Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 066: Imagens emergentes: antropologia e (re)montagens de arquivos audio-visuais
Um devir negro nas imagens: formas de praticar acervos fotográficos afro-atlânticos
Partindo da noção de comunidade visível (Kardozo, 2021), um conjunto heterogêneo que dá a ver e se faz
ver através de imagens em um território, investiga-se formas de praticar acervos fotográficos
afro-atlânticos - familiares e comunitários. A pesquisa parte do pressuposto que há um devir negro nas
imagens e álbuns de famílias brasileiras e em sua forma de se relacionar com eles. O uso do termo se refere
ao devir-negro do mundo de Mbembe (2014). Com isso, observa-se como os trabalhos da memória (BOSI, 1994) de
narradores das esquinas do Poço da Draga em Fortaleza, Ceará, têm a oralidade de suas histórias ativadas
pela prática de suas imagens, assim como pela resistência à necropolítica (Mbembe,2018) operada contra as
vizinhanças negras no Brasil. Se na tese Comunidade Visível nos concentramos na particularidade desses
narradores do litoral cearense, neste trabalho buscamos contextualizar o caso do acervo Poço 115 entre
outras experiências brasileiras como o Museu da Maré (RJ), Retratistas do Morro (MG), Arquivo Zumvi (Ba) em
estados de maior ou menor formalização que permitam elencar estratégias e formas de partilha dessas
coletâneas de fotografias e narrativas que reagem contra o apagamento colonial ao mesmo tempo em que atestam
a pluralidade de vozes dissonantes à história oficial. Pensando em como a agência da ausência de imagens e
coleções opera no imaginário das famílias e acervos brasileiros, a pesquisa dialoga com a obra de artistas
como Aline Motta (Pontes sobre abismos, 2018), Safira Moreira (Travessia, 2017) e também com o ACHO -
Arquivo Coleções de Histórias Ordinárias idealizado por Estefânia Gavina e Fabiana Bruno em 2014 - sem
deixar de mencionar experiências indígenas no nordeste do país. Deste modo, esse trabalho se pergunta que
micropolíticas orientam maneiras de tornar visíveis arquivos de coisas e histórias que não costumam ser
encontradas nos catálogos dos museus e instituições oficiais de preservação do patrimônio nacional. Este
pequeno esforço também esboça um minimanual de acervos fotográficos afro-atlânticos.
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