Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 068: Liderança: estilos, modos, formas, problemas e exemplos entre camponeses, quilombolas e povos tradicionais
Intelectuais das Águas: dois casos de exemplaridades de mulheres pescadoras e quilombolas do Nordeste,
Brasil
Neste trabalho, temos por objetivo principal discorrer sobre os casos de exemplaridades de Dona Joana
Mousinho, pescadora artesanal de Itapissuma-PE, e Marizelha Carlos Lopes, pescadora artesanal e quilombola
da Comunidade de Bananeiras, Ilha de Maré-BA. Ambas são figuras emblemáticas na luta e conquista de direitos
sociais, culturais e territoriais das mulheres pescadoras a nível local, estadual, nacional e internacional.
Assim, são duas mulheres exemplares dos Territórios das Águas que fizeram e ainda fazem escolas posicionadas
e em contexto de grande importância para sua gente. Movidas por dois sentimentos principais: a revolta pela
negação histórica dos nossos territórios e direitos, invisibilidade e a necessidade de fazer justiça
epistêmica às companheiras que em dado momento se tornam irmãs, inspiração e professoras na luta, que surge
a proposta deste artigo.
Em termos teórico-metodológicos, a proposta se apoia em entrevistas realizadas remotamente com Dona Joana
Mousinho e Marizelha Carlos Lopes durante o mês de dezembro de 2023. As questões foram debatidas e
formuladas tendo como premissa a consulta às nossas interlocutoras. Devido à proximidade e relação de
irmandade construída há mais de duas décadas na luta ao lado de Elionice Conceição Sacramento, uma das
autores deste texto, elas sentiram-se confortáveis em abrir os baús das memórias individuais e coletivas. No
primeiro momento, a ênfase se deu sobre a ancestralidade negroindígena, a relação de suas famílias com o
ofício da pesca artesanal e agricultura, as dimensões da espiritualidade/religião que constituem os
elementos simbólicos, materiais e culturais dos territórios tradicionais aos quais pertencem. Em um segundo
momento, elas retratam as violências sofridas, a chegada de novos atores antagônicos em suas comunidades e,
sobremaneira, a organização da luta política em defesa da vida. Na medida em que trabalhamos estes dois
casos de exemplaridades, refletimos sobre as lutas travadas pela ANP e MPP na consolidação de políticas
públicas voltadas para a pesca artesanal no Brasil, ressaltando o protagonismo desempenhado pelas mulheres
pescadoras artesanais em defesa dos seus territórios e dos direitos das suas respectivas coletividades
específicas.