Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 066: Imagens emergentes: antropologia e (re)montagens de arquivos audio-visuais
A imagem como um dispositivo mnemônico: processos de recepção, restituição e devolução de um acervo
imagético de atingidos por barragem na Paraíba.
Esse trabalho decorre dos resultados obtidos por meio de um projeto extensionista de Antropologia Visual
realizado na Universidade Federal da Paraíba, bem como a pesquisa empenhada por mim para o trabalho de
conclusão de curso (TCC) em antropologia entre os anos de 2020 a 2023, ambos orientados pela professora Lara
Amorim (UFPB). A partir disso, foi realizado o processo de organização de um acervo fotográfico sobre a
experiência de atingidos por barragem na Paraíba, a partir do qual foi possível catalogar quatro coleções
fotográficas de maneira colaborativa. Trata-se de ação etnográfica realizada com moradores das comunidades
do Cajá e Pedro Velho, localizadas respectivamente nos municípios de Itatuba e Aroeiras, no estado da
Paraíba, bem como com o Movimento de Atingidos por Barragem na Paraíba (MAB-PB). A dinâmica proposta a
partir do projeto extensionista fez com que se construísse em torno de cada fotografia da coleção, uma rede
de memórias, revelando uma experiência da memória coletiva comum entre os atingidos por barragens. Portanto,
o sentido que se articula sobre a fotografia vai além de identificar um lugar físico, geográfico que foi
atingido pela barragem, mas desencadeando um processo mnemônico afetivo e familiar, que interessa a
elas/eles responderem: Quem são as pessoas que aparecem nas fotografias? De quem elas eram tias, sobrinhas,
netas, filhas? De quem eram essas casas? De quem era o filho do dono dessa casa? Deste modo, partindo de uma
proposta metodológica da antropologia visual, busca-se refletir como a imagem é articulada enquanto forma de
mobilização social e política de memória, envolvendo práticas de restituição e devolução de fotografias em
diferentes suportes (banners, hipermidia, instagram) para as comunidades atingidas e os movimentos sociais.
E considerar também as dinâmicas mnemônicas afetivas, ou seja, como essas imagens são tomadas enquanto forma
de representação do grupo coletivo, suas redes de parentesco, práticas tradicionais e experiências
compartilhadas. Assim, este trabalho revela a importância de pensar a etnografia como um lugar sensível para
refletir sobre a imagem fotográfica, entendendo-a não como artefato isolado em si mesmo, mas como um
dispositivo que carrega em si a expressão de memórias coletivas que envolvem afetos e experiências
compartilhadas.
Palavras-chave: Acervos e coleções imagéticas; comunidade de atingidos por barragem; memória coletiva.