Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 066: Imagens emergentes: antropologia e (re)montagens de arquivos audio-visuais
Retratos (Mal)Ditos e a (Des)Educação de Subjetividades Negras na Escola
Este trabalho, desenvolvido por meio de Bolsa PIBIC está associado ao projeto de pesquisa do orientador,
Imagem, História e Cidade: Interpelando Narrativas Visuais no Recôncavo da Bahia desenvolvido na
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) com apoio de bolsa de Produtividade Pesquisa. É, ainda,
uma extensão das análises e estudos de temáticas desenvolvidas pelo grupo de pesquisa Territorialidade,
Patrimônio e Violência no Recôncavo da Bahia com vistas a realização de trabalho de conclusão de curso.
Realizado no colégio Estadual da Cachoeira com duas turmas do EJA (Educação de Jovens e Adultos) foram
desenvolvidas oito oficinas de rima, de análise de imagens e iconografias, de colagens de imagens e de
produção audiovisual. Através das produções crítico-criativas dos estudantes, buscou-se compreender
etnograficamente e através da formação e revisão crítica de arquivos visuais - de que modo os estudantes
participantes do projeto representam para si de modos críticos e vernáculos os estigmas e estereótipos
forjados sobre as subjetividades negras. Bem como, sobre a cachoeira negra e como foram educados, ou melhor
(des)educados a admirar o que é branco e a rejeitar o que é negro. O projeto surge, a partir de uma primeira
hipótese, a de que os retratos e imagens de subjetividades negras são forjados em um pensamento sócio-racial
aprisionado na escravização e violência. A segunda, diz respeito a Cachoeira negra que parece estar fixada e
ficcionalizada no período colonial, atrasada e não-moderna. E a terceira de uma cultura negra que é vendida
à espetacularização, mas, quando vivida é atravessada por um contexto macro de antinegritude. Estas
suposições parecem criar um arquivo imagético, desdobrado como uma narrativa que cristaliza sujeitas/os
negras no pós-vida da escravidão; e uma Cachoeira que, assim como suas subjetividades negras, está
impossibilitada de modernizar-se. Para mais, rememora em seu cotidiano e em sua arquitetura as feridas da
colonização, talvez não para reprimir o passado, mas para lembrá-los de sua eterna condição. O projeto se
debruça, portanto, em uma crítica às imagens pintadas por viajantes, como Debret e Rugendas, a teóricos
racialistas que forjaram os retratos (mal)ditos, a exemplo de Nina Rodrigues e a intérpretes de um fictício
Brasil como o Gilberto Freyre. Ao reunir como referências as releituras dos artistas Gê Viana, Harmonia
Rosales e Uendel Nunes, ampliou-se, deste modo, o repertório discursivo dos estudantes negros ao criar, ou
melhor, (re)criar, de forma autônoma, narrativas e imagens sobre si e a história do seu povo.