ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Grupos de Trabalho (GT)
GT 015: Antropologia digital: experiências, transformações, desafios e dilemas
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Coordenação
Carolina Parreiras Silva (USP), Patricia Pavesi (UFES)

Resumo:
Na convergência entre Antropologia e tecnologias, a Antropologia Digital emerge como campo essencial para compreender as transformações contemporâneas.Oferece ferramentas fecundas para a compreensão dos processos disruptivos e fragmentadores que alimentam as crises atuais,contribuindo igualmente para o processo de construção de pontes que alarguem o horizonte da convivialidade,sobretudo aquelas em diálogo com outras formas de conhecimentos e saberes. Este GT propõe uma reflexão sobre as implicações da digitalização em territórios múltiplos e corpos plurais,considerando os desafios e oportunidades que as tecnologias apresentam para as comunidades, subjetividades e práticas culturais.Quer refletir também sobre as implicações do uso das tecnologias e da internet na realização de nossas pesquisas. O GT deseja, sobretudo (mas não apenas), explorar como as dinâmicas digitais impactam as formas de ser, estar e devir no mundo, destacando a incidência das plataformas online na construção de narrativas,na preservação do patrimônio imaterial e no fortalecimento de movimentos sociais,bem como em suas diversas formas de produção/reprodução de desigualdades por meio de lógicas algorítmicas.Abordaremos questões como o impacto das plataformas na vida cotidiana e em processos políticos, a disseminação de informações e desinformações,a transformação de práticas culturais e as implicações éticas no desenvolvimento e uso de dispositivos e artefatos tecnológicos, como a inteligência artificial.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Lasanha, Djavan e a sociabilidade do ódio no Twitter/X
Amanda Toledo do Prado Paes (UFRJ)
Resumo: O Twitter/X é uma plataforma digital cuja experiência para o usuário pode ser devastadora. Indiscriminadamente, todo e qualquer usuário pode sofrer ataques massivos por parte dos outros usuários, não apenas por atitudes de cunho preconceituoso ou repreensíveis, como uma forma de "cancelamento", mas também por relatarem experiências comuns do cotidiano. Este trabalho busca analisar o ódio presente na plataforma como forma essencial de sociabilidade entre os usuários. Seguindo a proposição de Sara Ahmed (2015), entende-se as emoções como circulantes e que, a partir do encontro, a emoção “gruda em um objeto. Da mesma forma, no Twitter/X o ódio estaria em circulação até “grudar em um objeto. Neste caso, abordaremos um tweet de dezembro de 2023, em que um usuário postou um vídeo fazendo lasanha enquanto ouvia Djavan. Esse tweet foi massivamente repercutido entre os usuários, com mensagens de ódio e de projeções de inseguranças individuais sobre o caráter do criador do vídeo. A repercussão chegou ao ponto do usuário que postou o vídeo excluir sua conta. Neste trabalho, exploramos como o ódio circulante no Twitter/X encontrou seu objeto, causando reações e impactos, para, enfim, voltar a circular em busca de um novo objeto para grudar.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Os vídeos e as crianças: as preferências infantis de conteúdos no YouTube
Anna Beatriz Oliveira Menezes Costa (UFRJ)
Resumo: Este trabalho consiste em um desdobramento de uma dissertação de mestrado voltada para os vídeos de brinquedos presentes no YouTube (Costa, 2023) e está centrado nos conteúdos mais assistidos pelas crianças na plataforma referida. Com base na realização de entrevistas semiestruturadas virtuais com dez interlocutores infantis, na faixa etária dos 7 aos 10 anos, a argumentação discute as preferências de vídeos das crianças em diálogo com os apontamentos da literatura. Dessa forma, há a abordagem das experiências infantis e da classificação das publicações elencadas no YouTube, como gameplay, unboxing e desafio (Monteiro, 2020), perpassando pelas dimensões de gênero e de uso de dispositivos pelas crianças. Nesse cenário, o consumo emerge como um elemento fundamental por meio da divulgação de marcas e de produtos nos vídeos em questão (McCracken, 2003; Rocha, 2010). Assim, a pesquisa indica uma vivência plural da plataforma e a existência de uma audiência infantil que acompanha determinadas produções em um ambiente digital.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Mulheres na política: o diálogo sobre cotas entre o feminismo de raiz e o transativismo
Camila Martins Castro de Almeida Gigliolli (UEM)
Resumo: Por meio do presente estudo pretendo analisar o tensionamento verificado entre grupos politicamente sub-representados (mulheres e mulheres trans) quanto ao meio de ingresso nos centros deliberativos e de poder do país. O conflito emerge a partir do momento em que mulheres integrantes do feminismo de raiz passam a questionar e a se opor à utilização das cotas políticas reservadas às mulheres (lei nº 9.504/97) pelas mulheres trans. No contexto atual, as candidaturas de mulheres trans podem ser efetivadas em tais cotas em razão de decisões proferidas pelo judiciário brasileiro. Essa disputa por representatividade, por direitos e por exclusividade tem ocorrido de maneira bastante intensa no âmbito virtual, onde as feministas de raiz e os transativistas têm construído suas narrativas sobre si e sobre o outro. O espaço digital é um terreno fértil para os movimentos sociais que conseguem ali discorrer sobre suas perspectivas acerca de fatos e do mundo, divulgar seus princípios fundantes e pautas e desenvolver estratégias de fortalecimento e de atuação do movimento, tanto no ambiente virtual quanto no real. A forte influência das ideias divulgadas no espaço virtual em ambientes não digitais é facilmente percebida com a verificação, a título de exemplo, das inúmeras manifestações orquestradas virtualmente (atos de 2013, #elenao, atos bolsonaristas) e de algumas alterações de caráter jurídico ocorridas após a pressão de grupos organizados e mobilizados digitalmente (retirada de trechos da proposta de reforma do Código Civil, conforme defendido por coletivos de mães e mulheres; interpretação de leis considerando o gênero e não o sexo, consoante a letra da norma). O ciberespaço se tornou um local onde os movimentos feminista de raiz e transativista encontraram um meio de comunicação direta, sem intermediários, com aqueles que porventura tenham interesse em conhecer e compreender a realidade desses grupos. É nesse ambiente digital, que se firma como cenário no qual são travadas as disputas pelo poder e pela representatividade, que estabeleço meu local de observação e documentação dos argumentos construídos pelo transativismo e pelo feminismo de raiz, visando apresentar a existência de posicionamentos antagônicos sobre o tema e a importância das dinâmicas cultivadas no ciberespaço para a construção de afetos, a atualização de discursos e a criação e mobilização de estratégias de atuação. Para tanto, coletaremos dados divulgados pelo QG Feminista (coletiva feminista) e pela ANTRA (Associação Nacional de Travestis e Transexuais), tanto em seus sítios eletrônicos quanto em suas redes sociais oficiais (Instagram).

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Etnografia e uso de plataformas digitais: aprendendo com o WhatsApp
Carolina Parreiras Silva (USP)
Resumo: Esta apresentação tem como objetivo refletir sobre métodos de pesquisa, com foco especial em ambientes digitais. A pandemia de Covid-19, além de trazer impactos significativos nas várias esferas da vida, confrontou a antropologia com a discussão mais espraiada sobre formas de realização de pesquisa de campo por meio das tecnologias digitais. Ainda que essa discussão não seja inaugurada pela pandemia, ela ganha força, inclusive com a legitimação ainda maior do campo da antropologia digital. Desse modo, a proposta deste trabalho é, a partir de experiência de pesquisa de campo e de inúmeras atividades de docência, trazer uma discussão especificamente voltada para o uso de comunicadores digitais, especificamente o Whatsapp. A escolha pelo Whatsapp se justifica por ser a ferramenta mais utilizada no Brasil e também por seu caráter muito particular de permitir comunicações em diferentes formatos e temporalidades, tendo se conformado em anos recentes como mais uma plataforma pertecente a uma big tech. Ainda, ao longo de disciplinas e cursos que ofereci nos últimos anos, foi apontado como uma das ferramentas mais utilizadas. No entanto, seu uso é tão cotidiano, banal e mundando – e poderíamos, como sugerem Cruz e Harindranath (2020), tomá-lo como uma “tecnologia da vida – que acaba sendo relegado a uma posição secundária das reflexões sobre método. Esta discussão se mostra relevante na medida em que a utilização de qualquer ferramenta digital requer uma teorização mais detida, preocupada com as diferenças entre elas. No caso específico do Whatsapp, trago uma perspectiva que leva em conta as implicações do uso de uma plataforma de uma big tech, as formas de armazenamento, os modos de construção de intimidade e garantia de privacidade dos dados coletados e os aspectos éticos envolvidos nesse uso.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Netnografia não é método: Reflexões sobre o fazer Campo e Método em redes sociais
Drielly Elienny Duarte de Figueiredo (UFPB)
Resumo: O presente trabalho surge como uma reflexão após a conclusão da minha dissertação de mestrado, intitulada " Homem internauticus: uma reflexão sobre juventude(s), influencers digitais e estéticas da masculinidade através de perfis do Instagram" onde discuti, dentre outras coisas, as Redes Sociais, em especial o Instagram, como campo e método de pesquisa, simultaneamente. A pesquisa em Redes Sociais exige uma metodologia própria justamente pela rapidez com que o fluxo de informações é compartilhado. Dessa forma, me propus, durante a pesquisa, a compreender campo e método como duas coisas distintas e ao mesmo tempo integradas: fazer o campo num aplicativo que muda diariamente, criar estratégias que me permitissem acompanhar as mudanças sem comprometer minha linha temporal de pesquisa foi essencial não apenas para discutir sobre os temas propostos na minha dissertação como também entender os sentidos da Netnografia na era de stories e conteúdos que duram 24 horas. Durante a pesquisa, foi necessário entender o que é uma netnografia, como se produz uma pesquisa online e principalmente como a Internet (e o uso dela) se transformou nos últimos anos, ao ponto de não haver mais a distinção entre online e off-line. Utilizando o método da observação participante por meio de likes e comentários, me propus a investigar 5 perfis no Instagram, observando a criação de conteúdo (temas e formatos) para construir o meu campo. O método consistiu principalmente em entender a dinâmica da plataforma Instagram, a interação entre usuários/seguidores e os próprios criadores por meio de comentários e curtidas em fotos e outros formatos de publicação. Por fim, gostaria de ressaltar que o principal objetivo da pesquisa foi observar o universo das redes sociais a fim de entender e ampliar o que é entendido enquanto netnografia depois da introdução da velocidade das redes sociais e outras formas virtuais de relacionamentos. Redes sociais. Netnografia. Instagram.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
“Eu sou gorda, é claro que eu vou no shopping e não vou achar roupa no meu tamanho”: Etnografia online sobre acesso a moda
Eduarda Helena Fernandes Toniato (UFES)
Resumo: A fala contida no título da presente proposta foi transcrita de um reels conjunto (collab) das influenciadoras digitais @raynean e @todebells, publicado na plataforma Instagram. O vídeo, na íntegra, demonstra aspectos e desdobramentos da gordofobia nas mais variadas esferas da vida social de ambas as influenciadoras. Entretanto, a questão focal da presente proposta é o acesso destes corpos gordos à moda. O mercado da moda se configura enquanto um dos segmentos que mais cresce no Brasil, entretanto, ainda parece demonstrar certa relutância em abarcar todo público consumidor de maneira completa e efetiva, em especial, corpos maiores. Vale salientar que o público consumidor de moda plus size no brasil vem crescendo nos últimos anos (segundo dados do IBGE, no ano de 2019, cerca de 25,9% da população do país era constituída de ‘obesos’), o que deixa evidente a dissonância entre oferta e demanda. Compreendendo o consumo como uma relação dotada de sentidos e significados, que muitas vezes transcendem a ideia de mera ‘necessidade material’, expandindo-se em uma série de outras formatações, seja como experimentação ou como forma de resistência e autodescoberta, a ação social de consumir passa a ser compreendida em uma esfera de maiores proporções, levando em consideração os diversos atores, atividades e ‘objetivos’ que o mesmo propicia nas sociedades contemporâneas. A escolha em realizar a pesquisa na plataforma Instagram, especialmente no perfil de influenciadoras digitais gordas, se dá pela multiplicidade de conteúdo possível de análise referente à temática do consumo nesses espaços. Além do papel das influenciadoras digitais (facilitam o acesso à moda, mesmo que por intermédio de publicidades pagas), também é importante compreender a plataforma enquanto um local de comércio, onde marcas divulgam e vendem seus produtos. Comprar online pode ser, muitas vezes, a única opção para uma mulher gorda que não encontra roupa do seu tamanho em lojas ‘convencionais’ de shopping. Nesse sentido, o objetivo da presente pesquisa é, por intermédio de experimentações etnográficas em ambientes digitais direcionadas a influenciadoras digitais gordas e suas seguidoras – utilizando os comentários das publicações como recurso de pesquisa -, seguindo a sensibilidade etnográfica de perambulações (LEITÃO & GOMES, 2017) buscar compreender suas experiências de compra e de não compra, além de buscar identificar quais seriam as causas do acesso tão dificultado destes corpos à moda. LEITÃO, Débora e GOMES, Laura Graziela. Etnografia em ambientes digitais: perambulações, acompanhamentos e imersão. Revista Antropolítica, n. 42, Niterói, p.41- 65, 1. sem. 2017.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Etnografar o canal de YouTube da PMSC: questões teórico-metodológicas de uma etnografia com métodos mistos
João Pedro Barros Klinkerfus (UFSC)
Resumo: Neste trabalho discuto a proposta metodológica de minha pesquisa de mestrado, na qual realizei uma etnografia do canal de YouTube da Polícia Militar de Santa Catarina (PMSC), o PMSC Oficial. Procurei compreender e descrever como o universo policial - a polícia como instituição, os policiais, o trabalho policial, as pessoas com quem eles interagem e as ideias de “segurança e “violência - é representado nos vídeos do canal a partir de uma pesquisa mista - proposta teórico-metodológica quantitativa e qualitativa. Foi preciso lidar com os dilemas de uma pesquisa que se propunha etnográfica e antropológica a partir da investigação com documentos, arquivos, plataformas digitais, redes sociais e vídeos, dialogando com a obra de antropólogas que o fizeram previamente. O primeiro passo da foi o uso do método de documentação estatística por evidência concreta, proposto por Malinowski e baseado no registro de acontecimentos específicos conforme eles se repetem e na criação de representações gráficas do campo, a partir do qual levantei os dados quantitativos da interface - quantidade de inscritos, publicações, data de publicação, duração, quantidade de visualizações, quantidade de curtidas, quantidade de comentários, data de acesso e link do vídeo - dos mais de 500 vídeos da plataforma em uma planilha eletrônica. Em seguida o campo foi realizado assistindo os vídeos em ordem cronológica de lançamento e construindo duas principais fontes de dados para a análise posterior: um diário de campo e uma segunda planilha eletrônica na qual documentei as características qualitativas dos vídeos e a forma como abordaram os cinco elementos do que chamei de universo policial. Esse segundo momento de aprofundamento nos produtos audiovisuais possibilitaram a construção de outras variáveis específicas do conteúdo ali presente, como movimento de câmera, quantidade de cortes, elementos extra vídeo, adição de som não-diegético, categorias usadas para descrever cada um dos cinco elementos do universo policial, categorias morais, dentre outros. Ao final do campo foi possível perceber que o emprego de métodos mistos foi especialmente frutífero em uma pesquisa de antropologia digital pelo caráter fixo/estático de grande parte do conteúdo que pesquisamos em ciberespaços, isto é, é mais viável documentar estatisticamente as minúcias de textos e imagens em redes sociais do que de interações sociais em tempo real. Essa construção dos dados também possibilitou a realização de inferências estatísticas na pesquisa e abre caminhos para mais diálogos entre Antropologia e métodos quantitativos, diálogos esses necessários para a compreensão do continuum off e online das representações e acontecimentos do universo policial.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Experiências Políticas de Mulheres Conservadoras das Novas Direitas no WhatsApp: articulações entre políticas da identidade, afetos, emoções e tecnologias
Julio Cesar de Oliveira Valentim (UFES), PATRICIA PEREIRA PAVEIS (UFES)
Resumo: O presente estudo se debruça sobre as experiências políticas de mulheres nas correntes conservadoras contemporâneas, buscando desvendar as disposições e capacidades que fomentam tal fenômeno nos últimos anos. A investigação parte da hipótese de que o aumento da participação política das mulheres conservadoras é facilitado pela intersecção de várias dimensões: políticas de identidade; economias de afeto e emoções; a interação entre os domínios público e privado; e o uso de tecnologias digitais de comunicação, como o WhatsApp. Este trabalho é fundamentado em uma análise interpretativa e especulativa, enriquecida por dados empíricos oriundos de uma pesquisa etnográfica digital de longa duração, que monitorou as manifestações digitais de mulheres conservadoras de classe média na Região Metropolitana de Vitória, Espírito Santo, Brasil. A metodologia adotada se ancora em uma perspectiva relacional e construcionista, incorporando conceitos da Teoria Ator-Rede (Mol, 2010; Latour, 2007), Estudos de Afetos e Emoções (Berlant, 2008; Ahmed, 2004; Boler e Davis, 2018; 2020; Hochschild, 1979; Papacharissi, 2015) e a análise da dicotomia casa-rua sugerida por Roberto DaMatta (1984; 1997). Este estudo pretende se somar a outros trabalhos desenvolvidos a partir da abordagem da Antropologia Digital na busca pela ampliação do entendimento das mudanças provocadas pela digitalização em múltiplas esferas da vida contemporânea. Através deste estudo, contribuímos para o debate sobre como as mulheres conservadoras utilizam plataformas digitais para articular suas identidades políticas, gerenciar emoções e mobilizar-se em torno de causas políticas, evidenciando a complexidade das interações entre tecnologia, sociedade e cultura.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
"Eu vi no zap": promoção à saúde e divulgação de informações no whatsapp durante a pandemia do Covid-19
Liana Santos de Carvalho (IMS)
Resumo: Nesta pesquisa, investigo a mobilização do WhatsApp na circulação de informações sobre a pandemia, procurando entender de que forma as informações sobre saúde disponíveis na internet podem contribuir para a participação dos sujeitos na produção e prática das ações de Promoção à Saúde, sem deixar de averiguar seus potenciais riscos. Nesse sentido, realizo um estudo de caso do projeto Jovens Comunicadores. Durante a pandemia, uma das grandes preocupações que surgiram foi sobre como as favelas e periferias, enquanto expressões das desigualdades das grandes cidades, seriam afetadas. Nesse contexto, surge o projeto Jovens Comunicadores, utilizando o WhatsApp como um meio de difundir informações sobre a pandemia. O projeto que, entre os meses de julho e novembro de 2020, alcançou 500 jovens das favelas da região metropolitana do Rio de Janeiro, ofertou oficinas sobre produção de conteúdo para mídias sociais e literacia em saúde. O objetivo era auxiliar os jovens na identificação e checagem de notícias falsas para que eles pudessem reunir informações confiáveis sobre o covid-19, produzir conteúdo e compartilhar com seus contatos por meio de listas de transmissão do WhatsApp. A pesquisa se baseou na realização de entrevistas semiestruturadas com integrantes do projeto, análise dos conteúdos compartilhados por eles e das interações no interior das listas de transmissão. Os resultados da pesquisa foram analisados à luz da Antropologia Digital. Esses conteúdos e interações nos mostram que, ao ser apropriado enquanto ferramenta principal de compartilhamento sobre a pandemia pelos jovens comunicadores buscando a garantia do acesso a informações verídicas e de qualidade, o WhatsApp se configura enquanto campo de disputas informacionais. Dessa forma, o projeto se torna uma alternativa comunicacional a partir do desenvolvimento de estratégias que buscam descentralizar a produção e compartilhamento de informações, por meio da apropriação de narrativas e técnicas. Além de ser tecido um fluxo de envio e recebimento de mensagens entre os jovens comunicadores e sua rede construída a partir das listas de transmissão, o WhatsApp também foi mobilizado enquanto espaço que possibilitou a manutenção da relação entre os envolvidos no projeto e a interação para a construção dos conteúdos. Com a realização das oficinas, o projeto cumpre alguns princípios fundamentais da Promoção à Saúde que são: a educação em saúde, o desenvolvimento de habilidades pessoais e o reforço a ação comunitária. Assim, frente ao período tenebroso que assombrou o Brasil, tornou-se urgente as ações realizadas pela população e para a população a fim de salvaguardar a vida dos que foram lançados à sua própria sorte.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Explanação, zoação, queimação de filme...usos das redes sociais para produção de intimidação sistemática, preconceitos e afastamentos sociais no âmbito das relações juvenis
Lucas Ribeiro da Silva (UFRRJ), Nalayne Mendonça Pinto (UFRRJ), Mariana Silva de Andrade (UFRRJ), Cristian de Oliveira Reis (UFRRJ), Gabriela Rodrigues de Oliveira (UFRRJ)
Resumo: Este trabalho é fruto da pesquisa #Oquerolanaescola realizada no curso de Ciências Sociais da UFRRJ, nesse artigo buscamos discutir a relação entre juventudes, espaço escolar, usos das redes sociais e os conflitos gerados a partir desse encontro. A escola é uma instituição socialmente referenciada e importante para a formação de sujeitos, mas na contemporaneidade é experimentada pelos atores através de interações presenciais e virtuais. A internet, seus inúmeros aplicativos e modos de uso, é considerada um meio produtor de símbolos e significados; no espaço escolar é utilizada na sociabilidade, aprendizado como também para produção de ofensas, notícias falsas e acusações, gerando desentendimentos, conflitos, violências, sofrimento físico e emocional diversos, mas que são usualmente classificados como Cyberbullying. Nesse sentido, a pesquisa busca através de relatos de alunos/as e analise de postagens em redes sociais compreender o que é usualmente categorizado como Cyberbullying; e, através dessas plataformas analisar o uso das tecnologias digitais na produção de subjetividades, narrativas, interpretações e acusações dos jovens sobre si mesmos e sobre os outros. A metodologia para esta pesquisa consiste em trabalho de campo em escolas públicas de ensino médio em Seropédica, entrevistas com alunas/os e análises das páginas de “Explana produzidas por alunos das escolas. Dentre os relatos e casos identificados nas redes sociais chama atenção a produção/reprodução de preconceitos e intimidações entrelaçados aos marcadores sociais de raça, classe, gênero, local de moradia, entre outros. Nesse sentido, a propagação de memes, imagens, noticias falsas, fofocas nas redes sociais, nos perfis de “explana”, e nos aplicativos de conversa como Whatsapp produzem impactos nas sociabilidades e subjetividades juvenis, alterando inclusive a dinâmica do ambiente escolar e o comportamento de alguns alunos/as. Nos casos observados mais diretamente a escola não produziu um espaço de diálogo, aprendizado e administração dos conflitos; os mesmos são abafados ou punidos. A pesquisa aponta para a necessidade de uma discussão mais cuidadosa sobre os usos das redes sociais e aplicativos de conversa no âmbito da socialização juvenil, além da importância do letramento digital ético e não violento; ao mesmo tempo que destaca a abordagem etnográfica como um meio de valorizar e visibilizar as experiências juvenis no contexto escolar. Importa considerar que a juventude passa grande parte da sua vida no ambiente escolar e considera o meio virtual como um território vivo e ativo em suas vidas; celulares, redes sociais são artefatos tecnológicos que constituem modos de ser, estar e compartilhar suas experiencias vividas bem como suas formas de “zoar e “explanar seus colegas.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
“Eu chorei quando a vi igreja com as portas fechadas - Fé e crise na pandemia.
Magnólia Almeida (UFRJ)
Resumo: As igrejas durante o período mais intenso da pandemia foram forçadas a se atualizarem. A inserção de um novo modo de comunicação produziu afetos e efeitos para além do incômodo que toda inovação pode trazer consigo. O presente trabalho analisa as interações online nos contextos de culto e estudos bíblicos de uma Igreja Batista na periferia da Baixada Fluminense, Rio de Janeiro, através das vídeo-chamadas na plataforma Google meet durante o período de restrição devido à pandemia de Covid. A adequação para o período de distanciamento social revelou-se um desafio para o exercício da fé, que tem nas tarefas realizadas coletivamente um parâmetro de unidade e demonstrativo de comunhão entre os membros e a divindade. Os ajustes forçosos devido ao contexto foram disparadores de reflexões relacionadas ao serviço cristão, lugar de culto como algo determinado, rígido e a fé. O texto analisa o espaço de culto como um lugar de construção de identidade, de memória e de vivência religiosa, assim como o impacto do afastamento ou impedimento de utilização desse local. Desta forma, este trabalho analisa os abalos das rápidas transformações impostas pela crise sanitária nos modos de conceber e exercer a espiritualidade desses evangélicos fluminenses. Palavras-chave: religião – mídias digitais - subjetividade

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
O que produz o desejo em tempos de plataformas?: cartografando a ressignificação da gramática da sexualidade no digital
Marcelo Chaves Soares (UFF)
Resumo: Neste trabalho, propomo-nos a discutir a dimensão produtiva do desejo e como as plataformas digitais atuam como veículos na ressignificação da gramática da sexualidade no capitalismo de plataformas. Analisamos o avanço das plataformas digitais voltadas ao compartilhamento de conteúdo adulto e os significados atribuídos por seus usuários (criadores de conteúdos e fãs) às interações nelas produzidas. A busca por cartografar esses novos “códigos-território como descreveu Perlongher (1988) leva-nos aos estudos de Deleuze e Guattari (2010) e Richard Miskolci sobre o desejo como produtor de sentido e os sujeitos em ambientes digitais; a Michel Foucault (2019a; 2019b) sobre sexualidade; e aos trabalhos de Thomas Poell, David Nieborg e José Van Dijck sobre plataformização (2016; 2020). Metodologicamente, este estudo qualitativo emerge de uma etnografia digital em andamento, parte de uma tese de doutorado, e se fundamenta em dados coletados durante essa pesquisa. Os resultados indicam que: a) o desejo é instrumentalizado para gerar relações de consumo nas plataformas; b) a sexualidade é redefinida através de uma nova gramática, estabelecida na dinâmica entre fãs e criadores de conteúdo; c) o desejo que articula a sexualidade nas plataformas é impulsionado por uma lógica neoliberal.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
"Alguém também sente?": O Facebook como um facilitador para redes de apoio online
Maria Luiza Epifanio Marciniak (UFRR)
Resumo: A pandemia da COVID-19 ocasionou diversas transformações na sociedade. A doença afetou o convívio social da população, que passou a utilizar do meio digital principalmente com o intuito de socialização. As redes sociais atingiram seus maiores acessos durante os lockdowns e as formas mais simplórias de socialização passaram a ocorrer online. O medo e o terror ocasionado pela COVID-19 era uma realidade solitária, dessa forma, as plataformas digitais se demonstraram fundamentais para a consolidação de redes de apoio para os indivíduos que passavam pela doença ou a sua suspeita. Nesse âmbito, o Facebook se destaca pois é uma rede social composta por particularidades que facilitam a criação de grupos com um interesse específico. Esses agrupamentos, durante e pós-pandemia, construíram redes de apoio em que era possível compartilhar experiências, temores e ansiedades. Porém, já nos primeiros meses pandêmicos foi possível notar que muitos indivíduos sofriam com os sintomas pós-covid, então, a partir deste ponto, redes de apoio online que focavam na infecção da doença se transformaram em grupos onde se discute e relata sintomas pós-covid. O presente trabalho tem como objetivo analisar o Facebook como um espaço que facilita a troca de experiências, as suas especificidades para que esse compartilhamento aconteça, além de compreender o interesse de indivíduos que passaram ou passam por sintomas pós-covid, no qual buscam por grupos de apoio no Facebook para partilhar suas experiências e seus sintomas com outros que se encontram em situação semelhante. Para a composição do trabalho estão sendo acompanhados dois grupos de sintomas pós-covid, sendo realizada uma etnografia virtual com um recorte temporal de 2023 a 2024. O presente trabalho é parte do projeto: “Alguém também sente?”: Uma netnografia acerca dos indivíduos que sofrem de sintomas pós-covid do Programa de Iniciação Científica da Universidade Federal de Roraima com bolsa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
“Juventudes urbanas amazônidas, cultura digital em tempos de ódio, cancelamentos e ‘fake news’: uma análise em torno das práticas sociais com juventudes em uma escola de ensino médio de Belém.”
Mário Jorge Brasil Xavier (UEPA)
Resumo: A ambiguidade entre bem e mal, não constitui tarefa fácil ao se procurar limites através de regras e disciplinas. Em se tratando de ambientes virtuais, estes reproduzem na maioria das vezes, o que a realidade da vida cotidiana expressa nestas sociabilidades. Numa analítica antropológica, é possível afirmar que as discussões em torno das sociabilidades, dentre as quais as que afetam as interações virtuais, especificamente das juventudes, revelam certo desregramento social. A necessidade por entender em parte, as vivências digitais praticadas pelas juventudes se tornou recorrente, não apenas por meios midiáticos de comunicação, mas na realidade concreta. A vida intensa no mundo virtual mesmo com todas as vicissitudes positivas, comunicação, informação, diminuição de distâncias, trouxe um crescimento exponencial de atitudes e discursos de ódio, intolerâncias, agindo de forma invasiva e preconceituosa em seus comentários nas redes, tais situações favorecem estas conflitualidades virtuais que se concretizam na prática vivida nos cotidianos, inclusive os escolares. As redes provocaram uma relação maior entre opinões diversas, promovem uma construção e exposição de identidades, algumas vezes, sem o uso de regras, tornando se espaço favorável para que discursos conservadores se ampliem pela conectividade, pois virtualmente são capazes de se propagar e atrair cada vez mais seguidores, agora em uma dimensão global.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Inspirado no outro - a produção artístico musical sob influência dos afetos das mídias sociais
Ollivia Maria Gonçalves (UFSC)
Resumo: Minha pesquisa se concentra em estilos musicais considerados periféricos, como Punk e Rap-Metal, e examina como as plataformas de mídias sociais afetam e criam affordances para músicos dedicados a esses estilos. O estudo, apoiado pelos conceitos de Richards e Rudnyckj (2016) e Gibson (1977), mergulha na dinâmica entre a construção da marca pessoal, o processo criativo e a comunicação com o público potencial desses artistas. O coração deste trabalho é entender a música como simultaneamente um processo e um produto (Cook 2001). Nesse contexto, quatro objetivos específicos guiam a pesquisa: Explorar a Música no Ambiente Digital: Concentrando-se na música como produto de ação coletiva (Becker 1974), a pesquisa explora como a colaboração e a interação online moldam a produção musical. Esta análise abrange desde a formação de comunidades virtuais de fãs até as parcerias entre artistas em plataformas digitais. Performance Artística no Universo Digital: Este aspecto do estudo (Bayn 2010) foca em como os artistas constroem suas performances no ambiente digital. Ao examinar o papel das mídias sociais e plataformas de streaming, busca-se compreender como os artistas utilizam esses meios para apresentar sua arte e interagir com o público. Impacto das Mídias Sociais no Trabalho Criativo: Investigando a influência das mídias sociais no processo criativo dos artistas, o estudo identifica como esses indivíduos se estabelecem como marcas (Banet-Weiser, S. 2012). A pesquisa examina as dinâmicas de inspiração e influência no processo de composição, incluindo como as interações sociais digitais alimentam a criatividade. Impacto na Indústria da Música dos Processos de Corretagem Digital: Avalia-se o impacto dos novos artistas na indústria da música, com um foco especial nas estratégias digitais adotadas para ganhar visibilidade e sucesso no cenário musical contemporâneo. O estudo busca entender as nuances das práticas de corretagem digital e como elas transformam as trajetórias dos músicos e a própria indústria. O objetivo final desta pesquisa é fornecer insights detalhados sobre a cena cultural periférica e a intersecção entre arte, tecnologia e sociedade na era digital. Através desta lente, espera-se desvendar as complexas camadas de interação e influência que definem a música e os músicos em um mundo cada vez mais conectado digitalmente.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Relações família-escola-internet: produções adolescentes relacionadas a gênero e sexualidade no TikTok
Renata Guedes Mourão Macedo (FCMSCSP)
Resumo: Nas controvérsias recentes sobre gênero e sexualidade na educação básica, muito se tem discutido sobre o papel da família e da escola em tais esferas. Por um lado, conforme defendem agentes conservadores, seria papel exclusivo das famílias ensinar sobre saúde sexual e reprodutiva, bem como sobre normativas de gênero e orientação sexual. Assim, slogans como "meus filhos minhas regras", utilizado no Brasil por movimentos como o Escola Sem Partido, ou “con mis hijos no te metas”, amplamente utilizado por movimentos conservadores na América Latina, a família estaria contraposta à escola nesse processo educativo sobre gênero e sexualidade. Por outro lado, setores progressistas têm enfatizado o papel da escola e da educação formal ao reivindicar uma educação comprometida com a diversidade e os direitos humanos. O que, no entanto, pouco se tem discutido por tais agentes é o papel da internet entre crianças e adolescentes, delineando outros caminhos na produção e consumo sobre temáticas ligadas à gênero e sexualidade. Vale lembrar que, conforme a pesquisa Tic Kids Online Brasil 2023, 95% da população de 9 a 17 anos é usuária de Internet no país, o que representa 25 milhões de pessoas. O celular foi apontado como um dispositivo de acesso para 97% dos usuários, sendo o único meio de conexão boa parcela dos entrevistados (38% nas classes DE). Enquanto as conexões via televisão e videogame registraram expressivo aumento, o uso de computadores segue pouco acessível para as crianças e adolescentes de menor renda (apenas 15% das crianças das classes DE), evidenciando as intensas desigualdades digitais que atingem crianças e adolescentes no país, as quais se somam a outras desigualdades educacionais e sociais. Segundo a pesquisa, 88% das crianças e adolescentes de 9 a 17 anos disseram manter perfis em plataformas digitais. Entre as redes sociais, 88% tem acesso à plataforma de vídeos Youtube, 78% WhatsApp, 66% Instagram, 63% TikTok e 41% Facebook. Especialmente quando se olha a faixa de idade entre 11 e 12 anos, o Tiktok passa ser a rede preferida. Nesta apresentação, analiso produções realizadas por adolescentes na rede social TikTok sobre o cotidiano escolar, relacionado com gênero e sexualidade. Por meio do acompanhamento de algumas “trends relacionadas a estudantes de Ensino Fundamental II e Ensino Médio, trago uma discussão inicial sobre a produção de corpo, juventude, gênero e sexualidade em tal plataforma.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Plataformas digitais, dinheiro e cotidiano: uma etnografia do trabalho Streamer
Sara Soares dos santos (UFRRJ), Carly Barboza Machado (UFRRJ)
Resumo: O crescimento do cenário de jogos nos últimos anos tem sido bastante significativo, sobretudo pela possibilidade rentável que as plataformas de jogos vêm apresentando. É importante dizer que o cenário de isolamento imposto pela pandemia de Covid-19 também teve grande influência na formação dos streamers enquanto uma categoria profissional: o ambiente online também se tornou o espaço em que o trabalho acontece. Neste estudo procuro realizar uma análise sobre a “Twitch”, uma plataforma online de transmissão ao vivo, principalmente de jogos. O objetivo central aqui é compreender as usabilidades da plataforma e de seus usuários, perpassando por estratégias e construção da carreira de streamer. A partir do meu lugar como usuária, moderadora e pesquisadora das Ciências Sociais, realizei uma etnografia na plataforma e nos eventos: Brasil Game Show e Comic Con Experience realizados em São Paulo, analisando a Twitch como um território que tem suas próprias normas, linguagens, comportamentos, moeda e público-alvo. Desta maneira, a categoria do trabalho entra em cena e, atrelada a ela, a circulação do dinheiro também é acionada, sendo o foco privilegiado de discussão neste momento, considerando os desafios e oportunidades que esta plataforma apresenta na vida cotidiana destas/es gamers. Pensar a circulação do dinheiro e do trabalho, bem como o surgimento de novas categorias profissionais implica também a análise das formas como o digital e o cotidiano estão emaranhados.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Plataformas de streaming de música e sistemas de recomendação personalizada: os algoritmos refletem as desigualdades de gênero já existentes?
Stephanie Pereira de Lima (InternetLab), Fernanda Kalianny Martins Sousa (InternetLab)
Resumo: O surgimento de plataformas de streaming nos últimos anos alterou a forma de interação com conteúdos culturais. Tais empresas passaram a impactar na forma como se consome conteúdo, utilizando-se de ferramentas como as de recomendações personalizadas, baseadas no uso de algoritmos. Com isso, levantam-se preocupações relacionadas a possíveis vieses discriminatórios existentes nesses sistemas. Este trabalho observa a indústria da música, a partir da análise das plataformas Spotify e Deezer, duas das mais utilizadas no Brasil. Busca-se compreender se as recomendações feitas pelos sistemas são influenciadas por e/ou refletem desigualdades estruturais vinculadas a gênero. Questiona-se, assim, se a recomendação de músicas difere a partir do gênero de quem está ouvindo; se artistas de algum gênero são privilegiados; e se o gênero musical interfere na forma como artistas são recomendados. Como resultado, é possível observar que nos diferentes cenários analisados, o gênero masculino geralmente ocupa o maior percentual de recomendação pelas plataformas de streaming. Pondera-se ainda que a falta de representatividade de artistas do gênero feminino, travestis, transexuais e não-bináries seja derivada de uma já existente desigualdade na indústria da música. Portanto, é importante compreender como esta desigualdade é perpetuada por meio dos algoritmos das plataformas e qual é a responsabilidade social que essas empresas têm na promoção da equidade de gênero na indústria nacional.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Negociando significados em uma galáxia digital: publicidade e radicalismo na recepção online de um blockbuster
Thais Farias Lassali (UNICAMP)
Resumo: A crescente digitalização da vida cotidiana tem modificado os modos de consumo dos mais diferentes artefatos culturais, principalmente aqueles relacionados a meios de comunicação em massa, tais como o cinema e a televisão. Cada vez mais, a produção, a difusão e a recepção de tais objetos são influenciadas pelas arquiteturas sócio-técnicas gestadas pelas plataformas digitais. E, além disso, são atravessadas pelos processos delas decorrentes, como a datificação e a algoritmização. Ao mesmo tempo, os mais diversos sujeitos sociais – tais como influenciadores, usuários, empresas – tem atuado no ambiente digital em busca de notoriedade e ganhos financeiros. Tendo esse panorama em vista, a presente comunicação oral tem como objetivo apresentar e debater o caso da recepção online, ocorrida especificamente no YouTube, de um filme blockbuster pertencente a uma grande franquia do cinema hollywoodiano. Após seu lançamento, em dezembro de 2017, a película em questão muito rapidamente passou a ser considerada polêmica por supostamente dividir a opinião dos espectadores. Isso gerou uma série de discussões e de controvérsias entre os espectadores. O epicentro dessa controvérsia se deu justamente na plataforma de vídeos de propriedade do Google/Alphabet Inc. Por um lado, o episódio que será esmiuçado mostra o papel fundamental da referida empresa na negociação de significados em torno do blockbuster em questão. Por outro, aponta para a importante participação de um conjunto de atores associados a grupos radicais estadunidenses na criação do consenso de que aquela era uma obra “problemática”. Para tanto, tais grupos se valeram de táticas de marketing e de conhecimentos sobre o funcionamento das plataformas digitais e de seus algoritmos. Além de também contarem com o fato da indústria cinematográfica estadunidense cada vez mais utilizar meios digitais em suas estratégias de publicidade, principalmente por meio da captura de atenção dos usuários promovida pelas plataformas. Dessa forma, a presente comunicação oral argumentará sobre o modo como filme ora debatido serviu, concomitantemente, como um objeto de interesse publicitário por parte das mais diferentes corporações e como um veículo de radicalização tanto de usuários, quanto de criadores de conteúdo.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
A Cacofonia do Instagram: desdobramentos de influencers “fitness no compartilhamento de conteúdo.
Vitória da Silveira Alves (UFSC)
Resumo: Essa comunicação tem base na minha monografia de conclusão de curso cuja proposta foi observar como a crise dos sistemas de peritos (Cesarino, 2022) se manifesta dentro da nutrição a partir de postagens feitas por influenciadores, que podem ou não ser nutricionistas, em redes sociais. Com o uso da etnografia digital, foram coletadas postagens com base em hashtags que tivessem envolvimento com o universo da nutrição e postagens de dois influenciadores “fitness específicos que fazem prescrições dietéticas indiretas. Essa coleta foi feita no TikTok e no Instagram, mas para a viabilidade dessa comunicação pretendo focar somente no material coletado no Instagram e no conteúdo compartilhado pelos influenciadores Renato Cariani e Paulo Muzy. Assim, pretendo expor e conceituar alguns dos resultados obtidos como a performatividade digital, a cacofonia (Alves, 2023) gerada por essa performatividade e as suas interações com o algoritmo do instagram, e também exemplificar a crise dos sistemas de perito dentro do universo nutricional. A cacofonia é um conceito principal para elaborar esse trabalho, já que a mistura de ruídos ou nesse caso a mistura de conteúdos para agrado do algoritmo faz-se presente constantemente. Por fim, pretendo fazer uso da descrição densa para explicar como o algoritmo do Instagram age sobre esses conteúdos.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Digitalização e virtualização da fronteira documental: uma análise a partir dos caminhos documentais de indígenas refugiados Warao em Natal-RN.
Waleska Maria Lopes Farias (UFRN)
Resumo: À primeira vista, a digitalização de documentos e de seus processos de aquisição podem ser entendidas apenas pelo seu viés positivo: economia de tempo e de dinheiro, realização de procedimentos sem sair de casa, autonomia cidadã, etc. Entretanto, a equação é bem mais complexa. A virtualização do mundo burocrático supõe inicialmente que todas as pessoas saibam ler e escrever, que sejam alfabetizados tecnologicamente, que possuam conexão com internet com equipamentos que a viabilizem e que esses aparatos sejam individuais e individualizantes. Este trabalho busca debater, por meio da experiência etnográfica de acompanhar durante quatro anos os Warao presentes na cidade de Natal-RN, as facilidades, mas sobretudo as dificuldades observadas no processo de documentação destes indígenas refugiados, criando uma nova fronteira para além da geográfica. Bem como o caminho que resultou na total informatização desses procedimentos e de seus frutos. Por fim, discutir as relações afetivas entre o cidadão e seu documento que foram diretamente impactadas nesse ínterim.