ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 085: Pesquisas sobre infâncias a partir das cosmologias tradicionais
COMO SE FAZ UMA LIDERANÇA POLÍTICA FEMININA QUILOMBOLA ?: um estudo sobre o tornar-se Tucandeira pelas meninas quilombolas de Conceição de Mirindeua
Este artigo dialoga com os resultados parciais de uma pesquisa maior sobre o protagonismo da mulher quilombola na organização sociopolítica dos seus territórios em duas regiões brasileiras, Norte e Sul. Os resultados têm apontado que ao longo de séculos as mulheres quilombolas estão à frente das lutas pela garantia do território e permanência do grupo no tempo, enfrentando o cerceamento do Estado e as ameaças do grande capital. São insurgências que remontam às suas chegadas na diáspora. As mulheres do Quilombo de Conceição de Mirindeua, pertencente ao município de Moju-PA, localizado ao Norte da Amazônia brasileira, tornam-se lideranças, uma Tucandeira”, após vivenciarem inúmeras experiências desde a infância sob diferentes nuances e expressividades na aprendizagem dos papéis políticos que regem a organicidade e o dinamismo do território. As Tucandeiras”, em seu sentido denotativo, remetem as espécies de formigas que apresentam uma ferroada dolorosa, além disso, se agrupam em grandes proporções e se espalham rapidamente. Esta espécie é corriqueira e popular na fauna amazônica. Outrossim, no que tange ao sentido conotativo, tal terminologia converge a uma representação geral atribuída pelas mulheres à organização política dos jambuaçuenses, institucionalizada em uma associação de moradores, que reflete os modos e práticas das formas de atuação política das mulheres do Jambuaçu. Cabe então a pergunta antropológica: como uma menina se torna uma Tucandeira e como uma Tucandeira muda ao longo do tempo? Neste trabalho, por meio da observação participante com as crianças quilombolas de Jambuaçu, analiso o tornar-se (“becoming/become”, Toren, 2004) Tucandeira”, visando traduzir e interpretar o seu sentido cosmológico no itinerário formativo de uma mulher liderança desde à infância pelo modo como as meninas agenciam a (re)produção do repertório ancestral necessário ao tornar-se Tucandeira”. Como metodologia também, valho-me do que tenho aprendido em campo, para falar das crianças de outros”, aciono o agô”, tradução em yorubá de licença, para enveredar neste elo que intersecciona o passado-presente nas experiências das meninas que pertencem à comunidade dos jambuaçuenses. Licença que tem me permitido compreender a importância de uma Tucandeira na sua história de longa duração.