Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 004: Améfricas: retomadas na antropologia pelo pensamento indígena e da áfrica-diaspórica por meio de experimentos de linguagens e escritas contra-coloniais
O avesso da cerâmica: A categoria da amefricaneidade enquanto tessitura analítica das cerâmicas brasileiras
As marcas constituidoras das cerâmicas entendidas como “Neo-brasileiras”, cabiam na esteira da interpretação do unir quase que perfeito dos três elementos tidos como formadores da sociedade brasileira: o europeu, o indígena e o negro. A democracia racial foi replicada para pensar os tons das cerâmicas. Isso pode ser visto tanto na toada de pesquisas do PRONAPA (Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas) a partir de meados dos anos 1960, como também no legado do programa em se pensar a categorização da cultura material no contexto de contato.
A mestiçagem enquanto um processo de formação dessa suposta identidade materializada tem encontrado aporte em trabalhos que buscam nessa categoria um caminho que identifica essas marcas indicativas de cada "elemento", de forma que essa cerâmica aparente ser uma trama desses “pedaços de identidade”.
Este trabalho busca, então, pensar numa tessitura distinta, tanto em relação ao fazer do barro quanto ao que se refere às narrativas que se propõe a contar este tramar. Desta forma, acionamos a categoria de amefricanidade elaborada por Lélia Gonzalez enquanto um caminho analítico reflexivo distinto da narrativa hegemônica que ao categorizar as cerâmicas de contato endossaram a noção de uma formação social do país a partir de um processo de mestiçagem acrítico. Uma vez que a antropóloga trilha uma compreensão tanto através da partilha do ser quanto no experienciar entre as pessoas negras e indígenas diante da colonialidade, elaboramos questões para se repensar metodologicamente futuros objetos a serem analisados.
Tal exercício demanda que entendamos a crucialidade de localizarmos as epistemes que guiarão nossa metodologia. Trabalhos anteriormente mencionados se empenharam em elaborar uma categoria a partir da observação da peças cerâmicas em seu estágio já finalizado, atentando para os aspectos como marcos físicos da cerâmica que indicassem as influências culturais que sustentassem a visão tida sobre a dinâmica social que a resultou. A trajetória que desejamos fazer aqui encaminha-se em outra direção, já que partimos do desejo de refletir sobre as relações e o que delas se materializa, retornaremos para o processo, como estes encontros transformam o aprender como a feitura desses materiais. Assim, acionaremos a experimentação do fazer cerâmico, enquanto um espaço de implicar o corpo que produz na pesquisa, dialogando para tanto com as etnografias que se dedicam a refletir sobre confluências quilombolas e indígenas.
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