ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 066: Imagens emergentes: antropologia e (re)montagens de arquivos audio-visuais
Nomear os mortos, reverenciar os antigos: cocriações audiovisuais na Plataforma Projeto Curas
Este trabalho busca apresentar a plataforma Projeto Curas (www.projetocuras.com.br), abordando nossa atuação coletiva e também nossos materiais produzidos, com foco no último projeto audiovisual que está em fase de execução pela Lei Paulo Gustavo. O Projeto Curas no qual faço parte desde sua criação, em 2019, foi vencedor selecionado pelo IPHAN na Premiação Rodrigo Melo Franco de Andrade - Edição 2023, e entende-se enquanto uma rede comunitária de cocriação sediada no Terreiro de Umbanda Coboclo Pedra Branca, na cidade de Poços de Caldas, localizado no Sul de Minas Gerais e chefiado por Mãe Ana de Iansã. Nos definimos enquanto uma pesquisa progressiva em cocriação que registra e compartilha experiências e dimensões sagradas da vida e da gestão comunitária da saúde em nosso territórios. Curas é um projeto audiovisual de arquivamento dos percursos espirituais e das relações de afeto, cuidado, política e memória em outras formas de rezar no Sul de Minas Gerais, e também uma iniciativa de reconstrução e circulação de acervos familiares, comunitários e individuais. Além de tudo que já foi construído na plataforma, atualmente trabalhamos na confecção de um documentário que tem como objetivo primordial registrar as narrativas antepassadas de pessoas africanas que habitavam nossa região de origem (Poços de Caldas/ Caldas - que até 1888 eram um território só, como constam nossas pesquisas e documentações) entre os períodos do século XVIII e XIX principalmente, a partir de narrativas familiares e também de documentações coloniais que encontramos no Sul de Minas Gerais, e então abordar a relação da população local e também de nossa Mãe de Santo com os antepassados que aqui viveram e com suas trajetórias. Nomear, evocar e reverenciar os mortos para nós, a partir deste filme, trata-se de um exercício de restituição, de fabulação e de cocriação. E também de uma contranarrativa diante dos projetos de apagamento e branqueamento vivenciados pela região em que nascemos e vivemos. Em relação ao trabalho etnográfico e os exercícios de investigação, entendemos nossos movimentos coletivos e comunitários articulados enquanto trabalho de campo, ancorados no registro das memórias pessoais e no levantamento da documentação colonial esta segunda com o intuito de questionar suas lacunas, estereótipos e violência. Nosso trabalho através das imagens (antigas e atuais) articula-se com o objetivo de reimaginar o passado e trazer novas perspectivas para um território que sempre esteve povoado por tais antepassados africanos (os "antigos") e muito seres sagrados que nos guardam e cuidam.