ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 004: Améfricas: retomadas na antropologia pelo pensamento indígena e da áfrica-diaspórica por meio de experimentos de linguagens e escritas contra-coloniais
Plantas diaspóricas, mulheres griotas, e territórios de cuidado
São popularmente conhecidas como “farmácia viva" ou "farmácia verde”, o hábito mantido, principalmente, por mulheres, de cultivarem e manejarem uma diversidade de espécies de plantas medicinais e alimentícias. Estes espaços apresentam-se como paisagens destacadas nos quintais e nos territórios tradicionais tanto por sua rica biodiversidade, quanto pelos recursos ambientais gerenciados associados a estas, como o manejo das águas e do solo. As práticas de manejo da biodiversidade desempenhada por povos e comunidades tradicionais, ou seja: "As roças de quilombo, as roças de aldeia, as roças dos ribeirinhos, as roças das Quebradeiras de Côco" (Bispo, 2023) são consideradas hoje a principal responsável pela utilização sustentável dos recursos naturais e pela manutenção das vegetações nativas. Na manutenção destas práticas são vivenciados valores referidos a uma organização coletiva, cosmovisão e tradições, nas quais o território e os recursos naturais são variáveis importantes. É diante deste contexto de valorização das práticas e saberes tradicionais para a manutenção e preservação da biodiversidade que Carneiro da Cunha coloca a seguinte questão: "Afinal, quem ocupa as áreas de maior riqueza genética, não por acaso, mas porque são produtores de diversidade? E quem são os produtores do conhecimento associado? São precisamente populações tradicionais, e usarei por enquanto esta expressão em sua acepção mais vaga e abrangente.” (Carneiro da Cunha, 1999:149) Neste artigo proponho, através de escritos feministas (em sua maioria do sul global), observar como as práticas de cuidado exercidas por mulheres, por meio de seus atos radicalmente rebeldes de promoção e proteção da vida, possibilita-se a criação de territórios de cuidados. Ou sejam terreiros de resistência, de matrizes culturais africanas, indígenas e europeias, onde salvaguardam-se sementes, histórias e cosmossociabilidades e onde repousam as plantas diaspóricas. Através de algumas experiências de campo proponho neste trabalho, observar como as práticas de cuidados, exercidas prioritariamente por mulheres, transparece como uma das principais estratégias de manutenção da vida nos territórios tradicionais e consequentemente uma importante componente para a (re)produção e manutenção da vida (entendida aqui em amplo espectro). Ainda sobre estas experiências de campo, ao final deste trabalho, apresento uma serie de fotografias e registros de campo, nas quais procuro ilustrar as reflexões aqui propostas, e as quais através do “compartilhamento do sentimento estético", orientam o ponto de vista pelo qual pretendo observar as discussões que suscitam me suscitam à elaboração de uma pesquisa de doutorado.