ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 066: Imagens emergentes: antropologia e (re)montagens de arquivos audio-visuais
Retomada da imagem: Poéticas e políticas de uma arqueologia visual indígena
“O que falaram de nós? O que falamos por nós? Que imagens de nós? Essas são questões presentes em uma das telas expostas em Retomada da imagem“, projeto de pesquisa, documentação e criação artística realizado pelo Museu Paranaense, entre junho de 2021 e janeiro de 2022. Com coordenação dos artistas indígenas Denilson Baniwa e Gustavo Caboco, a mostra surgiu da vontade do museu de revisar seu próprio acervo etnográfico. Assim, ao empregar a ideia de retomada" como uma importante metodologia de trabalho, esta pesquisa busca compreender a produção de sentido por meio das imagens, uma vez que as artes visuais são, atualmente, ferramentas fundamentais para os indígenas expressarem suas demandas por terra, território e bem viver; e, sobretudo, para demarcarem subjetividades e concepções políticas contra o Estado e contra toda forma de monocultura. Nos últimos anos, a ideia de "retomada dos arquivos — no sentido polissêmico de ambos os termos — tem-me inspirado como uma importante metodologia de trabalho para refletir sobre a produção de artistas e coletivos indígenas. Penso, por exemplo, na retomada da antropofagia por Denilson Baniwa; na volta do manto tupinambá, peça sagrada cuja produção foi retomada por Glicéria Tupinambá após um sonho; em "Uýra — A retomada da floresta" (2022), documentário que retrata a história da artista que viaja pela Amazônia para ensinar aos jovens indígenas que eles são os guardiões das mensagens ancestrais; no chamado de retorno à terra de Gustavo Caboco, que alia sua produção estética ao processo de retomada de suas raízes indígenas; ou ainda na retomada do espaço público por Xadalu Tupã Jekupé, que por meio da arte urbana atua contra o apagamento das culturas indígenas nas cidades. Se os povos tradicionais têm proposto a constituição de alianças que nos ajudem a sair do estado trágico em que nos encontramos, pretendo, a partir do acompanhamento da trajetória de artistas indígenas, assim como da pesquisa em museus de arte e ciência, refletir sobre as noções de imagem e imaginário enquanto formas de conhecimento capazes de contribuir para a elaboração de uma nova imaginação antropológica.