ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 068: Liderança: estilos, modos, formas, problemas e exemplos entre camponeses, quilombolas e povos tradicionais
Intelectuais das Águas: dois casos de exemplaridades de mulheres pescadoras e quilombolas do Nordeste, Brasil
Neste trabalho, temos por objetivo principal discorrer sobre os casos de exemplaridades de Dona Joana Mousinho, pescadora artesanal de Itapissuma-PE, e Marizelha Carlos Lopes, pescadora artesanal e quilombola da Comunidade de Bananeiras, Ilha de Maré-BA. Ambas são figuras emblemáticas na luta e conquista de direitos sociais, culturais e territoriais das mulheres pescadoras a nível local, estadual, nacional e internacional. Assim, são duas mulheres exemplares dos Territórios das Águas que fizeram e ainda fazem escolas posicionadas e em contexto de grande importância para sua gente. Movidas por dois sentimentos principais: a revolta pela negação histórica dos nossos territórios e direitos, invisibilidade e a necessidade de fazer justiça epistêmica às companheiras que em dado momento se tornam irmãs, inspiração e professoras na luta, que surge a proposta deste artigo. Em termos teórico-metodológicos, a proposta se apoia em entrevistas realizadas remotamente com Dona Joana Mousinho e Marizelha Carlos Lopes durante o mês de dezembro de 2023. As questões foram debatidas e formuladas tendo como premissa a consulta às nossas interlocutoras. Devido à proximidade e relação de irmandade construída há mais de duas décadas na luta ao lado de Elionice Conceição Sacramento, uma das autores deste texto, elas sentiram-se confortáveis em abrir os baús das memórias individuais e coletivas. No primeiro momento, a ênfase se deu sobre a ancestralidade negroindígena, a relação de suas famílias com o ofício da pesca artesanal e agricultura, as dimensões da espiritualidade/religião que constituem os elementos simbólicos, materiais e culturais dos territórios tradicionais aos quais pertencem. Em um segundo momento, elas retratam as violências sofridas, a chegada de novos atores antagônicos em suas comunidades e, sobremaneira, a organização da luta política em defesa da vida. Na medida em que trabalhamos estes dois casos de exemplaridades, refletimos sobre as lutas travadas pela ANP e MPP na consolidação de políticas públicas voltadas para a pesca artesanal no Brasil, ressaltando o protagonismo desempenhado pelas mulheres pescadoras artesanais em defesa dos seus territórios e dos direitos das suas respectivas coletividades específicas.