Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 085: Pesquisas sobre infâncias a partir das cosmologias tradicionais
"EU VIM ESTUDAR COM A MINHA MÃE NA UNIVERSIDADE": estratégias de crianças quilombolas para que suas mães permaneçam na Universidade
RESUMO: Comungando do argumento de que as infâncias são múltiplas e diversas, e de que as crianças
vivenciam experiencias infantis peculiares em cada contexto no qual estão inseridas, busca-se investigar uma
forma parti¬cular de se vivenciar a infância, tomando como sujeitos de pesquisa as crianças filhas de mães
quilombolas que acessam a Universidade Federal do Pará por meio do Processo Seletivo Especial-PSE. Neste
trabalho, especificamente, tomaremos como objeto de análise a agência das crianças e a elaboração de
estratégias de crianças quilombolas para contribuir com a permanência de suas mães na Universidade. Grande
parte dessas mães, no período do semestre letivo e, por inúmeros motivos, precisa leva suas crianças para a
cidade de Belém, capital do estado do Pará, localizada no Norte da Amazônia, para que seja possível
frequentar as aulas. Devido ao pouco recurso financeiro, estabelecem moradia em casas alugadas nos bairros
periféricos, como é o caso do Guamá, bairro populoso onde está localizada a Universidade, e, nesse ir e
vir, possibilita às crianças a circulação entre esses espaços tão diversos e delimitados pelas fronteiras
das desigualdades. A metodologia se valeu de uma observação participante para olhar, ouvir e escrever sobre
essas crianças no diálogo com elas e com suas mães. Neste sentido, a busca pelo ponto de vista das crianças,
ouvir suas vozes, observar de perto seus movimentos, não significa apenas recorrer a um enfoque nas
crianças, mas, sobretudo, ver o contexto sociocultural sendo dinamizado e intercambiado por suas
cosmologias, ou seja, a partir do ponto de vista de crianças, contudo, sem desconsiderar a participação dos
adultos ao longo da pesquisa. Os resultados parciais desta interlocução mostram a participação ativa das
crianças ante às dificuldades do espaço-tempo da cidade impostas às suas experiências infantis, bem como
acionam cosmologias de seus grupos na construção de estratégias junto às suas mães para que elas vençam os
desafios da permanência na Universidade. As crianças quilombolas, desse modo, afirmam-se como interlocutoras
de um caro debate nas ciências humanas e sociais acerca da relação da cidade com as populações tradicionais.