ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 068: Liderança: estilos, modos, formas, problemas e exemplos entre camponeses, quilombolas e povos tradicionais
Lideranças do Povo Madiha Kulina, da Aldeia Porto Velho, Terra Indígena Kulina do Médio Juruá, Eirunepé-AM: formação, sucessão, papéis e relações entre elas.
Os Kulina de auto denominação Madiha, que significa aqueles que são gente, falam a língua Kulina de tronco linguístico Arawá. No Brasil somam uma população de 7.211 pessoas (SIASI/SESAI, 2014). Esse trabalho se desenvolve por meio da etnografia, utilizando da observação participante. O objetivo é chegar à compreensão de como se organiza social e politicamente a aldeia Madiha Porto Velho, descrevendo a função, o processo de formação do líder político, ou tamine (cacique) e o líder religioso dsoppinehe (pajé), e a relação entre lideranças e comunidade. Como destaca Genoveva Amorim, existe uma relação muito estreita entre xamanismo e chefia, pois os últimos grandes tamine eram pajé (2019, p. 120). Percebemos desta forma que a chefia e a pajelança/xamanismo estão entrelaçados em toda a organização social da aldeia. É necessário compreender que chegar ao posto de chefia é de extrema importância para a percepção social de liderança dos Madiha. O chefe é responsável por dirigir a vida social da aldeia, com destaque para a sociabilidade de parentesco e o comportamento adequado. Lori Altmann destaca que o tamine Kulina trabalha muito, pois a condição para o sucesso de uma mobilização coletiva depende do seu exemplo, da sua disponibilidade. Ele precisa ter grandes roçados. O bom chefe é aquele que, mesmo nos períodos de crise, ainda tem algo a oferecer (ALTMANN,1994, p. 75). Amorim, citando Lorrain (1994), destaca: Os grandes líderes do passado são lembrados por serem plantadores que tinham extensos roçados e seus produtos eram generosamente compartilhados em contextos rituais [...] (LORRAIN, 1994, apud AMORIM, 2014, p. 89). O pajé, é o líder religioso da aldeia e responsável por realizar curas. Genoveva Amorim destaca que: os pajés curam, mas também jogam feitiço ou flecham as pessoas com dori. [...] O pajé faz a cura do doente segurando o feitiço-pedra-dori com a boca ou tirando-a com as mãos (AMORIM, 2019, p.183). Esse poder xamânico Kulina é respeitado e temido por todo o povo Kulina e por outros povos indígenas como relata Costa, citado por Amorim (2014, p. 112): [...] os Kanamari admiram e temem os xamãs Kulina. Sendo que os Kanamari costumam se dirigir às aldeias Kulina em busca de cura [...] (COSTA, 2007: 26-93, apud AMORIM, 2014, p.112, nota de rodapé 196). Minha motivação no desenvolvimento dessa pesquisa é minha relação de parentesco com o povo Madiha Kulina. Mesmo eu tendo vivido em contexto urbano, sempre mantive laços de convivência com meus parentes. Com início do curso de Licenciatura Letras, Língua Portuguesa, descobri a possibilidade de poder dar evidência à cultura e às histórias do meu povo, através da nossa visão de mundo. Está pesquisa tem o propósito de ser uma das pioneiras, por ser escrita por um Madiha sobre os Madiha.