Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 068: Liderança: estilos, modos, formas, problemas e exemplos entre camponeses, quilombolas e povos tradicionais
Lideranças do Povo Madiha Kulina, da Aldeia Porto Velho, Terra Indígena Kulina do Médio Juruá,
Eirunepé-AM: formação, sucessão, papéis e relações entre elas.
Os Kulina de auto denominação Madiha, que significa aqueles que são gente, falam a língua Kulina de
tronco linguístico Arawá. No Brasil somam uma população de 7.211 pessoas (SIASI/SESAI, 2014). Esse trabalho
se desenvolve por meio da etnografia, utilizando da observação participante. O objetivo é chegar à
compreensão de como se organiza social e politicamente a aldeia Madiha Porto Velho, descrevendo a função, o
processo de formação do líder político, ou tamine (cacique) e o líder religioso dsoppinehe (pajé), e a
relação entre lideranças e comunidade.
Como destaca Genoveva Amorim, existe uma relação muito estreita entre xamanismo e chefia, pois os últimos
grandes tamine eram pajé (2019, p. 120). Percebemos desta forma que a chefia e a pajelança/xamanismo estão
entrelaçados em toda a organização social da aldeia. É necessário compreender que chegar ao posto de chefia
é de extrema importância para a percepção social de liderança dos Madiha. O chefe é responsável por dirigir
a vida social da aldeia, com destaque para a sociabilidade de parentesco e o comportamento adequado. Lori
Altmann destaca que o tamine Kulina trabalha muito, pois a condição para o sucesso de uma mobilização
coletiva depende do seu exemplo, da sua disponibilidade. Ele precisa ter grandes roçados. O bom chefe é
aquele que, mesmo nos períodos de crise, ainda tem algo a oferecer (ALTMANN,1994, p. 75). Amorim, citando
Lorrain (1994), destaca: Os grandes líderes do passado são lembrados por serem plantadores que tinham
extensos roçados e seus produtos eram generosamente compartilhados em contextos rituais [...] (LORRAIN,
1994, apud AMORIM, 2014, p. 89). O pajé, é o líder religioso da aldeia e responsável por realizar curas.
Genoveva Amorim destaca que: os pajés curam, mas também jogam feitiço ou flecham as pessoas com dori. [...]
O pajé faz a cura do doente segurando o feitiço-pedra-dori com a boca ou tirando-a com as mãos (AMORIM,
2019, p.183). Esse poder xamânico Kulina é respeitado e temido por todo o povo Kulina e por outros povos
indígenas como relata Costa, citado por Amorim (2014, p. 112): [...] os Kanamari admiram e temem os xamãs
Kulina. Sendo que os Kanamari costumam se dirigir às aldeias Kulina em busca de cura [...] (COSTA, 2007:
26-93, apud AMORIM, 2014, p.112, nota de rodapé 196).
Minha motivação no desenvolvimento dessa pesquisa é minha relação de parentesco com o povo Madiha Kulina.
Mesmo eu tendo vivido em contexto urbano, sempre mantive laços de convivência com meus parentes. Com início
do curso de Licenciatura Letras, Língua Portuguesa, descobri a possibilidade de poder dar evidência à
cultura e às histórias do meu povo, através da nossa visão de mundo. Está pesquisa tem o propósito de ser
uma das pioneiras, por ser escrita por um Madiha sobre os Madiha.