ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Grupos de Trabalho (GT)
GT 041: Culturas populares: entre tradições, espetáculos e protagonismos contemporâneos
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Coordenação
José Maria da Silva (UNIFAP), Sérgio Ivan Gil Braga (UFAM)

Resumo:
Este GT tem por objetivo discutir como diferentes práticas e formas das culturas populares articulam aspectos de tradições locais, processos e valores de consumo da globalização, formulando novas práticas e formas simbólicas de articulação das culturas. Questiona-se como as culturas populares interagem com o mercado global da comunicação e do turismo, inclusive em eventos e espetáculos contemporâneos. Por outro lado, é preciso indagar como as culturas populares se apresentam em mobilizações de grupos sociais e comunidades, com intervenções nas cidades, protagonizando novas formas e modalidades de práticas e representações, constituindo outras agências em termos de identidades e processos de identificação socioculturais e políticos. Assim, o GT propõe discutir como as culturas populares redimensionam e problematizam os sentidos de lugar, de tradição, das sociabilidades, do saber-fazer das práticas culturais, ampliando e expandindo criatividades dos fazedores de culturas na atualidade. Deste modo, o GT pretende receber trabalhos etnográficos sobre diferentes formas de expressões culturais populares, tais como: festas e festivais (incluindo festas religiosas); expressões de artes como música, dança, literatura, artesanato, entre outras; manifestações e performances de coletivos em espaços públicos (praças, ruas etc.) marcadores de identidades étnicas, de raça, faixa etária e de gênero; e reivindicações por reconhecimento e patrimonialização de bens imateriais.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
“Hoje tem maracatu?”: as possibilidades educativas da cultura popular no encontro com as infâncias periféricas.
Ana Caroline Goulart (UNESP)
Resumo: “Hoje tem maracatu? - questionava com tom de cobrança e repreensão uma menina de 8 anos aos educadores, que não compareciam à favela da Pedreira há algum tempo devido a uma greve universitária. Trata-se de um projeto, iniciado em 2022 e intitulado "Maracatu Maracá: música no sangue, África no soro", concebido por Antonio Fernandes Donizeti, professor universitário, capoeirista e percussionista do grupo Toneladas de Maracatu. Seu propósito era explorar a cultura do batuque com as crianças da favela da Pedreira, provocando reflexões sobre as identidades raciais na cidade. Jacarezinho, uma pequena cidade com pouco mais de 40.000 habitantes na região nordeste do Paraná, possui aproximadamente 40% da população identificada como preta e parda, conforme dados do Censo de 2023. No entanto, há pouca documentação sobre essa presença na memória da cidade, já que foi consolidado um ethos urbano brancocêntrico e estabelecida uma política informal de apagamento e esquecimento das presenças, histórias e experiências não brancas na cidade. Na favela da Pedreira como é chamada por muitos, inclusive pelas crianças a presença negra é proeminente e, entre a rua de pedras, casas e vielas, vibra uma infância engajada no brincar que se encontra com o maracatu. Em sintonia com a sonoridade das alfaias, gonguês, ganzás, tarol e agbê, as vozes das crianças anunciam as novas narrativas sobre a cidade, sobre seus lugares de habitar e conviver. As vozes da infância e dos tambores - ambas silenciadas ao longo história - expressam a intencionalidade pedagógica da cultura popular, que se manifesta como uma cultura rebelde (Brandão, 2009), para além das margens impostas socialmente, delineando novos territórios educativos na cidade, convidando todos ao cortejo ô meu povo, venha cá, venha ver que está chegando, Maracá Pedreira, da Estação Maracatu” Assim, este texto busca refletir sobre as potencialidades educativas da cultura popular na elaboração de territórios antirracistas e identidades afirmativas a partir das experiências em um projeto de extensão que é realizado com crianças periféricas de uma pequena cidade. Para embasar teoricamente essa reflexão, serão utilizados referenciais da Antropologia (Brandão, 2009; Gusmão, 2012; Gomes, 2017) e da Educação (Arroyo, 1997; Freire, 2001, 2005).

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Festa, fé, viola de cocho e alegria Ensaio
Brás Rubson Ferreira Barbosa (UFMT)
Resumo: Buscando retratar o encontro das tradições das festas de santos católicos com a cultura popular da Baixada Cuiabana, em especial as manifestações do siriri e cururu, folguedos que se consolidaram nessa região do Pantanal mato-grossense em que os dançarinos de siriri rodopiam pelo salão ao som de cantigas tradicionais e atuais desse ritmo, e os cururueiros produzem e cantam suas cantigas ao som da viola de cocho instrumento tradicional da região, é que o presente estudo teve lugar. Em Mato Grosso, particularmente na região da Baixada Cuiabana, as festas de santos católicos costumam se unir às manifestações do siriri e do cururu em católicos de grande participação popular, formando um recheado calendário de eventos anuais. Essas festas na Baixada Cuiabana, que engloba a região do Pantanal mato-grossense, são realizadas por uma gente que tem suas peculiaridades, seu modo próprio de expressão cultural. Uma entre muitas festas de santo da Baixada Cuiabana, a Festa de São Pedro da Comunidade Zé Alves, no município de Poconé, realizada no começo de julho, reúne grande número de devotos e é o objeto desse presente estudo. Em dois dias de celebrações que envolveram novena, levantamento de mastro, siriri, cururu, leilões, baile de rasqueado e lambadão com bandas da região.
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Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Capoeira na rua, no museu ou numa companhia de saberes
Cássio Henrique Silva da Silva (Capes)
Resumo: Este trabalho tem como objetivo refletir acerca do protagonismo social motivado pela capoeira em diferentes espaços de sociabilidade e produção de conhecimento em Porto Alegre. Mestres e discípulos me conduziram a ricas experiências em meu trabalho antropológico. Os movimentos de capoeira no matagal do Campus da UFRGS, a pracinha que mobilizou a comunidade para um diálogo com a prefeitura pela realização das rodas debaixo de uma bela árvore, a formação de um capoeirista em artesão através das suas conversas com um Preto Velho, o discípulo narrando as performances de seu mestre no Fórum Social Mundial passando o chapéu. Alguns episódios do Afoxé e o legado de Mestre Môa do Katendê em Porto Alegre. Afinal, um processo coletivo de empoderamento que conecta a capoeira a diversas práticas sociais e experiências no cotidiano.
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Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
A noção de participação social nas políticas públicas de salvaguarda do patrimônio imaterial: o estudo de caso da salvaguarda do carimbó
Cyro Holando de Almeida Lins (IPH)
Resumo: Este trabalho apresenta alguns resultados parciais de uma pesquisa mais ampla, surgida de questões e inquietações a partir da uma experiência de quase dez anos atuando como técnico em antropologia na equipe técnica da Superintendência do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional no Pará (Iphan-PA). Ao longo dessa atuação, tenho percebido e acompanhado a interação entre Estado e sociedade civil na construção de uma política pública que tem como principal premissa a participação social. Nesse contexto, diversas situações me despertaram o interesse em melhor apreender as condições sociais em que essa interação se processa. Meu principal interesse é identificar e compreender os diferentes sentidos e agenciamentos em torno da categoria de participação social no contexto da implementação da Política de Salvaguarda do Patrimônio Imaterial, tendo como estudo de caso o processo de salvaguarda do carimbó. Assim, procurei perceber como são construídas as instâncias participativas no processo de implementação da salvaguarda do carimbó, que foi reconhecido como patrimônio cultural brasileiro em 2014. Busquei identificar e entender as múltiplas dimensões e sentidos mobilizados pelos diferentes sujeitos na constituição das instâncias e desenhos participativos. Nesse contexto, observo os diferentes agenciamentos de categorias como tradição”, patrimônio”, reconhecimento”, salvaguarda”, nas disputas e produção de sentidos sobre a participação social no contexto analisado. A base empírica de observação foi construída por meio da etnografia do processo de implementação da salvaguarda do carimbó. O foco principal da análise recai sobre a noção de participação social, categoria mobilizada ao mesmo tempo pelas agências de governo e pela chamada sociedade civil, para definir formas de interação no campo da construção das ações governamentais.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Canto do Tempo. Marcadores temporais na oralidade dos Congados mineiros
Daniel Luiz Arrebola (UFES)
Resumo: Os cantos, ou pontos, entoados por capitães e congadeiros da cultura popular dos Congados são carregados de símbolos e marcadores temporais da história do período do Brasil escravocrata e de antes. Através destas melodias, os cantantes levam os devotos a um outro lugar do tempo, de memórias doloridas e, ao mesmo tempo, da construção de uma devoção aos Santos e Santas católicos. Nesta pesquisa, irei abordar os marcadores do tempo presentes nos cantos congadeiros e apontar o uso simbólico destes como uma forma de viagem temporal que traz aos expectadores o passado ancestral dos capitães negros, o presente da vida cotidiana local e o futuro através do agenciamento da fé do devoto que faz suas promessas. A pesquisa será desenvolvida ao longo de dois anos com trabalhos de campo no centro-oeste mineiro, local de grande efervescência da tradição do Congado, em diálogo com pesquisadores da antropologia do tempo e da cultura popular, em especial com pesquisadores que tratam a oralidade popular e a contra-antropologia. O trabalho tem como hipótese que estes cantos podem ser considerados mecanismos de viagem no tempo através da narrativa histórica somada a catarse da devoção as entidades divinas que estão presentificadas através dos ternos de Congado. A pesquisa tem como metodologia, além do uso da etnografia, o registro audiovisual e as entrevistas semi-estruturadas. O desafio principal será o acesso a respostas, sobretudo dos devotos, que possam ser pessoalmente restritas devido as sacralidades das promessas feitas aos santos, contudo, mediante meu tempo de inserção em campo nestas localidades creio que seja possível angariar respostas em quantidade significativa para a pesquisa. A relevância deste trabalho pode ser apontada pela necessidade do registro e debate sobre oralidades carregadas de tempos anteriores e que trazem importante marcadores culturais e sociais populares e, apesar de evidenciar em suas letras, ainda são apagados pelo racismo, a liberdade social do negro e a história de uma fé que foi construída de maneira impositiva. Além disso, esse trabalho pretende contribuir com novas discussões e abordagens sobre o tema da oralidade no campo da Antropologia do Tempo.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Tornar-se marujo: a Marujada de São Gonçalo de Rio Preto como contexto de aprendizagem da e na prática social.
Gregório Hernández Pimenta (IFNMG)
Resumo: A apresentação que proponho para o GT Culturas populares: entre tradições, espetáculos e protagonismos contemporâneos é parte de minha pesquisa de doutorado em andamento, que tem como foco os processos de aprendizagem envolvidos na Festa da Marujada em São Gonçalo do Rio Preto MG, buscando compreender como as diferentes habilidades necessárias aos marujos, como cantar, tocar, dançar, recitar e encenar, são aprendidas pelos praticantes iniciantes e quais os sentidos que os mesmos elaboram para a sua prática. Partindo de minha atuação profissional como docente no curso técnico em teatro no Instituto Federal do Norte de Minas Gerais (IFNMG), campus Diamantina, e interessado nas possíveis conexões entre teatro e festas populares tradicionais, tenho orientado a pesquisa buscando estabelecer um diálogo ampliado entre a formação em teatro, no contexto de uma escola técnica no interior de Minas Gerais, e as práticas culturais tradicionais da região, que podem modular essa formação.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Bum, bum paticumbum, prugurundum: cultura, política e a construção da Passarela Professor Darcy Ribeiro
Gustavo de Queiroz Mesquita Farias (UERJ)
Resumo: Neste trabalho, dando continuidade a minha pesquisa de mestrado, defendo que a construção da Passarela Professor Darcy Ribeiro, o célebre Sambódromo da Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro dos anos 1980, é também resultado da articulação de dois processos sócio-históricos distintos, que paulatinamente interconectaram-se naquele momento: a articulação política de artistas, intelectuais, políticos pelo reconhecimento e valorização da cultura popular e do direito à cultura; e; a espetacularização e canibalização das culturas populares latino-americanas (Carvalho, 2010). Isso implica em tentar compreender como o projeto de erguer arquibancadas e camarotes fixas para os desfiles das escolas de samba fluminenses, durante os anos de 1983 e 1984, é resultado de escolhas políticas e poéticas (Larkin, 2020) que apostaram em determinadas reconfigurações, não só do carnaval das escolas de samba, mas também do espaço urbano do Rio de Janeiro e da democracia brasileira. A partir da análise de notícias do Jornal do Brasil e do O Globo, entre 1977 - ano da transferência dos desfiles da Avenida Presidente Vargas para a Rua Marquês de Sapucaí - a 1984 - ano da inauguração da Passarela do Samba, busco refletir quanto a ambivalência que marca a construção da Passarela, pois, ao mesmo tempo que ela é uma ação produtiva e técnica do Estado que pretendeu adequar em solucionar questões e problemas funcionais quanto à disposição dos desfiles das escolas de samba na cidade, proporcionando uma gestão mais eficiente e moderna dos desfiles, ela é construída em meio ao processo de redemocratização. O Sambódromo foi o primeiro projeto de um governo democraticamente eleito no Estado do Rio de Janeiro após 16 anos de eleições suspensas e cassações de direitos pela Ditadura Civil-Militar. Grande monumento do primeiro governo estadual de Leonel Brizola (1983-1987), a concretização da Sapucaí como um espaço de cultura e educação, que reunisse o povo para o desbunde geral dos cortejos negros dos subúrbios e favelas fluminenses também foi um horizonte de um Brasil mais democrático com militares nos quartéis. CARVALHO, José Jorge de. ‘Espetacularização’ e ‘canibalização’ das culturas populares na América Latina. Revista Anthropológicas, ano 14, vol.21 (1): 39-76. 2010 LARKIN, Brian. A poética e a política da infraestrutura. Ano 24, Volume 31(2), 2020. https://periodicos.ufpe.br/revistas/revistaanthropologicas/article/view/249895/38096
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Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Novas dinâmicas em torno da Folia de Reis: da resistência cultural à constituição do atrativo turístico
Helena Catão Henriques Ferreira (UFF)
Resumo: A Folia de Reis se constitui como uma das manifestações culturais de mais longa duração no estado do Rio de Janeiro. Desde o período colonial tem se reproduzido, com mudanças diversas , o que traduz grande plasticidade e adaptabilidade. Hoje, o crescimento das religiões neopentecostais no Brasil tem impactado as expressões religiosas católicas e suas interseções de crenças e práticas, assim como as sociabilidades a elas associadas. Em muitos lugares essas manifestações encontram dificuldades de continuidade pela falta de integrantes e pelas rejeições comunitárias e familiares originadas em questões religiosas e políticas. Observa-se, porém, na Folia de Reis elementos de resistência cultural, pois apesar das adversidades, tem persistido ao longo do tempo, mesmo em cenário de conflitos. Revalorizada atualmente, passa a ocupar novos lugares no imaginário dos seus participantes e de um público assistente, que surge na medida em que tem se transformado em espetáculo. Contribuem para esse fenômeno a demanda por registros, organização de informações e divulgação sobre bens de cultura imaterial, postos em ação pelas atuais concepções de patrimônio cultural, e o interesse, de atores diversos, em instituir esses bens como atrativo turístico. Essa dinâmica revela a complexidade da interação entre tradição, religião e as diversas demandas contemporâneas, entre as quais, o turismo, que concorre para o desenvolvimento de novas sociabilidades e implicações. Dando continuidade às reflexões iniciadas em outras pesquisas relacionadas ao patrimônio cultural e suas ressignificações contemporâneas, este trabalho se propõe a pensar sobre os sentidos e significados da folia em seus novos contextos, a partir de pesquisa de campo em curso sobre a Folia de Reis no município fluminense de Paty do Alferes. Prática de muitas gerações e considerada uma das tradições do lugar, a folia tem tomado nova dimensão, inclusive a partir da intervenção de políticas municipais, ao organizarem projetos de apoio aos grupos locais e apresentações em praça pública, divulgando-a como atrativo cultural do município.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Cavalhada do Brejo do Amparo: Uma jornada através da tradição, fé e memória
Janaína Rodrigues Lopes (Secretaria de Estado de Educação de Minas Geras)
Resumo: Este estudo teve como objetivo central evidenciar a importância da festa de Cavalhada da comunidade do Brejo do Amparo localizada no município de Januária, Norte de Minas Gerais. A Cavalhada representa a luta entre Mouros e Cristãos que foi incorporada às manifestações culturais e no calendário festivo da comunidade há mais de 171 anos. Ocorre no mês de setembro, sendo considerada pelos brejinos como uma das festividades mais importantes da região. Ao acompanhar os festejos buscou-se compreender os sentidos sociais e simbólicos implicados nos ritos dos festejos, tais como: a dimensão familiar envolvida nos processos e significados contidos nas encenações da luta e também a importância da valorização cultural como parte da dinâmica de interação social dos moradores da comunidade brejina. Este estudo utilizou a metodologia qualitativa, utilizando a técnica de observação participante para analisar a comunidade e observação dos espaços e lugares, do ir e vir, e da oralidade dos moradores complementaram a coleta de dados.
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Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Capoeira a um clique: adaptações e reminiscências no jogo da capoeira nas rodas digitais
João Caetano Brandão Andrade (UFBA)
Resumo: Com a crise da COVID-19 e a implementação das medidas de segurança, desde 2020, no Brasil, se evidenciou a centralidade das tecnologias no dia a dia e as plataformas digitais passaram a intermediar todo tipo de relações sociais, produzindo efeitos e transformações dignas de atenção. Desde então, o que se revela de modo aparentemente irreversível é a conversão dessas tecnologias digitais em objetos vitais para a humanidade, na ampla acepção do conceito de vitalidade (Cruz; Siles, 2021; Cruz, 2022). Em 2022, passei a conduzir uma pesquisa etnográfica que tem como objetivo compreender de que modo a capoeira e suas estruturas, fundamentos, métodos, rituais, segredos, tradições e princípios, em suma, seus processos de afirmação cultural, passam a se transformar ao interagir num universo marcado pelas tecnologias e plataformas digitais. Em outras palavras, a partir de uma abordagem que toma como lócus alguns grupos de capoeira estabelecidos na cidade de Salvador-Ba até navegações onlines, por aplicativos e plataformas como Instagram, Youtube e WhatsApp, me interessa pensar, junto aos meus interlocutores, as seguintes questões: como acessar o axé e os saberes mobilizados, de forma física, num encontro online? Quais as vantagens práticas e as desvantagens subjetivas - ou, ao contrário, as vantagens subjetivas e as desvantagens práticas - destes novos formatos? De que modo gingam a tradição e a modernidade nessas rodas e redes? Tomo como objetos de análise algumas experiências vivenciadas por mim, e registradas em diário de campo, que nos permitem pensar, em perspectiva comparada, as principais transformações e permanências entre os treinos que ocorrem na modalidade presencial e na modalidade online. Devem se somar a esse esforço analítico os principais resultados e dados etnográficos produzidos ao longo da minha pesquisa de mestrado (2019-2021) e, desde julho de 2023, no campo (ainda em curso) do doutorado. São entrevistas, relatos, notas de campo e registros de experiência que, aqui, apresento como jogos de conversa - colocando os diferentes posicionamentos dos interlocutores-chave em perspectiva comparada com o intuito de acessar a complexidade e ambiguidade que marca a interpretação desses atravessamentos digitais pelos agentes diretamente envolvidos.
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Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
“Rala Coco, o bloco mais linguarudo da cidade”: a brincadeira do coco no carnaval de Fortaleza (CE).
Joel Oliveira de Araújo (UFG)
Resumo: O presente trabalho traz reflexões acerca dos cocos por meio de uma etnografia do bloco Rala Coco, no qual reúne, na segunda-feira de carnaval, centenas de brincantes, simpatizantes, artistas, pesquisadores, admiradores e grupos de cocos da cidade de Fortaleza (CE). Manifestação essa presente nos centros urbanos, ao longo dos anos, vem se consolidando como uma das principais manifestações culturais da cidade. O bloco Rala Coco é idealizado pelo grupo Na Quebrada do Coco e no ano de 2024 teve sua 7º edição. Pretende-se, nesse texto, problematizar questionamentos de várias ordens, refletindo os elementos político/sociais que atravessam a brincadeira, compreendendo o que chamamos de "Cocos Urbanos" na cidade de Fortaleza (CE)
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Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Memória é potência: Encruzilhadas de conexão como resistência nos giros das mães baianas do Império Serrano.
Juliana Pereira dos Santos (UNIRIO)
Resumo: Este trabalho é o fragmento de um mergulho no mundo da ala das baianas da escola de samba Império Serrano, em Madureira, no Rio de janeiro. Com o interesse na trajetória destas mulheres do grupo, o texto evidencia os diálogos no caminho da observação e a história individual das protagonistas deste enredo. Nessa conjuntura, por meio do trabalho de campo pude compreender a conexão e admiração destas baianas, por outras gerações do grupo. E estes sentimentos serem utilizados como táticas para o fortalecimento da autoestima, e da noção de pertencimento do coletivo. Tal como kabengele Munanga (1988) traduz sobre o sentido de continuidade, como fortalecimento de pertencer para memória negra de um grupo social. Por esta linha de pensamento, a memória da grande e primeiríssima matriarca da comunidade da Serrinha e do Grêmio Recreativo Escola de Samba Império Serrano, Tia Eulália, se faz presente na memória individual de infância da baiana Claraindia. Na sua narrativa a ênfase está no lugar marcante da sua lembrança, na importância da matriarca para história da comunidade da Serrinha, do Império e do próprio carnaval. A noção da memória referencial destas mulheres é centrada em outras mulheres, numa configuração em sua maioria, de mães e avós negras. A lembrança da Lúcia Iara de sua mãe como baiana, o ensinamento da Claraindia do doce da avó, e sua recordação da Tia que apresentou o universo do Império Serrano quando ainda era criança. E ainda, esta ideia de afeto nas relações entre mulheres negras, alcança a linha teórica da socióloga Collins (2019) que aborda a construção nessa dinâmica social de um coletivo de mulheres negras, construir um saber alternativo. Este, conectado ao princípio de cuidar e de falar com o coração, sendo a expressão individual e as emoções, características fundamentais para um desenvolvimento válido deste conhecimento. Esta ideia de respeito, admiração, e honra pelas baianas mais antigas, leva a pensar no lugar de autoridade e afeição que geralmente é transmitido no papel das grandes matriarcas de uma família. Tendo a prática de honrar as mulheres que vieram antes, através das memórias com sentimento de admiração. Assim, trazer para a superfície os relatos das mais antigas no cruzamento com a vivência do presente, foram dimensões necessárias para refletir sobre a memória das baianas imperianas como potência. E a partir disso, tocar nos fatores que elaboram a transmissão dos valores da ala no dia de hoje, torna visível o contexto social desta memória periférica, sendo a resistência como prática, uma orientação guia nos giros cíclicos do tempo-carnaval das matriarcas do Império Serrano.
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Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Tradição e valorização: a importância cultural do boi de janeiro em Rubim (MG)
Lavínia Botelho e Brito (Sete Soluções e Tecnologia Ambiental)
Resumo: O presente trabalho busca falar sobre a tradição do boi de janeiro que ocorre em Rubim, Minas Gerais, e como foi seu processo de surgimento e valorização na cidade com o passar do tempo. Existiram por muito tempo dois bois na cidade, o boi dos Coquis e o boi dos Pé Roxo, sendo que ambos surgiram a partir de promessas feitas por suas criadoras aos Santos Reis em busca de cura para enfermidades, seja de si mesma ou de alguém da família. Cada um pertence a núcleos familiares que compõem as Folias de Reis, saindo pela cidade do dia 01 ao dia 06 de janeiro. A folia dos Coquis tem mais de 100 anos de existência e continua a sair até os dias atuais, enquanto a dos Pé Roxo acabou há cerca de cinco anos atrás, tendo existido por mais de 50 anos. A partir da minha experiência de campo, em janeiro de 2023, acompanhando o Boi dos Coquis; conversas com os participantes das folias, bibliografia sobre o tema e contato prévio com a tradição desde mais nova, procuro entender as formas que o Boi de janeiro marca sua importância na cultura local. As folias se mantiveram por tanto tempo devido principalmente à força da promessa e a necessidade de mantê-la por parte dos familiares, mas já enfrentaram muitas dificuldades pelo caminho. A ONG Vokuim, criada em Rubim, teve e continua a ter um papel muito importante no auxílio à manutenção e valorização dessa festividade que é tão marcante para a cidade. Através de editais, contribuições e oficinas são reveladas formas de divulgar e exaltar o boi de janeiro, além de incentivar o contato de outras pessoas com ele.
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Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
A arte de cagar na Catalunha
Marcos Alexandre dos Santos Albuquerque (UERJ)
Resumo: Provocado por Bataille e pelo surrealismo etnográfico de Clifford, procuro nesta apresentação pensar a identidade catalã pela sua escatologia, tradição na qual o grotesco intensifica o sagrado ao invés de negá-lo. Os personagens dessa escatologia são natalinos. Nos presépios, simbolizando fertilidade e sorte, aparecem os caganer que representam um camponês defecando. Substituindo o Papai Noel, quem dá os presentes é o Caga Tió, um tronco de madeira que os "caga" na véspera do natal. A atualização desse repertório e suas vertentes laicas na arte popular e erudita refletem a vivacidade das expressões culturais e identidade catalã, principalmente após o movimento pela independência em 2017. O caganer surgiu no final do século XVII, sua origem é cristã e está relacionado ao período natalino. Era um personagem dos presépios, representava (assim como o cristo) a renovação, a continuidade da vida; suas fezes, ao fertilizarem a terra, proporcionavam fortuna para o próximo ano. Nos anos 1940 modernizou-se e ganhou versões laicas, mas foi somente nos anos 1980 que atingiu extrema popularidade. Naquela ocasião o bispo de Barcelona denuncia os caganers como símbolos pagãos e tentou bani-los. Em resposta, o fabricante de caganers, Marc Alós, lançou uma linha deles na forma de padres, freiras e bispos. Foi um sucesso, vieram depois caganers de políticos e celebridades. Em 2021 abriu suas primeiras lojas de caganers em Barcelona, era então um momento de fortalecimento da identidade catalã após os conflitos oriundos do referendo de autodeterminação realizado em 2017. Existem outros personagens dessa escatologia natalina. O Caga Tió é um tronco que "toma" o lugar de Papai Noel. Depois de ser alimentado", na véspera de Natal as crianças batem nele com bastões para faze-lo "cagar" os presentes. Uma atualização é o pixaner, uma escultura de um homem urinando. Esculturas de demônios são escondidas nos presépios, em algumas delas eles estão defecando. Durante o natal são vendidos doces em forma de fezes. A escatologia não é apenas natalina, ela é uma expressão comum em toda a cultura catalã, popular ou erudita, que se revitalizou com o movimento independentista catalão. Assim, nesta apresentação defendo a necessidade de pensar os exotismos como estratégias sociais. No caso específico da escatologia da Catalunha, pensar o apelo turístico com a super exploração das tradições escatológicas é condição para entender parte da dinâmica do processo independentista que vivem os catalães atualmente. Deste modo pode-se aqui defender a ideia de que as identidades se disputam mesmo em torno da visibilidade de tabus sociais, dando publicidade àquilo que no cotidiano é inominável.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
O aprendizado do forró-dança nas academias de dança a dois.
Ninno Amorim da Silva (UFPB), Valter Martins Viana (UFPB)
Resumo: O presente trabalho discute os processos de transformação das formas de dançar forró, seja no Brasil ou no exterior. O aprendizado das formas contemporâneas de dançar forró acontecem nas academias de dança a dois. Dada a diversidade existente no universo do forró, nosso trabalho concentra o foco no estilo conhecido como "forró universitário", vertente que surgiu no sudeste do Brasil como uma "resposta" a um suposto "desaparecimento" ou "desvirtuamento" do forró praticado no nordeste. As pessoas que fomentam o "forró universitário" alegam serem as principais responsáveis por manter o forró tradicional em evidência. Os grupos musicais desta vertente dizem fazer o "autêntico forró pé de serra". O texto reflete também sobre as motivações centrais alegadas pelas pessoas que frequentam as academias: professores, proprietários e alunos. O trabalho de campo vem sendo realizado em algumas academias de dança a dois na cidade de João Pessoa–PB e está vinculado a uma pesquisa em andamento sobre as transformações ocorridas no forró desde os anos 1990.
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Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Maracatu Raízes da Tradição: notas sobre Culturas negras, Territórios ancestrais e Educação patrimonial
Tamara Roque Caetano (UFAL)
Resumo: O estado de Alagoas concentra um número expressivo de diferentes manifestações culturais negras que foram compreendidas como objetos por excelência da pesquisa folclórica nas décadas de 1930-1980. A elite intelectual alagoana tomou para si a missão de registrar, classificar e preservar a memória do Folclore e da Cultura Popular, no entanto, ainda que vasta, estas produções revelam lacunas, ausências e tentativas de silênciamentos de narrativas que em um contexto de tantos privilégios não foram elas contempladas. Conforme Carlos Eduardo A. Lima(2016), as manifestações negras, sobretudo os Maracatus, que tomavam as ruas da capital no período do Carnaval, sofreram duras represálias da sociedade alagoana em decorrência da Quebra de Xangô em 1912, o que ocasionou o desaparecimento da prática no estado. Como bem observa, Jefferson S. Santo(2014) se por um lado a historiografia oficial aborda os segmentos menos favorecidos evidenciando os mecanismo de criação dessa manifestação cultural negra, uma vez que esta foram feitas pelas tradicionais famílias senhoriais permitiu o prolongamento da condição de objeto de estudo da população negra, sob o exotismo característica do pensamento folclórico. Nos últimos anos houveram diferentes movimentações que possibilitaram a retomada de grupos de Maracatu, através da iniciativa de diferentes fazedores da cultura negra na cidade de Maceió. Diante disso, me proponho nas discussões iniciais da minha pesquisa de mestrado colocar o desafio de em meio às contradições, jogos de forças, continuidades e descontinuidades de construir uma análise mais coerente e capaz de causar rupturas com os discursos colonialista e preservacionista produzida pela elite local, e reproduzida no imaginário social ainda nos dias de hoje. Os Maracatus são aqui entendidos como cultura popular negra que age como sujeito político na diáspora, com presença de conflitos legitimadores e lutas simbólicas como observam Denys Cuche(2002) e Stuart Hall(2018), portanto, são manifestações culturais, artísticas e afro-religiosas responsáveis pela promoção e valorização da diversidade étnico-racial, e que assumem um papel fundamental no processo de construção de contra narrativas no estado de Alagoas, sobretudo diante dos debates em torno da aplicação das Leis 10.639/2003 e 11.645/2008. Dessa forma, busco nesta comunicação desenvolver uma reflexão sobre a atuação político-cultural-pedagógica do grupo Maracatu Raízes da Tradição, criado por Mãe Vera de Oyá, em meados dos anos 2000, cuja suas atividades eram desenvolvidas no Conjunto Otacílio Holanda, parte alta e periférica de Maceió/AL, para tanto, apoio-me na revisão bibliográfica, registros audiovisuais e entrevistas semiestruturadas.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Etnografia do rolê: percorrendo a avenida Marechal. Um contraste entre a tradição e o moderno
Thays Carvalho Portela (UESPI), Laura Poliana Florencio Araújo (UESPI)
Resumo: Este artigo propõe uma análise das tradições populares religiosas em Teresina, capital do Piauí, como parte do grupo de trabalho "Culturas populares: entre tradições, espetáculos e protagonismo contemporâneo". Originadas como símbolos de resistência e perpetuação da fé dos povos colonizados, essas tradições adaptam-se ao longo do tempo, persistindo nos dias atuais. No contexto contemporâneo, as práticas religiosas entrelaçam-se à arquitetura urbana, influenciando e diversificando as paisagens urbanas, seja por meio de avenidas com prédios luxuosos ou esculturas e monumentos dedicados a santos e orixás. A análise concentra-se nos conceitos de hibridismo religioso e aculturação, especialmente considerando a santificação de figuras não canonizadas, como o Motorista Gregório, e na devoção à Iemanjá, cuja representação em uma das principais avenidas da cidade, a Marechal Castelo Branco, se destaca. A pesquisa explora a relação entre as tradições populares, incluindo a devoção, e a estética urbana, investigando elementos como esculturas, alegorias e outras manifestações presentes na paisagem da avenida. A metodologia adotada é a pesquisa qualitativa, utilizando entrevistas e coleta de dados para proporcionar uma compreensão aprofundada das práticas de hibridismo religioso, examinando a interação dinâmica entre as tradições populares e a estética urbana. Este trabalho contribui para o grupo de trabalho ao analisar as tradições populares religiosas em Teresina e destacar o papel da Avenida Marechal Castelo Branco como um espaço onde essas interações se manifestam de maneira significativa.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Hallyu Wave em Manaus: estudo antropológico sobre aspectos e influências da cultura coreana entre os manauaras
Tiago Silva de Oliveira (UFAM), Sérgio Ivan Gil Braga (UFAM)
Resumo: Este é um estudo antropológico sobre consumos culturais da Hallyu Wave na cidade de Manaus, capital do estado do Amazonas. Hallyu Wave, ou Onda Coreana, é o processo de transmissão da cultura da Coreia do Sul para diferentes países do mundo. Em Manaus, há encontros de fãs de K-pop, que se reúnem em praças públicas, Centros de Convivência do Governo do estado e praças de alimentações de shoppings centers para dançar as músicas dos ídolos coreanos e manifestar o sentimento de fã. Há também os telespectadores dos K-dramas, que realizam encontros em museus, restaurantes e cafeterias para conversarem sobre os atores e novelas coreanas (K-dramas). Por outro lado, há os eventos de consumo de comidas e bebidas tradicionais em festas ou restaurantes coreanos existentes na cidade. Como apoio metodológico tem sido utilizado o registro etnográfico (Geertz, 1989) para interpretação dos eventos e realizar uma descrição densa”, bem como registro fotográfico para visualizar as diferentes vestimentas e categorias de pessoas (fãs, pessoal da organização dos eventos, covers, comerciantes de bens simbólicos). Tem-se utilizado também conversas informais com os fãs e demais categorias de pessoas. Os registros etnográficos têm contemplado uma etnografia multissituada (Gluckman, 2010) para identificar as características locais da Hallyu Wave em Manaus. Estamos reunindo informações sobre os admiradores da cultura coreana que estão presentes em diferentes redes sociais, coletando notícias, opiniões, vídeos, comentários e informações sobre os encontros. Neste caso, tem sido usado a netnografia (Kozinets, 2014) nas redes sociais, para observar as interações estabelecidas entre os fãs em meio online. Assim, esta pesquisa tem como objetivo descrever as diferentes motivações que levam os manauaras a se interessarem pela cultura sul-coreana que vem sendo veiculada na cidade Manaus, considerando os processos de recepção a nível local e global. Considera-se a globalização como um fenômeno econômico e cultural (Santos, 2001) e reconhecendo que as culturas globais não matam as culturas locais e sim ambas se incorporam à vida das pessoas (Ortiz, 2000). É interessante perceber que as redes sociais e as plataformas de streaming audiovisuais e musicais são elementos que possibilitam o acesso as produções culturais, pode-se dizer que está se estabelecendo uma convergência de interesses entre produtores e consumidores, em que pese contradições inerentes ao desenvolvimento do capitalismo (Jenkins, 2015). A ideia de uma cultura local, para os admiradores da cultura coreana em Manaus, estaria relacionada às trocas simbólicas dos indivíduos e ao consumo, a nível global e local. Tal como sugere Bhabha (1998, p. 20), com a noção de entre lugares”, que denotaria uma arte e cultura híbridas.
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Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
“Reflexões sobre o 15° Festival de Cururu e Siriri de Mato Grosso”
Watila Fernando Bispo da Silva (Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer de Mato Grosso)
Resumo: Este ensaio visa produzir uma material reflexivo a partir da bibliografia utilizada na disciplina de Cultura Popular e Patrimônio do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da UFMT, realizada pela Profª . Dra. Patrícia Silva Osório e Profª. Dra. Flávia Carolina da Costa no segundo semestre de 2023. O foco deste texto será de relacionar as atividades dos grupos de Cururu e Siriri com a mobilização e organização política,, tendo como ambiente os conflitos e negociações que ocorreram durante um evento que faz parte do calendário da cultural popular Mato Grossense, o Festival de Cururu e Siriri de Mato Grosso, que foi realizado nos dias 15, 16 e 17 de dezembro de 2023 e que neste ano está na sua 15ª edição no Ginásio Aecim Tocantins. A escolha do festival é devido a forma com que foi realizado o evento, onde desta vez foi idealizada e construída numa parceria entre a sociedades civil e o governo estadual, neste caso o Instituto Nandaia, entidade sem fins lucrativos que tem em sua diretoria representantes dos grupos de Cururu e Siriri de Cuiabá; o Instituto Brasil, entidade sem fins lucrativos realizadora de eventos artístico e culturais em Mato Grosso; e a Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer de Mato Grosso (SECEL-MT). Este é um dado importante pois nos últimos anos foi realizado pela prefeitura de Cuiabá e produtoras de eventos. Fato este ressaltado pelo Presidente do Instituto Nandaia - Aviner Augusto, durante suas falas na abertura dos 3 dias de evento. Além disso, o evento antes, durante e depois da sua realização também evoca múltiplos discursos sobre: Patrimônios, Tradições, Identidades cuiabana/mato grossense, narrativas históricas, cultura popular, entre outros; pois é durante a construção deste evento que muitas dessas questões se tornam assunto no cotidiano das pessoas que estão envolvidas com a prática da cultura popular, mas que tende a ficar nas entrelinhas do dia a dia, não obedecendo uma lógica factual de ordem e progresso histórico. Busco aqui identificar na rotina da prática cultural, ou seja, a partir de ações do cotidiano do grupo que faço parte, o grupo Coração Tradição Franscicano, com temáticas que fizeram parte dos debates em sala de aula, que se apresentam a cada reunião de planejamento, ensaio dos dançarinos, ensaio de músicos, apresentações em eventos, resenhas (gíria para festas informais), fofocas e reuniões deliberativas de organização do festival. Neste emaranhado de momentos que não são linearmente sobrepostos, mas que estão em constante dinâmica e construção.
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Experimentações e circuitos dos sentidos de corpos-territórios, gênero e sexualidades a partir de um terreiro de candomblé na cidade de Dourados MS
Yuri Tomaz dos Santos (UFMG)
Resumo: Pensar experimentações de gênero e sexualidades de sujeitas/es/os como manifesto performático, político e insurgente nos solos sagrados é pensar, ao meu juízo, nas corporalidades como ferramenta de usos e abusos da radical máxima de constantes e intermináveis produções de corpos, personas, humanos e mais-que-humanos. Agudizando esse debate como tentativa de sobrepor e contestar as categorias auto evidentes, esse paper tem como objetivo apresentar e escarrar pó de pemba nas e das dinâmicas do que se entende por territórios, em concomitância com abordagens da fazeção de macumba como prática pedagógica e política, que subjetiva e ordena o que estarei a reivindicar como corpos-territórios a partir de contratos sociais e cosmologia local. Fruto de uma dissertação de mestrado, esse trabalho centra-se em narrativas e observações participantes realizadas em um terreiro de candomblé ketu, localizado em uma periferia de Dourados. Ao evocar Dourados, cidade localizada ao sul de Mato Grosso do Sul, como lugar em que o debate de território(s) sempre está envolto pelo agronegócio e disputas territoriais, procuro me ater a outras matizes sobre territórios e disputas, compreendendo o terreiro, que é um território que reitera disputas, e os corpos que o ocupam, como territórios polissêmico, remontando a cosmo-ontologia e o modo de existir a partir de ancestrais, que circulam e produzem fluxos e circuitos que enxergo como duais, ou seja, humanos, mais-que-humanos e suas possibilidades extensivas. Proponho, em um primeiro instante, uma leitura cartográfica e rizomática do território do solo sagrado, que está além e aquém do reducionismo do espaço físico, ao passo que demonstrarei como a periferia tem seus acordos tácitos e o máximo respeito como o Ile Asè Alaketu Omó Okòró Ogum Oniré e suas/seus adeptas/es/os. Abordarei com mais afinco como a produção subjetiva é resultado da relação vincular com o cosmos, na relação de ressurgência para com os mortos e como os corpos humanos, ou seja, das pessoas vivas, se constituem enquanto territórios estes invioláveis , e como gênero e sexualidades no contexto estudado será tecnologia de mediação do sagrado. Os sentidos dados a esses corpos-territórios, veremos, são ulteriores à relação com os vivos. Articulado, pois, entre gênero, sexualidades, noção de território em bricolagem com o corpo, temos que o espaço estudado tende a recusar aspectos dramatizáveis tão conhecidos por candomblecistas, no que diz respeito à reiteração de violências calcadas no tradicionalismo, ao mesmo tempo que foi possível observar por parte de interlocutores, em conversas informais, a regurgitação dos pensamentos que se ocultam na seara pública das figuras de dissidências e como as negociações são limitadas a partir do parentesco.
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