Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 068: Liderança: estilos, modos, formas, problemas e exemplos entre camponeses, quilombolas e povos tradicionais
Novos modos de liderar a gestão institucional para dentro e para fora: Estratégias de atuação de
mulheres agricultoras no movimento sindical da região leste de Minas Gerais
A intenção deste trabalho é analisar os estilos de liderança de mulheres agricultoras a partir de um
processo de mobilização e auto-organização que começa, de forma embrionária, por dentro da estrutura
institucional do Sindicato de trabalhadores rurais (STR) de Simonésia, na região leste de Minas Gerais/
Brasil. O foco da análise concerne ao processo de restruturação de significações em torno do lugar que as
mulheres ocupam, o que desemboca em mudanças no mapeamento das relações que costuram com a realidade
circundante. Muitas das mulheres que integram uma Comissão de trabalhadoras rurais identificam com a
categoria classificatória de lideranças e progressivamente intensificam seu grau de engajamento em
movimentos sociais afins, além de ampliar suas formas de atuação para o âmbito regional. As trajetórias
destas mulheres sofrem modificações a partir de sua entrada em espaços marcados por relações assimétricas. É
nítido a evolução dos seus esquemas de ação política a partir de diversas interpelações, na medida em que
assumam posturas de negociação, conciliação e contestação diante de outros atores sociais. Atenção será dada
aos seus esforços para tecer uma pedagogia que seja coerente com as particularidades de suas bandeiras de
luta, além de uma linguagem específica que orienta os rumos de suas disputas e enfrentamentos dentro de
instâncias de interlocução em um campo político poroso e conflitante. Marcos da trajetória de Teresinha -
uma agricultora que se tornou a primeira mulher a assumir o cargo de presidente no STR no ano de 2010,
serão destacados a partir da ótica da mobilidade. O fato de grande parte dos estudos de migração
tradicionalmente serem focados nos movimentos dos homens, como protagonistas desses fluxos, contribui para a
invisibilidade dos modos de se movimentar das mulheres, que implicam o desenvolvimento de novas funções e
aptitudes, a partir da ampliação da escala de sua atuação. Veremos de que maneira Teresinha paulatinamente
consegue incidir nos processos internos de gestão institucional e desempenhar um papel de mediação, no
sentido expresso por Wolf (1971). Assim, testemunhamos de que modo tornar-se liderança no ambiente sindical
e fora dele envolve a aprendizagem de habilidades como a diplomacia para lidar com conflitos e um jeito
singelo de construir uma linha argumentativa nos seus discursos. Teresinha e outras lideranças sindicais
procuram se adequar a um modelo organizacional em que a fala bonita é determinante no processo de tomada de
decisões, ao mesmo tempo em que gradativamente ganham respeito para introduzir mudanças no modelo de gestão
que desafiam hierarquizações cristalizadas e a estagnação dos fluxos de poder.
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