Grupos de Trabalho (GT)
GT 068: Liderança: estilos, modos, formas, problemas e exemplos entre camponeses, quilombolas e povos tradicionais
Coordenação
Ana Claudia Duarte Rocha Marques (USP), John Cunha Comerford (UFRJ)
Debatedor(a)
Igor Rolemberg Gois Machado (UFRRJ), Elionice Conceição Sacramento (pescadora), Daniela Carolina Perutti (USP)
Resumo:
O grupo de trabalho pretende reunir trabalhos etnográficos sobre povos camponeses, quilombolas e tradicionais que permitam discutir formas, estilos e modalidades de relação subsumidas correntemente, em muitos contextos, no termo "liderança". Desse modo, esperamos explorar temas como exemplaridade, autoridade, carisma, reputação, imitação, prestígio, admiração, conhecimento, saberes; complexidades da relação entre "liderança", "política" e "convívio"/"comunidade"; a relação entre exercício de liderança com temas como sangue, família, parentesco, espiritualidade, escolarização/letramento, ascensão social, pertencimento e exterioridade; as modalidades de disputa e conflito e os dilemas pessoais e coletivos que atravessam a formação e estabilização do lugar de liderança. Pretendemos reunir trabalhos que problematizem a centralidade de figuras de liderança na dinâmica da criação, enquanto formação e diferenciação de comunidades, povos e famílias, inclusive na sua relação com agências estatais, ONGs e movimentos/organizações, seja no cotidiano, seja em eventos excepcionais, críticos e conflitivos, dentre os quais situações de ameaça, risco e atentados enfrentadas por lideranças. Esperamos incluir também textos que trabalhem a partir de abordagens biográficas ou autobiográficas, inserindo questões relacionadas a modos de subjetivação ético-política, individuais e coletivos. E estaremos atentos também às formas narrativas e seu lugar na conformação das figuras de liderança.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Bernardo Curvelano Freire (UNIVASF), Claudio Teófilo Marques
Resumo: A presente comunicação é fruto de conversas e da convivência de uma liderança do Território Quilombo
Lagoas (caatinga piauiense) com um antropólogo que reside na mesma região. Dessa relação forjou-se uma
pesquisa colaborativa à forma de antropologia compartilhada em que as diferenças constitutivas dos pontos de
vista fazem da autoria um esforço de confluência, ou seja, que junta sem misturar. Foi escrita, portanto,
por amigos e vizinhos que, partindo da distinção liderança política e liderança comunitária, descreve
encontros com narrativas complicadas sobre territórios quilombolas e sua relação com o movimento quilombola
como uma articulação dotada de escalabilidade, e com a política, que é sempre outra relação. Pretendemos,
com isso, relatar as histórias contadas por lideranças, políticas e comunitárias - todas quilombolas -,
cujas trajetórias têm confluência com a criação da Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas do Piauí
(CECOQ). Nosso objetivo é compreender como é que lideranças quilombolas mobilizam a distinção entre política
e comunidade em suas narrativas de trajetória, assim como seu desdobramento em outras tensões constitutivas.
Assim, oposições como dinheiro e relação; conversar e governar; orientam temas como políticas de vizinhança
e relações de parentesco cujo manejo dão dinâmica para noções como proximidade e afastamento entre pessoas
na constituição de lideranças e sujeitos coletivos. É na medida em que não é necessário morar nas
proximidades para ser vizinho e não é preciso ser parente para que existam relações de sangue que se
constitui um repertório de significados para refletir a respeito de uma coordenação de territórios em escala
estadual em cuja articulação todos são irmãos quilombolas.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Diego Amoedo Martínez (UFOPA)
Resumo: No mês de setembro de 2023 recebemos a notícia de que mais uma liderança do PAE Lago Grande de Santarém,
tinha sido ameaçada de morte, desta vez um jovem do coletivo dos guardiões do bem viver. Assim explica uma
outra liderança esse processo que se arrastra nos últimos vinte anos nesse território:
"O primeiro foi no período da Ivete, em 2004, que essas ameaças aconteceram, de lá pra cá, as coisas foram
conflituando cada vez mais, hoje dentro do PAE Lago Grande, nós temos, nós somos dezessete lideranças
ameaçadas (desde 24 de fevereiro de 2024 já são 18), doze homens, cinco mulheres. Todos, porque denunciam,
na realidade não concordam com aquilo que vão fazer o mal, com aquilo que não é viável para a sociedade,
para as futuras gerações que vai prejudicar o nosso rio, a nossa floresta, nosso bem viver, nosso bem-estar,
e quando a gente denuncia, a gente está fazendo algo que vai prejudicar, que vai incomodar, na verdade, que
vai incomodar as pessoas, principalmente, os grandes latifúndios, e isso a gente tem feito muito, denunciado
pra fora, a gente deixou de falar pra nós, e estamos falando pra fora, para os fóruns, para as COPs, enfim,
em vários eventos que estão acontecendo no mundo, essa situação que traz as ameaças para dentro do nosso
território." (liderança ameaçada)
Pretendemos nesta comunicação trazer a narrativa de algumas dessas lideranças em que, da mesma forma como
aparece nesse depoimento, as ações de denunciar, falar e se apresentar em espaços além de seu território,
gera uma ofensiva individual de ameaça explícita de morte, perseguição e intimidação. A formação,
articulação e a base de mobilização dessas lideranças são entidades coletivas, já seja através do Sindicato
das Trabalhadoras e Trabalhadores Rurais (STTR), a Federação das Associações de Moradores e Comunidades do
Assentamento Agroextrativista da Gleba Lago Grande (FEAGLE), ou o Coletivo de Jovens Guardiões do Bem Viver.
De forma unânime é indicado que a insegurança fundiária é um dispositivo mobilizado pelos grupos que são
contrários ao PAE, pois desde 2005 em que o INCRA cria o assentamento e é publicado no DOU as famílias
aguardam pelo CCDRU. Dentro desse contexto a morte, o tombar na fala deles é uma possibilidade implícita,
mas se resguardam em que o futuro será melhor, com o seu território, a sua terra que lhes permita o tão
ansiado bem viver coletivo, não só com os humanos, mas também com as plantas, os rios, peixes e frutas.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Diogenes Egidio Cariaga (UEMS)
Resumo: Entre as famílias e lideranças kaiowá guarani e terena que vivem nas terras indígenas na bacia do Rio
Dourados (MS), destacam-se as experiências em se manejar, se movimentar e torcer as relações com saberes,
poderes e tecnologias do brancos (karaí reko) diante dos processos de intensificação das relações com a
sociedade nacional, entre elas, uma das mais marcantes é o ingresso da política indigenista territorial e
política republicana no início do século XX que no contexto regional são presentes por meio da existência
das "reservas indígenas". Estes territórios foram criados pelo Serviço de Proteção aos Índios, totalmente
distante do modelo de ocupação territorial tradicional e de gestão política da vida familiar e comunitária,
destes problemas figuram com mais controversos a constituição de uma modelo político e territorial indígena
diante dos atravessamentos provocados pela impossibilidade de gerir a vida comunitária indígena sem a
presença das agências e pessoas "do Estado". Nesta comunicação pretendo explorar os desdobramentos do uso da
categoria "sistema de aldeia" dito pelas famílias e lideranças indígenas enquanto uma descrição das relações
que dão forma as figuras da liderança tradicional e da capitania indígena para entender as transformações
nos modos e estilos de lideranças indígenas em uma paisagem devastada pelo agronegócio, contudo, densamente
povoada por existências múltiplas mais que humanas e humanas que se emaranham entre os regimes de
historicidade coexistentes.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Elionice Conceição Sacramento (pescadora), Rosânia Oliveira do Nascimento (UFRJ)
Resumo: Neste trabalho, temos por objetivo principal discorrer sobre os casos de exemplaridades de Dona Joana
Mousinho, pescadora artesanal de Itapissuma-PE, e Marizelha Carlos Lopes, pescadora artesanal e quilombola
da Comunidade de Bananeiras, Ilha de Maré-BA. Ambas são figuras emblemáticas na luta e conquista de direitos
sociais, culturais e territoriais das mulheres pescadoras a nível local, estadual, nacional e internacional.
Assim, são duas mulheres exemplares dos Territórios das Águas que fizeram e ainda fazem escolas posicionadas
e em contexto de grande importância para sua gente. Movidas por dois sentimentos principais: a revolta pela
negação histórica dos nossos territórios e direitos, invisibilidade e a necessidade de fazer justiça
epistêmica às companheiras que em dado momento se tornam irmãs, inspiração e professoras na luta, que surge
a proposta deste artigo.
Em termos teórico-metodológicos, a proposta se apoia em entrevistas realizadas remotamente com Dona Joana
Mousinho e Marizelha Carlos Lopes durante o mês de dezembro de 2023. As questões foram debatidas e
formuladas tendo como premissa a consulta às nossas interlocutoras. Devido à proximidade e relação de
irmandade construída há mais de duas décadas na luta ao lado de Elionice Conceição Sacramento, uma das
autores deste texto, elas sentiram-se confortáveis em abrir os baús das memórias individuais e coletivas. No
primeiro momento, a ênfase se deu sobre a ancestralidade negroindígena, a relação de suas famílias com o
ofício da pesca artesanal e agricultura, as dimensões da espiritualidade/religião que constituem os
elementos simbólicos, materiais e culturais dos territórios tradicionais aos quais pertencem. Em um segundo
momento, elas retratam as violências sofridas, a chegada de novos atores antagônicos em suas comunidades e,
sobremaneira, a organização da luta política em defesa da vida. Na medida em que trabalhamos estes dois
casos de exemplaridades, refletimos sobre as lutas travadas pela ANP e MPP na consolidação de políticas
públicas voltadas para a pesca artesanal no Brasil, ressaltando o protagonismo desempenhado pelas mulheres
pescadoras artesanais em defesa dos seus territórios e dos direitos das suas respectivas coletividades
específicas.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Emerson Avelino de Souza (Estudante)
Resumo: Os Kulina de auto denominação Madiha, que significa aqueles que são gente, falam a língua Kulina de
tronco linguístico Arawá. No Brasil somam uma população de 7.211 pessoas (SIASI/SESAI, 2014). Esse trabalho
se desenvolve por meio da etnografia, utilizando da observação participante. O objetivo é chegar à
compreensão de como se organiza social e politicamente a aldeia Madiha Porto Velho, descrevendo a função, o
processo de formação do líder político, ou tamine (cacique) e o líder religioso dsoppinehe (pajé), e a
relação entre lideranças e comunidade.
Como destaca Genoveva Amorim, existe uma relação muito estreita entre xamanismo e chefia, pois os últimos
grandes tamine eram pajé (2019, p. 120). Percebemos desta forma que a chefia e a pajelança/xamanismo estão
entrelaçados em toda a organização social da aldeia. É necessário compreender que chegar ao posto de chefia
é de extrema importância para a percepção social de liderança dos Madiha. O chefe é responsável por dirigir
a vida social da aldeia, com destaque para a sociabilidade de parentesco e o comportamento adequado. Lori
Altmann destaca que o tamine Kulina trabalha muito, pois a condição para o sucesso de uma mobilização
coletiva depende do seu exemplo, da sua disponibilidade. Ele precisa ter grandes roçados. O bom chefe é
aquele que, mesmo nos períodos de crise, ainda tem algo a oferecer (ALTMANN,1994, p. 75). Amorim, citando
Lorrain (1994), destaca: Os grandes líderes do passado são lembrados por serem plantadores que tinham
extensos roçados e seus produtos eram generosamente compartilhados em contextos rituais [...] (LORRAIN,
1994, apud AMORIM, 2014, p. 89). O pajé, é o líder religioso da aldeia e responsável por realizar curas.
Genoveva Amorim destaca que: os pajés curam, mas também jogam feitiço ou flecham as pessoas com dori. [...]
O pajé faz a cura do doente segurando o feitiço-pedra-dori com a boca ou tirando-a com as mãos (AMORIM,
2019, p.183). Esse poder xamânico Kulina é respeitado e temido por todo o povo Kulina e por outros povos
indígenas como relata Costa, citado por Amorim (2014, p. 112): [...] os Kanamari admiram e temem os xamãs
Kulina. Sendo que os Kanamari costumam se dirigir às aldeias Kulina em busca de cura [...] (COSTA, 2007:
26-93, apud AMORIM, 2014, p.112, nota de rodapé 196).
Minha motivação no desenvolvimento dessa pesquisa é minha relação de parentesco com o povo Madiha Kulina.
Mesmo eu tendo vivido em contexto urbano, sempre mantive laços de convivência com meus parentes. Com início
do curso de Licenciatura Letras, Língua Portuguesa, descobri a possibilidade de poder dar evidência à
cultura e às histórias do meu povo, através da nossa visão de mundo. Está pesquisa tem o propósito de ser
uma das pioneiras, por ser escrita por um Madiha sobre os Madiha.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Fabiana Helena da Silva (UFRRJ)
Resumo: Este trabalho foi desenvolvido a partir de pesquisa etnográfica em curso, na Ilha da Marambaia/RJ, local
que abriga a Comunidade Remanescente de Quilombolas e uma Base Militar da Marinha. Além do acompanhamento do
cotidiano, foram consultados documentos presentes nos acervos do quilombo e neste contexto, as teorias de
Estado propostas por Veena Das (2008) têm sido fundamentais para pensar estas dinâmicas, em especial, o
quanto documentos escritos atuam na organização da vida diária. Neste recorte, apresento questões
relacionadas à comprovação da identidade étnica quilombola, assunto muito presente no cotidiano da
comunidade. Comprovação esta, fundamental para aquisição de direitos, como o Auxílio Permanência do Governo
Federal para estudantes de Instituições Federais de nível superior, assim como para ter acesso à cotas e
benefícios relacionados a projetos de empresas ou ONGs, oportunidades de trabalho específico para grupos
étnicos quilombolas e estágios. Para isto, a diretoria da comunidade emite declaração na qual a etnicidade
quilombola é afirmada, através da assinatura de três lideranças, ressaltando o pertencimento à comunidade,
manutenção de laços familiares, econômicos e socioculturais. Nesta trajetória etnográfica dentro da
comunidade, tenho acompanhado o quanto a emissão de comprovação da identidade, está de forma inegociável,
relacionada à morada no espaço físico território quilombola. No passado recente da comunidade, famílias
foram expulsas pela Marinha e impossibilitadas de voltar a morar na ilha. Em épocas anteriores, algumas
saíram de forma voluntária, em busca de escolarização e trabalho. Além disso, por conta da baixa mobilidade
e falta de recursos, muitas estabeleceram moradia fixa no continente. Busco apresentar neste trabalho
reflexões sobre este estar para ser e sobre os fluxos de saída e retorno destas pessoas para a ilha.
Desenvolvo essa reflexão a partir de algumas histórias de ilhéus e seus familiares do continente. O objetivo
desta pesquisa é promover uma reflexão sobre as especificidades deste quilombo como um território que possui
fluidez e, ao mesmo tempo, um severo controle mediado pelo Estado. Para tal, proponho uma análise dos
argumentos relacionados às saídas voluntárias e compulsórias, tendo por base depoimentos e pesquisa
documental, buscando dar enfoque especialmente à dinâmica documento-território em atestar a identidade
quilombola, sem deixar de fora conflitos, conquistas, perdas, projetos e sonhos. Por fim, refletir sobre as
dimensões simbólicas propostas por Beatriz do Nascimento (Ratts, 2006), que contraria o pensamento ocidental
vigente, sobre ser onde está, corpo-território ou corpo como o próprio território de pertença.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Flaviana Almeida do Nascimento (UEMA), Flaviana Almeida do Nascimento (UEMA)
Resumo: Esta apresentação pretende expor os resultados parciais da minha pesquisa de mestrado, orientada pela
Profa. Karina Biondi, sobre os agenciamentos implicados no fazer da política sindical do delegado de base
para a sustentação do movimento de trabalhadores e trabalhadoras rurais vinculados à Federação dos
Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares do Estado do Maranhão (FETAEMA). Meu ponto de
partida é uma etnografia realizada durante o primeiro módulo do Curso de Formação Política de Educação
Popular e Trabalho de Base para delegados sindicais, dirigentes e lideranças de base, promovido pela
Confederação Nacional de Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (CONTAG), ocorrido em
novembro de 2023 na Vila das Almas, um povoado quilombola localizado no Território Saco das Almas, município
de Brejo, Maranhão, Brasil. Meu interesse é compreender o sentido da política que está em jogo nas relações
entre os delegados sindicais da base da FETAEMA. A considerar o campo analiticamente, são os delegados
sindicais a peça chave para compreensão do sentido nativo de política e como as implicações desse sentido
atravessam o Movimento de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (MSTTR). De acordo com as narrativas dos
participantes do curso, a política que se realiza no território se mostra divergente da ideia de unicidade
estatutariamente defendida pela FETAEMA e sindicatos. A formação política serve para conhecer o jeito certo
de fazer essa política. Para o MSTTR, a formação resultará na organização política, fortalecimento de
lideranças, representação, representatividade e resistências na busca de melhorias para o sócio,
diferentemente dos atravessadores de paletó, assim chamados os grupos de advogados que realizam seus
serviços jurídicos e cooptam os trabalhadores e trabalhadoras rurais. Nesta apresentação, pretendo
evidenciar os interesses dos participantes no processo político de fortalecimento do MSTTR, suas
perspectivas a partir da apreensão de suas concepções de política, movimento sindical e território, bem como
da forma que realizam a política local. Minha intenção é realizar um exercício etnográfico acerca da
política, tal como se expressa no cotidiano dos delegados sindicais da região do Baixo Parnaíba Maranhense.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Israel da Silva Oliveira (estad)
Resumo: O presente trabalho, propõe uma investigação dos processos políticos de lideranças quilombolas em
Alagoas. Por meio de uma abordagem processualista, esta pesquisa em andamento toma à atenção a relação do
estado e seus atores políticos em diálogo com as lideranças representativas do movimento quilombola
alagoano.
Por meio de uma leitura em rede, o trabalho é construído a partir da uma vivência enquanto quilombola, junto
de outras lideranças quilombolas organizadas em coordenações estaduais, aliados externos da fronteira
étnica, buscando direitos e apoios políticos em relação as instituições do estado Alagoas e atores
políticos, na busca por direitos e políticas públicas. Dentro do contexto de pesquisa, estou posicionado de
modo que o processo etnográfico, que se constitui de uma atuação em engajamento com o pertencimento ao
movimento quilombola (enquanto quilombola de Cajá dos negros) e uma atuação técnico/política na estrutura do
estado (por meio de uma acessória técnica na Secretária Estadual da Primeira Infância). Assim, por meio de
uma observação participante com foco nas lideranças suas relações com o estado e internamente ao movimento,
busco problematizar o que é ser liderança quilombola em Alagoas, nos aspectos das mediações, cooptação e
relações políticas, em meio às dinâmicas da representação, associativismo e projetos políticos.
Partindo de Fredrik Barth e suas observações sobre a etnicidade, em especial sobre agentes políticos,
focando nos processos e formas contextuais de fazer política, ao abordar a complexidade das relações entre
etnicidade, agentes políticos e conflitos étnicos, dando atenção a manipulação de identidades étnicas por
meio de líderes políticos. Um dos principais pontos são as estratégias emergentes deste campo e os efeitos
na etnicidade na atuação de líderes de médio escalão.
Em Alagoas, segundo os dados da Fundação Cultural Palmeares são certificadas 74 comunidades, nota-se neste
cenário a presença de associações quilombolas de níveis comunitários, e duas Coordenações quilombolas de
representação estadual: GANGAZUMBA - Coordenação Estadual de Lideranças Quilombolas de Alagoas e As DANDARAS
- Coordenação Feminina de Lideranças Quilombolas de Alagoas. Com essa atuação paralela, a rivalidade junto
de uma dinâmica de construção de legitimidade ambas entram em embate, esse contexto não se distância da
política regionalizada que tem posicionamentos que geram afastamentos e aproximações, apoios ou oposições
políticas na dinâmica de interação dos diferentes projetos políticos. A questão de gênero é latente ao
contexto político analisado, num cenário de forças políticas externas a fronteira da etnicidade, no processo
de criação e manutenção de relações políticas na estrutura do estado, se inserindo ou buscando aliados.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Ivanildo Antonio de Lima (SME)
Resumo: ÉSTE TRABALHO TEM COMO OBJETIVO PRINCIPAL DIALOGAR COM CINCO MULHERES QUE ATUAM COMO LIDERANÇAS
QUILOMBOLAS NO RIO GRANDE DO NORTE, PONTUANDO SUAS TRAJETÓRIAS E BUSCANDO ENTENDER O PAPEL CENTRAL DESSAS
LIDERANÇAS NAS REIVINDICAÇÕES PELOS TERRITÓRIOS, NA BUSCA POR POLÍTICAS PÚBLICAS E NOS DIÁLOGOS COM AS
INSTITUIÇÕES DENTRO E FORA DAS COMUNIDADES. VALE DESTACAR QUE O SURGIMENTO E VISIBILIDADE DADA ÀS
COMUNIDADES QUILOMBOLAS NO RN É UMA CONSTRUÇÃO RECENTE, RESULTANTE DO PROCESSO DE EMERGÊNCIA ÉTNICA COM
INÍCIO NOS ANOS 2000, GRAÇAS AO TRABALHO EM CONJUNTO DO MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO (MDA), O
INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRÁRIA (INCRA) E A UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
QUE RESULTARAM NA ELABORAÇÃO DE LAUDOS ANTROPOLÓGICOS E IDENTIFICARAM INÚMEROS AGRUPAMENTOS QUILOMBOLAS,
INICIANDO UMA LUTA PELA TITULAÇÃO E RECONHECIMENTO DOS TERRITÓRIOS À FRENTE DESSE TRABALHO, GANHANDO
DESTAQUE NESSE PROCESSO DE LUTAS E RESISTÊNCIAS, PRINCIPALMENTE, ESTABELECENDO DIÁLOGOS COM O ESTADO,
INSTITUIÇÕES E A SOCIEDADE CIVIL. ASSIM, ESTABELECI UM DIÁLOGO COM CINCO MULHERES QUILOMBOLAS DE DIFERENTES
COMUNIDADES DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE (CAPOEIRAS, GROSSOS, GAMELEIRAS DE BAIXO, BOA VISTA DOS NEGROS
E MOITA VERDE). COM O APOIO DE PESQUISA BIBLIOGRÁFICA, ENTREVISTAS E DADOS SOBRE AS TRAJETÓRIAS DE VIDA
DESSAS INTERLOCUTORAS, BUSCO ENTENDER ASPECTOS DA VIDA COTIDIANA E AS ATIVIDADES MILITANTES DAS LIDERANÇAS
QUILOMBOLAS.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Kauany Victória Silva Souza (UEPA), Tais Oliveira (UEPA), Joâo Luiz da Silva Lopes (UEPA)
Resumo: O objetivo deste artigo é evidenciar a atuação das mulheres quilombolas nas lutas sociais, de um povo
que sofre cotidianamente com resquícios do preconceito vivenciado por seus antepassados, visto que não
existiam dados sobre as comunidades quilombolas no IBGE até o ano de 2022. Torna-se necessário descrever o
papel das mulheres negras como protagonistas de sua própria história e na luta pelos seus direitos sociais e
territoriais. A comunidade remanescente de quilombos Nossa senhora do Livramento está localizada na antiga
estrada de ferro, mais conhecida como Belém-Bragança no município de Igarapé Açu que fica aproximadamente
150 km da capital do Pará, onde há diversos vestígios históricos da primeira ferrovia amazônica. Nesse
contexto, a comunidade emerge como um cenário de resistência e empoderamento da mulher negra, onde elas
desempenham papéis fundamentais na condução das lutas sociais e na busca pela garantia de seus direitos. O
estudo demandou uma abordagem qualitativa, materializada em um trabalho de campo, no qual utilizamos como
técnica de coleta de dados, assim como a entrevista semiestruturada com a presidente e a vice-presidente da
associação. Os resultados apontam essas mulheres como guardiãs da cultura e da identidade quilombola, que
enfrentam desafios diários, desde a preservação de suas tradições até a conquista de espaços de
representatividade e participação nas decisões que afetam suas vidas e seu território. Um exemplo desse
ativismo é a principal organização local ARQUINSEL (Associação dos Remanescentes de Quilombos Nossa Senhora
do Livramento) criada no ano de 2009, está sob a gestão de 10 lideranças femininas, cargos que são
tradicionalmente ocupados por homens. Todavia, o protagonismo dessas mulheres é evidenciado não apenas pela
ocupação de cargos de liderança na Associação, mas também pelo seu engajamento ativo em questões como: a
defesa do território, a preservação ambiental, a promoção da igualdade de gênero, o combate ao racismo, a
luta pelos serviços de educação, saúde, saneamento básico, entre outras. O papel das mulheres quilombolas
como agentes de transformação e resistência destaca-se não apenas pela sua atuação dentro de suas
comunidades, mas também pelo exemplo que oferecem para outras mulheres, tanto quilombolas quanto de outras
origens, que enfrentam desafios semelhantes. Assim, é fundamental continuarmos debatendo e valorizando o
papel das mulheres quilombolas, reconhecendo sua importância como agentes de mudança e inspiração na
sociedade contemporânea.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Laenia Nascimento da Silva (UFRJ)
Resumo: Com base em um estudo etnográfico realizado na região norte do estado do Ceará, esta pesquisa busca
analisar o protagonismo de mulheres enquanto sujeitos exemplares no âmbito da vaquejada pé de mourão
cearense, sobretudo partir da criação de um coletivo feminino denominado Associação Feminina de Vaqueiras da
Vaquejada Pé de Mourão (AFEVA). Partindo da problematização da invisibilidade das mulheres e do seu
apagamento em espaços públicos, procuro demonstrar como as vaqueiras aparecem a partir do razoável sucesso
obtido por elas com a AFEVA e a categoria feminina, que apesar de mínimo, aciona a sua presença na cena
pública, performática e ritual das vaquejadas. Elas, enquanto sujeitos generificados e relacionados ao
cuidado, quando associadas à dimensão feminina-materna, lidam ainda com julgamentos morais concernentes a
ser ou não um bom exemplo enquanto mães e responsáveis, principalmente pela constante necessidade de
mobilidade que as competições acionam. Desse modo, trazendo como foco de análise as histórias de vida de
mulheres e/em seu agenciamento nesses espaços, apresento uma narrativa historiográfica sobre o coletivo e
suas idealizadoras, que conquistaram com isso, o papel de figuras centrais dentro desse movimento até os
dias de hoje, apontando para uma exemplaridade, bem como para a sua construção de identidade enquanto
sujeitos políticos, ativos e modelos de inspiração à outras mulheres. Destaco ainda que esse movimento
feminino, apesar dos ideais de rompimento com uma estrutura dominante masculina, não necessariamente
coincide com aqueles dos movimentos feministas, mas ocorre dentro de um agenciamento como maneira de viver
uma tradição centrada na masculinidade, causando rupturas, efeitos e transformações importantes ao longo
dessa inserção.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Lívia Ferraz da Costa Duarte (UFMG)
Resumo: Há quase duas décadas, a empresa denominada Borba Gato, laranja da então MMX, de Eike Batista, comprou
terras de posseiros na comunidade de Água Santa, zona rural de Conceição do Mato Dentro (MG). Alegando que o
uso seria para a criação de gado e eucalipto, a empresa se apropriou da terra para, na verdade, explorar
minério de ferro e construir o que viria a ser o maior mineroduto do mundo, o que só foi descoberto pelas
comunidades apenas dois anos depois, quando as pesquisas de sondagem e o processo de licenciamento ambiental
foram iniciados. Parte da área vendida contemplava terras no bolo ocupadas por lavradores há mais de quatro
gerações, cuja memória das famílias remonta à escravidão. Esse sistema fundiário funciona por meio de regras
costumeiras de uso, gestão e herança da terra; uma das característica é que nele é reconhecido os direitos
dos herdeiros ausentes, os quais não foram considerados herdeiros legítimos pela mineradora. Os Pimenta,
família ali nascida e criada, foi uma das primeiras a terem suas posses adquiridas, e não tiveram os
direitos possessórios coletivos reconhecidos; além disso, experienciaram formas várias de violências
praticadas pelo empreendedor, como ameaças, assédio, descumprimento de acordos, entre outras. Serra, bicho,
mato, águas sagradas e caminhos santos foram destruídos para dar lugar à mina de ferro do empreendimento.
Mobilidade sobre e entre as terras, laços de parentesco, sociabilidades e autonomia expressa pelo trabalho
na terra foram rompidos.
O núcleo familiar de Darcília Pimenta, uma das herdeiras ausentes, segue ainda sem receber o valor da
indenização. A lavradora mora na comunidade de Passa Sete, situada a poucos quilômetros de Água Santa e a
1,5km da barragem de rejeitos. Como a lavradora foi uma das primeiras a ter sua terra perdida e os direitos
violados, Darcília foi uma das primeiras a se apropriar dos ritos do licenciamento ambiental vide reuniões,
audiências e a participar dos movimentos de resistência. Nesse ínterim, a lavradora se torna uma das
principais referências e exemplo de ação política para outros atingidos, sofrendo, inclusive, diversas
retaliações da empresa ao longo dos anos.
Mulher, benzedeira, comadre de mais de 40 afilhados, Darcília é uma referência política e figura de
importância social e moral para as várias comunidades vizinhas. Como afirma Gelley (1995), os exemplos não
nascem prontos: há uma estreita ligação com as circunstâncias. Assim, este ensaio se esforça em acompanhar
etnograficamente a trajetória de Darcília, compreender, afinal, como se deu a construção da lavradora
enquanto pessoa exemplar, enquanto uma espécie de dispositivo de memória de luta e ancestralidade, através
das práticas e processos e espaços de subjetivação (Almeida, 2022).
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Lucas P. Álvares (UFJF)
Resumo: Esta proposta de comunicação pretende explorar um caso específico acessado pelo etnógrafo em agosto de 2022 na comunidade quilombola Pé da Serra, pertencente ao município de Januária, norte de Minas Gerais. Em resumo, o caso pode ser exposto da seguinte forma: ao acordar, Joana relata a seu marido e filhos a ocorrência de um sonho que a atormentou durante toda a noite. Naquela mesma manhã, os familiares sugerem a Joana que procure Zé Preto, líder comunitário do quilombo e relate os detalhes do sonho. Imediatamente ela vai até a casa da liderança e diz ter sonhado com sua avó (mãe de Zé Preto, que falecera dois anos antes), que a confidenciou, de modo onírico, a existência de uma dívida deixada pela falecida em vida: uma dança a São Gonçalo, fruto de uma promessa cuja graça havia sido alcançada embora o sacrifício não tenha sido devidamente cumprido. Em razão disso, a avó relatou a Joana que sua alma encontrava-se em "estado de aflição", dependendo do pagamento da promessa em terra para sua libertação. Zé Preto ouviu atentamente o relato da sobrinha, no entanto, o fez com questionamentos: Aí eu fiquei desconfiado e falei esse negócio não tá certo não (Zé Preto, Pé da Serra, 25/08/2022). Ao adentrar às especificidades dos dramas que envolvem a família em questão, amparados por relatos, casos e genealogias, bem como pela forma pela qual se institui as relações comunitárias no quilombo Pé da Serra, o etnógrafo pôde explorar as razões que geraram a desconfiança de Zé Preto em relação ao sonho relatado pela sobrinha Joana, em especial, as relações de parentesco ali instituídas e a preponderância do papel de liderança que ele exerce na comunidade. O que chama a atenção, além do mais, é o ato de conferirem à liderança o papel garantidor de legitimidade de um relato individual de natureza onírica, a partir da autoridade e prestígio legados a Zé Preto, a tal ponto deste ser o portador do poder decisório sobre o pagamento ou não de uma dívida d'alma (Álvares, 2023) - ou promessa de defunto, nos termos de Queiroz (1958). A partir de estudos etnográficos realizados de modo intermitente entre 2020 e 2024, e considerando o caso específico supracitado, esta comunicação pretende adentrar aos meandros dos dilemas individuais e coletivos de uma comunidade quilombola rural tendo como centralidade a relação entre a liderança comunitária e os demais moradores. De modo ainda parcial, conclui-se que o caráter extensionista do poder decisório da liderança não se resume aos dilemas político-objetivos da comunidade mas se insere, adicionalmente, nas possibilidades resolutivas de questões que se colocam nas esferas subjetivas e oníricas, amparada pelas particularidades da organização social local em conformidade com as expressões da cultura popular que comungam.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Maria Isabel Trivilin Pereira (Museu Nacional - UFRJ)
Resumo: Neste texto, fruto de uma pesquisa sobre o tipo de transformação que o agronegócio vem promovendo em
comunidades do sul do país como a São João, reflito sobre a complexidade dos julgamentos e regramentos
éticos, com possibilidades narrativas e de reconhecimento que vão tornando as questões cada vez mais
difíceis de enquadrar a uma regra específica. Por meio das histórias que os moradores contam, mostro como a
comunidade vai se constituindo nos conflitos ao mesmo tempo em que coloca seus próprios critérios de
julgamento em jogo. Na intenção de possibilitar uma visão mais interna de como os moradores elaboram tais
julgamentos, abordando-os a partir de várias dimensões, construindo reputações e julgando condutas por mais
de uma circunstância, passo a olhar para os locais de excelência das brigas mais espetaculares (bailes,
festas e jogos de futebol) até as mais sutis (cozinhas, atividades relacionadas à igreja e fofocas). Das
regras que impediam a mulher de recusar uma dança, apresento as reações típicas, as sanções morais, o papel
poderoso das fofocas, os grupos das moças faladas, as vinganças entre mulheres e a pequena revolução ética
que se deu no caso das meninas solteiras que apareciam grávidas. Com o sofrimento no centro dos julgamentos,
reflito sobre a construção de novas reputações e a mudança de parâmetros. Das sofredoras que enfrentavam a
vida sozinha às confinadas em casa pelos maridos, vai sendo possível identificar padrões de referência e
levantar questões sobre as imagens construídas e contestadas do que significava ser mulher na época. Para o
bem ou para o mal, começam a ser apresentadas as figuras exemplares, os personagens recorrentes das
histórias. Estratégia essa que não se deu ao acaso, mas é também a forma como a própria comunidade se pensa:
analisando a vida de certas pessoas em especial, refletindo sobre seu regramento ético e político não por
abstrações, mas a partir da discussão da vida de determinadas pessoas aqueles que todos lembram, que repetem
suas frases e que não são julgados só por um momento, mas por uma trajetória toda. Reforçando a inadequação
de uma imagem idílica do campo, como um lugar de paz e tranquilidade, enquanto na cidade estariam o perigo e
a ambição, os moradores atestavam que, quanto mais distante no tempo, mais bravos e perigosos eram os
homens, oferecendo um catálogo de valentes com uma diminuição no grau de sua fama. Às figuras exemplares
somam-se às dos calmos e apaziguadores, conhecidos pela generosidade e respeitados até pelos mais bravos.
Nelas incluem lideranças da igreja, da associação comunitária, da organização das festas, rezas e dos
torneios de futebol.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Rodica Weitzman (UFRRJ)
Resumo: A intenção deste trabalho é analisar os estilos de liderança de mulheres agricultoras a partir de um
processo de mobilização e auto-organização que começa, de forma embrionária, por dentro da estrutura
institucional do Sindicato de trabalhadores rurais (STR) de Simonésia, na região leste de Minas Gerais/
Brasil. O foco da análise concerne ao processo de restruturação de significações em torno do lugar que as
mulheres ocupam, o que desemboca em mudanças no mapeamento das relações que costuram com a realidade
circundante. Muitas das mulheres que integram uma Comissão de trabalhadoras rurais identificam com a
categoria classificatória de lideranças e progressivamente intensificam seu grau de engajamento em
movimentos sociais afins, além de ampliar suas formas de atuação para o âmbito regional. As trajetórias
destas mulheres sofrem modificações a partir de sua entrada em espaços marcados por relações assimétricas. É
nítido a evolução dos seus esquemas de ação política a partir de diversas interpelações, na medida em que
assumam posturas de negociação, conciliação e contestação diante de outros atores sociais. Atenção será dada
aos seus esforços para tecer uma pedagogia que seja coerente com as particularidades de suas bandeiras de
luta, além de uma linguagem específica que orienta os rumos de suas disputas e enfrentamentos dentro de
instâncias de interlocução em um campo político poroso e conflitante. Marcos da trajetória de Teresinha -
uma agricultora que se tornou a primeira mulher a assumir o cargo de presidente no STR no ano de 2010,
serão destacados a partir da ótica da mobilidade. O fato de grande parte dos estudos de migração
tradicionalmente serem focados nos movimentos dos homens, como protagonistas desses fluxos, contribui para a
invisibilidade dos modos de se movimentar das mulheres, que implicam o desenvolvimento de novas funções e
aptitudes, a partir da ampliação da escala de sua atuação. Veremos de que maneira Teresinha paulatinamente
consegue incidir nos processos internos de gestão institucional e desempenhar um papel de mediação, no
sentido expresso por Wolf (1971). Assim, testemunhamos de que modo tornar-se liderança no ambiente sindical
e fora dele envolve a aprendizagem de habilidades como a diplomacia para lidar com conflitos e um jeito
singelo de construir uma linha argumentativa nos seus discursos. Teresinha e outras lideranças sindicais
procuram se adequar a um modelo organizacional em que a fala bonita é determinante no processo de tomada de
decisões, ao mesmo tempo em que gradativamente ganham respeito para introduzir mudanças no modelo de gestão
que desafiam hierarquizações cristalizadas e a estagnação dos fluxos de poder.