Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 015: Antropologia digital: experiências, transformações, desafios e dilemas
Etnografar o canal de YouTube da PMSC: questões teórico-metodológicas de uma etnografia com métodos mistos
Neste trabalho discuto a proposta metodológica de minha pesquisa de mestrado, na qual realizei uma etnografia do canal de YouTube da Polícia Militar de Santa Catarina (PMSC), o PMSC Oficial. Procurei compreender e descrever como o universo policial - a polícia como instituição, os policiais, o trabalho policial, as pessoas com quem eles interagem e as ideias de “segurança e “violência - é representado nos vídeos do canal a partir de uma pesquisa mista - proposta teórico-metodológica quantitativa e qualitativa. Foi preciso lidar com os dilemas de uma pesquisa que se propunha etnográfica e antropológica a partir da investigação com documentos, arquivos, plataformas digitais, redes sociais e vídeos, dialogando com a obra de antropólogas que o fizeram previamente. O primeiro passo da foi o uso do método de documentação estatística por evidência concreta, proposto por Malinowski e baseado no registro de acontecimentos específicos conforme eles se repetem e na criação de representações gráficas do campo, a partir do qual levantei os dados quantitativos da interface - quantidade de inscritos, publicações, data de publicação, duração, quantidade de visualizações, quantidade de curtidas, quantidade de comentários, data de acesso e link do vídeo - dos mais de 500 vídeos da plataforma em uma planilha eletrônica. Em seguida o campo foi realizado assistindo os vídeos em ordem cronológica de lançamento e construindo duas principais fontes de dados para a análise posterior: um diário de campo e uma segunda planilha eletrônica na qual documentei as características qualitativas dos vídeos e a forma como abordaram os cinco elementos do que chamei de universo policial. Esse segundo momento de aprofundamento nos produtos audiovisuais possibilitaram a construção de outras variáveis específicas do conteúdo ali presente, como movimento de câmera, quantidade de cortes, elementos extra vídeo, adição de som não-diegético, categorias usadas para descrever cada um dos cinco elementos do universo policial, categorias morais, dentre outros. Ao final do campo foi possível perceber que o emprego de métodos mistos foi especialmente frutífero em uma pesquisa de antropologia digital pelo caráter fixo/estático de grande parte do conteúdo que pesquisamos em ciberespaços, isto é, é mais viável documentar estatisticamente as minúcias de textos e imagens em redes sociais do que de interações sociais em tempo real. Essa construção dos dados também possibilitou a realização de inferências estatísticas na pesquisa e abre caminhos para mais diálogos entre Antropologia e métodos quantitativos, diálogos esses necessários para a compreensão do continuum off e online das representações e acontecimentos do universo policial.