Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 085: Pesquisas sobre infâncias a partir das cosmologias tradicionais
COMO SE FAZ UMA LIDERANÇA POLÍTICA FEMININA QUILOMBOLA ?: um estudo sobre o tornar-se Tucandeira pelas
meninas quilombolas de Conceição de Mirindeua
Este artigo dialoga com os resultados parciais de uma pesquisa maior sobre o protagonismo da mulher
quilombola na organização sociopolítica dos seus territórios em duas regiões brasileiras, Norte e Sul. Os
resultados têm apontado que ao longo de séculos as mulheres quilombolas estão à frente das lutas pela
garantia do território e permanência do grupo no tempo, enfrentando o cerceamento do Estado e as ameaças do
grande capital. São insurgências que remontam às suas chegadas na diáspora. As mulheres do Quilombo de
Conceição de Mirindeua, pertencente ao município de Moju-PA, localizado ao Norte da Amazônia brasileira,
tornam-se lideranças, uma Tucandeira, após vivenciarem inúmeras experiências desde a infância sob
diferentes nuances e expressividades na aprendizagem dos papéis políticos que regem a organicidade e o
dinamismo do território. As Tucandeiras, em seu sentido denotativo, remetem as espécies de formigas que
apresentam uma ferroada dolorosa, além disso, se agrupam em grandes proporções e se espalham rapidamente.
Esta espécie é corriqueira e popular na fauna amazônica. Outrossim, no que tange ao sentido conotativo, tal
terminologia converge a uma representação geral atribuída pelas mulheres à organização política dos
jambuaçuenses, institucionalizada em uma associação de moradores, que reflete os modos e práticas das formas
de atuação política das mulheres do Jambuaçu. Cabe então a pergunta antropológica: como uma menina se torna
uma Tucandeira e como uma Tucandeira muda ao longo do tempo? Neste trabalho, por meio da observação
participante com as crianças quilombolas de Jambuaçu, analiso o tornar-se (becoming/become, Toren, 2004)
Tucandeira, visando traduzir e interpretar o seu sentido cosmológico no itinerário formativo de uma mulher
liderança desde à infância pelo modo como as meninas agenciam a (re)produção do repertório ancestral
necessário ao tornar-se Tucandeira. Como metodologia também, valho-me do que tenho aprendido em campo, para
falar das crianças de outros, aciono o agô, tradução em yorubá de licença, para enveredar neste elo que
intersecciona o passado-presente nas experiências das meninas que pertencem à comunidade dos jambuaçuenses.
Licença que tem me permitido compreender a importância de uma Tucandeira na sua história de longa duração.