Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 068: Liderança: estilos, modos, formas, problemas e exemplos entre camponeses, quilombolas e povos tradicionais
As ameaças de morte no PAE Lago Grande, Santarém, Pará
No mês de setembro de 2023 recebemos a notícia de que mais uma liderança do PAE Lago Grande de Santarém,
tinha sido ameaçada de morte, desta vez um jovem do coletivo dos guardiões do bem viver. Assim explica uma
outra liderança esse processo que se arrastra nos últimos vinte anos nesse território:
"O primeiro foi no período da Ivete, em 2004, que essas ameaças aconteceram, de lá pra cá, as coisas foram
conflituando cada vez mais, hoje dentro do PAE Lago Grande, nós temos, nós somos dezessete lideranças
ameaçadas (desde 24 de fevereiro de 2024 já são 18), doze homens, cinco mulheres. Todos, porque denunciam,
na realidade não concordam com aquilo que vão fazer o mal, com aquilo que não é viável para a sociedade,
para as futuras gerações que vai prejudicar o nosso rio, a nossa floresta, nosso bem viver, nosso bem-estar,
e quando a gente denuncia, a gente está fazendo algo que vai prejudicar, que vai incomodar, na verdade, que
vai incomodar as pessoas, principalmente, os grandes latifúndios, e isso a gente tem feito muito, denunciado
pra fora, a gente deixou de falar pra nós, e estamos falando pra fora, para os fóruns, para as COPs, enfim,
em vários eventos que estão acontecendo no mundo, essa situação que traz as ameaças para dentro do nosso
território." (liderança ameaçada)
Pretendemos nesta comunicação trazer a narrativa de algumas dessas lideranças em que, da mesma forma como
aparece nesse depoimento, as ações de denunciar, falar e se apresentar em espaços além de seu território,
gera uma ofensiva individual de ameaça explícita de morte, perseguição e intimidação. A formação,
articulação e a base de mobilização dessas lideranças são entidades coletivas, já seja através do Sindicato
das Trabalhadoras e Trabalhadores Rurais (STTR), a Federação das Associações de Moradores e Comunidades do
Assentamento Agroextrativista da Gleba Lago Grande (FEAGLE), ou o Coletivo de Jovens Guardiões do Bem Viver.
De forma unânime é indicado que a insegurança fundiária é um dispositivo mobilizado pelos grupos que são
contrários ao PAE, pois desde 2005 em que o INCRA cria o assentamento e é publicado no DOU as famílias
aguardam pelo CCDRU. Dentro desse contexto a morte, o tombar na fala deles é uma possibilidade implícita,
mas se resguardam em que o futuro será melhor, com o seu território, a sua terra que lhes permita o tão
ansiado bem viver coletivo, não só com os humanos, mas também com as plantas, os rios, peixes e frutas.