Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 066: Imagens emergentes: antropologia e (re)montagens de arquivos audio-visuais
Remontando a história: de uma genealogia das ausências à uma etnografia da lembrança.
O presente trabalho tem como objetivo apresentar uma reflexão a partir da pesquisa etnográfica iniciada
em 2019 que, iniciando por um exercício genealógico, buscou realizar inferências históricas e
antropológicas. Partindo de uma história oral das ausências ou da escassez das memórias, busquei
reconstituir aquilo que, na memória dos vivos, havia sido desconhecido ou esquecido. Utilizei como fonte
documentos religiosos e civis, e jornais antigos disponíveis nas plataformas digitais. Utilizei também a
bibliografia genealógica e livros de memorialistas. A historiografia, portanto, ocupou lugar significativo
na compreensão dos processos subjacentes às trajetórias das pessoas que compõem essa pesquisa. Partindo,
portanto, da minha posição numa estrutura de parentesco, avancei até seis gerações, aproximadamente aos fins
da primeira metade do século XIX. Duas ramificações remetem ao estado da Paraíba: um dos ramos maternos vai
ao litoral paraibano, mais especificamente à ribeira e à várzea do Rio Paraíba (Cabedelo, Forte Velho, Santa
Rita); e, um dos ramos paternos vai às regiões do brejo e da mata paraibana (Caiçara, Guarabira, Riachão,
Serra da Raiz). As incursões no tempo e no espaço revelaram camadas de história e ascendências invisíveis.
Nessas camadas conjuga-se a dimensão macro de uma porção do litoral paraibano marcado pela economia dos
engenhos de açúcar, suas instituições e a trajetória de pessoas e famílias em suas trajetórias de migração,
aliança e pouso. O movimento ascendente na pesquisa sobre os antepassados mostra que a genealogia conjuga
sempre um volume muito grande de pessoas e grupos pelos quais cada um é sempre e inevitavelmente
atravessado. Junto a esses dados, mostram-se relevantes, para o estudo antropológico, as amnésias
genealógicas que indisponibilizam memórias sobre parentes, tempos e lugares. Partindo, portanto, da ideação
que os documentos desta pesquisa permitem, diante das ausências e dos esquecimentos, busco uma escrita
afetiva sobre as vidas de parentes incógnitos ou pouco conhecidos. Uma autossociobiografia irá, portanto, em
direção à uma etnografia da lembrança e do lembrar.