ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Grupos de Trabalho (GT)
GT 066: Imagens emergentes: antropologia e (re)montagens de arquivos audio-visuais
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Coordenação
Fabiana Bruno (IFCH-Departamento Antropologia/ LA'GRIMA), Luis Felipe Kojima Hirano (UFG)

Resumo:
O GT busca reunir pesquisas que tem debruçado sobre os modos de reinvenção de arquivamento, circulação e produção de imagens e sons como agentes produtores de territórios existenciais, memória e imaginação política. Nesse GT, acolheremos discussões teórico-metodológicas que evidenciam a criação de arquivos emergentes e contra-arquivos fotográficos e audiovisuais como formas de resistência e de (re) montagens de histórias. Em tempos de acúmulos de arquivos empoderados como os da "ciência", ou de “arquivos ordinários” - que por vezes se confundem como amontoados de descartes anônimos, “arquivos órfãos” (Bruno 2016; 2019) -, a intenção é problematizar os destroços, os restos e os “inarquiváveis” (Mbembe, 2002). Os arquivos são, como ressalta Georges Didi-Huberman, “uma massa geralmente inorganizada de início – que só se torna significante ao serem pacientemente elaborada” (Didi-Huberman, 2012). E a remontagem de imagens é capaz de provocar reconexões entre os tempos da história e os desejos de formar outros “arquivos do futuro” (Guarín e Cabrera, 2020). O GT enseja problematizar a “montagem” e “remontagem” de imagens e sons como territórios vivos,de conhecimento e entrelaçamentos entre antropologia e ciência pública. Enseja-se ainda debater trabalhos que se dediquem a produções indígenas, quilombolas, afrolatinas, LGBTQIA+, entre outros coletivos e corpos plurais, que se aliem aos audiovisuais para repensar a história e mostrar outros modos de existir e re-existir.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Inverter o Olhar: Antropologia fílmica e compartilhada na associação de deslocados Prédio Argentina no município do Cairo, Valle do Cauca, Colombia.
Alejandro Escobar Hoyos (UFRJ)
Resumo: A presente pesquisa procura pensar o fazer fílmico e etnográfico compartilhado na associação de deslocados Prédio Argentina no município do Cairo, Valle do Cauca, Colombia. Esta. Pesquisa procura pensar minha relação desde a graduação, com os irmãos Sanchez Javier e Andrés os quais me convidaram para participar do documentário Recampesinização (2018) o qual com o tempo se torno um objeto de estudo para entender o processo de voltar ao campo e sua representação em imagens. Também neste trabalho procuramos pensar o documentário etnográfico Doña Consuelo (2023) o qual faz parte de uma série de trabalhos que utilizam a imagem como estratégia para produção, divulgação e circulação de experiências individuais e coletivas. Como, por exemplo, muralismos, ensaios fotográficos e em especial, a produção audiovisual como forma de representar e visibilizar a comunidade. Desta forma a presente pesquisa de longa duração com diferentes análises sobre o processo de voltar ao campo o qual deu início com o documentário Recampesinização (2018) deu continuidade no mestrado em antropologia social no UFRN pretende ser continuada no doutorado en sociologia e antropologia da UFRJ. Esta pesquisa procura pensar minha experiência com a comunidade e o fazer fílmico como também procura ressaltar a importância sobre a antropologia compartilhada. O que nos leva a pensar em Jean Rouch e por conseguinte nas propostas da antropóloga cineasta Colombiana Marta Rodriguez. A proposta desses autores reconhece a interação entre realizador e a comunidade filmada. Desta forma minha relação com os irmãos Sanchez é constante estamos em diálogo na busca de produzir matérias para visibilizar a comunidade de forma horizontal e dialógica. Desta forma cabe pensar o filme Doña Consuelo como um resultado de pesquisa, mas também como um produto do continuo relacionamento como a comunidade. Neste filme Javier Sanchez em voz em off comenta a premiação que obtive o filme Recampesinización como melhor filme documentário e a menção da contribuição para o debate sociológica da mostra NUPEPA da USP. Além de disto neste trecho o próprio Javier comenta sobre a realização do filme Recampesinización, apresenta sua mãe Consuelo e também menciona o empreendimento da família de plantas medicinais e azeites essenciais chamado SABEAE”. Este empreendimento ressalta a proposta política de luta pela terra e permaneça no campo. Neste sentido, a antropologia, etnografia, e o filme pode ser o resultado da interação de personagens, do diretor com a câmera e os seus colaboradores que produziram uma realidade fílmica. Por este motivo os personagens poderiam influir no destino dos filmes já que era por todos compartilhado enquanto uma criação.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Furusato - Um lugar para voltar: relatos da produção de um documentário compartilhado junto à comunidade japonesa de Ivoti (RS)
Alexsânder Nakaóka Elias (Pesquisador)
Resumo: O presente trabalho pretende expor o processo de produção do documentário intitulado Furusato: Um lugar para voltar, atualmente na etapa de montagem e edição, que estou realizando juntamente com interlocutoras/es associadas/os à Colônia Japonesa de Ivoti, no Rio Grande do Sul. O projeto para este curta-metragem, por mim dirigido, foi contemplado com uma verba da Lei Paulo Gustavo de incentivo à cultura, e conta com a participação, na equipe de produção, de interlocutoras/es que permitiram que eu realizasse minha primeira pesquisa de pós-doutorado, Por uma Antropologia da Montagem: narrativas e grafias nikkeis, vinculada ao Núcleo de Antropologia Visual (Navisual) da UFRGS, entre 2021 e 2023, com auxílio de uma bolsa do CNPq (PDJ). Ao longo dos quase dois anos de convívio com essa comunidade japonesa, estabeleci intenso diálogo e, mais importante do que isso, fortes laços de afeto e amizade, como por exemplo com Iaioi sensei, minha professora de nihongo (língua japonesa), uma interlocutora privilegiada (Turner, 1967; Bateson, 1942; Wagner, 1975, Nakaóka Elias, 2018, 2019) que me apresentou às/aos demais integrantes da equipe e às pessoas da colônia, como, por exemplo, ao seu filho Anthony Massayoshi Tao (produtor, interprete e tradutor do projeto) e ao amigo Marco Ushida (produtor e tradutor). Seguindo a trilha iniciada por Jean Rouch (1952, 1955, etc.) e tendo como inspiração o fecundo projeto Vídeo nas Aldeias (Carelli e Valadão, 1986), a intenção, portanto, será a de realizar uma antropologia audiovisual compartilhada stricto sensu, relatando verbo-visualmente os processos de elaboração, produção e finalização do projeto, com suas idiossincrasias, (muitas) tensões e, especialmente, momentos de partilha.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
A imagem como um dispositivo mnemônico: processos de recepção, restituição e devolução de um acervo imagético de atingidos por barragem na Paraíba.
Bernardo Américo Batista Tavares (UFPB), Lara Santos de Amorim (UFPB)
Resumo: Esse trabalho decorre dos resultados obtidos por meio de um projeto extensionista de Antropologia Visual realizado na Universidade Federal da Paraíba, bem como a pesquisa empenhada por mim para o trabalho de conclusão de curso (TCC) em antropologia entre os anos de 2020 a 2023, ambos orientados pela professora Lara Amorim (UFPB). A partir disso, foi realizado o processo de organização de um acervo fotográfico sobre a experiência de atingidos por barragem na Paraíba, a partir do qual foi possível catalogar quatro coleções fotográficas de maneira colaborativa. Trata-se de ação etnográfica realizada com moradores das comunidades do Cajá e Pedro Velho, localizadas respectivamente nos municípios de Itatuba e Aroeiras, no estado da Paraíba, bem como com o Movimento de Atingidos por Barragem na Paraíba (MAB-PB). A dinâmica proposta a partir do projeto extensionista fez com que se construísse em torno de cada fotografia da coleção, uma rede de memórias, revelando uma experiência da memória coletiva comum entre os atingidos por barragens. Portanto, o sentido que se articula sobre a fotografia vai além de identificar um lugar físico, geográfico que foi atingido pela barragem, mas desencadeando um processo mnemônico afetivo e familiar, que interessa a elas/eles responderem: Quem são as pessoas que aparecem nas fotografias? De quem elas eram tias, sobrinhas, netas, filhas? De quem eram essas casas? De quem era o filho do dono dessa casa? Deste modo, partindo de uma proposta metodológica da antropologia visual, busca-se refletir como a imagem é articulada enquanto forma de mobilização social e política de memória, envolvendo práticas de restituição e devolução de fotografias em diferentes suportes (banners, hipermidia, instagram) para as comunidades atingidas e os movimentos sociais. E considerar também as dinâmicas mnemônicas afetivas, ou seja, como essas imagens são tomadas enquanto forma de representação do grupo coletivo, suas redes de parentesco, práticas tradicionais e experiências compartilhadas. Assim, este trabalho revela a importância de pensar a etnografia como um lugar sensível para refletir sobre a imagem fotográfica, entendendo-a não como artefato isolado em si mesmo, mas como um dispositivo que carrega em si a expressão de memórias coletivas que envolvem afetos e experiências compartilhadas. Palavras-chave: Acervos e coleções imagéticas; comunidade de atingidos por barragem; memória coletiva.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Imagens por vir: levantes e confluências para práticas de mundos
Carolina Noury (Esdi), Marina Sirito de Vives Carneiro (UERJ)
Resumo: O colapso ambiental ameaça a existência da espécie humana, fazendo do planeta, um mundo-sem-nós, conforme indicam a filósofa Débora Danowski e o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro,(2017). Ao discorrerem sobre as causas (antrópicas) e as consequências (catastróficas) da crise’ planetária que vem se desdobrando em escala mundial e em velocidade acelerada, os autores sinalizam que embora tenha começado conosco, muito provavelmente terminará sem nós. [...] Nosso presente é o Antropoceno, mas este tempo presente vai se revelando um presente sem porvir (p.20). Para pensar saídas para esse cenário e a possibilidade de criação de outros mundos, entendemos que é preciso criar outras possibilidades de imaginar o futuro para além das perspectivas que podemos vislumbrar hoje - moldados por uma realidade achatada, em que simplificamos as narrativas lógico-formais à conceitos e enunciados que se esgotam em si mesmos (RODRIGUES, 2021, p.2). Narrativas essas, que produzem imagens temíveis e terríveis do futuro, pautadas na armadilha de um destino comum e de um único ideal de desenvolvimento que abarca, para além de toda a humanidade, todas as outras formas de vida na terra. Diante da iminência do fim do mundo ou do fim do futuro e do questionamento de nossas heranças alicerçadas no modernismo para podermos imaginar outros designs, nos questionamos: há designs por vir? Considerando a crítica ao capitalismo como insuficiente para dar conta das diversas crises que vivemos, torna-se imperativo o abandono da mitologia do progresso moderno. Para isso, entendemos que é preciso ampliar a capacidade de imaginação para de fato construirmos outras saídas para as crises que nos assolam. Buscando pistas que nos ajudem a pensar outros futuros, encontramos nas imagens o potencial de mobilização de imaginários abertos, que agem como levantes capazes de colocar em diálogo outras cosmologias e outras possibilidades de habitar a terra, a partir de construções narrativas que nos permitam contar outras histórias de futuros que não nos parecem claros agora. O futuro é ancestral, afirma Ailton Krenak. Não teremos futuro sem o resgate das cosmovisões sustentáveis do passado. Através das imagens que iremos apresentar propomos pensar em outros designs a partir da confluência e transfluência de saberes e de vidas que resistiram ao projeto aniquilador da modernidade e assim, praticar outros mundos com aqueles que têm se dedicado a suspender a queda do céu. Olhar para outras práticas como levantes contra a violência e a destruição vivenciada por diversos povos até os dias de hoje.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Produção discursiva de gênero em mídias digitais: transmasculinidades no Instagram
Carolina Vasconcelos Pitanga (UEMA)
Resumo: O objetivo deste trabalho é identificar as produções discursivas sobre gênero apresentadas em perfis do Instagram, tendo como foco o conteúdo compartilhado por sujeitos que se apresentam como homens trans ou transmasculinos. Utiliza-se aqui a categoria de práticas discursivas, tendo como inspiração a leitura de excertos do livro de Michel Foucault, Arqueologia do Saber, que entende o discurso enquanto prática. No discurso entra em jogo uma série saberes e poderes que constroem regimes de verdades e instituem posições para os sujeitos. A construção social e cultural do gênero pressupõe a valorização de feminilidades e masculinidades hegemônicas que simbolizam posições dentro da estrutura social do gênero. O caráter normativo das identidades de gênero hegemônicas é reiterado em mídias digitais, assim como são problematizados e questionados por pessoas e coletivos que utilizam a plataforma como espaço de comunicação e divulgação de ideias ligadas às pautas e reinvindicações culturais e políticas, sobretudo, no que se refere à padrões de beleza e igualdade de gênero. Para alcançar os objetivos, buscou-se embasamento teórico a partir das leituras de Butler, Connell, Miskolci e Bento com a pretensão de responder a seguinte questão: que estratégias discursivas têm sido utilizadas por homens trans e transmasculinos no Instagram com o intuito de visibilizar e engajar conteúdo sobre suas identidades sexuais? Tendo como base uma abordagem qualitativa, esta pesquisa tem como pressuposto que o Instagram, enquanto ferramenta comunicacional, distribui conteúdos, ofertando-os por meio de enunciados discursivos até então invisibilizados e que embaralham as fronteiras entre as esferas do público e do privado. O apresentar-se a si é a regra dos/as criadores/as de conteúdo, entendendo que a exposição aumenta sua visibilidade e possibilita engajamento. As etapas metodológicas foram realizadas com a observação sistemática das páginas de Instagram selecionadas Lucca Scarpelli e Math Vidal Rosa -, caderno de campo e a técnica da etnografia de tela digital, considerando alguns conteúdos compartilhados. A seleção das páginas foi feita a partir de dois critérios: a apresentação da identidade trans na bio e a especificação de que aquele perfil é de um criador(a) de conteúdo. As páginas selecionadas foram observadas separadamente, examinando as características predominantes em relação à performance de gênero e a produção de sentidos sobre a identidade de gênero trans. Como resultado dessa investigação, foi possível considerar identificar que as páginas, de um modo geral, oferecem uma diversidade de conteúdo sobre relacionamentos, trabalho, estilo de vida, assim como apresenta marcas e produtos que são incorporados no contexto da apresentação dos conteúdos.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Etnografia das representações fílmicas dos fazedores de cultura da Amazônia
Diego Alano Pinheiro (USP)
Resumo: O cinema feito na Amazônia brasileira, situada no estado do Pará, tem passado por mudanças significativas entre as produções dos últimos anos, destaca-se aqui a importância das Leis Aldir Blanc e Lei Paulo Gustavo como motivadores dessa expansão. As mudanças observadas, perpassam questões que dão visibilidade à sociodiversidade da região, mas também marcam o reconhecimento identitário dos fazedores culturais Amazônidas (como se autointitulam e que compõem uma pluralidade de identidades, como ribeirinhas, indígenas, quilombolas, citadinas, etc.). Nesse sentido, para este projeto ainda em desenvolvimento, proponho analisar etnobiografias de "cineastas da/na Amazônia" para refletir epistemologicamente sobre essa nova práxis audiovisual, acompanhando as mobilizações e representações sociais dos realizadores fílmicos (privilegiando filmes documentários). Desse modo, sob a luz da Antropologia Social, viso compreender a construção estética e de conteúdos dessas produções que valorizam aspectos particulares do que intitulam como "cultura regional amazônica" - refletindo a interculturalidade dos diretores fílmicos do contexto pesquisado e as imagens produzidas por estes sobre o que significa ser e viver na Amazônia.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
É preciso aprender a voltar para casa: etnoficção, etnofabulação e a experiência audiovisual no fazer antropológico.
Éder dos Santos Braz (UFSC), Luz Mariana Blet (UFSC), Sergio de Almeida P. Machado (UFSC), Jeferson Vieira (IFSC)
Resumo: Para a população afro-diaspórica, o ato de narrar a si mesma foi negado desde os primeiros momentos do sequestro que deu origem a uma travessia transatlântica forçada. Os africanos escravizados foram impedidos de enunciar a memória e origem de si. E esse feito, seguiu se atualizando em diferentes maneiras de invisibilizar as narrativas da população negra, mantendo essa história diaspórica fragmentada no tempo e no espaço dessa terra-nação chamada Brasil. Nesse caminho se torna necessário entender as consequências que as imagens construídas ou invisibilizadas geram na sociedade. Imagens acabam informando quem somos, fomos e podemos ser, as questões que ficam são: quem pode narrar a fim de produzir memórias e imagens? Quem pode ouvir o que as imagens querem dizer? Se pensarmos em uma etnografia de arquivos fotográficos de pessoas negras como vestígios visuais da memória, temos a possibilidade de reivindicar, reajustar a materialidade no presente e recriar memórias de futuridade. Segundo a autora Christina Sharpe (2023), a população negra, sobretudo afro-diaspórica na pós-escravidão, vive no vestígio, onde o passado que não passou, reaparece para romper o presente. Nesse sentido, viver no vestígio também abre caminhos para uma futuridade negra já presente e se torna uma oportunidade de olhar e criar outras realidades possíveis, como belos experimentos de fazer do viver uma arte (HARTMAN, 2021). Diante da violência e da impossibilidade de representação do negro nos arquivos históricos, Saidiya Hartman (2019), desenvolve um método que denomina fabulação crítica, uma narrativa recombinante, que tece passado, presente e futuro, recontando essas histórias, habitando e construindo suas alteridades. Este trabalho discorre sobre a experiência na produção audiovisual do curta-metragem É preciso aprender a voltar para casa, realizado Coletivo Audiovisual Panelinha, criado por estudantes do Programa de Pós-graduação em Antropologia Social (PPGAS/UFSC). O filme é uma etnoficção, ou etnofabulação, que apresenta um caminho ancestral de memória em movimento colocando em cena memórias visuais enterradas de um passado-presente. Através da performance do corpo em movimento, do caminhar em busca de memória e de uma identidade do personagem, a obra fabula a própria busca etnográfica do autor. De um eu não individual, mas sim coletivo (EVARISTO, 2005), que compartilha a experiência de ser negro, do sul do Brasil. Em diálogo com Martins (1995) ao trazer para cena o corpo, símbolos de discursos e a visão negra do negro e do mundo, há uma futuridade que tira o que historicamente esteve na sombra e restitui o sentido plural de ser. Ou seja, o caminho que se faz para voltar para casa, possibilita vislumbrar a própria singularidade presente nesse universo.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Um devir negro nas imagens: formas de praticar acervos fotográficos afro-atlânticos
Felipe Camilo Mesquita Kardozo (UFC)
Resumo: Partindo da noção de comunidade visível (Kardozo, 2021), um conjunto heterogêneo que dá a ver e se faz ver através de imagens em um território, investiga-se formas de praticar acervos fotográficos afro-atlânticos - familiares e comunitários. A pesquisa parte do pressuposto que há um devir negro nas imagens e álbuns de famílias brasileiras e em sua forma de se relacionar com eles. O uso do termo se refere ao devir-negro do mundo de Mbembe (2014). Com isso, observa-se como os trabalhos da memória (BOSI, 1994) de narradores das esquinas do Poço da Draga em Fortaleza, Ceará, têm a oralidade de suas histórias ativadas pela prática de suas imagens, assim como pela resistência à necropolítica (Mbembe,2018) operada contra as vizinhanças negras no Brasil. Se na tese Comunidade Visível nos concentramos na particularidade desses narradores do litoral cearense, neste trabalho buscamos contextualizar o caso do acervo Poço 115 entre outras experiências brasileiras como o Museu da Maré (RJ), Retratistas do Morro (MG), Arquivo Zumvi (Ba) em estados de maior ou menor formalização que permitam elencar estratégias e formas de partilha dessas coletâneas de fotografias e narrativas que reagem contra o apagamento colonial ao mesmo tempo em que atestam a pluralidade de vozes dissonantes à história oficial. Pensando em como a agência da ausência de imagens e coleções opera no imaginário das famílias e acervos brasileiros, a pesquisa dialoga com a obra de artistas como Aline Motta (Pontes sobre abismos, 2018), Safira Moreira (Travessia, 2017) e também com o ACHO - Arquivo Coleções de Histórias Ordinárias idealizado por Estefânia Gavina e Fabiana Bruno em 2014 - sem deixar de mencionar experiências indígenas no nordeste do país. Deste modo, esse trabalho se pergunta que micropolíticas orientam maneiras de tornar visíveis arquivos de coisas e histórias que não costumam ser encontradas nos catálogos dos museus e instituições oficiais de preservação do patrimônio nacional. Este pequeno esforço também esboça um minimanual de acervos fotográficos afro-atlânticos.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Um problema de princípio: quando o recorte conta a história que quer, quando a história conta o recorte que quiser. Uma reflexão a partir dos desenhos da aldeia Xikrin do Cateté (PA)
Flávio Bellomi Menezes (UNICAMP)
Resumo: Este trabalho busca eliciar as problemáticas em torno das escolhas narrativas no início de análises antropológicas. Ter-se-à como material os desenhos figurativos referentes à imagem/noção de Aldeia disponíveis no acervo doado por Lux Vidal ao Laboratório de Imagem e Som em Antropologia (LISA), da Universidade de São Paulo. A opção de trabalhar com a figura da Aldeia deu-se em respeito à ordem narrativa e montagem escolhida pela própria Lux Vidal em sua tese Morte e Vida de uma Sociedade indígena brasileira (1977), cujo tema da Aldeia aparece logo no segundo capítulo, dividido entre aldeia, roça e as expedições, nomeadas de vida nômade”. Busco, portanto, esgarçar a experiência figurativa através dos diversos dualismos presentes em maior ou menor grau nos desenhos, que não se limitam aos desenhos presentes na obra, com a intenção de trazer também ao debate as escolhas organizacionais da autora/editora utilizando como suprimento de possíveis lacunas a redação da própria autora, seus predecessores e sucessores no tema. Ao final, realizo um exercício de encontrar uma instabilidade viável para que possa justificar antropologicamente temas como a figuração, a memória e o encontro ontológico à luz de um trabalho maior, que envolve os desenhos figurativos do acervo de Lux Vidal e sua recepção pelos Xikrin hoje em dia, quase meio século depois.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Nomear os mortos, reverenciar os antigos: cocriações audiovisuais na Plataforma Projeto Curas
Gabriela Acerbi Pereira (CAPES)
Resumo: Este trabalho busca apresentar a plataforma Projeto Curas (www.projetocuras.com.br), abordando nossa atuação coletiva e também nossos materiais produzidos, com foco no último projeto audiovisual que está em fase de execução pela Lei Paulo Gustavo. O Projeto Curas no qual faço parte desde sua criação, em 2019, foi vencedor selecionado pelo IPHAN na Premiação Rodrigo Melo Franco de Andrade - Edição 2023, e entende-se enquanto uma rede comunitária de cocriação sediada no Terreiro de Umbanda Coboclo Pedra Branca, na cidade de Poços de Caldas, localizado no Sul de Minas Gerais e chefiado por Mãe Ana de Iansã. Nos definimos enquanto uma pesquisa progressiva em cocriação que registra e compartilha experiências e dimensões sagradas da vida e da gestão comunitária da saúde em nosso territórios. Curas é um projeto audiovisual de arquivamento dos percursos espirituais e das relações de afeto, cuidado, política e memória em outras formas de rezar no Sul de Minas Gerais, e também uma iniciativa de reconstrução e circulação de acervos familiares, comunitários e individuais. Além de tudo que já foi construído na plataforma, atualmente trabalhamos na confecção de um documentário que tem como objetivo primordial registrar as narrativas antepassadas de pessoas africanas que habitavam nossa região de origem (Poços de Caldas/ Caldas - que até 1888 eram um território só, como constam nossas pesquisas e documentações) entre os períodos do século XVIII e XIX principalmente, a partir de narrativas familiares e também de documentações coloniais que encontramos no Sul de Minas Gerais, e então abordar a relação da população local e também de nossa Mãe de Santo com os antepassados que aqui viveram e com suas trajetórias. Nomear, evocar e reverenciar os mortos para nós, a partir deste filme, trata-se de um exercício de restituição, de fabulação e de cocriação. E também de uma contranarrativa diante dos projetos de apagamento e branqueamento vivenciados pela região em que nascemos e vivemos. Em relação ao trabalho etnográfico e os exercícios de investigação, entendemos nossos movimentos coletivos e comunitários articulados enquanto trabalho de campo, ancorados no registro das memórias pessoais e no levantamento da documentação colonial esta segunda com o intuito de questionar suas lacunas, estereótipos e violência. Nosso trabalho através das imagens (antigas e atuais) articula-se com o objetivo de reimaginar o passado e trazer novas perspectivas para um território que sempre esteve povoado por tais antepassados africanos (os "antigos") e muito seres sagrados que nos guardam e cuidam.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
"Um tempo que se mede nos trilhos do trem": uma análise acerca da narrativa museal presente na sala Arquivo Histórico, do Museu Municipal Francisco Coelho da cidade de Marabá-Pa.
Gabriela da Costa Araújo (UFPA)
Resumo: O presente trabalho orientou-se na compreensão da fotografia enquanto sujeito atuante da pesquisa, ultrapassando os limites de uma ferramenta de trabalho, participando ativamente da pesquisa, narrando, sinalizando e permitindo a análise das experiências que vivencio no campo, assim como, o próprio campo de pesquisa. Logo, por meio dos recursos visuais, realizou-se uma reflexão acerca da narrativa, exposta na sala - Arquivo Histórico, do Museu Municipal Francisco Coelho da cidade de Marabá-Pará, a qual partiu da seguinte inquietação: Qual mensagem a sala Arquivo Histórico, ao utilizar os trilhos ferroviários como objeto museal em sua narrativa, simulando a passagem do tempo na cidade de Marabá, manifesta? ”. Diante disso, para o desenvolvimento da pesquisa, realizou-se visitações ao Museu Municipal Francisco Coelho, sustentando-se no aparato teórico-metodológico que combinou elementos da antropologia interpretativa (Geertz, 2013) e antropologia visual (Achutti, 2004; Novaes, 2005; Leal, 2013; Gama, 2016), com os quais, realizou-se uma narrativa fotográfica, partindo da perspectiva de um fazer etnográfico composto além da escrita. Compreendendo assim, que os objetos museais e as imagens possuem um caráter evocativo e, portanto, estão abertos a interpretações, as quais possibilitam um olhar que vai além do que é dito à primeira vista, possibilitando uma ampliação de perspectivas. Desse modo, a narrativa fotográfica sustenta-se no objetivo de levar olhar desta pesquisadora para o interior do museu e suas narrativas (Chagas, 2009). Corroborando assim, para a identificação e reflexão do imaginário que é sustentando pela mesma. Palavras- chaves: Museu, Narrativas museais; Antropologia visual; Antropologia Inerpretativa; Imaginário.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
A Covid-19 experienciada: adoecimento e experiência pública desde uma Antropologia Visual da Saúde
Geissy dos Reis Ferreira de Oliveira (UFPB)
Resumo: Desenvolvi junto com Ruanna e outras três interlocutoras, no âmbito do mestrado em Antropologia pela UFPB, uma pesquisa orientada à compreensão de experiências de adoecimento por Covid-19, vivenciadas por mulheres domiciliadas na cidade de João Pessoa/PB. No contexto dessa pesquisa, centrada no adoecimento e na vida em meio à pandemia, foi elaborado um conjunto de imagens. O enfoque da citada pesquisa, e logo do ensaio fotográfico, remete à Covid-19 vivenciada e também a uma experiência pública em torno da Covid-19. É com Ruanna que elaboro conjuntamente este ensaio. Em sua condição de experiente (ANDRADE; MALUF, 2017) e coautora, Ruanna narra suas próprias experiências de adoecimento, comigo dialogadas numa narrativa verbal. E na medida em que determinadas dimensões dessas mesmas experiências, somadas e emaranhadas (INGOLD, 2012) à experiência pública, passam a existir também como relatos visuais, elaborados como fotografias, podem ser vistas, e não apenas ouvidas ou lidas, e assim, podem vir a aportar aspectos que a experiência guarda de indizível. É de experiências pandêmicas que buscamos produzir imagens, e com isso elaborá-las imageticamente, num exercício também de registrar seus rastros, e os da política de morte bolsonarista. Sem, no entanto, nutrir a pretensão de registro da realidade, muito menos, de fruir por uma episteme de objetividade universalizante. Trata-se sim, da construção de imagens que assumem minha própria afetação e também a de Ruanna, as experiências vividas no marco da Covid-19, e a própria condição situada e corporificada do conhecimento. Importante destacar que inúmeras pesquisas antropológicas, na intersecção entre corpo, saúde, adoecimento e imagem já foram e vêm sendo elaboradas, com destaque para Christos Lynteris (2020) em sua análise da relação guardada entre fotografia e pandemias. Marcada a continuidade, importante dizer que é próprio deste trabalho, não a análise de imagens já produzidas, e sim a criação de novas imagens pandêmicas, que podem ser, elas próprias, recursos terapêuticos no processo de elaborar o adoecimento de Covid-19 para quem o experiencia, ao mesmo tempo em que permitem tanto aportar dimensões indizíveis desse processo, como ampliar as linguagens em que temos acesso à experiência do adoecimento. Dito isso, não se trata aqui de uma proposta epistemológica inaugural, no sentido de que não são inéditas investigações e produções na esteira dessa intersecção, se não, de lançar a possibilidade de uma "Antropologia Visual da Saúde", de fazer do diálogo entre antropologias (da saúde e visual), um campo antropológico em si, um campo emergente.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Ruídos estéticos e proposições ressurgentes nas memórias audiovisuais do batuque afrobrasileiro de Nelson Silva
Guilherme Rezende Landim (Coletivo Turvo), Lucca Deliberato Reis (UNICAMP)
Resumo: Após realizar filmagens com o grupo musical batuque afrobrasileiro de Nelson Silva em 2016 e reencontrá-las no processo de montagem fílmica em 2024, compreendemos estas imagens como arquivos e muitas vezes lacunas, ruídos e interrogações que nos instigam na compreensão do que representa o grupo artístico-cultural que é patrimônio imaterial de Juiz de Fora (MG). Essa imaterialidade se reconfigura no tempo presente, ecoando vozes, presenças e cantos afromineiros em territórios políticos, estéticos e artísticos de Juiz de Fora (MG). Cabe pensar também nas conflitantes narrativas orais e visuais, na ausência de registros historiográficos do grupo, além dos processos de espaços-tempos circulares como formas de construção narrativa dos procedimentos estéticos de montagem na antropologia visual. Assim, propõe-se narrar a partir daquilo que escapa, daquilo que instiga ao pensamento e questiona as memórias fragmentadas, ruidosas e em suma contraditórias, da falta mesmo das imagens, da construção cinematográfica como um organismo vivo de memórias coletivas amalgamadas em diferentes espaços-tempo. Outrossim, promos o cinema como imagem ressurgente que instigue pensamentos sobre diferentes temporalidades e camadas de memórias dos(as) batuqueiros(as), no que tange às suas trajetórias de vida pessoais e coletivas, além das músicas do grupo e seus atravessamentos subjetivos com as mesmas. No processo de montagem do filme Batuque:(en)cantos de lutas, busca-se "pensar cada imagem em relação a todas as outras, e de que esse próprio pensamento faça surgirem outras imagens, outras relações e outros problemas" (WARBURG apud DIDI-HUBERMAN, 2013, p. 423). “Existem três lados de cada história: o seu lado, o meu lado e a verdade. E nenhum de nós está mentindo. Memórias compartilhadas servem a cada um de forma diferente (Robert Evans). Assim, a realização deste documentário busca suscitar outras grafias sobre o processo de investigação da história e memória do grupo, propondo camadas de imagens ao longo do processo de criação do filme, relações mediadas por imagens, desde a exibição de um material gravado na década de 90 sobre o grupo, passando pela exposição Retratos da Resistência, com fotografias que realizamos dos(as) batuqueiros(as) para a elaboração do projeto do filme e as trocas de imagens no decorrer das gravações. Ademais, propomos tecer um pensamento sobre a imagem a partir de territórios vivos dos imaginários construídos sobre o batuque, sobre seu fundador Nelson Silva e sobre suas músicas.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Visualidades performativas pós-humanistas de um arquivo de cariri
Jeanine Torres Geammal (UFRJ)
Resumo: Desejo debater questões que sobressaem de composições arquivísticas com as quais proponho realizar minha pesquisa de doutorado. A pesquisa, situada nos domínios da antropologia visual, da performance, da memória, é praticada em correspondência com artes, artistas e outros viventes que habitam o Cariri-Ce, com atenção aos fenômenos, às relações, às performances que contribuem para particularizar e corporificar conceitos como "arte" e "memória". Na pesquisa atual, manipulo um conjunto de registros que produzi para uma pesquisa de doutorado anterior que não materializou tese, acolhendo-os como campo empírico. Ou seja, entendo que na pesquisa atual a frequência ao Cariri se dará também por modos arquivísticos: meus cadernos de campo da primeira pesquisa; os textos elaborados para a tese que não vingou; e os registros de diferentes natureza (fotografias, vídeos, áudios, xilogravuras). Para isso, proponho pensá-los e vivê-los hoje como arquivos, pressupondo tanto o jogo de relações que esse enquadramento suscita, quanto o decurso de tempo que abrange. Interessam-me os repertórios (Schechner, 2013, p.2), compreendidos tanto como o conjunto de conhecimentos que o arquivo detém, quanto como o conjunto de seus desempenhos em ação, afetados que são, permanentemente, por aquilo que fizeram anteriormente e que fazem em articulação no agora. Ou seja, aquilo que as pessoas fazem na atividade de fazê-lo, acionando tanto o que já fizeram como o que inventam no próprio curso do fazer(-se). No que tange aos registros visuais, exercito vê-los como performatividades, acolhendo os desafios de: DIDI-HUBERMAN (2017), que nos propõe olhar as imagens com atenção às temporalidades difusas que carregam e suscitam (sobrevivências, anacronismos); de Donna Haraway (2023), para entendê-las como parte das compostagens que somos-formamos; e de Karen Barad (2017) que em sua abordagem materialista pós-humanista de performatividade questiona a supremacia representacionista das palavras na representação de coisas preexistentes (Barad, 2017, p. 9), diluindo a distinção ontológica entre as representações e aquilo que elas pretendem representar. Sobretudo, busco entender as fronteiras e propriedades dessas existências materiais e conceitos como determinações ou corporificações das intra-ações agenciais específicas, não como relata preexistentes (BARAD, 2017, p. 20). BARAD, K.. Performatividade pós-humanista: para entender como a matéria chega à matéria. [S. l.], v. 01, n. 01, p. 29, 2017. DIDI-HUBERMAN, G.. A inelutável cisão do ver. In: DIDI-HUBERMAN, G.. O que vemos, o que nos olha. São Paulo: Editora 34, 2010. SCHECHNER, R.. Performance Studies: An Introduction. London ; New York: Routledge, 2020. HARAWAY, D.. Ficar com o problema: fazer parentes no chthluceno. São Paulo: N-1, 2023.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Remontando a história: de uma genealogia das ausências à uma etnografia da lembrança.
José Duarte Barbosa Júnior (IFRN)
Resumo: O presente trabalho tem como objetivo apresentar uma reflexão a partir da pesquisa etnográfica iniciada em 2019 que, iniciando por um exercício genealógico, buscou realizar inferências históricas e antropológicas. Partindo de uma história oral das ausências ou da escassez das memórias, busquei reconstituir aquilo que, na memória dos vivos, havia sido desconhecido ou esquecido. Utilizei como fonte documentos religiosos e civis, e jornais antigos disponíveis nas plataformas digitais. Utilizei também a bibliografia genealógica e livros de memorialistas. A historiografia, portanto, ocupou lugar significativo na compreensão dos processos subjacentes às trajetórias das pessoas que compõem essa pesquisa. Partindo, portanto, da minha posição numa estrutura de parentesco, avancei até seis gerações, aproximadamente aos fins da primeira metade do século XIX. Duas ramificações remetem ao estado da Paraíba: um dos ramos maternos vai ao litoral paraibano, mais especificamente à ribeira e à várzea do Rio Paraíba (Cabedelo, Forte Velho, Santa Rita); e, um dos ramos paternos vai às regiões do brejo e da mata paraibana (Caiçara, Guarabira, Riachão, Serra da Raiz). As incursões no tempo e no espaço revelaram camadas de história e ascendências invisíveis. Nessas camadas conjuga-se a dimensão macro de uma porção do litoral paraibano marcado pela economia dos engenhos de açúcar, suas instituições e a trajetória de pessoas e famílias em suas trajetórias de migração, aliança e pouso. O movimento ascendente na pesquisa sobre os antepassados mostra que a genealogia conjuga sempre um volume muito grande de pessoas e grupos pelos quais cada um é sempre e inevitavelmente atravessado. Junto a esses dados, mostram-se relevantes, para o estudo antropológico, as amnésias genealógicas que indisponibilizam memórias sobre parentes, tempos e lugares. Partindo, portanto, da ideação que os documentos desta pesquisa permitem, diante das ausências e dos esquecimentos, busco uma escrita afetiva sobre as vidas de parentes incógnitos ou pouco conhecidos. Uma autossociobiografia irá, portanto, em direção à uma etnografia da lembrança e do lembrar.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Retomada da imagem: Poéticas e políticas de uma arqueologia visual indígena
Leonardo Nascimento da Silva (UFRJ)
Resumo: “O que falaram de nós? O que falamos por nós? Que imagens de nós? Essas são questões presentes em uma das telas expostas em Retomada da imagem“, projeto de pesquisa, documentação e criação artística realizado pelo Museu Paranaense, entre junho de 2021 e janeiro de 2022. Com coordenação dos artistas indígenas Denilson Baniwa e Gustavo Caboco, a mostra surgiu da vontade do museu de revisar seu próprio acervo etnográfico. Assim, ao empregar a ideia de retomada" como uma importante metodologia de trabalho, esta pesquisa busca compreender a produção de sentido por meio das imagens, uma vez que as artes visuais são, atualmente, ferramentas fundamentais para os indígenas expressarem suas demandas por terra, território e bem viver; e, sobretudo, para demarcarem subjetividades e concepções políticas contra o Estado e contra toda forma de monocultura. Nos últimos anos, a ideia de "retomada dos arquivos — no sentido polissêmico de ambos os termos — tem-me inspirado como uma importante metodologia de trabalho para refletir sobre a produção de artistas e coletivos indígenas. Penso, por exemplo, na retomada da antropofagia por Denilson Baniwa; na volta do manto tupinambá, peça sagrada cuja produção foi retomada por Glicéria Tupinambá após um sonho; em "Uýra — A retomada da floresta" (2022), documentário que retrata a história da artista que viaja pela Amazônia para ensinar aos jovens indígenas que eles são os guardiões das mensagens ancestrais; no chamado de retorno à terra de Gustavo Caboco, que alia sua produção estética ao processo de retomada de suas raízes indígenas; ou ainda na retomada do espaço público por Xadalu Tupã Jekupé, que por meio da arte urbana atua contra o apagamento das culturas indígenas nas cidades. Se os povos tradicionais têm proposto a constituição de alianças que nos ajudem a sair do estado trágico em que nos encontramos, pretendo, a partir do acompanhamento da trajetória de artistas indígenas, assim como da pesquisa em museus de arte e ciência, refletir sobre as noções de imagem e imaginário enquanto formas de conhecimento capazes de contribuir para a elaboração de uma nova imaginação antropológica.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Fotografando com Pescadores/as Artesanais: Limites e Possibilidades do Emprego de Metodologias Participativas e Curadoria Coletiva na Construção de Livro de Fotografias do PEA Pescarte
Lilian Sagio Cezar (UENF)
Resumo: A pesca artesanal historicamente constitui sustentáculo alimentar que permitiu a expansão dos núcleos urbanos no Brasil, apesar da pouca visibilidade destas populações e desrespeito aos seus específicos modos de vida que estão sendo cada vez mais pressionados pela expansão da indústria pesqueira e também pela indústria do petróleo e gás no litoral, em especial, no estado do Rio de Janeiro. Esta apresentação descreve e analisa os limites e possibilidades do exercício de co-criação, construção e produção do livro de fotografias em comemoração aos 10 anos do Projeto de Educação Ambiental (PEA) Pescarte que tem como objetivo representar e dar visibilidade ao protagonismo de pescadores e pescadoras artesanais e seu empoderamento na Bacia de Campos, RJ, por meio da organização e participação comunitária nas ações políticas e econômicas estimuladas a partir dos processos de educação ambiental crítica deste PEA. Este artigo é resultado de pesquisa do Projeto de Educação Ambiental (PEA) Pescarte, que é uma medida de mitigação ambiental exigida pelo licenciamento ambiental federal, conduzida pelo IBAMA. A realização deste livro de fotografias é metodologicamente sustentada em proposta da construção coletiva de caráter educativo, crítico, festivo e integrador e propôs a realização de 2 Oficinas Temáticas de Fotografias que abordaram e propuseram a construção de narrativas visuais sobre: 1.Artes e Ofícios da Pesca Artesanal; 2. Discussão dos Resultados do Diagnóstico Participativo sobre os conflitos ambientais e efeitos diretos e difusos da indústria do petróleo e gás nos municípios atendidos por este PEA. A realização das 2 Oficinas aconteceu no segundo semestre de 2023 com pescadores/as artesanais dos municípios de São Francisco de Itabapoana, São João da Barra, Campos dos Goytacazes, Quissamã, Carapebus, Macaé, Rio das Ostras, Armação dos Búzios, Cabo Frio e Arraial do Cabo, seguida da discussão das fotos e curadoria coletiva das mesmas. Assim se buscou tematizar e selecionar materiais produzidos nas oficinas enquanto síntese do trabalho longevo amparado por pesquisas no campo da Antropologia Visual articuladas à processos de comunicação comunitária e educação popular, pautadas pela educação ambiental crítica, discussões e diálogos junto às comunidades tradicionais da pesca artesanal nos 10 municípios atendidos por este PEA. Propomos que a produção e lançamento de livro de fotografias em comemoração aos 10 anos do PEA Pescarte também constitua um poderoso instrumento de mobilização e visibilização das investigações e discussões sobre a pesca artesanal, seus protagonistas, os conflitos ambientais que lhes atingem e os processos de resistência, mobilização e participação social que estão sendo empreendidos por estes.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Caminhos e Vivências Compartilhadas Alargando sentidos e sensibilidades entre mulheres labregas na Galiza (Espanha)
Lucybeth Camargo de Arruda (UFOPA)
Resumo: Resumo Esta comunicação é fruto de uma pesquisa no acervo de imagens do Museo Etnolóxico de Ribadavia com o tema mulheres labregas e/ou mulheres que vivem ou viveram no Rural”. As fotografias que encontrei estão num recorte temporal do final da década de 1940 a 1995 e numa espacialidade que é a Galiza (Espanha). O trabalho envolve uma reflexão teórica-metodológica tendo os referenciais das antropologias visual, rural e histórica para construir um diálogo entre antropologia, história, fotografia e gênero. É importante dizer que concebo as imagens fotográficas como imagens etnográficas que alargam sentidos e sensibilidades com interpretações que desdobram e/ou complementam situações e contextos. Após a seleção das imagens, lancei mão dos olhares de mulheres que, atualmente, se autodenominam labregas de várias idades e de lugares diferentes da Galiza, para juntas, olharmos para as fotografias e, daí, caminhar sobre os elementos presentes nos enquadramentos que fizessem sentidos para elas, fazendo-as falar e conectando com suas vivências, alimentando imaginários e as ligando com um passado de relações de pessoas e coisas. O exercício se mostrou produtivo. Vários elementos se colocaram como pontos ativos de reconhecimentos, oferecendo em termos de apreensão e de compreensão das memórias dessas mulheres, um diálogo da rede de relações (não somente de signos como também de significados). Palavras-chave: Fotografias; Mulheres Labregas; Memórias

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Imagens rasgadas e estilhaços de memórias
Rodrigo Frare Baroni (Unicamp)
Resumo: O que se pretende apresentar nessa ocasião é um pequeno experimento fabulatório a partir de um desconexo material fotográfico. Esse exercício começa a partir do encontro, em um arquivo de fotografias-órfãs (ACHO - Arquivo Coleções de Histórias Ordniárias), com uma caixa de fotografias rasgadas. Se como já afirmara vários autores, as pessoas relutam em rasgar as fotografias de seus entes queridos por sentirem que estas os corporificam (Sontag, 2004; Mitchell, 2017), a presença desses fragmentos torna-se no mínimo tão inquietante quanto o gesto de recolhe-los. Tomando esses fragmentos como uma espécie de "sintoma" (Didi-Huberman, 2013) através da qual o arquivo se exprime procuramos realizar aqui uma montagem não no sentido de restaura-los ao que um dia poderiam ter sido, mas procurar traçar variações e recorrências desses gestos em diferentes planos.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Retratos (Mal)Ditos e a (Des)Educação de Subjetividades Negras na Escola
Samara Almeida Lima Santos (UFRB), Osmundo Santos de Araújo Pinho (UFRB)
Resumo: Este trabalho, desenvolvido por meio de Bolsa PIBIC está associado ao projeto de pesquisa do orientador, Imagem, História e Cidade: Interpelando Narrativas Visuais no Recôncavo da Bahia desenvolvido na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) com apoio de bolsa de Produtividade Pesquisa. É, ainda, uma extensão das análises e estudos de temáticas desenvolvidas pelo grupo de pesquisa Territorialidade, Patrimônio e Violência no Recôncavo da Bahia com vistas a realização de trabalho de conclusão de curso. Realizado no colégio Estadual da Cachoeira com duas turmas do EJA (Educação de Jovens e Adultos) foram desenvolvidas oito oficinas de rima, de análise de imagens e iconografias, de colagens de imagens e de produção audiovisual. Através das produções crítico-criativas dos estudantes, buscou-se compreender etnograficamente e através da formação e revisão crítica de arquivos visuais - de que modo os estudantes participantes do projeto representam para si de modos críticos e vernáculos os estigmas e estereótipos forjados sobre as subjetividades negras. Bem como, sobre a cachoeira negra e como foram educados, ou melhor (des)educados a admirar o que é branco e a rejeitar o que é negro. O projeto surge, a partir de uma primeira hipótese, a de que os retratos e imagens de subjetividades negras são forjados em um pensamento sócio-racial aprisionado na escravização e violência. A segunda, diz respeito a Cachoeira negra que parece estar fixada e ficcionalizada no período colonial, atrasada e não-moderna. E a terceira de uma cultura negra que é vendida à espetacularização, mas, quando vivida é atravessada por um contexto macro de antinegritude. Estas suposições parecem criar um arquivo imagético, desdobrado como uma narrativa que cristaliza sujeitas/os negras no pós-vida da escravidão; e uma Cachoeira que, assim como suas subjetividades negras, está impossibilitada de modernizar-se. Para mais, rememora em seu cotidiano e em sua arquitetura as feridas da colonização, talvez não para reprimir o passado, mas para lembrá-los de sua eterna condição. O projeto se debruça, portanto, em uma crítica às imagens pintadas por viajantes, como Debret e Rugendas, a teóricos racialistas que forjaram os retratos (mal)ditos, a exemplo de Nina Rodrigues e a intérpretes de um fictício Brasil como o Gilberto Freyre. Ao reunir como referências as releituras dos artistas Gê Viana, Harmonia Rosales e Uendel Nunes, ampliou-se, deste modo, o repertório discursivo dos estudantes negros ao criar, ou melhor, (re)criar, de forma autônoma, narrativas e imagens sobre si e a história do seu povo.