Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 066: Imagens emergentes: antropologia e (re)montagens de arquivos audio-visuais
Visualidades performativas pós-humanistas de um arquivo de cariri
Desejo debater questões que sobressaem de composições arquivísticas com as quais proponho realizar minha
pesquisa de doutorado. A pesquisa, situada nos domínios da antropologia visual, da performance, da memória,
é praticada em correspondência com artes, artistas e outros viventes que habitam o Cariri-Ce, com atenção
aos fenômenos, às relações, às performances que contribuem para particularizar e corporificar conceitos como
"arte" e "memória".
Na pesquisa atual, manipulo um conjunto de registros que produzi para uma pesquisa de doutorado anterior que
não materializou tese, acolhendo-os como campo empírico. Ou seja, entendo que na pesquisa atual a frequência
ao Cariri se dará também por modos arquivísticos: meus cadernos de campo da primeira pesquisa; os textos
elaborados para a tese que não vingou; e os registros de diferentes natureza (fotografias, vídeos, áudios,
xilogravuras). Para isso, proponho pensá-los e vivê-los hoje como arquivos, pressupondo tanto o jogo de
relações que esse enquadramento suscita, quanto o decurso de tempo que abrange. Interessam-me os repertórios
(Schechner, 2013, p.2), compreendidos tanto como o conjunto de conhecimentos que o arquivo detém, quanto
como o conjunto de seus desempenhos em ação, afetados que são, permanentemente, por aquilo que fizeram
anteriormente e que fazem em articulação no agora. Ou seja, aquilo que as pessoas fazem na atividade de
fazê-lo, acionando tanto o que já fizeram como o que inventam no próprio curso do fazer(-se).
No que tange aos registros visuais, exercito vê-los como performatividades, acolhendo os desafios de:
DIDI-HUBERMAN (2017), que nos propõe olhar as imagens com atenção às temporalidades difusas que carregam e
suscitam (sobrevivências, anacronismos); de Donna Haraway (2023), para entendê-las como parte das
compostagens que somos-formamos; e de Karen Barad (2017) que em sua abordagem materialista pós-humanista de
performatividade questiona a supremacia representacionista das palavras na representação de coisas
preexistentes (Barad, 2017, p. 9), diluindo a distinção ontológica entre as representações e aquilo que elas
pretendem representar.
Sobretudo, busco entender as fronteiras e propriedades dessas existências materiais e conceitos como
determinações ou corporificações das intra-ações agenciais específicas, não como relata preexistentes
(BARAD, 2017, p. 20).
BARAD, K.. Performatividade pós-humanista: para entender como a matéria chega à matéria. [S. l.], v. 01, n.
01, p. 29, 2017.
DIDI-HUBERMAN, G.. A inelutável cisão do ver. In: DIDI-HUBERMAN, G.. O que vemos, o que nos olha. São Paulo:
Editora 34, 2010.
SCHECHNER, R.. Performance Studies: An Introduction. London ; New York: Routledge, 2020.
HARAWAY, D.. Ficar com o problema: fazer parentes no chthluceno. São Paulo: N-1, 2023.