ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 015: Antropologia digital: experiências, transformações, desafios e dilemas
Mulheres na política: o diálogo sobre cotas entre o feminismo de raiz e o transativismo
Por meio do presente estudo pretendo analisar o tensionamento verificado entre grupos politicamente sub-representados (mulheres e mulheres trans) quanto ao meio de ingresso nos centros deliberativos e de poder do país. O conflito emerge a partir do momento em que mulheres integrantes do feminismo de raiz passam a questionar e a se opor à utilização das cotas políticas reservadas às mulheres (lei nº 9.504/97) pelas mulheres trans. No contexto atual, as candidaturas de mulheres trans podem ser efetivadas em tais cotas em razão de decisões proferidas pelo judiciário brasileiro. Essa disputa por representatividade, por direitos e por exclusividade tem ocorrido de maneira bastante intensa no âmbito virtual, onde as feministas de raiz e os transativistas têm construído suas narrativas sobre si e sobre o outro. O espaço digital é um terreno fértil para os movimentos sociais que conseguem ali discorrer sobre suas perspectivas acerca de fatos e do mundo, divulgar seus princípios fundantes e pautas e desenvolver estratégias de fortalecimento e de atuação do movimento, tanto no ambiente virtual quanto no real. A forte influência das ideias divulgadas no espaço virtual em ambientes não digitais é facilmente percebida com a verificação, a título de exemplo, das inúmeras manifestações orquestradas virtualmente (atos de 2013, #elenao, atos bolsonaristas) e de algumas alterações de caráter jurídico ocorridas após a pressão de grupos organizados e mobilizados digitalmente (retirada de trechos da proposta de reforma do Código Civil, conforme defendido por coletivos de mães e mulheres; interpretação de leis considerando o gênero e não o sexo, consoante a letra da norma). O ciberespaço se tornou um local onde os movimentos feminista de raiz e transativista encontraram um meio de comunicação direta, sem intermediários, com aqueles que porventura tenham interesse em conhecer e compreender a realidade desses grupos. É nesse ambiente digital, que se firma como cenário no qual são travadas as disputas pelo poder e pela representatividade, que estabeleço meu local de observação e documentação dos argumentos construídos pelo transativismo e pelo feminismo de raiz, visando apresentar a existência de posicionamentos antagônicos sobre o tema e a importância das dinâmicas cultivadas no ciberespaço para a construção de afetos, a atualização de discursos e a criação e mobilização de estratégias de atuação. Para tanto, coletaremos dados divulgados pelo QG Feminista (coletiva feminista) e pela ANTRA (Associação Nacional de Travestis e Transexuais), tanto em seus sítios eletrônicos quanto em suas redes sociais oficiais (Instagram).