Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 085: Pesquisas sobre infâncias a partir das cosmologias tradicionais
SE VER NA FOTO, VER O PERTENCIMENTO: a imagem como captura da produção de territorialidade pelas
crianças do Quilombo Bela Aurora-PA/Amazônia
Resumo: este trabalho se filia às investidas da antropologia da criança para situar as crianças como
agentes na organização social de seus grupos, neste caso, situo as crianças do Quilombo Bela Aurora, no
município de Cachoeira do Piriá, localizado ao Norte da Amazônia Brasileira. Sendo também, o meu território,
a minha casa, como assim o vimos e sentimos. Mas, Bela Aurora, assim como as demais comunidades negras
rurais deste continente, vive sob a ação histórica de apagamento colonial do pertencimento, de suas
cosmologias e cosmogonias, contudo, aprendi a ver a olho nu e, agora pelas lentes de uma câmera fotográfica,
que as novas gerações, as crianças, vão se apropriando e fazendo a salvaguarda do repertório ancestral e
imprimindo novas leituras na cartografia do lugar. Por meio do uso da imagem, como produção de narrativas,
tem sido possível observar como as crianças produzem territorialidades e agenciam novas possibilidades de
recuperação de aspectos que foram apagados e que são estruturais para a manutenção do grupo no tempo. Falo,
então, neste estudo, de tradução e interpretação em primeira mão, um exercício do olhar para as crianças
como atuantes na existência da sua comunidade, como r-existentes. Cada fotografia traduz a identidade da
infância quilombola e suas territorialidades, como interpretação dos fluxos e interfluxos culturais tecidos
nas confluências do viver quilombola. Justifico, deste modo, a pertinência do estudo para o esforço que
antropologia tem feito para identificar as concepções próprias às formas de autodefinição sociocultural dos
grupos humanos, bem como a sua percepção de territórios, seus usos e valores. Assim sendo, comungo do
argumento de que nenhum sujeito seja excluído de estudos que dizem respeito aos grupos dos quais pertencem.
As crianças quando chegam como novatos no território passam também a narrar suas percepções, como as
fotografias capturadas das crianças de Bela Aurora têm me possibilitado traduzir essas percepções em suas
narrativas de diversas formas. Entre essas, a leitura que fazem dessas imagens em conexão com o
pertencimento, com a representatividade e a permanência no território.
PALAVRAS-CHAVE: criança quilombola; antropologia da criança; fotografia; quilombo Bela Aurora; Amazônia.