Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 066: Imagens emergentes: antropologia e (re)montagens de arquivos audio-visuais
Ruídos estéticos e proposições ressurgentes nas memórias audiovisuais do batuque afrobrasileiro de
Nelson Silva
Após realizar filmagens com o grupo musical batuque afrobrasileiro de Nelson Silva em 2016 e
reencontrá-las no processo de montagem fílmica em 2024, compreendemos estas imagens como arquivos e muitas
vezes lacunas, ruídos e interrogações que nos instigam na compreensão do que representa o grupo
artístico-cultural que é patrimônio imaterial de Juiz de Fora (MG). Essa imaterialidade se reconfigura no
tempo presente, ecoando vozes, presenças e cantos afromineiros em territórios políticos, estéticos e
artísticos de Juiz de Fora (MG).
Cabe pensar também nas conflitantes narrativas orais e visuais, na ausência de registros historiográficos do
grupo, além dos processos de espaços-tempos circulares como formas de construção narrativa dos procedimentos
estéticos de montagem na antropologia visual. Assim, propõe-se narrar a partir daquilo que escapa, daquilo
que instiga ao pensamento e questiona as memórias fragmentadas, ruidosas e em suma contraditórias, da falta
mesmo das imagens, da construção cinematográfica como um organismo vivo de memórias coletivas amalgamadas em
diferentes espaços-tempo. Outrossim, promos o cinema como imagem ressurgente que instigue pensamentos sobre
diferentes temporalidades e camadas de memórias dos(as) batuqueiros(as), no que tange às suas trajetórias de
vida pessoais e coletivas, além das músicas do grupo e seus atravessamentos subjetivos com as mesmas. No
processo de montagem do filme Batuque:(en)cantos de lutas, busca-se "pensar cada imagem em relação a todas
as outras, e de que esse próprio pensamento faça surgirem outras imagens, outras relações e outros
problemas" (WARBURG apud DIDI-HUBERMAN, 2013, p. 423).
Existem três lados de cada história: o seu lado, o meu lado e a verdade. E nenhum de nós está mentindo.
Memórias compartilhadas servem a cada um de forma diferente (Robert Evans). Assim, a realização deste
documentário busca suscitar outras grafias sobre o processo de investigação da história e memória do grupo,
propondo camadas de imagens ao longo do processo de criação do filme, relações mediadas por imagens, desde a
exibição de um material gravado na década de 90 sobre o grupo, passando pela exposição Retratos da
Resistência, com fotografias que realizamos dos(as) batuqueiros(as) para a elaboração do projeto do filme e
as trocas de imagens no decorrer das gravações. Ademais, propomos tecer um pensamento sobre a imagem a
partir de territórios vivos dos imaginários construídos sobre o batuque, sobre seu fundador Nelson Silva e
sobre suas músicas.