Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 004: Améfricas: retomadas na antropologia pelo pensamento indígena e da áfrica-diaspórica por meio de experimentos de linguagens e escritas contra-coloniais
As Dinâmicas dos Saci-Pererê A Partir dos Guarani, Outros Povos Ameríndios e Afro-Americanos: Narrativas de origem, constelações, poder, confluências ancestrais e afroindígenas
O Saci-Pererê é precioso. Ele é um personagem profundamente admirado pelas pessoas na América Latina e outras partes do mundo. Tratando-se do folclore brasileiro, é o ser mais buscado no Google Trends. A contribuição ameríndia e afro-americana à vida desse ser – nomeado também de Jaxy Jaterê, Mati-taperê, Xaxim-Tarerê, Yasy-yateré, Kambá’í, Saci-ave, Matinta-Perera, etc. – é instigante e paradigmática. O presente trabalho realizará um estudo a partir de um conjunto de narrativas e etnografias produzidas sobre o Saci, especialmente aquelas publicadas nas áreas de etnologia ameríndia, mitologia, astronomia cultural, literatura indígena e folclore, as mesmas escritas a partir de intensos diálogos com interlocutores/as afro-americanos e, em especial, indígenas (Tupiniquim, Tupinambá, Kayowa, Taurepang, Mbyá e Chiripa) no decorrer dos séculos XX e XXI. O texto terá como objetivos, de início, a apresentação de Saci ligados a diversas formações culturais na América do Sul. O passo seguinte será, a partir do “Saci negrinho” e do “Saci índio”, investigar as relações desse ser com a lua e as constelações tupi-guarani (em especial, a Tudja’i, traduzida como Homem Velho e Ancião), sendo que a partir disso revelar-se-ão as dobradiças presentes nos saberes da mitologia, da etnologia indígena e da astronomia cultural. A seguir, destacar a relevância de outros personagens pernetas ligados a inúmeros povos originários, além de apresentar um dos motivos que levam esses personagens a terem a sua perna decepada. Por sua vez, considerando os modos de pensamento dos Mbyá e dos Chiripa, demostrar a ligação das divindades Ñanderú, Tupã kuéry, Karaí, Kuaray e Jaxy, que habitam no céu guarani, com as plantas, os animais, o Curupira e o Saci-Pererê, resultando na ideia de respeito e proteção às florestas ou à natureza (a partir da categoria já, traduzida na etnologia indígena como “dono” ou mestre) e/ou “eto-ecológica”, onde a pessoa guarani e/ou afro-americana se constitui em continuidade ao ambiente e outros seres que o povoam. Finalmente, apresentar as articulações ancestrais e as confluências afroindígenas e de amefricanidade protagonizadas por Saci, Ossain e Exu, entre outras divindades e orixás, tornando evidente as experiências contra-coloniais de ameríndios e afroamericanos entre a terra e o céu, a América Latina e a África.