ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 004: Améfricas: retomadas na antropologia pelo pensamento indígena e da áfrica-diaspórica por meio de experimentos de linguagens e escritas contra-coloniais
Escrevivência etnográfica e fílmica na ENCANTARIA QUILOMBOLA com os amefricanos de Santa Rosa dos Pretos
Encantaria é uma dimensão invisível que tangencia o mundo material, no fundo dos mares e rios, em dunas e pedras, em matas e manguezais. É a morada dos encantados - seres espirituais, os quais, muitos deles, viveram, mas não tiveram a experiência da morte, se encantaram. A Encantaria Quilombola é uma ontologia relacional que a engendra como espaço-tempo ontológico amefricano. A Encantaria Quilombola é aquela vivida e significada pelos quilombolas. Em minha tese de doutorado, recentemente defendida, me dedico a compreensão do universo ontológico da Encantaria Quilombola vivenciado em Santa Rosa dos Pretos, comunidade rural negra maranhense com mais de 200 anos de história. Apesar de no exercício narrativo se promover afirmativas, nossa proposta não é convencionar o que ela é, uma vez que se potencializa na multiplicidade de vivências e interações exercidas em muitas das quase seis mil comunidades negras quilombolas em todo Brasil, e nem, tampouco, pretendemos estabelecer uma demarcação de fronteiras étnico-religiosas. Mais do que definir, o propósito é a escrevivência na Encantaria Quilombola, possibilitada pelo encontro e convivência com encantados e quilombolas e potencializada pelo registro fílmico e fotográfico de suas “atuações”, incorporações e performances, no espaço-tempo ontológico dos rituais. Desde a primeira entrevista com Mãe Severina e a filmagem da festa do Caboclo Cearenso, em agosto de 2004, ela e seus encantados tornaram-se protagonistas da etnografia fílmica. São eles, seus familiares e os encantados “atuados”, que dançam na Tenda Nossa Senhora dos Navegantes e em outros salões de tambor de mina, que performam o misterioso e vivencial universo da Encantaria Quilombola e contam suas histórias. Aprendemos com eles e as Caixeiras do Divino, com suas liturgias e encantorias, corporeidades e oralituras, em seus próprios termos e agências, as performances indiciáticas, as conceitualizações e exegeses, a gramática da relação, a cosmopolítica, a dramática ontológica vivenciada neste múltiplo, complexo e surpreendente universo cosmo-ontológico amefricano.