Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 004: Améfricas: retomadas na antropologia pelo pensamento indígena e da áfrica-diaspórica por meio de experimentos de linguagens e escritas contra-coloniais
“Eu sou feliz na comunidade, na comunidade eu sou feliz”: forjando redes afetivas e políticas entre professoras indígenas, negras e quilombolas para o enfrentamento ao racismo ambiental
O presente trabalho apresenta reflexões acerca da tese de doutorado, ainda em desenvolvimento, intitulada: O Cocar não anda sem o turbante e o turbante não anda sem o cocar”: (re)existências afro-pindorâmicas a partir do Tehêy de Pescaria do Conhecimento da professora Dona Liça Pataxoop. A pesquisa tem como objetivo identificar, a partir dos encontros entre as professoras Dona Liça Pataxxop e a quilombola Simone Maria de uma escola atingida pela barragem de Fundão em Mariana(MG), mediado pelo Tehêy de Pescaria do Conhecimento, possíveis saberes, práticas e memórias ancestrais de enfrentamento do racismo ambiental. Considerando o impacto do racismo ambiental e as marcas da colonialidade nos corpos-territórios de mulheres negras e indígenas, é importante interpelar o silenciamento acerca das vozes dessas mulheres, para tanto o Tehêy de Pescaria do Conhecimento da D. Liça Pataxoop coloca-se como uma metodologia para romper com o silêncio colonial. O Tehêy é um instrumento para a formação política das crianças e jovens, por meio dele, são ensinados a cultura, a história, a ciência e a tradição do povo Pataxoop. Nessa pesquisa a experiência de “Tehêyá” é um posição ético-política que se opõe a universalização e fragmentação do ser, do saber e do corpo-território imposto pelas teorias eurocêntricas. Por meio da pesquisa-ação participante, da autoetnografia e do Tehêy de Pescaria do Conhecimento, buscaremos conhecer as práticas, saberes e memórias ancestrais das professoras Dona Liça e Simone Maria para o enfrentamento do racismo ambiental. Neste trabalho o racismo ambiental é entendido como um dos recursos da colonialidade para a materialização do racismo estrutural. A categoria corpo-território coloca-se como uma lente, que conduz os nossos olhares para as lutas sociais e políticas, no território de Abya Yala, considerando os corpos como territórios vivos e históricos, onde habitam nossas feridas, processos de cura, saberes e memórias ancestrais. Como resultados temos que, encontrar com os saberes e as narrativas produzidas por professoras indígena, negra e quilombola, em diálogo com o feminismo negro e decolonial e o Tehêy de Pescaria do Conhecimento, é um movimento de afirmação de uma postura ético-política-afetiva para pensar o enfretamtamento ao racismo ambiental, a partir dos saberes de mulheres negras e indígenas. Concluímos que diante dos destrutivos instrumentos de silenciamento das sociedades ocidentais, torna-se urgente tecermos metodologias e encontros de resistências, caminhos que possam fraturar as narrativas únicas e distorcidas sobre as mulheres de Abya Yala e transformar o silêncio colonial em linguagem, em movimento, em redes afetivas e políticas.