Assim como as importantes contribuições que essas pátrias africanas trazem para o Brasil. Especialmente em termos de estética visual, muitas vezes pouco discutida e valorizada em sua forma original. Meu trabalho de campo e minha trajetória têm como objetivo descrever o papel dos corpos africanos no âmbito da moda. O ato de vestir vai além de apenas cobrir e proteger o corpo; é uma expressão da identidade do indivíduo. Minha principal interlocutora, Angela Brito, estilista cabo-verdiana radicada no Rio de Janeiro há 29 anos. Evidencia em suas coleções sua herança ancestral através do "panu di tera", um têxtil 100% artesanal feito em teares por artesãos locais em Cabo-Verde. Pretendo analisar o resgate e a preservação da identidade do "panu di tera", que carrega história, significados e símbolos de resistência entre as gerações cabo-verdianas. O uso da técnica tradicional no trabalho da estilista Angela Brito. Onde proporciona uma experiência atemporal diaspórica partindo do deslocamento atlântico. Baseando-me na produção decolonial e nas interseções de gênero, classe e raça, pretendo debater as relações da África e a diáspora Brasileira. O têxtil panu di tera na expressão da identidade cabo-verdiana. Com abordagem contemporâneo no Brasil através das coleções da estilista Angela Brito em seus desfiles no São Paulo Fashion Week. Palavras-Chave: Moda, Imigração, Africanos, Angela Brito, Panu di tera, Ancestralidade, Identidade, Diáspora.
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Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
O avesso da cerâmica: A categoria da amefricaneidade enquanto tessitura analítica das cerâmicas brasileiras
Pedro Augusto Soares de Menezes (UFMG), Luana Rodrigues Nascimento (UFMG), Beatriz Natiele Dos Reis Sabino (UFMG)
Resumo: As marcas constituidoras das cerâmicas entendidas como “Neo-brasileiras”, cabiam na esteira da interpretação do unir quase que perfeito dos três elementos tidos como formadores da sociedade brasileira: o europeu, o indígena e o negro. A democracia racial foi replicada para pensar os tons das cerâmicas. Isso pode ser visto tanto na toada de pesquisas do PRONAPA (Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas) a partir de meados dos anos 1960, como também no legado do programa em se pensar a categorização da cultura material no contexto de contato. A mestiçagem enquanto um processo de formação dessa suposta identidade materializada tem encontrado aporte em trabalhos que buscam nessa categoria um caminho que identifica essas marcas indicativas de cada "elemento", de forma que essa cerâmica aparente ser uma trama desses “pedaços de identidade”. Este trabalho busca, então, pensar numa tessitura distinta, tanto em relação ao fazer do barro quanto ao que se refere às narrativas que se propõe a contar este tramar. Desta forma, acionamos a categoria de amefricanidade elaborada por Lélia Gonzalez enquanto um caminho analítico reflexivo distinto da narrativa hegemônica que ao categorizar as cerâmicas de contato endossaram a noção de uma formação social do país a partir de um processo de mestiçagem acrítico. Uma vez que a antropóloga trilha uma compreensão tanto através da partilha do ser quanto no experienciar entre as pessoas negras e indígenas diante da colonialidade, elaboramos questões para se repensar metodologicamente futuros objetos a serem analisados. Tal exercício demanda que entendamos a crucialidade de localizarmos as epistemes que guiarão nossa metodologia. Trabalhos anteriormente mencionados se empenharam em elaborar uma categoria a partir da observação da peças cerâmicas em seu estágio já finalizado, atentando para os aspectos como marcos físicos da cerâmica que indicassem as influências culturais que sustentassem a visão tida sobre a dinâmica social que a resultou. A trajetória que desejamos fazer aqui encaminha-se em outra direção, já que partimos do desejo de refletir sobre as relações e o que delas se materializa, retornaremos para o processo, como estes encontros transformam o aprender como a feitura desses materiais. Assim, acionaremos a experimentação do fazer cerâmico, enquanto um espaço de implicar o corpo que produz na pesquisa, dialogando para tanto com as etnografias que se dedicam a refletir sobre confluências quilombolas e indígenas.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Travessias Transatlânticas: Nos Passos Dos Afoxés
Renata do Amaral Mesquita (UFPE)
Resumo: A pesquisa se entrelaça com as confluências existentes entre Brasil e o continente africano, mais especificamente com a Nigéria, a partir da relação com o Atlântico e a diáspora africana no Brasil. A investigação está conectada com uma perspectiva não-linear, onde no presente podemos confluir com o passado e com o futuro. O afoxé, manifestação que pretende-se investigar, possui essa relação de conexão com o tempo passado, presente e, por estar sempre em movimento, contribui com a continuidade da cultura negra no Brasil. Podemos destacar a religiosidade e as representações dos Orixás no afoxé como elementos culturais que nos dão indícios dessa relação ancestral. Em Pernambuco, território onde foi iniciada a pesquisa durante o mestrado, essa manifestação tem grande representatividade no contexto social, cultural, político e religioso da população negra. Costuma-se dizer que o afoxé é o candomblé na rua, pois sua criação deve estar ligada diretamente à tradição religiosa dos terreiros de candomblés. Os afoxés desfilam em grupos com instrumentos, canto, dança, indumentárias, estandartes e símbolos que retratam as lutas e resistências do povo negro. Dentre as evidências sobre o surgimento dos afoxés no Brasil, uma delas remete aos festejos realizados por Oxum na região de Ijexá, na Nigéria. Contudo, diante dos poucos estudos tidos no campo científico sobre os afoxés e também entre Brasil-Nigéria, essa pesquisa etnográfica pretende aprofundar os estudos teóricos sobre as confluências existentes entre os Afoxés, em especial, os afoxés Pernambucanos, tendo como referência as cidades de Recife e Salvador, no Brasil, e a Festa da Oxum que acontece na cidade de Osogbo, na Nigéria. Esta pesquisa utiliza registros audiovisuais, como uma maneira de captar os aspectos subjetivos para além das descrições e entrevistas escritas, trazendo os recursos imagéticos como um estímulo à memória, seja no reviver experiências, no vivenciar e na partilha/ trocas. Tal investigação conta com um acervo de fotos e vídeos dos afoxés em Pernambuco, utilizando as imagens como ponto de partida para o acesso à memória entre a África-Brasil. Tal pesquisa traz uma abordagem que abarca a discussão a partir de perspectivas teóricas afrodiaspóricas, pluriversas e contracoloniais.
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Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
As Dinâmicas dos Saci-Pererê A Partir dos Guarani, Outros Povos Ameríndios e Afro-Americanos: Narrativas de origem, constelações, poder, confluências ancestrais e afroindígenas
Rogério Reus Gonçalves da Rosa (UFPEL)
Resumo: O Saci-Pererê é precioso. Ele é um personagem profundamente admirado pelas pessoas na América Latina e outras partes do mundo. Tratando-se do folclore brasileiro, é o ser mais buscado no Google Trends. A contribuição ameríndia e afro-americana à vida desse ser – nomeado também de Jaxy Jaterê, Mati-taperê, Xaxim-Tarerê, Yasy-yateré, Kambá’í, Saci-ave, Matinta-Perera, etc. – é instigante e paradigmática. O presente trabalho realizará um estudo a partir de um conjunto de narrativas e etnografias produzidas sobre o Saci, especialmente aquelas publicadas nas áreas de etnologia ameríndia, mitologia, astronomia cultural, literatura indígena e folclore, as mesmas escritas a partir de intensos diálogos com interlocutores/as afro-americanos e, em especial, indígenas (Tupiniquim, Tupinambá, Kayowa, Taurepang, Mbyá e Chiripa) no decorrer dos séculos XX e XXI. O texto terá como objetivos, de início, a apresentação de Saci ligados a diversas formações culturais na América do Sul. O passo seguinte será, a partir do “Saci negrinho” e do “Saci índio”, investigar as relações desse ser com a lua e as constelações tupi-guarani (em especial, a Tudja’i, traduzida como Homem Velho e Ancião), sendo que a partir disso revelar-se-ão as dobradiças presentes nos saberes da mitologia, da etnologia indígena e da astronomia cultural. A seguir, destacar a relevância de outros personagens pernetas ligados a inúmeros povos originários, além de apresentar um dos motivos que levam esses personagens a terem a sua perna decepada. Por sua vez, considerando os modos de pensamento dos Mbyá e dos Chiripa, demostrar a ligação das divindades Ñanderú, Tupã kuéry, Karaí, Kuaray e Jaxy, que habitam no céu guarani, com as plantas, os animais, o Curupira e o Saci-Pererê, resultando na ideia de respeito e proteção às florestas ou à natureza (a partir da categoria já, traduzida na etnologia indígena como “dono” ou mestre) e/ou “eto-ecológica”, onde a pessoa guarani e/ou afro-americana se constitui em continuidade ao ambiente e outros seres que o povoam. Finalmente, apresentar as articulações ancestrais e as confluências afroindígenas e de amefricanidade protagonizadas por Saci, Ossain e Exu, entre outras divindades e orixás, tornando evidente as experiências contra-coloniais de ameríndios e afroamericanos entre a terra e o céu, a América Latina e a África.
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Confluência de saberes negro-indígena na Amazônia: Pajelança e política na região gurupiense
Vanderlúcia da Silva Ponte (UFPA)
Resumo: A confluência de saberes indígenas e quilombolas na Amazônia ainda tem sido pouco explorada pela antropologia brasileira, principalmente quando as mulheres estão no centro do debate político. Para entender as particularidades da política negro-indígena e sua dinâmica cultural na região do Gurupi (rio que separa os estados do Maranhão e Pará), demonstro como Verônica Tembé e Maria Petronília (Pituca) ajudaram a fundar e defender a Terra indígena do Alto Rio Guamá e o quilombo de Itamoari. Por meio da etnografia e etnobiografia dessas mulheres, analiso a confluência entre xamanismo, política, territórios e territorialidades na região gurupiense e busco demonstrar como as alianças em festas e rituais garantiram a permanência do quilombo e das aldeias na região.
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As narrativas eos sonhos das masculinidades negras no Tororó: Bairro mais recuado de Cachoeira (BA)
Vinicius Pereira Lopes (UFRB), Osmundo Santos de Araújo Pinho (UFRB)
Resumo: Esta comunicação aborda um campo de memórias afetivas e socioculturais da identidade territorial do bairro investigado, o Tororó, que fica recuado do centro da cidade de Cachoeira, no Recôncavo da Bahia. Território originário ameríndio, também morada da população preta que desembarcava nos portos do Paraguaçu na condição de escravizada, em um passado histórico doloroso e traumático, no tempo da escravidão, que se reflete até os dias de hoje. Mas não é só isto que resume a nossa história. Bem como Beatriz Nascimento nos alerta, esta é uma terra que não mais representaria o sentimento de pertença, na verdade o corpo negro é o próprio território de pertença. Pensando em diálogos contemporâneos com a ancestralidade e a ruptura do que é tido como ideal intelectual do Ocidente, busco trazer nessas memórias mais dolorosas, atingidas pelas lembranças do tempo passado, as narrativas ancestrais que são a possibilidade de conexão com nossa identidade fugitiva, a partir desse corpo negro que antes de tudo é como uma máquina do tempo transatlântico, compreendendo o pensamento elaborado pela Lélia González de Amefricanidade para “castelar” as dinâmicas histórico-cultural na favela, a partir de onde reexistimos em espaço-tempo físico e espiritual distinto. Nesse sentido, apresentamos narrativas autobiográficas e memórias de homens negros, jovens e mais velhos, alguns centenários, que habitam o território do Tororó. A pesquisa está sendo desenvolvida como um Trabalho de conclusão de curso e visa exatamente ressaltar como as memórias masculinas, ancoradas no território se alimentam de sonhos que atravessam gerações de homens negros, entre a memória pessoal e a coletiva. Investigamos assim as memórias dos mais velhos e jovens para “castelar” e cartografar narrativas que constroem a identidade do bairro investigado e como esses sonhos mantiveram-se vivos em espaço-tempo distintos, passado, presente e futuro, na ancestralidade e em suas subjetividades
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Questões identitárias e estéticas a partir do uso dos turbantes por mulheres negras ativistas em Fortaleza
Yasmin dos Santos Djalo (UNILAB)
Resumo: O presente trabalho tem como objetivo fazer uma análise do turbante a partir do olhar de mulheres negras ativistas em Fortaleza, Ceará, mostrando qual relação essa peça do vestuário tem com a experiência da negritude no contexto brasileiro. Os objetivos específicos são: a) explorar quais as consequências do colonialismo e racismo para a formação identitária dessas mulheres; b) traçar as relações entre: poder, identidade e estética na ótica do feminismo negro; e c) investigar a trajetória de elementos identitários de origem africana presentes nas vestimentas, em especial o turbante. Para entender a hierarquia racial brasileira é necessário, primeiro, analisar como aconteceu a interação histórica entre os habitantes do Brasil, do ponto de vista cultural, social e econômico, desde o período colonial até então e, principalmente, suas consequências. O primeiro método de pesquisa necessário para cumprir os objetivos propostos é a pesquisa bibliográfica. Nesses materiais, será analisado o contexto social e histórico da negritude no Brasil com enfoque no gênero feminino e no estado do Ceará, fazendo uma pesquisa interdisciplinar utilizando autores como Abdias do Nascimento, Kabengele Munanga, Joice Berth, Rodney William, Alex Ratts, Iray Carone, Grada Kilomba, entre outros. Para, a partir dessas informações, investigar o universo delimitado para o trabalho, no caso, o movimento feminista negro na cidade de Fortaleza. Após esse levantamento de informações, seguiremos para uma pesquisa mista, ou seja, quantitativa e qualitativa, em que uma funciona de forma complementar a outra, pois faz-se necessário tanto dados numéricos e estatísticos acerca da população negra do gênero feminino, quanto informações subjetivas dessas mulheres, englobando suas sensações, opiniões, percepções e pensamentos. Assim, tendo como base dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) e do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), iremos, por meio de formulários divulgados on-line, captar informações sobre determinada parcela de mulheres negras na cidade de Fortaleza, visando descobrir, principalmente, se possuem relação com o movimento negro, se consideram-se ativistas, como empregam esse ativismo e se usam turbante no dia a dia. A partir desses dados, partirei para uma pesquisa de campo, na qual atuarei como observadora participante, em locais que estejam relacionados ao ativismo feminino e negro, e selecionarei uma amostra não-probabilística de mulheres ativistas negras fortalezenses que usam turbante, para realizar uma entrevista presencial de método qualitativo que será gravada em voz, seguindo um roteiro, visando entender de forma profunda as experiências e vivências dessas mulheres, além de qual ou quais significados o turbante possui para elas.
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