Grupos de Trabalho (GT)
GT 085: Pesquisas sobre infâncias a partir das cosmologias tradicionais
Coordenação
Emilene Leite de Sousa (UFMA), Maria do Socorro Rayol Amoras (UFPA)
Resumo:
Em continuidade às edições anteriores, o GT agregará pesquisadores da Antropologia da Criança e áreas afins. Nesta edição reuniremos investigações realizadas com crianças a partir de cosmovisões tradicionais, tomando-as como sujeitos, privilegiando perspectivas críticas e decoloniais, que apontem saídas para o caos social e o neoliberalismo. Pesquisas situadas na virada ontológica da disciplina, atentas aos impactos do homem sobre o planeta e as relações das crianças com o ambiente, território, animais, o não-material, o sobrenatural, o não-humano e os encantados serão bem-vindas. A multiplicidade das infâncias, enquanto categoria estrutural dentro do ciclo geracional, através das experiências de povos tradicionais em terras indígenas, quilombos, sítios, florestas, reservas extrativistas, às margens de rios, APAS e até mesmo no contexto urbano, estará presente. Na interface com temas caros à antropologia - subjetividades, parentesco, cuidado, territorialidades, aprendizagens, etnicidades, religiões, turismo, meio ambiente, políticas públicas, etc – os trabalhos apresentarão soluções propostas pelos povos originários, tradicionais e ancestrais. Buscamos trabalhos que tensionem as intersecções promotoras de desigualdades (intergeracionais, etárias, raciais, classistas, de gênero e sexualidade, moradia), que desterritorializam os corpos-territórios da infância e agravam-se na contemporaneidade com crises políticas e climáticas, ameaçando a r-existência de seus grupos.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Adrea Simone Canto Lopes (Semec), Pamela Zatrepalek de Almeida (UNAMA)
Resumo: O trabalho trata das questões relacionadas as crianças e as infâncias da ilha de Cotijuba, no sentido de
fortalecer o protagonismo delas nas pesquisas e estudos, especialmente na Amazônia; bem como, estimular um
olhar diferenciado sobre as infâncias; visto que está precisa ser compreendida como uma categoria
socialmente construída, com especificidades e contextos diferenciados. O objetivo é apresentar, por meio dos
desenhos, falas e textos as impressões que as crianças têm sobre suas vivências na Ilha de Cotijuba,
território insular de Belém do Pará. O desenho é uma forma de linguagem e pode ser utilizado como
instrumento metodológico para conhecer a realidade das infâncias e das crianças. O contexto da pesquisa
aconteceu nas instituições de ensino e comunidades, envolvendo professores e crianças, com ênfase no
contexto social e cultural em que as crianças vivem. As informações acerca da vida das crianças de Cotijuba
revelam as construções que elas fazem do lugar onde moram. Além disso, apresentam as dificuldades
enfrentadas no dia a dia, seja na escola ou no cotidiano de suas vivências.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Ana Luiza Sousa Romeiro (UFMA), Benedito Souza Filho (UFMA)
Resumo: Antes da criação do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses (PNLM) em 1981, essa grande região já
abrigava famílias que historicamente vivem e trabalham em diferentes localidades, cujo modo de vida se
consolidou a partir de saberes específicos e formas particulares de interação entre humanos e natureza.
Atualmente, em um movimento de produção desse lugar-território como um local de destinação turística, os
espaços naturais utilizados tradicionalmente pelas famílias têm sido apropriados por agentes políticos e
econômicos e transformados em mercadorias destinadas à contemplação de turistas. Levando em consideração as
intervenções do Estado, por meio dos agentes do órgão ambiental (ICMBio), a ação de agentes políticos e
econômicos do ramo turístico e as transformações na vida social provocadas pelo incremento do turismo nessa
região, o presente trabalho tem como objetivo principal refletir sobre o papel das crianças nos arranjos
familiares para assegurar a reprodução social e material das famílias de Atins, uma comunidade tradicional
de pescadores e marisqueiras, convertida em dos principais destinos de turistas que visitam o PNLM. Ao
considerar tais arranjos como estratégias familiares para obter renda complementar às atividades
tradicionalmente realizadas, o trabalho procura entender também a agência de crianças como parte das formas
de resistência cotidiana das famílias para permanecer nos seus lugares de residência e trabalho.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Ana Sílvia Oliveira Marques (UFMA)
Resumo: As crianças são parte fundamental da comunidade religiosa umbandista, contribuindo para a conservação e
sobrevivência da religião. O processo de ensino-aprendizagem dentro do terreiro tem como principal
característica a oralidade. O espaço reservado para elas em cada terreiro atravessa o discernimento do pai
ou mãe de santo responsável pela casa em razão do compromisso assumido por este de zelar pela integridade
física, moral e espiritual de seus filhos de santo. Esta pesquisa fez-se significativa por dialogar com a
diversidade de perspectivas acerca da infância dentro das religiões afro-brasileiras tomando por base o
Terreiro de Santana em Imperatriz no Maranhão, que recebe crianças em seus ritos, porém não realiza ritos de
desenvolvimento mediúnico até a sua maioridade. Trata-se de uma etnografia, que fez uso da observação direta
e participante em cerimônias e reuniões abertas e privadas no terreiro. No cotidiano do terreiro, as
crianças estão presentes em todos os espaços, brincando, dançando, circulando pelo salão e convivendo com
tranquilidade com as entidades incorporadas aos médiuns. A iniciação de crianças nos terreiros não ocorre
separadamente do espaço adulto e garante a integridade física e espiritual, bem como o compromisso com os
preceitos e responsabilidades que o desenvolvimento espiritual e cotidiano religioso demandam.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
André Filipe Justino de Morais (UFMT)
Resumo: O presente trabalho é um desdobramento de minha tese de doutorado em Antropologia Social (A esperança do
amanhã: cuidados, carinhos e castigos em uma etnografia com crianças cabo-verdianas) elaborada a partir de
uma pesquisa etnográfica realizada em Praia, capital de Cabo Verde, entre 2019 e 2020. O locus privilegiado
da pesquisa foi um bairro periférico da capital que cresce a partir de fluxos entre as diversas ilhas do
arquipélago, por um lado, e recebendo imigrantes da costa ocidental do continente africano, por outro. O
bairro constitui-se assim a partir de distâncias entre as pessoas e sua rede de relações originária, abrindo
espaço para e criando a necessidade de estabelecer uma nova rede onde a solidariedade é um valor a ser
cultivado.
O objetivo principal desta comunicação é explorar de quais formas as crianças contribuem para a elaboração
dessas redes ocupando os diversos espaços que compõem seu mundo social. Parto de dois espaços
materializados, a casa e a rua, e aciono um terceiro, o imaginário, para mostrar como o mundo da criança vai
paulatinamente se expandindo enquanto elas fazem relações e envelhecem no seio da comunidade mais ampla.
Como pano de fundo desta análise considero uma característica bastante marcante da população do bairro
etnográfico (e da população cabo-verdiana de modo geral), a saber, a circulação.
A circulação de crianças, seja de modo mais definitivo através de práticas de fostering, seja de forma
cotidiana, como nos trajetos entre casa e escola, por exemplo, é fundamental na manutenção de redes sociais
de apoio e solidariedade, mas também opera no sentido de construção e expansão do mundo que elas elaboram
para si. Por meio do mandado (categoria local que pode ser grosseiramente traduzida como um favor que se
presta a alguém e que no meio infantil é fonte de prestígio), por exemplo, as crianças se inserem na lógica
adulta de gerência da vida cotidiana e ocupam a rua interligando lares. Em casa, elas compõem as práticas de
cuidado que fluem em múltiplos sentidos, isto é, passam a cuidar tanto quanto são cuidadas (espera-se que
façam isso), apropriando-se do espaço e contribuindo para sua construção. E, por fim, a dimensão imaginária
de suas andanças (que envolve lendas urbanas, mitos, figuras caricatas do cotidiano e um exercício de
visualização no qual as crianças conhecem terras distantes e desvendam mistérios) constrói uma geografia
subjetiva do bairro, onde forma e fronteira tornam-se bastante fluidos.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Barbara Viggiano Rocha da Silva (UFMG), Sueli Maxakali (UFMG), Jupira Maxakali (SESAI)
Resumo: Uma das lideranças da aldeia é comunicada de uma ameaça de morte: um fazendeiro vizinho à Terra Indígena diz que mataria as crianças que invadissem seu terreno para caçar capivaras e dá um tiro à distância, para aterrorizar os Tikmũ’ũn (autodenominação dos Maxakali) que ali vivem. Autoridades devidamente acionadas, resta a incerteza sobre a possibilidade real de prevenção da violência anunciada com destemida hostilidade por homens brancos no interior de Minas Gerais. A luta pela terra sempre envolveu e impactou todas as pessoas que vivem em aldeias indígenas no Brasil, mas esses conflitos raramente são considerados em relação à uma categoria singular: as crianças indígenas. Direitos dos povos indígenas e direitos das crianças em intersecção, ao se contrastarem com as atuais condições de vida das crianças tikmũ’ũn, revelam as falhas de políticas públicas dos três poderes, bem como de problemas no convívio com a comunidade não-indígena do entorno. Questões ainda mais agravadas nos casos de retomadas recentes, que geram dinâmicas desiguais de disputa pela terra. Investigamos como o fortalecimento de valores colonialistas proposto veladamente por diversas instituições que assediam frequentemente suas aldeias está entre as causas das repetidas agressões contra os Tikmũ’ũn (Nũhũ Yãg Mũ Yõg Hãm: essa terra é nossa, 2020). Mobilizando teorias da virada ontológica (STENGERS, 2018; VIVEIROS DE CASTRO, 2018; MOL, 1999), decoloniais (CÉSAIRE, 1977; LUGONES, 2014; QUIJANO, 2014), anticapitalistas (MBEMBE, 2017; HARAWAY, 2015), antirracistas (GONZALES, 2011; SANTOS, 2015) e dialogando com pensadores indígenas (MAXAKALI, S., 2021; MAXAKALI, E., 2022; ANDRADE, 2021; CRUZ, 2017; CORREA, 2018; KRENAK, 2020; SANTOS, 2020; XAKRIABÁ, 2021; SMITH, 1999), procuramos atualizar a crítica à branquitude – presente há tempos nos discursos da intelectualidade negra do país (BENTO, 2002) – abordando a “etnofobia” brasileira por seus povos originários. Direcionamos nossas reflexões para os desafios enfrentados pelos Tikmũ’ũn, nesse contexto, para manter a qualidade da criação das crianças dentro de seus modos de vida próprios. Também tratamos da retomada do território das crianças, de suas práticas comunitárias intergeracionais e das fundamentais relações com os não-humanos sempre presentes nas aldeias: os yãmĩyxop. Para tanto, nossa proposta é elaborar um texto em colaboração e diálogo com a comunidade, que ofereça perspectivas de várias gerações. Acreditamos que essa discussão contribui tanto para a literatura da Antropologia da Criança quanto do Direito, pois, como aponta Oliveira (2012), as crianças indígenas são antes indígenas que crianças e, como tais, não se podem perder de vista seus direitos diferenciados.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Camila Guedes Codogno (IFSULDEMINAS)
Resumo: Este trabalho pretende fomentar a seguinte discussão: se e de que maneira as crianças exercem papel
ativo na construção dos patrimônios alimentares. Para tal, serão apresentadas vivências e representações
infantis situadas em dois contextos socioculturais brasileiros: o primeiro, entre as crianças indígenas
Galibi-Marworno, do estado do Amapá, com as quais realizei uma etnografia que resultou em minha dissertação
de mestrado (CODONHO, 2007) e o segundo, entre crianças não indígenas em contexto escolar na cidade mineira
de São João Batista do Glória, por ocasião de um projeto de extensão voltado à execução do PNAE (Programa
Nacional de Alimentação Escolar), ocorrido no ano de 2018.
As referências teóricas para tal intento são embasadas nos campos da Antropologia da Infância, bem como nos
estudos acerca das culturas alimentares. Além disso, busca-se uma interpretação seminal do fenômeno a partir
de um problema típico da modernidade: a separação (ou conjunção) entre natureza e cultura, como propõe Bruno
Latour (LATOUR, 2019).
Embora não se trate de um trabalho sistematicamente comparativo, o tema comum a estes dois ambientes versa
sobre as relações estabelecidas pelas crianças com os alimentos, assunto muito pouco discutido, sobretudo no
que se refere a um certo protagonismo infantil.
Uma vez que os estudos recentes sobre patrimônios alimentares abarcam a discussão acerca da cultura
imaterial, para além da material (UNESCO 2003), constata-se o quanto o recurso à tradição mostra-se como um
mecanismo utilizado para a consolidação de narrativas identitárias, consolidação de mercados e até mesmo uma
certa fetichização acerca de alimentos tidos como tradicionais.
Em contrapartida à ideia de tradição, o conceito de infância entre muitas sociedades, sobretudo as
ocidentalizadas, traz consigo um certo frescor que aparentemente se contrapõe a um constructo de
tradicionalismo, parecendo-nos à primeira vista estranho associar crianças enquanto agentes de elaboração e
manutenção de um patrimônio alimentar.
Entretanto, em ambos contextos tornou-se claro o quanto o ato alimentar entre crianças vai muito além de uma
ação utilitária ligada apenas às prescrições de nutrir seus corpos através dos elementos naturais presentes
na comida. Mais do que isso, há toda uma rede de saberes e significados, que incluem relações de
pertencimento e poder ao redor da classificação e do manejo dos alimentos por elas acionada que as tornam
grandes responsáveis pela ressignificação e manutenção das tradições. Neste sentido, o termo comedores em
contexto (TORRALBA & GUIDALI 2015) traduz bem a potência contida na mobilização identitária infantil em
torno dos patrimônios alimentares.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Cintia da Conceição dos Santos Matos (UFPA)
Resumo: Resumo: este trabalho se filia às investidas da antropologia da criança para situar as crianças como
agentes na organização social de seus grupos, neste caso, situo as crianças do Quilombo Bela Aurora, no
município de Cachoeira do Piriá, localizado ao Norte da Amazônia Brasileira. Sendo também, o meu território,
a minha casa, como assim o vimos e sentimos. Mas, Bela Aurora, assim como as demais comunidades negras
rurais deste continente, vive sob a ação histórica de apagamento colonial do pertencimento, de suas
cosmologias e cosmogonias, contudo, aprendi a ver a olho nu e, agora pelas lentes de uma câmera fotográfica,
que as novas gerações, as crianças, vão se apropriando e fazendo a salvaguarda do repertório ancestral e
imprimindo novas leituras na cartografia do lugar. Por meio do uso da imagem, como produção de narrativas,
tem sido possível observar como as crianças produzem territorialidades e agenciam novas possibilidades de
recuperação de aspectos que foram apagados e que são estruturais para a manutenção do grupo no tempo. Falo,
então, neste estudo, de tradução e interpretação em primeira mão, um exercício do olhar para as crianças
como atuantes na existência da sua comunidade, como r-existentes. Cada fotografia traduz a identidade da
infância quilombola e suas territorialidades, como interpretação dos fluxos e interfluxos culturais tecidos
nas confluências do viver quilombola. Justifico, deste modo, a pertinência do estudo para o esforço que
antropologia tem feito para identificar as concepções próprias às formas de autodefinição sociocultural dos
grupos humanos, bem como a sua percepção de territórios, seus usos e valores. Assim sendo, comungo do
argumento de que nenhum sujeito seja excluído de estudos que dizem respeito aos grupos dos quais pertencem.
As crianças quando chegam como novatos no território passam também a narrar suas percepções, como as
fotografias capturadas das crianças de Bela Aurora têm me possibilitado traduzir essas percepções em suas
narrativas de diversas formas. Entre essas, a leitura que fazem dessas imagens em conexão com o
pertencimento, com a representatividade e a permanência no território.
PALAVRAS-CHAVE: criança quilombola; antropologia da criança; fotografia; quilombo Bela Aurora; Amazônia.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Emilene Leite de Sousa (UFMA)
Resumo: Esta é uma pesquisa sobre a participação de crianças indígenas na preservação de seus territórios,
associando para isso três importantes categorias sociológicas: etnicidade, territorialidade e infância. Esta
pesquisa considera a agência de crianças indígenas na relação com seus territórios, contribuindo para a
preservação dos mesmos, e sua participação na perpetuação de sua etnicidade, a partir de um estudo com as
crianças indígenas Gavião do Maranhão. Para isto, problematizo a organização política e social de
comunidades indígenas e a luta pelo território tradicionalmente ocupado frente à ação do projeto colonial e
como essa luta está respaldada, dentre outros aspectos, na agência cotidiana de crianças indígenas. Esta
pesquisa toma como ponto de partida o olhar das crianças indígenas sobre seus territórios, isto é, o modo
como os representam e se apropriam deles, para demonstrar como sua participação é fundamental para a
preservação destas comunidades territoriais e étnicas. A Antropologia da Criança tem destacado o
protagonismo e a agência infantil como importantes mecanismos em funcionamento junto à organização social
das comunidades tradicionais. Nesse sentido, interessa a pesquisa saber: Que representações as crianças têm
do território e como estas representações respaldam suas ações? De que modo elas se relacionam com estes
territórios? Que ações das crianças ajudam a preservá-los? Em que medida a sua agência, já reconhecida por
tais comunidades, é considerada pelo Estado e pelas pesquisas que contemplam tais comunidades? Que
necessidades da preservação do território tradicionalmente ocupado são reveladas pelo cotidiano infantil?
Como crianças indígenas são produtoras de territorialidade e como contribuem para perpetuar etnicidades,
atualizando-as no tempo e preservando-as? Até que ponto a agência infantil dá sentido a luta de homens e
mulheres pelo território? Tais questionamentos têm sido respondidos à luz das teorias de etnicidade e da
Antropologia da Criança e são elucidados através de uma etnografia sobre como se dá a relação das crianças
indígenas com seu território na luta pela sua preservação e como a agência infantil contribui para a
organização social de territórios indígenas e para a perpetuação étnica destes povos. Produziu-se uma
etnografia da participação das crianças indígenas Gavião Phycop Catiji do Maranhão na produção de
territorialidades e etnicidades.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Eula Rebeca Silva Lima (UFMA)
Resumo: Esta pesquisa teve por objetivo analisar a participação de crianças indígenas do povo Gavião Phycop
Catiji do Maranhão na preservação de seus territórios tradicionais. Assim, esta investigação considera a
agência de crianças indígenas na relação com seus territórios e sua participação na organização social.
Nesse sentido, nos interessou saber: como crianças indígenas são produtoras de territorialidade e como
contribuem para perpetuar etnicidades, atualizando-as no tempo e preservando-as? Até que ponto a agência
infantil dá sentido à luta de homens e mulheres pelo território? A fim de concretizar tais objetivos
utilizamos como guias as teorias sobre territorialidades e os estudos da infância para a produção de uma
etnografia pautada na observação participante. A partir da análise etnográfica entendemos que as crianças
possuem conhecimentos próprios oriundos do contato com a terra e com a etnia, tornando-se importantes
agentes de preservação e de mudança. Entre os povos indígenas a territorialidade infantil advém de
diferentes conhecimentos produzidos através das brincadeiras, da corporalidade e da aprendizagem.
Palavras-chave: Territorialidade, Infância, Criança indígena
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Gabriela Guimarães Silva (UFPA)
Resumo: RESUMO: Comungando do argumento de que as infâncias são múltiplas e diversas, e de que as crianças
vivenciam experiencias infantis peculiares em cada contexto no qual estão inseridas, busca-se investigar uma
forma parti¬cular de se vivenciar a infância, tomando como sujeitos de pesquisa as crianças filhas de mães
quilombolas que acessam a Universidade Federal do Pará por meio do Processo Seletivo Especial-PSE. Neste
trabalho, especificamente, tomaremos como objeto de análise a agência das crianças e a elaboração de
estratégias de crianças quilombolas para contribuir com a permanência de suas mães na Universidade. Grande
parte dessas mães, no período do semestre letivo e, por inúmeros motivos, precisa leva suas crianças para a
cidade de Belém, capital do estado do Pará, localizada no Norte da Amazônia, para que seja possível
frequentar as aulas. Devido ao pouco recurso financeiro, estabelecem moradia em casas alugadas nos bairros
periféricos, como é o caso do Guamá, bairro populoso onde está localizada a Universidade, e, nesse ir e
vir, possibilita às crianças a circulação entre esses espaços tão diversos e delimitados pelas fronteiras
das desigualdades. A metodologia se valeu de uma observação participante para olhar, ouvir e escrever sobre
essas crianças no diálogo com elas e com suas mães. Neste sentido, a busca pelo ponto de vista das crianças,
ouvir suas vozes, observar de perto seus movimentos, não significa apenas recorrer a um enfoque nas
crianças, mas, sobretudo, ver o contexto sociocultural sendo dinamizado e intercambiado por suas
cosmologias, ou seja, a partir do ponto de vista de crianças, contudo, sem desconsiderar a participação dos
adultos ao longo da pesquisa. Os resultados parciais desta interlocução mostram a participação ativa das
crianças ante às dificuldades do espaço-tempo da cidade impostas às suas experiências infantis, bem como
acionam cosmologias de seus grupos na construção de estratégias junto às suas mães para que elas vençam os
desafios da permanência na Universidade. As crianças quilombolas, desse modo, afirmam-se como interlocutoras
de um caro debate nas ciências humanas e sociais acerca da relação da cidade com as populações tradicionais.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Isadora Andrade Jammal (UFMG)
Resumo: O rompimento da barragem de Fundão, em novembro de 2015, no município de Mariana (MG), desencadeou uma
série de afetações às pessoas atingidas, que vivem cotidianamente o desastre enquanto uma crise crônica
(VIGH, 2008) e lutam para terem seus direitos garantidos. Nesse sentido, os efeitos violentos não se
limitaram ao momento do rompimento, mas ainda se reproduzem no tempo e no espaço, atrelados a padrões de
vulnerabilidade socioambiental e ao processo de gestão da crise (OLIVER-SMITH, 1999; ZHOURI, 2023). Este
trabalho apresenta uma reflexão crítica sobre o desastre, pensando-o a partir de um grupo social específico:
as crianças e os jovens de comunidades rurais atingidas. Tomando esses indivíduos como sujeitos de direitos,
enfatizamos sua capacidade de agência em meio ao desastre e nos atentamos para as formas como as infâncias e
juventudes são vividas nesse contexto. O deslocamento forçado de muitas famílias para a cidade de Mariana
restringiu a liberdade de movimento dos jovens ao impor novos riscos e limites, como a impossibilidade de
brincar na rua e de circular facilmente entre as casas de amigos e parentes. Por outro lado, as famílias que
permaneceram na zona rural lidam com a contaminação ambiental e com o esvaziamento social dos lugares.
Nessas condições, os laços de confiança e parceria estabelecidos ao longo dos anos pelo Grupo de Estudos em
Temáticas Ambientais (Gesta/Ufmg) têm sido determinantes para a participação privilegiada em momentos que
compõem o cotidiano das famílias atingidas. Ao longo da pesquisa, foi estabelecida uma interlocução não
apenas com as próprias crianças e jovens, mas também com mães, pais, avós, avôs e professoras. No geral,
chama atenção o modo como as relações de pertencimento às comunidades atingidas e os vínculos com o
território de origem são reconfigurados em meio ao desastre. Sob esse viés, as vivências das crianças mais
novas fornecem um acesso privilegiado à dimensão crônica da crise, pois para elas a experiência de ser
atingido não está atrelada a uma ruptura súbita da normalidade, a partir do rompimento da barragem, mas sim
a efeitos intergeracionais. Somos, enfim, conduzidos a refletir sobre a temporalidade da crise, sobre os
processos de comunicação de memórias entre gerações e de construção de identidades, entrelaçando
experiências passadas e presentes às possibilidades de futuro.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Ivana Silva Bastos Peregrino (UFPB)
Resumo: Mestre Gabriel, que deu origem a União do Vegetal (UDV), preparou o chá bebida psicoativa ingerida em
rituais religiosos nas chamadas religiões hoasqueiras/ayahuasqueiras pela primeira vez em sua casa. Colheu
mariri e chacrona na floresta e voltou para casa com as folhas e o cipó em mãos, avisando a esposa que ia
preparar o vegetal. Com o auxílio dela e de um dos filhos Jair (9 anos), preparou o chá e beberam ele,
Pequenina sua esposa e os dois filhos mais velhos, Getúlio (11 anos) e Jair. Nota-se, então, a presença
das crianças preparando e comungando o vegetal desde o princípio da UDV e a importância histórica e
participativa desse momento. Assim como fazia com seus discípulos, Mestre Gabriel exemplo maior a ser
seguido pelos adeptos da UDV conversava, aconselhava e orientava as crianças, respeitando sua forma de se
comunicar e usando maneiras lúdicas para isso. No entanto, apesar da relevância histórica, é possível
afirmar que as crianças da UDV são consideradas hoasqueiras? Pretende-se aqui entender como é a presença das
crianças, suas vivências e relevância no cenário religioso do Núcleo Conselheiro Salomão Gabriel, localizado
em João Pessoa/PB. Para isso, foi realizada uma etnografia que mostrou que a União do Vegetal é uma religião
espírita em que a criança, como qualquer outro indivíduo, é vista como um espírito em evolução e tem um
trabalho espiritual a ser desenvolvido enquanto encarnado. Por esse mesmo motivo a instituição defende o
direito de a criança beber o vegetal, já que a União tem como objetivo trabalhar pela evolução do ser
humano. Com o crescimento da UDV e, consequentemente, com o fortalecimento de uma percepção mais
institucionalizada, parece ter havido a necessidade de algumas mudanças e uma maior restrição na
participação infantil. Então, foram colocados alguns limites como a quantidade de sessões que a criança pode
participar, por exemplo. Após essa institucionalização e as mudanças que com ela vieram, vigora atualmente
na União uma concepção de criança que parece estar em sintonia com a concepção predominante na sociedade, a
da infância ocidental moderna. Tal condição coloca a criança como dependente e incapaz de tomar decisões ou
ter uma participação mais ativa nas decisões. Apesar disso, as observações de campo também constatam que as
crianças são consideradas importantes em sua condição atual neste espaço religioso, ainda que persista, para
alguns, a ideia do vir a ser, pois também ouvi in loco dizeres ressaltando que as crianças darão seguimento
à religião. Empiricamente, foram vistas crianças frequentando a União do Vegetal, ocupando o espaço
religioso participando dos rituais e bebendo o chá de forma marcante e sempre presentes na rotina do
núcleo.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Janeide da Silva Cavalcante (UFMA)
Resumo: : Este trabalho busca entender a cultura cigana e suas cosmologias a partir do universo infantil. Para
isso, é necessário está atenta ao modo como elas interpretam sua cultura de maneira específica, informando
com uma linguagem própria do universo infantil, elementos que corroboram para a compreensão da cultura
cigana. A expressão cigana puríssima foi utilizada por uma criança para evocar o cigano puro ou legítimo,
que detém pais (mãe e pai) ciganos, sem a contaminação do sangue morador (o não cigano que vive na cidade).
Apesar do apreço e da relevância de se ter um sangue cigano puro, é comum o casamento entre moradores e
ciganos. Neste trabalho nos dedicamos àqueles sinais diacríticos que as crianças elencam e que compõem a
cosmologia cigana: as relações de parentesco, casamento e moradia; as questões de aparência ou fenótipo; o
idioma; e os modos de lidar com o luto e os mortos. Sob esse viés, o presente trabalho a partir de uma
investigação etnográfica com crianças Calons na região Sul do Maranhão, busca identificar os elementos que
colaboram para formação da identidade e pertença étnica, a partir do ponto de vista das crianças, dialogando
com os estudos da infância e reforçando o seu reconhecimento da potencialidade das crianças em pesquisas.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Luana Mesquita de Araújo (UFPA)
Resumo: Este artigo dialoga com os resultados parciais de uma pesquisa maior sobre o protagonismo da mulher
quilombola na organização sociopolítica dos seus territórios em duas regiões brasileiras, Norte e Sul. Os
resultados têm apontado que ao longo de séculos as mulheres quilombolas estão à frente das lutas pela
garantia do território e permanência do grupo no tempo, enfrentando o cerceamento do Estado e as ameaças do
grande capital. São insurgências que remontam às suas chegadas na diáspora. As mulheres do Quilombo de
Conceição de Mirindeua, pertencente ao município de Moju-PA, localizado ao Norte da Amazônia brasileira,
tornam-se lideranças, uma Tucandeira, após vivenciarem inúmeras experiências desde a infância sob
diferentes nuances e expressividades na aprendizagem dos papéis políticos que regem a organicidade e o
dinamismo do território. As Tucandeiras, em seu sentido denotativo, remetem as espécies de formigas que
apresentam uma ferroada dolorosa, além disso, se agrupam em grandes proporções e se espalham rapidamente.
Esta espécie é corriqueira e popular na fauna amazônica. Outrossim, no que tange ao sentido conotativo, tal
terminologia converge a uma representação geral atribuída pelas mulheres à organização política dos
jambuaçuenses, institucionalizada em uma associação de moradores, que reflete os modos e práticas das formas
de atuação política das mulheres do Jambuaçu. Cabe então a pergunta antropológica: como uma menina se torna
uma Tucandeira e como uma Tucandeira muda ao longo do tempo? Neste trabalho, por meio da observação
participante com as crianças quilombolas de Jambuaçu, analiso o tornar-se (becoming/become, Toren, 2004)
Tucandeira, visando traduzir e interpretar o seu sentido cosmológico no itinerário formativo de uma mulher
liderança desde à infância pelo modo como as meninas agenciam a (re)produção do repertório ancestral
necessário ao tornar-se Tucandeira. Como metodologia também, valho-me do que tenho aprendido em campo, para
falar das crianças de outros, aciono o agô, tradução em yorubá de licença, para enveredar neste elo que
intersecciona o passado-presente nas experiências das meninas que pertencem à comunidade dos jambuaçuenses.
Licença que tem me permitido compreender a importância de uma Tucandeira na sua história de longa duração.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Márcia Maria da Silva Sousa (PRIMES COOL)
Resumo: Há processos educativos, ligados à religião que ainda necessitam serem conhecidos, estes processos, por
sua vez, não estão dispostos, apenas nos currículos de formação atrelados ao conjunto formal. São processos
educativos que ocorrem para além desses espaços, é na vivência do cotidiano, no social e dão sentido na vida
individual e coletiva, para a participação escolar e comunitária de crianças e adolescentes. O estado de
Pernambuco possui um pluralismo religioso, assim, se faz necessário conhecer esses processos educativos,
pretendendo-se ao final desse estudo que se possa evidenciar que o conhecimento de tais práticas educativas
e propostas de cursos de formação de professores amplie o diálogo em busca do enfretamento aos altos índices
de evasão escolar ocasionados pela intolerância religiosa e como as crianças e adolescentes participam desse
processo. Nesse sentido, espero compreender se essas práticas educativas desenvolvidas em ambientes tidos
como não formais contribuem no processo de formação individual e coletiva de crianças, jovens e
adolescentes, bem como se auxiliam na maneira de pensar a religião, refletir sobre geração e compreender os
papeis sociais por eles desenvolvidos. Assim, analisarei as vivências educacionais da doutrina
espiritualista do Vale do Amanhecer com e entre crianças participantes, os mestres coordenadores e as
famílias, compreender os saberes produzidos e as trocas de aprendizagens em uma perspectiva relacional e
geracional. Essa análise acontecerá no Vale do Amanhecer Aluanto, no município do Recife (PE), bairro
Caxangá. Para analisar as atividades produzidas partirei da concepção de educação como um processo contínuo
que acontece por meio da socialização e sem o rigor de objetivos e local institucionalizado. A análise dos
dados será feita em uma interface com antropologia da infância, criança e da religião a fim de conceber a
criança como um sujeito político, autônomo e produtor de cultura para assim descobrir o seu local de fala no
contexto das atividades, bem como, no âmbito da religiosidade que os permeiam nos rituais, simbologias,
atravessamentos e construções de afetos. Utilizarei como métodos: entrevistas, observações, desenhos livres,
temáticos e dirigidos, rodas de conversas, grupos focais, produção de croquis, fotografias dentre outros.
Dessa maneira buscarei analisar se tais práticas educativas impactam ou contribuem no processo educacional,
familiar e social das crianças e de que forma elas podem ser percebidas.
Palavras-Chaves: Religiosidade, Crianças, Processos Educativos, Geração
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Marina Batista de Souza (UFMA)
Resumo: Este trabalho tem como objetivo analisar a produção de experiências das crianças participantes de duas
igrejas daimistas localizadas na região metropolitana de São Luis- Maranhão. O Daime, é uma bebida com
propriedades psicoativas utilizada nos rituais de uma doutrina híbrida, o Santo Daime, que é permeada por
elementos católicos e conduzida pela dimensão musical, os hinos. No contexto em que é utilizado, o Daime é
reconhecido como um Ser Divino dotado de saberes, um professor que tem suas metodologias, cujos saberes
estão abertos a quem quer aprender, sobre si mesmo ou sobre o mundo espiritual. Sabemos que a infância ocupa
um lugar em tais espaços. As crianças inseridas nesse contexto têm muito o que aprender e ensinar. Através
do método etnográfico e dialogando com os estudos da infância, buscamos dar voz às crianças, reconhecendo-as
enquanto sujeitos de pesquisa. Nos interessa responder: como as crianças internalizam e expandem seus
próprios ensinos em um contexto religioso permeado pela relação com a natureza, com a música e com a sagrada
bebida? Durante os trabalhos espirituais, as crianças permanecem brincando, enquanto se relacionam com os
instrumentos musicais, as imagens de santos e as plantas, manipulando e ressignificando os objetos sagrados
utilizados pelos adultos.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Matheus Lopes Hengles (UNESP)
Resumo: Buscamos refletir sobre a corporalidade e o lugar que crianças ocupam na construção e reprodução da
organização social em uma comunidade ayahuasqueira, Instituto Xamânico Tupinambá Céu de Maria, objetivando
entender sobre o que pode a criança no Daime, o que é ser criança no Daime e o que esta tem a nos ensinar.
Para tal, propomos uma pesquisa etnográfica com crianças ayahuasqueiras, reconhecendo a agência destas na
criação e negociação de regras e formas de aprendizagem que se relacionam com a comunidade daimista. Com
efeito, imersos nas contribuições da Antropologia da Criança e da Sociologia da Infância, entendemos como
elas são vistas neste espaço: as permissões, limitações e as formas de ressignificar. Assim, como base de
nossas reflexões, trabalharemos na análise de fotografias: focando na corporalidade dos agentes; na coleta
de desenhos: entrando em contato com construções retóricas lúdicas e imagéticas de suas percepções e com
entrevistas com as crianças e demais membros da comunidade.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Michele da Rocha Cervo (UNICENTRO), Danieli Finhgre Felix (UNICENTRO)
Resumo: A pandemia evidenciou todas as desigualdades sociais que estruturam o Brasil e produzem formas de
subjetivação da população. A discussão aqui apresentada fez parte da pesquisa Modos de ser criança na
Pandemia por COVID-19: a produção de infâncias no encontro com os territórios. Tratou-se de uma pesquisa
qualitativa, utilizando-se como referência a pesquisa-intervenção que buscou narrar as experiências de
crianças indígenas da etnia Kaingang durante a pandemia, a partir da narrativa e vivência de uma psicóloga
indígena em formação e sua circulação em diferentes territórios. O trabalho problematiza também os
deslocamentos e encontros entre a estudante de psicologia indígena e sua orientadora branca. A produção de
uma pesquisa que se localiza no campo das infâncias indígenas e que encontra um modo de produção dentro das
Psicologias já traria um questionamento e campo de análise necessário para o século XXI. O que dizer sobre
os modos de ser criança atravessados pela pandemia? E de que crianças estamos falando? E quando pensamos em
crianças-indígenas e os efeitos da pandemia, o que encontramos? Essa pesquisa se fez através do encontro e
da experiência de circulação pelas terras indígenas, como criança indígena Kaingang que a estudante foi e
pelos encontros com as crianças de hoje que vivem nessas terras; pela experiência de escutar outras crianças
indígenas na Casa de Passagem Indígena localizada em Irati/PR; pela escuta das crianças e mães que pudemos
acompanhar nos espaços de luta e movimentos sociais dos povos indígenas. Foram consideradas para a análise
as publicações e estudos sobre a temática; as observações e vivências registradas nos diários de campo a
partir do estágio na Casa de Passagem Indígena, da participação nos Movimentos Indígenas, das conversas e
interações com as crianças indígenas na Terra Indígena, oficinas e a produção de cartilhas informativas
traduzidas nas línguas kaingang. Essas vivências e experiências compuseram narrativas que se desdobraram em
duas linhas de análise: as diferenças geracionais e temporais e não nos tratam bem: sobre ser criança e
viver na cidade. Ouvir os relatos das crianças indígenas, bem como as discussões sobre os direitos humanos
dos povos indígenas afetam diretamente o modo como se produzem. As pesquisas são uma forma de devolutiva
para as crianças indígenas, como aposta ética e política de ressignificação do papel delas na sociedade. E
também, provocar os leitores a se deslocar da sua zona de conforto, e refletir sobre essas infâncias com um
futuro incerto, produzindo pesquisas que respeitem a epistemologia de cada povo Indígena.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Rosana de Jesus Diniz Santos (UEMA), Iara Tatiana Bonin (PUCRS)
Resumo: Estudos de Antropologia dedicados às crianças se consolidaram, no Brasil, em especial a partir dos anos
1980, e ampliaram as possibilidades metodológicas e analíticas acerta dos processos educativos e do lugar da
criança enquanto produtora de cultura. Por meio de um olhar atento para as práticas das crianças, suas
rotinas, suas brincadeiras, seus afazeres, suas interações e formas de circulação, é possível problematizar
entendimentos universalistas de infância e do ser criança. A presente comunicação se propõe a contribuir com
o debate sobre o lugar das crianças em cosmologias de povos originários a partir de uma reflexão sobre as
crianças Awa Guajá, povo indígena da Amazônia maranhense. As discussões apresentadas derivam de um processo
de trabalho docente e de observação contínua de uma das pesquisadoras/autoras do texto, com os Awa Guajá,
entre os anos 2000 e 2020, e se constrói a partir de registros em Diário de Campo. O objetivo é discutir as
pedagogias e os processos de aprendizagem do povo Awa, entendendo que estes balizam as ações possíveis das
crianças, os espaços, tempos e formas de circulação, bem como os modos de cuidar e educar nos contínuos e
dinâmicos processos de produção cultural. A análise organiza-se em torno de dois eixos principais, sendo um
dedicado à explicitação de contextos educativos específicos e da ação das crianças Awa e o segundo dedicado
ao espaço da floresta, entendido como ambiente de aprendizagens, de conexões e de modos de viver que integra
os processos culturais educativos do povo Awa Guajá.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Sueli do Carmo Oliveira (IFNMG), Fernanda Müller (UNIRIO)
Resumo: Estudos antropológicos e educacionais têm direcionado sua atenção para a análise da aprendizagem em
diferentes contextos de práticas sociais. No entanto, existem relativamente poucas publicações sobre
religião, infância e educação. Reconhecemos que, embora as crianças frequentem assiduamente os campos onde
são realizadas etnografias sobre rituais religiosos, elas são
frequentemente submetidas à invisibilidade etnográfica. A falta de visibilidade das crianças nessas
pesquisas sobre religião tem consequências significativas, tais como a minimização do status social das
crianças e a perpetuação de estereótipos sobre as formas tradicionais de aprendizagem. Com base em uma
etnografia realizada por quatro anos no Brasil, este artigo apresenta reflexões sobre processos de
aprendizagem nas práticas rituais dos/as tamborzeiros/as de Nossa Senhora do Rosário de Araçuaí (Vale do
Jequitinhonha/MG), grupo associado à tradição afrodiaspórica das irmandades negras erigidas no Brasil desde
o século XVII. O artigo destaca as microdinâmicas rituais e os modos pelos quais os/as tamborzeiros/as
adultos/as e crianças, por meio de suas performances rituais, traçam os caminhos do devir tamborzeiro e da
contínua renovação e perpetuação dessa comunidade do tambor.